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De Cascais para o campo olímpico no Rio de Janeiro
03/03/2016 16:21 RODRIGO CORDOEIRO
Frederico Santa-Bárbara fotografado na redacção do GolfTattoo / © FILIPE GUERRA

Frederico Santa-Bárbara faz história no regresso do golfe ao maior evento desportivo

Como Director de Mercado da Jacobsen para a América do Sul, Frederico Santa-Bárbara estima já ter visitado 320 campos de golfe naquele continente, mas nada se lhe compara à experiência de estar por dentro da construção do Rio Olympic Course – o campo no Rio de Janeiro onde em Agosto o golfe regressa aos Jogos Olímpicos, 112 anos depois da última presença da modalidade no evento (St. Louis, 1904). 

Detida pela norte-americana Textron, a Jacobsen é um dos três maiores fabricantes mundiais de equipamento de manutenção para campos de golfe. Coube-lhe fornecer toda a maquinaria especializada para o desenvolvimento do campo e a sua posterior manutenção. É neste âmbito que o português de34 anos, residente no Rio, tem acompanhado o projecto desde o início, visitando-o pelo menos uma vez por semana e sendo um dos privilegiados que já lá jogou. 

O campo, numa extensão de 35 hectares, situa-se na Barra da Tijuca, o bairro da “cidade maravilhosa” que mais modalidades irá acolher nos próximos Jogos Olímpicos, a sete quilómetros da Aldeia dos Atletas. “É um campo inacreditável, de uma grande beleza natural. As suas condições são espectaculares – se puseres o pé em cima da bola na relva e o tirares, ela levanta, parece que está sempre em cima do tee”, diz Santa-Bárbara, que viu o terreno ainda baldio e considera estar a assistir a um “momento histórico no golfe”. 

Neste momento há cerca de 30 máquinas da Jacobsen empregadas no campo, mas esse número subirá para o dobro durante as competições masculina e feminina, com 60 participantes cada. O campo terá bancadas para 2500 espectadores e permitirá acomodar mais 17500 espectadores por todo o percurso. “É a primeira vez que um torneio de golfe vai durar duas semanas, a relva estará sob enorme stresse, pelo que terá de se fazer dois cortes diários”, explica Santa-Bárbara.

Com o superintendente do campo, Neil Cleverly © D.R.

Que este português de Cascais esteja a trabalhar na área do golfe, não espanta quem o conheça. Amante da modalidade desde os 6, 7 anos (começou a jogar durante as férias de Verão no Vimeiro), antigo presidente do clube Tigres do Bosque e também sócio do Clube de Golfe do Estoril, já quando trabalhava na Nespresso envolveu esta marca no golfe, ajudando a fundar o Nespresso Trophy e patrocinando vários eventos, com destaque para Expresso BPI Golf Cup. “Uma pessoa deve trabalhar naquilo que gosta, e eu sempre procurei aliar o meu trabalho ao golfe”, justifica. 

Em Maio de 2011, foi a um casamento no Brasil e resolveu dar um pulo à Nespresso de São Paulo. Dessa visita resultou, seis meses mais tarde, a sua mudança para a filial da empresa naquele país, com a responsabilidade de gerir a parte da restauração e hotelaria no Rio de Janeiro. Desempenhou esse papel dois anos, ao mesmo tempo que se revelava providencial, com trabalho de bastidores, para que a Jacobsen conseguisse ganhar o fornecimento do equipamento ao campo olímpico. 

Não tardou para que fosse a uma entrevista na sede da Jacobsen nos Estados Unidos, em Charlotte, na Carolina do Norte. Foi contratado para director da América do Sul, iniciando funções em Julho de 2013. “O balanço só pode ser positivo, as vendas aumentaram 7 por cento nos dois primeiros anos, abrimos novos distribuidores na Bolívia e no Paraguai, e no Brasil, onde a Jacobsen não era tida nem achada, aperceberam-se de que havia mais um player no mercado”, diz. 

E acrescenta: “O meu trabalho na Jacobsen funciona como um meio-campo entre os distribuidores e as fábrica nos EUA e em Inglaterra. Como representante das mesmas, tenho de garantir que os distribuidores cumprem os objectivos propostos anualmente. No caso do campo olímpico foi uma negociação directa entre mim (fábrica) e as entidades brasileiras e internacionais envolvidas no projecto. Ou seja PGA, IGF, CBG (Confederação Brasileira de Golfe). A grande diferença comparativamente aos meus concorrentes, é que acompanho o mercado de perto apresentando soluções à medida de cada país. Isto garante que argentinos, brasileiros, colombianos ou qualquer outra pessoa do mercado na América do Sul me veja com mais confiança, do que um 'gringo' que não fala os idiomas ou não entende as idiossincrasias de cada local.”

Santa-Bárbara joga golfe desde os 6, 7 anos / © D.R. 

Como golfista, Santa-Bárbara sente que o golfe nos Jogos Olímpicos é algo de transcendente não só para o Brasil, como para toda a América do Sul, pois a partir deste novo clube, que será público, surgirão muitas oportunidades para o mundo do golfe em todo o continente. Apesar deste optimismo lança alguma dúvidas sobre se todas as promessas e responsabilidades assumidas pelo governo brasileiro serão cumpridas: “ De todas as negociações que tive no Brasil, uma coisa aprendi, ninguém diz não, mas também não é certo que no final seja um sim”. 

Do que mais gosta do Brasil, e principalmente do Rio de Janeiro, resume da seguinte forma, com uma analogia musical: “O Fado e o Samba não são muito diferentes em termos de letra, ambos falam da saudade, amor, perda, etc. A diferença está no ritmo! Ou seja em vez de sentar e chorar, eles dançam e riem! A leveza com que os cariocas encaram a vida, devia ser um exemplo para os portugueses.” 

Para além de Santa-Bárbara, que se encontra envolvido no projecto olímpico de golfe desde o início, uns outros portugueses da empresa ProGolf, Benjamim Silva e António Miranda, são os responsáveis por entregar o campo nas melhores condições do mundo. Com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, esta empresa construiu em solo brasileiro um campo de Arnold Palmer – Fazenda da Boavista, em São Paulo – e são nos dias de hoje a empresa responsável pela manutenção do Rio Olympic Golf Course. 

Mas não foi só a manutenção – António Miranda  foi o braço direito do arquitecto Gil Hanse e também do Superitendente Neil Cleverly desde o início desta empreitada. Sobre Gil Hanse, que ganhou a corrida para conceber lay out perante a concorrência de todos os tubarões do sector, afirma: “É um senhor que não tem medo de meter mãos à obra, e que no início pegava nas retroescavadoras e fazia ele próprio o shaping dos buracos.” 

Os portugueses mostram-se uma vez mais lá fora e deixam o seu nome na história do golfe mundial preparando o palco do maior evento desportivo do mundo!

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Este artigo saiu originalmente no caderno GOLFE do jornal Público de dia 27 Fevereiro