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“Se quiseres ter sucesso, aposta na formação”
19/02/2017 18:46 RODRIGO CORDOEIRO
Irmãos Ribeiro ontem no CG Miramar. Estão juntos profissionalmente há 14 anos / © D.R.

Como Sérgio Ribeiro influenciou o seu irmão Nelson, novo Treinador Nacional

Quando tinha cerca de 18 anos, Nelson Ribeiro, na altura um 1,0 de handicap, disse ao seu irmão Sérgio, nove anos mais velho, que gostaria de ser jogador de golfe, e que para tal iria treinar e jogar de dia e estudar de noite. “Eu aconselhei-o então a entrar no golfe não como jogador mas como treinador, porque nessa altura não havia as condições que existem hoje para treino e competição”, revela Sérgio, um dos formadores da PGA Portugal e Federação Portuguesa de Golfe nas áreas de como ensinar técnicas-base aos novos candidatos a treinador. “Disse-lhe: ‘Se quiseres ter sucesso, aposta na formação e no ensino’.” 

Para Sérgio e Nelson, de 41 e 32 anos, respectivamente, o golfe foi natural, porque moravam junto ao buraco 4 do Oporto Golf Club, em Espinho. “Era só saltar o muro”, conta o pai deles, Adelino Ribeiro, que cresceu na mesma casa, onde ainda hoje habita, e que foi caddie ali. “Mais tarde fui para a tropa e quando voltei pedi ao presidente do clube, que era o [Jorge] Soares Cardoso [biénio 1978-79], para me inscrever [como membro jogador]. Alguns não queriam, mas eu era o caddie dele e ele assinou. Comecei a jogar provas em 1980.” 

O primeiro handicap de Adelino foi 12,0, mas ganhou o primeiro torneio que jogou e cortaram-lhe imediatamente 3 pontos, mesmo que tenha sido a pares, com Luís Archer; fez desde logo parte das equipas do Oporto que foram campeãs nacionais de clubes em 1982 e 1983 e em 1987 chegou a ser convidado pela direcção do Oporto para ser profissional. Foi muitos anos 0 de handicap, e hoje, com 63 anos, ainda tem um respeitável 3,0 de abono. 

“Não quis porque tinha acabado de me lançar na pesca, comprei uma carrinha e ia comprar peixe a Matosinhos para vender em Espinho”, justifica. Ainda hoje é esta a sua actividade, levanta-se todos os dias pelas 3h da madrugada, de tarde tem tempo para o golfe. Ele e um sócio têm dois barcos, cada um deles com os nomes dos respectivos filhos: é o “Nelson e Sérgio” e o “Rita e Carolina”. 

A mãe de Sérgio e Nelson é Maria de Fátima, já reformada mas sempre activa na lida da casa e outros afazeres, e que se tem emocionado com lágrimas nos últimos dias ao ver o filho mais novo na televisão e nos jornais, na sequência da sua designação como Treinador Nacional para o quadriénio 2017-2020, passando a ter a seu cargo desde 15 de Fevereiro a gestão de todas as seleções nacionais e indo também desempenhar um papel fulcral no programa de desenvolvimento da modalidade. 

Foi por causa de uma das provas do Oporto, a Taça Sebastião Soares, que se joga em pares constituídos por familiares, que Sérgio e Nelson, cada um à sua vez, se iniciaram no golfe, acedendo ao desejo do pai de conquistar com eles um dos raros troféus do calendário do Oporto que lhe escapava – e que Adelino viria a ganhar com os dois. Diz Sérgio: “Da primeira vez que jogámos, tinha eu 12 anos, ficámos em segundo lugar e foi isso que me fez continuar a jogar. Ao fim de quatro anos já tinha vencido muitos torneios e candidatei-me ao lugar de profissional.” 

Sérgio começou a trabalhar no Oporto como assistente de Eduardo Maganinho com apenas 16 anos, e diz que ao fim de seis anos tinha meia-dúzia de outras propostas, optando pelo Club de Golfe de Miramar, em Vila Nova de Gaia, onde se mantém desde então. E porque a dada altura o clube precisava de mais um profissional, Nelson juntou-se-lhe há 14 anos, trabalhando alguns anos debaixo da supervisão do irmão, mais concretamente até 2009, quando fica responsável pelos jogadores com mais capacidade técnica.

“Uma coisa que sempre consegui fazer foi nunca ter desempenhado com ele o papel de irmão, deixei sempre o Nelson voar, e em termos de clube e de estratégia conseguimos definir muito bem o papel de cada um, dividindo e partilhando tarefas”, refere Sérgio, que tem o nível 4 do Curso de Treinador da Federação Portuguesa de Golfe e da PGA de Portugal, sancionado pela PGA da Europa e pelo Ministério da Educação de Portugal, e que continua a competir ocasionalmente com classe e bons resultados, tendo inclusivamente passado o cut no Open de Portugal de 2005, em Oitavos Dunes, no mesmo ano em que ganhou o Open de Vidago disputando o título no último grupo com António Sobrinho e Nuno Campino e fazendo uma volta de 5 abaixo do par que ficou como o recorde do antigo campo do Vidago Palace, entretanto ampliado e remodelado; em 2004, ganhara o histórico Open da Terceira.

Nelson tem o Nível 3, é Finalista da licenciatura em Ciências do Desporto pela Universidade de Porto e frequenta (em regime interrupto) desde 2007 a licenciatura em Psicologia do ISLA. Antes de assumir o cargo de Treinador Nacional, era diretor-técnico das equipas de competição do clube em todos os escalões etários. Sob o seu comando estiveram 21 jogadores que foram campeões ou vice-campeões nacionais a nível individual ou coletivo, nas mais diversas variantes e escalões etários. 

De referir que nos últimos dois anos integrava também, em tempo parcial, a equipa técnica liderada pelo anterior Treinador Nacional, Nuno Campino. Mantém o vínculo a Miramar, nomeadamente aos seus atletas que estão integrados nas seleções nacionais – e que neste momento são nada menos do que 17. 

“Foi excelente”, diz Sérgio, a propósito da designação de Nelson para Treinador Nacional. “Além dele só mais dois ou três em Portugal é que poderiam desempenhar o cargo, porque é um papel muito especial.” 

“Estamos todos muito contentes, é natural, é um orgulho ver um filho com essa pedalada toda”, diz por sua vez Adelino. “Tem sido emocionante, toda a gente aqui na terra está encantada. Ele andou quase dois meses a debater com a Federação, mas só a semana passada é que foi decidido, havia cinco portugueses e dois ingleses candidatos.”