Como Beatriz Themudo e Tomás Melo Gouveia conquistaram a Taça da FPG/BPI
Beatriz Themudo e Tomás Melo Gouveia conquistaram a 30.ª edição da Taça da Federação Portuguesa de Golfe BPI, um dos ‘Majors’ do golfe nacional amador, que a FPG organizou no campo n.º 2 de Ribagolfe, no concelho de Benavente.
Beatriz Themudo, de 20 anos, derrotou na final a companheira de equipa do Club de Golf de Miramar, Rita Costa Marques, de apenas 13 anos, por 1up, ou seja, a final de 36 buracos foi mesmo decidida no último.
Beatriz Themudo ultrapassara Catarina Inocentes nas meias-finais (3/2) e Inês Mendonça nos quartos de final (6/5). Rita Costa Marques levara a melhor nas meias-finais sobre Ivete Rodrigues (4/3) e sobre Filipa Capelo na primeira ronda (5/4).
Quanto a Tomás Melo Gouveia, de 22 anos, jogador do Clube de Golfe de Vilamoura, bateu na final Afonso Girão, de 19 anos, representante do Oporto Golf Club, por 2/1. Portanto, a final terminou no penúltimo buraco, o 35º.
No percurso para o título, Tomás Melo Gouveia afastou sobre Gustavo Guzzo (4/3) na primeira ronda, Gonçalo Mata (3/2) na segunda, Nathan Brader (4/3) nos quartos de final e Tomás Silva (3/2) nas meias-finais. Afonso Girão foi superando Ricardo Garcia (6/5), João Gaspar (2/1), Guilherme Oliva (2/1) e João Pedro Maganinho (2 up).
Final feminina com luta até ao fim
Para Beatriz Themudo, antiga campeã nacional de sub-12, sub-16 e sub-18, este triunfo foi o culminar de dois anos de tentativas de ganhar um major amador no escalão etário principal, dado que, em 2015, foi 2ª no Campeonato Nacional Amador Peugeot e repetiu essa classificação em 2016, enquanto na Taça FPG/BPI de 2015 tinha sido eliminada nas meias-finais por Rita Costa Marques.
“Sinto-me muito bem e acho que esta vitória foi bastante merecida. Sem dúvida que ganhar um torneio destes sabe melhor do que o 2.º lugar no Nacional. A vitória é outra coisa. A 2.ª é a 1.ª das últimas e eu sentia que o objetivo não estava concluído”, disse.
A final deste ano foi uma desforra da meia-final de 2015, no Estela Golf Club, na Póvoa de Varzim. “No ano passado, na meia-final com a Rita, nada me saiu bem, com shots e putts completamente falhados. Já hoje de manhã joguei mesmo muito bem, só faltou terem entrado mais putts. À tarde a Rita jogou muito bem e deu luta. Tive azar no buraco 11, o que me afetou um pouco, porque estava debaixo de uma árvore, com a bola jogável, só que quando bati na bola havia uma raiz escondida, bati com o taco nela e dei quase um shank”, recordou Beatriz Themudo, que teve a capacidade de recuperar a calma quando tudo parecia estar a virar para o lado da adversária. Ao empatar os dois últimos buracos, a filha de João Pedro Themudo – o ex-presidente da PGA de Portugal – assegurou a sua vitória mais saborosa de sempre.
A Taça FPG/BPI feminina só teve a participação de oito jogadoras, mas é preciso sublinhar que coincidiu no calendário com o Europeu de Clubes, fazendo com que a equipa principal de Miramar não pudesse jogar em Ribagolfe, por estar na Bulgária. Pelo menos Inês Barbosa (vice-campeã nacional de sub-18) e Joana Silveira (campeã nacional amadora) teriam jogado, uma vez que Leonor Bessa, a vencedora da Taça FPG/BPI, já tinha avisado que não iria defender o título a Ribagolfe, para competir antes no Açores Ladies Open (da segunda divisão europeia de profissionais), que também teve alguma coincidência de datas com esta Taça.
Essas ausências não retiraram qualquer mérito às finalistas, até porque no ano passado Rita Costa Marques, então com 12 anos, já se tinha cotado como a grande surpresa da prova, chegando à final. E este ano foram também estas duas jogadoras a ocuparem as duas primeiras posições da primeira fase, jogada em duas voltas de stroke play: Rita em 1.º com 11 pancadas acima do Par e Beatriz em 2.º com +12.
Rita Costa Marques, vice-campeã nacional de sub-14, valoriza, obviamente, muito mais esta dupla presença em finais da Taça FPG/BPI e por pouco não se tornava na mais jovem de sempre a ganhar a competição: “É a confirmação de que mereço estar na final e, sim, é mais importante porque no Campeonato Nacional de Jovens estamos divididas por escalões e aqui há jogadoras de todas as idades, com mais experiência.”
O momento da final feminina foi quando Beatriz Themudo dobrou para os últimos nove buracos com uma vantagem de 4 buracos, mas depois deu-se aquele incidente que referiu na raiz da árvore. A quebra de concentração que admitiu custou-lhe dois buracos seguidos e quase três, pois Rita Costa Marques teve um putt de metro e meio para diminuir a desvantagem na final de 4 para apenas 1. “A bola fez um círculo de 360 graus, eu já ia a festejar e saiu. Acontece”, lamentou-se a mais jovem finalista, que nunca baixou os braços: “Este ano sempre pensei que pudesse ganhar a final, porque já tinha sido a 1ª no stroke play. É óbvio que o match play é sempre diferente mas pensei que conseguisse. Foi uma final muito renhida, joguei bem, ela também, só posso estar contente.”
Beatriz Themudo durante a final
Rita Marques com o seu caddie-irmão, Alberto
Vencer um título que o irmão mais velho não conseguiu
Se Beatriz Themudo deixou a sua adversária aproximar-se perigosamente depois de ter conseguido uma vantagem confortável, a Tomás Melo Gouveia sucedeu algo semelhante na final masculina. Afonso Girão ganhou o primeiro buraco mas depois o irmão mais novo de Ricardo Melo Gouveia chegou a ter uma vantagem de 3. Só que Afonso Girão reagiu, chegou a empatar o match no início da segunda volta, mas o campeão acelerou de novo a partir do 22.º buraco e terminou de novo com uma vantagem de 2. Na opinião da maioria dos espectadores e treinadores que assistiram à final, a qualidade do algarvio nos greens marcou a diferença.
Tomás Melo Gouveia
Afonso Girão com o seu caddie na final, Vasco Alves
“A diferença que notei no jogo dele em relação ao Afonso foi o putt. Acho que decidiu-se no putt, porque o Tomás ‘patou’ lindamente. Os amadores têm de perceber cada vez mais que o jogo decide-se ali, à volta do green e no putt. Houve muita consistência da parte do Tomás, já não o via há algum tempo e dou-lhe os parabéns”, referiu Eduardo Maganinho, o treinador do Oporto Golf Club.
“O Tomás teve fases em que ‘patou’ bem e outras nem por isso, mas de uma maneira geral o putt andou sempre muito perto do buraco e houve muitos que não caíram porque não quiseram. Nesse aspeto, acho que sim, que esteve bem no green”, elogiou Joaquim Sequeira, o treinador do Clube de Golfe de Vilamoura.
“Tenho estado a ‘patar’ muito bem e hoje também. Meti putts bem importantes, mas acho que a minha consistência do tee e no jogo curto foram fundamentais, para continuar a colocar pressão no Afonso, deixá-lo desconfortável”, confirmou Tomás Melo Gouveia.
Durante alguns anos, Tomás foi uma espécie de carta fora do baralho do golfe nacional amador português, em grande parte por ter estado a estudar e a competir na Florida, no Rollins College, equipa que até se sagrou campeã da segunda divisão da NCAA há dois anos. O jogador compreendeu sempre a situação, mas agora vai estagiar para uma empresa em Lisboa e espera poder continuar a treinar seriamente no golfe para concretizar o sonho de representar a seleção nacional em Europeus ou Mundiais, uma vez que, ao contrário do seu irmão, Ricardo, que compete no European Tour, Tomás não pretende tornar-se profissional de golfe.
Curiosamente venceu nas meias-finais Tomás Silva, o melhor amador português da atualidade e o jogador que tinha impedido Ricardo Melo Gouveia de conquistar a Taça FPG/BPI na final de 2009, também em Ribagolfe, mas no campo n. º1. “Sabia disso, mas em campo nunca pensei nisso. Quando acabámos disse-lhe que tinha vingado o meu irmão e foi ótimo, porque ganhar ao nº1 nacional é um grande feito”, frisou Tomás Melo Gouveia, que venceu o nº1 do Ranking Nacional BPI nas meias-finais e o nº2 na final: “É sem dúvida o auge da minha carreira. Nos Estados Unidos joguei alguns torneios bem, mas não com esta importância.”
Para além dos finalistas, entre os 69 participantes do torneio masculino, é imperativo “destacar as provas do semifinalista João Pedro Maganinho e dos quartofinalistas Guilherme Oliva e Vasco Figueiredo”, como salientou o diretor de torneio, João Coutinho. Maganinho, de apenas 14 anos, tinha sido o 32.º e último apurado para a fase de stroke play, e no match play eliminou na primeira ronda o 1.º do stroke play e campeão nacional amador, Pedro Lencart. Nos quartos de final, derrotou Vítor Lopes, o nº 1 nacional amador de 2015 e campeão deste torneio em 2014. Memorável!