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Uma poderosa dupla de irmãos que vai longe
05/08/2014 18:03 Rodrigo Cordoeiro
Fotografados em Ribagolfe no Nacional de Clubes de sub-18 / © FILIPE GUERRA

O futuro do golfe em Portugal tem inevitavelmente de passar por Leonor e Tomás Bessa

No domingo de 27 de Julho, no campo do Clube de Golfe do Estoril, Domingos Roque de Pinho jogou a segunda volta do 4º Torneio Liberty Seguros num trio em que se incluía Tomás Bessa, um +0,9 de handicap, e ficou abismado com o que viu: “Nunca vi um talento daqueles. Pela primeira vez tive a noção de qual será a sensação de um homem de 60 anos a jogar com um miúdo de 20.”

Atenção que Domingos não é um jogador qualquer. Tem 33 anos, 5 de handicap e é o campeão de 2014 do Clube de Golfe do Estoril, embora sublinhe que, neste capítulo, contou com a “benesse” da ausência de Tomás Silva, o campeão nacional amador absoluto, também do Estoril.

“Fez-me confusão, não passa despercebido”, acrescenta Roque de Pinho em relação a Tomás Bessa. “Não sei é se há em Portugal alguém que tenha capacidade para pegar num talento assim. É um daqueles jogadores em quem apetece imenso apostar, ou pô-lo a jogar todos os torneios internacionais, a ver se faz o clique. Um jogador destes não pode fazer 5 acima do par.”

E continua: “Não é só bater longe, é bater sempre em cheio, mas com suavidade, se bem que ele me tenha dito que tem uma velocidade de swing de 125 milhas. A bola vai baixa, tensa, porque ele fixa sempre os pulsos, bate na bola com uma chapada das costas da mão. A bola nunca sai em draw e não há slice.”

Sobre a distância a que Tomás bate na bola, eis o que nos diz Roque Pinho: “Rídiculo. No Estoril, era capaz de correr o campo a ferro 7. Aliás, acho que na volta que fiz com ele só utilizou uma vez o driver”. Ridículo no sentido de absurdo, claro.

“No 3 [par-4 com 294 metros], exemplifica, “bateu um ferro 3 para deixar a bola a um metro da bandeira – fez eagle; no 16 [par-3, 179m] jogou um ferro 7 e fez birdie; no 17 [par-4, 266] também jogou ferro 3 para deixar a bola ao lado do green. Dada a sua distância, a bater ferros 7 a 170 ou 180 metros, precisa de uma grande e pouco usual variedade de shots no ataque ao green.”

Tomás Bessa é um caso sério de talento. Assim cumpra o seu potencial / © FILIPE GUERRA

Que Tomás Bessa (18 anos feitos hoje, 6 de Agosto) é especial, disso não restam dúvidas, mas, por enquanto, quem mais sobressai na cena nacional é a sua irmã mais nova, Leonor, que faz 16 anos a 13 de Agosto e que, apesar de tão jovem, já tem larga experiência na selecção nacional. Em 2012, com apenas 14 anos, jogou por Portugal o Campeonato do Mundo Amador Por Equipas (Troféu Espírito Santo), em Antalya, Turquia. Este ano, em Setembro, vai repetir a dose, no Japão. “O circuito feminino é mais fácil de se ganhar alguma coisa, há menos competição”, desvaloriza Leonor.

Leonor, 0,1 de handicap, foi campeã nacional de sub-14 em 2011 e 2012 e campeã de sub-16 em 2013 e 2014, o que lhe dá um total de quatro títulos consecutivos no Campeonato Nacional de Jovens. Há menos de duas semanas veio do European Young Masters (campeonato da Europa de jogadores sub-16), com um 12º lugar; e domingo passado venceu a classificação mista do Open da Corunha Júnior (sub-18), integrada numa comitiva de jogadores de Miramar que participaram no torneio.

Tanto Leonor como Tomás começaram a jogar por influência do pai, António Bessa, no já inexistente campo da Quinta da Laje, em Paredes, onde residem, mas também no Golfe de Amarante,que tem 18 buracos. Primeiro Tomás, com 7 anos. Depois Leonor, por arrasto, mas só aos 9 anos. Representaram durante muitos anos o Golfe de Amarante, antes de se mudarem no final do ano passado para o Club de Golf de Miramar.

“Nós já há algum tempo sentíamos um bocado falta de apoio e competição e precisávamos de alguma motivação extra para continuar a evoluir, e achámos que Miramar era a opção certa, porque gostamos do treinador [Nelson Ribeiro], e as pessoas são bastante nossas amigas. Tenho muito a agradecer também a Amarante, o clube que me ajudou e me viu crescer, explica Leonor. “Adoramos o clube em que estamos agora, pelo apoio, pelas condições de treino que nos dão”, reforça Tomás.

Se Leonor já há muito se dedica inteiramente ao golfe, Tomás ainda o dividiu com o andebol até muito recentemente. “Pertenci à selecção nacional [de andebol] de iniciados [sub-14], revela Tomás. “Jogava no Penafiel, só que me apercebi que é o golfe que eu quero e que é o desporto de que mais gosto. Também acho que tenho mais talento para o golfe. que me pode dar eventualmente um futuro melhor. Estou a 100 por cento nesta modalidade, quero seguir até ser profissional, estou a treinar para isso.”

Tomás finalizou o 12º ano e pretende entrar em desporto na Faculdade do Porto. “Penso que a Faculdade de Desporto é a melhor para o fazer, para tentar conciliar o golfe e dos estudos”, justifica.

Também Leonor tem ambições profissionais: “Eu ainda estou no 10º ano, ainda tenho dois anos pela frente, não sei o que irei fazer porque neste momento sinto-me um bocado pressionada com a escola e gostava de ter muito mais tempo para treinar. Penso que vou ter de tomar alguma decisão para conseguir isso e será talvez mudar de curso ou fazer uma equivalência ao 12º ano, não sei. Mas estou mesmo decidida: o que eu quero é jogar golfe e ser mesmo profissional de golfe, ter cada vez mais visibilidade internacional e tentar entrar no Tour feminino.”

Leonor Bessa é uma das melhores jovens golfistas que Portugal já viu passar / © FILIPE GUERRA

Tomás considera que os seus momentos mais altos foram quando fez 64 pancadas em Benamor há dois ou três anos para vencer a Final do Projecto Drive (Golfe Escolar); e quando foi campeão do Norte após um play-off com João Magalhães, o campeão nacional de sub-18 em 2013.

Sobre a longa distância a que bate na bola, afirma: “Desde pequeno que tive esse dom, mas o meu objectivo é controlar a minha distância e jogar cada vez com mais estratégia porque esse distância é boa mas não faz resultados – os resultados fazem-se nas chegadas ao green. É bom ser comprido, mas é preciso saber gerir a distância e controlar os shots.”

E Leonor? “Ao longo destes três anos, tenho tido vários momentos bons, os quatro campeonatos nacionais que ganhei seguidos fizeram-me ganhar bastante confiança. Tenho tido algumas frustrações, tenho perdido bastantes torneios por uma pancada, e ando a tentar contrariar isso. Já perdi três torneios do Circuito Liberty por uma, mas o que doeu mais foi logo o primeiro deste ano no Algarve, em que acabei com um bogey.

Foi um triunfo sofrido, o de Leonor no Nacional de Sub-16, em Julho no Aroeira 1. Tive uma adversária à altura [Inês Barbosa] e só ganhei por 1 pancada. Nos dois primeiros dias joguei mal. No último foi melhor. Fiquei satisfeita mas gostaria de ter jogado melhor. Dediquei o título ao meu pai porque foi operado a uma perna, corria risco de perdê-la mas está tudo bem agora.” Inês Barbosa, vice-campeã nacional sub-16, também foi convocada para o Campeonato do Mundo, numa equipa que fica completa com a bicampeã nacional absoluta Susana Mendes Ribeiro.

Os irmãos Bessa unidos na ambição de singrarem no golfe / © FILIPE GUERRA

No último Campeonato Nacional Absoluto, em Abril, Quinta do Peru, Tomás foi 19º Quinta do Peru, com voltas de 77-84-74-73, 20 acima do par-72. Aquele 84… Quanto a Leonor, terminou a prova feminina na 5ª posição, com voltas de 76-78-82-83, 31 acima. “Nessa altura do ano o nosso calendário estava a ser bastante rigoroso, tinha havido uma série de torneios e eles chegaram já em fadiga, é natural”, diz o treinador de Miramar, Nelson Ribeiro, para justifica estes desempenhos menos positivos dos Bessa no Campeonato Nacional.

No Ranking Nacional BPI da Federação Portuguesa de Golfe, Tomás é actualmente 12º classificado e Leonor é 4ª na tabela feminina.

Conversámos com Nelson Ribeiro para saber mais dos irmãos Bessa. Eles têm futuro a nível profissional? “Têm, sem dúvida”, responde. “É preciso perceber que ainda são novos, uma tem 15, outro tem 17. Mas trabalham bastante e, se passarem de forma correcta as diferentes etapas de aprendizagem, acho que quando estiverem em idade de tomar uma decisão estarão mais conscientes do que irão fazer, nomeadamente se passam a profissionais.”

Como é que Nelson Ribeiro caracterizaria Tomás e Leonor como jogadores? “O Tomás é um power player nato, mas tem de colocar alguma estabilidade no jogo dele, temos de fazê-lo pensar e tomar as decisões certas, porque é um jogador muito impulsivo. Já a Leonor é uma jogadora muito mais estratega, uma jogadora que pensa bastante mais, mas como disse é uma jogadora ainda muito nova, em fase de crescimento, e a potência virá ajudar a que ela consiga jogar ferros mais baixos para o green, e isso depois poderá traduzir-se em bastante pancadas.”

Leonor e Tomás: o talento e potencial está lá. Diamantes por lapidar, aguardamos atentamente que ganhem a forma final.

Ah, e a propósito: Tomás Bessa terminou o 4º Torneio Liberty Seguros, de que falámos no início do texto, no quinteto dos sétimos classificados, com voltas de 73-74, 9 acima do par-69. Lá está. Como dizia Domingos Roque de Pinho, um jogador destes não pode fazer 5 acima.