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“Ainda podia ter uma palavra a dizer no ranking nacional”
22/09/2014 13:04 Rodrigo Cordoeiro
Lara Vieira na sede da Sociedade Rebelo de Sousa & Associados Advogados / © FILIPE GUERRA

Lara Vieira, antiga campeã nacional, hoje advogada, continua a vencer no calendário federativo

A madeirense Lara Vieira, 29 anos, foi uma das melhores golfistas portuguesas de sempre. Venceu três majors nacionais – duas Taças da Federação (2002 e 2003) e um Campeonato Nacional Absoluto (2002) – e representou a selecção nacional inúmeras vezes. Hoje, com 2,7 de handicap, ligada ainda ao Clube de Golfe do Santo da Serra, é advogada em Lisboa, na Sociedade Rebelo de Sousa & Associados Advogados, mas de vez em quando participa em provas do calendário federativo e… ganha. Como sucedeu no final de Julho no 4º Torneio do mesmo circuito, no Estoril, já depois de ter sido 2ª classificada no último torneio deste circuito em 2013, só atrás da bicampeã nacional absoluta Susana Mendes Ribeiro. “Fico com a ideia de que, se eu de facto tivesse algum tempo para treinar, se calhar ainda poderia ter alguma palavra a dizer, digamos, no Ranking Nacional BPI. Mas tenho noção de que isso já não é possível”, diz nesta entrevista.

GOLFTATTOO – Lara, explica-nos como é que, tendo tu uma vida profissional intensa, e jogando golfe com pouca frequência, ainda consegues vencer provas do calendário federativo, como sucedeu no final de Julho no 4º Torneio do Circuito Liberty Seguros, no Clube de Golfe do Estoril?

LARA VIEIRA – Apesar de estar muito dedicada à advocacia desde que comecei a estagiar, já em 2007, nunca deixei de jogar golfe, e quando posso gosto sempre de participar nos torneios da Federação, mais competitivos, com bons jogadores. É sempre bom, nem que seja para evoluir. Naturalmente, é simpático ganhar, mas também tenho a noção de que, no último torneio do Circuito Liberty, não estavam lá as melhores jogadoras, nomeadamente a Susana [Mendes Ribeiro], a Leonor [Bessa], a Inês [Barbosa], mas, de todo o modo, é simpático. Como digo, a mim deixa-me muito contente e deixa-me ainda com a ideia de que, se eu de facto tivesse algum tempo para treinar, se calhar ainda poderia ter alguma palavra a dizer, digamos, no Ranking Nacional BPI. Mas tenho noção de que isso já não é possível. 

Quando entras numa prova como a do Circuito Liberty,  treinas alguma coisa antes ou entras assim de rompante? 

Treino. Eu normalmente treino sempre. Enfim, a minha vida profissional, de facto, por vezes impede-me, mas tenho jogado muito nos fins-de-semana e numa prova destas procuro sempre bater bolas durante a semana, ter um bocadinho esse cuidado, isso sim. 

Costumas ir treinar ao Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor? 

Sim, aproveito a hora do almoço. Daqui do meu escritório até lá são 10, 15 minutos, faz-se muito rapidamente. E também ao fim-de-semana de vez em quando passo por lá, acho um espaço muito giro, muito democrático, muito acessível e aproveito e vou lá. Mas vou sempre com o tempo contado, nem entro no restaurante, porque já sei que se entro no restaurante encontro não sei quantas pessoas diante de mim. Vou focada, estou lá durante uma hora aproximadamente e depois volto.

Com o troféu do 4º Torneio Liberty, em Julho, ao lado de José Maria Caeiro / © FILIPE GUERRA

A Taça da Federação Portuguesa de Golfe começa já na quarta-feira e o teu nome não está na lista de inscritos… 

Não consigo, não consigo. Tenho um julgamento precisamente nessa altura e não consigo. Mas gostava, porque é aqui ao lado, no Montado, e é sempre um torneio muito interessante. 

Venceste a Taça da Federação duas vezes consecutivas, em 2002 e 2003, em Belas e Praia D’El Rey, respectivamente. Também venceste o Campeonato Nacional Absoluto em 2002, no antigo campo de Palmares. Que memórias é que tens deste teus três títulos nos dois majors portugueses? 

Muito boas. Lembro-me sobretudo da Taça que ganhei em Praia d’El Rey, numa edição em que o Hugo Santos foi o vencedor da prova masculina. Meti um putt para aí de 10 metros no 18 para ganhar à Carla Cruz por uma. Lembro-me também perfeitamente do Campeonato Nacional que ganhei, em Palmares, derrotando na final a Carla Cruz. Lembro-me que o nosso antigo treinador do Clube de Golfe do Santo da Serra, o João de Sousa, que já faleceu, me acompanhou. 

Jogaste também dois Campeonatos do Mundo por Equipas, que para as senhoras atribui o Troféu Espírito Santo. Que memórias dessas duas ocasiões? 

Joguei em 2002, em Kuala Lumpur na Malásia; e depois joguei em 2004, em Porto Rico. Faz agora 10 anos precisamente. Nas duas ocasiões tive como companheiras de equipa a Carla Cruz e a Carolina Catanho. Em 2002, fomos com a Patrícia Brito e Cunha, em 2004 com o seleccionador nacional Sebastião Gil. É um campeonato de um nível completamente diferente. É, de facto, outra dimensão. É um campeonato muito intenso, são quatro dias de treino, quatro dias de jogo, mas é óptimo. Vê-se jogadores de grande nível. Lembro-me que num dos campeonatos jogou a Paula Creamer, a Julieta Granada, a Beatriz Recari… Há um ambiente não diria cosmopolita mas muito variado. É muito intenso mas muito enriquecedor. 

Outras memórias de provas internacionais? 

Várias. Eu acho que as provas de equipas são sempre as mais memoráveis, de facto. São aquelas que trazem o melhor de nós ao de cima. Lembro-me perfeitamente – e ainda no outro dia falava com a Patrícia Brito e Cunha a esse respeito – de um Campeonato da Europa de Girls em Itália. A equipa era a Carolina Catanho, a Carla Cruz e a Sónia Lopes, e a Patrícia Brito e Cunha foi connosco. Ficámos a uma pancada do 1º flight e depois acabámos por ganhar o 2º flight, foi muito recompensador. Foi uma grande prova para o golfe feminino português, acho que foi mesmo o melhor resultado de sempre em termos colectivos. 

Em acção rumo à vitória no 4º Torneio Liberty, no Clube de Golfe do Estoril / © FILIPE GUERRA

A Carolina Catanho também foi uma das melhores golfistas portuguesas, sagrando-se campeã nacional absoluta em 2005. Sendo ela também da Madeira e do Clube de Golfe do Santo da Serra, havia alguma rivalidade entre vocês? 

Eu acho que não, sinceramente. Acho que criava-se um bocadinho essa ideia, porque éramos do mesmo clube e naturalmente jogámos muitas vezes uma contra a outra, mas acho que tivemos sempre uma relação normal entre colegas de clube. Hoje em dia temos pouco contacto porque ela é médica e eu sou advogada, temos as duas uma vida profissional intensa. Mas encontramo-nos muitas vezes no Santo da Serra e falamos perfeitamente normal. 

A advocacia era uma vocação tua? 

Não vou dizer que queria ser advogada desde criança, porque de facto não foi o caso. Só pensei verdadeiramente em ser advogada quando estava na faculdade, já aí no terceiro ou quarto ano, quando começamos a pensar que tipo de profissão vamos seguir. Juíza nunca foi de facto aquilo que eu quis ser, acho muito mais interessante ser advogada, defender uma causa. Para mim o mais interessante na advocacia é defender uma posição, por mais indefensável que ela às vezes pareça ser, é empenharmo-nos em fazê-lo e é isso que eu tento  fazer todos os dias, aqui no escritório. É uma profissão muito intensa mas também gratificante, quando as coisas correm bem. 

Alguma vez pensaste em ser profissional de golfe? 

Pensei naquela altura em que andava pelos 18 anos. É uma idade decisiva, pelo menos quando se está em Portugal e uma pessoa vai para a faculdade ou escolhe outro caminho. Na minha altura, só ia para os Estados Unidos quem tinha muitas possibilidades ou tinha um nível de golfe muitíssimo elevado que permitisse ter bolsas de estudo. Não era bem o meu caso, portanto acabei por seguir o caminho mais tradicional e ir para a faculdade cá em Portugal. Mas nessa altura, sim, ponderei um pouco, mas eu não tinha verdadeiramente os recursos financeiros para ir sozinha para uma faculdade nos Estados Unidos e cá em Portugal também achei que era um bocadinho ir ao encontro do desconhecido, achei que poderia não ter condições para isso. Acho que é preciso uma grande dose de perseverança e de condições financeiras que na altura não reunia. 

À conversa com GOLFTATTOO no seu local de trabalho, no centro de Lisboa / © FILIPE GUERRA

Como é que vês o golfe feminino actualmente comparativamente com os teus tempos áureos? 

Acho que continua a haver poucas jogadoras de topo. Na minha altura, seriam três, quatro – e agora também não acho que sejam muitas mais que do isso. Vejo mais jogadoras jovens, mas sobretudo muito jovens, ou seja, entre os 10/12 anos. Vejo muito no Jamor miúdas com essa idade. Mas apesar desta geração já ser melhor e ter melhores resultados, ainda não é uma evolução, acho eu, muito expressiva. 

Neste momento, a melhor jogadora amadora portuguesa é a Susana Mendes Ribeiro. Já alguma vez jogaste com ela? 

Sim. Eu dou-me muito bem com a Susana, muitas vezes treinamos juntas no Jamor. Jogamos juntas, também. Tenho uma boa relação com ela, sim. É uma boa jogadora. Bate bem na bola. Às vezes é inconstante nos resultados e ela própria certamente que sabe disso. Acho que tem de encontrar essa consistência que lhe permitirá chegar mais longe. 

No último torneio do Circuito Liberty ganhaste no play-off a uma das promessas do golfe português, que é a Joana Silveira, como a Susana Mendes Ribeiro, do clube de Miramar. O que é que achas da Joana como jogadora? 

Já conhecia a Joana. Já tínhamos jogado juntas anteriormente. Acho é uma jogadora muito calma, nisso vejo nela um bocadinho da minha personalidade. Muito calma, às vezes até um bocadinho fechada. Não fala muito durante o jogo mas bate bem a bola, ‘pata’ relativamente bem. Acho que se ela quiser e tiver capacidade de trabalho, pode ir muito longe no golfe. Ainda por cima é muito boa aluna, uma miúda ajuizada e com muito talento. 

Nos teus tempos de amadora de alta competição, Ricardo Santos também o era, vocês jogaram torneios juntos. De alguma maneira pressentiste que ele ia chegar tão longe como chegou? 

Acho que sim. Acho que todos nós tínhamos a noção de que o Ricardo tinha muito talento. Para além de ter um bom swing, sempre bateu muito longe na bola, era alto e sempre demonstrou vontade de seguir esse caminho. Acho que sobretudo o que o diferenciava era ele acreditar nas suas capacidades. Ele tinha capacidades, nós todos o sabíamos e acho que o trabalho mais importante que ele fez foi precisamente acreditar nisso, ser perseverante, ter sempre essa força de vontade, ter sempre esse objectivo em mente. Se calhar isso fez a diferença relativamente aos demais amadores.