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Beatriz Themudo está de volta à selecção nacional
22/02/2015 18:52 Rodrigo Cordoeiro
Com seu pai, João Pedro, a caddie no Internacional de Portugal / © FILIPE GUERRA

Convocada sexta-feira para prova na Argentina, campeã nacional de sub-18 fala da sua carreira

Beatriz Themudo deu nas vistas no último Internacional de Portugal: era sétima classificada no final do primeiro dia e nos dois dias seguintes esteve sempre entre as 20 primeiras, passando o cut com distinção. Viria a terminar a prova no Montado na 31.ª posição, mas esta sua prestação consistente valeu a confiança do departamento técnico da Federação Portuguesa de Golfe para que fosse convocada na sexta-feira passada para o Southern Cross Invitational, que se joga em Março em Buenos Aires. É o regresso à selecção nacional depois de uma ausência de dois anos, pretexto para a entrevista que se segue, mas não o único. É que, aos 18 anos, a jogadora de Miramar está inteiramente dedicada ao golfe e aposta numa carreira futura como jogadora de golfe profissional. Importava ouvir a campeã nacional no escalão de sub-18, título que se veio juntar em 2014 aos de sub-12 (2008), sub-14 (2010) e sub-16 (2012). 

GolfTattoo – Neste momento, estás inteiramente dedicada ao golfe, por isso, pergunto: o profissionalismo no golfe faz parte dos teus planos? 

Beatriz Themudo – Faz parte, sim. Este ano continuo como amadora e vamos ver como corre. Em 2016, vou tentar jogar algumas provas do LETAS (Ladies European Tour Access Series), ainda não sei se como amadora ou se já como profissional. 

Quando e porquê decidiste deixar de estudar? 

Foi em Outubro do ano passado. As notas não estavam famosas, não estava a conseguir conciliar o golfe com os estudos. Falei com o meu pai e concordámos em que este ano eu parasse de estudar para jogar golfe. 

Sentias vontade de te dedicares só ao golfe…

Exactamente. 

Sentes que, se não fossem os estudos, a tua carreira no golfe até hoje poderia ter sido bem melhor?

Sim. Eu estava na área de ciências, difícil para conseguir conciliar as duas coisas. As aulas acabavam às quatro da tarde e, no Inverno, às cinco já é de noite. Muitas vezes não conseguia treinar para os torneios que ia jogar.

A Susana Mendes Ribeiro, bicampeã nacional absoluta, também está totalmente dedicada ao golfe. Falaste com ela sobre esta tua decisão? 

Não. 

Até que ponto sentes melhorias no teu jogo desde Outubro? 

Mais consistência, menos erros. 

E quais os teus objectivos para este ano? 

Pretendo jogar todos os torneios nacionais e o máximo de torneio internacionais que puder. Para já, dois objectivos já foram alcançados: passar o cut no Internacional de Portugal e regressar à selecção nacional. Recebi na sexta-feira a convocatória da Federação para o Southern Cross Invitational, em Buenos Aires. Naturalmente, fiquei muito feliz, acho que o trabalho que tenho vindo a realizar tem dado frutos. 

Porque saíste das selecções? 

Nunca cheguei a perceber o porquê. Eu fazia parte da selecção no tempo do Sebastião Gil como seleccionador nacional; depois entrou o Nuno Campino e só no primeiro ano é que continuei, lembro-me que ainda fui aos estágios e joguei um Portugal-Holanda, isto no meu primeiro ano de sub-16. O último Internacional de Portugal, joguei-o por conta própria. 

O Nuno Campino falou contigo depois do Internacional? 

Deu-me os parabéns pela grande prestação e disse-me que não andava a dormir em relação aos resultado, para eu continuar a trabalhar como tenho andado a trabalhar até agora. 

Como tem sido o teu dia-a-dia? 

Dividido entre golfe e ginásio. Tenho feito algum exercício físico porque estava fraca em termos de estabilidade. Em conversa com o José Pedro Almeida [preparador físico], da Federação, ele disse-me que eu tenho de trabalhar em alguns aspectos, o que tenho feito. Sobretudo trabalho de flexibilidade e estabilidade. Comecei a trabalhar nesta área há três semanas, depois do Internacional de Portugal, porque na última volta tinha acusado bastante cansaço. 

No Internacional de Portugal, fizeste 17 greens a três putts. O putting era uma área do teu jogo que já estava em crise ou foi neste torneio que isso se revelou? 

No 1º Torneio Liberty, o primeiro torneio do ano, na Penina, também já tinha sentido – no primeiro dia vi que alguma coisa não estava bem. Mas agora sinto-me bastante confiante, estou a patar melhor. Troquei de putter, o meu era demasiado leve. Estava com um Cleveland e agora tenho um Scotty Cameron.

O putting: área que mais dificuldades lhe criou neste início de 2015 / © FILIPE GUERRA

Como se deu a tua passagem para o Club de Golf de Miramar há cerca de três anos? 

Eu comecei a jogar golfe em Miramar, porque vivi no Porto até aos meus sete anos, os meus pais são de lá. Depois tive me mudar para Lisboa porque o meu pai foi para lá trabalhar. Desde então, passei pela Academia Estoril-Sol, Quinta da Beloura, Estoril e novamente Beloura. Antes de mudar para Miramar, estava no Clube Nacional de Golfe, com sede na Beloura. Passei para Miramar no meu último ano de sub-16, para me poder integrar na equipa, para jogar o Inter-Clubes. 

Beatriz Themudo, Susana Mendes Ribeiro, Leonor Bessa, Joana Silveira, Bárbara Neto-Bradley e agora uma nova aquisição: Inês Barbosa. Ou seja, as melhores jogadores de golfe portuguesas fazem parte de Miramar… 

È muito bom, temos uma equipa muito forte. Praticamente todas representam a selecção, portanto, as coisas tornam-se muito competitivas. Não cabemos todas no Inter-Clubes, pelo que vamos ter de fazer competições para conseguir entrar na equipa. 

Ficaste surpreendida com a vitória da Joana Silveira na Taça da Federação de 2014? 

Um bocado, mas acho que ela trabalha bastante e acho que foi merecido. Eu não passei o cut, joguei muito mal no segundo dia. 

E não participaste no Campeonato Nacional Absoluto… 

Estava lesionada num ombro. No início do ano fui para a neve e magoei-me no ombro, o que me impediu de jogar algumas provas. Mas o ano passado também andei afastada por desmotivação. O único torneio importante que joguei a Taça da Federação e o Campeonato Nacional de Jovens, que ganhei. 

Desmotivação porquê? 

Por  falta de resultados, por não ser convocada para os estágios da Federação, enfim, de tudo um pouco. 

O jogo da campeã nacional de sub-18 melhorou em consistência / © FILIPE GUERRA 

És filha de um profissional de golfe [João Pedro Themudo], presumo que o golfe tenha começado por aí? 

Tinha 4 anos quando o meu pai começou a trabalhar em Miramar. Foi aqui que dei as minhas primeiras tacadas. Gostava de ir com ele, ficava a vê-lo dar aulas e depois tentava fazer o mesmo. 

Como é que vês o teu pai como treinador de golfe? 

É uma grande ajuda que eu tenho, e uma sorte poder ter um pai que é treinador. Apoia-me a 100 por cento nas minhas decisões. Quando estou no Porto, treino com o Nelson Ribeiro de Miramar. 

Qual foi a importância de teres o teu pai a caddie no Internacional de Portugal? 

Foi muito importante. Se não fosse ele, na terceira volta nem o cut passava, porque  cheguei a uma altura em que já estava com seis acima do par em 13 buracos. Ficava irritada com os shots que dava. Estava a colocar demasiada pressão sobre mim mesma. Ele ajudou-me a manter a calma. 

Tens alguma jogadora profissional internacional que seja como que uma referência para ti? 

A Michelle Wie. 

Qual o teu melhor momento no golfe? 

A vitória no Campeonato Nacional de Sub-18. 

E aquele que te deixou um travo mais amargo? 

No Campeonato Nacional Absoluto de há dois anos, em que não passei cut por uma pancada depois de acabar com duplo no último buraco. 

A Lydia Ko voltou a vencer hoje um torneio. Ela tem 17 anos e já é n.º1 mundial. Na tua opinião, como é que isto é possível? 

Acho que tudo é possível com trabalho e dedicação, só assim se consegue chegar longe.