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Confissões de Pedro Lima Pinto, agente e promotor
22/08/2016 09:08 RODRIGO CORDOEIRO
Durante um torneio que promoveu patrocinado pela Hilti / © D.R.

Gere carreiras de jogadores de prestígio e apoia golfe nacional profissional

Pedro Lima Pinto, da Greatgolf (Promoção e Divulgação do Golfe), agente de Gonçalo Pinto e Tiago Cruz, faz algumas revelações em primeira mão nesta entrevista. Como a de que será ele a gerir a carreira de Tiago Rodrigues, que, depois de quatro anos no Rollins College, na Florida, se prepara para virar profissional, não sem antes representar o seu Oporto Golf Club no Campeonato Nacional de Clubes que se avizinha no Montado Hotel & Golf Resort, na tentativa de reeditar o título obtido em 2010. 

Segunda revelação: a Greatgolf tem trabalhado com Filipe Lima e está perto de selar acordo com o jogador que, para além do seu historial, este ano já venceu no Challenge Tour e que recentemente representou Portugal no torneio de golfe dos Jogos Olímpicos, jogando em grupos com nomes como Patrick Reed e Bubba Watson. 

Terceira revelação: ainda não é oficial, a Mota Engil vai voltar a apoiar o golfe profissional português. Durante muitos anos esta empresa foi o principal patrocinador do Campeonato Nacional de Profissionais, tendo invariavelmente como palco o campo de Amarante. Agora regressa com um torneio em Outubro no mesmo lugar, pontuável para o PGA Portugal Tour, que terá também o apoio da Hilti, a marca que patrocina… Gonçalo Pinto. 

Natural e residente no Porto, membro do Oporto Golf Club, Pedro Lima Pinto envolveu-se nesta actividade apenas em 2013, e de forma altruísta, para ajudar um jogador que admirava (e admira): Gonçalo Pinto, bicampeão nacional de amadores em 2012, 4.º classificado no Europeu Individual no mesmo ano e vencedor do Internacional de Portugal em 2013. Além de agente, é também promotor de torneios e tem-se revelado uma preciosa ajuda para a PGA de Portugal. 

P.S. Isto Pedro Lima Pinto não queria que se dissesse já (não vá o diabo tecê-las), mas eu vou dizer, daí não advém mal ao mundo: está quase garantida a presença de Filipe Lima no Solverde Campeonato Nacional PGA, que se joga de 21 a 23 de Setembro no Oporto Golf Club. Lima decidira inicialmente não o jogar, com o argumento de que precisava mesmo dessa semana para descansar da competição, de maneira a preparar-se para os últimos e mais importantes e mais ricos torneios do Challenge Tour, que se jogam longe – há um no Cazaquistão, dois na China, outro nos Emirados Árabes Unidos e, a finalizar a Road to Oman, há Mascate, em Omã. Mas houve um torneio do Challenge Tour na Áustria onde Lima estaria presente em Setembro que foi cancelado e, dessa forma, o jogador já mostrou disponibilidade e vontade para entrar no Campeonato Nacional.

Com equipa da PGA na última Taça Manuel Agrellos / © D.R. 

GOLFTATTOO – O que o levou a enveredar pela gestão da carreira de jogadores profissionais de golfe portugueses, através da empresa Greatgolf? 

PEDRO LIMA PINTO – Durante anos, ouvi o discurso de que não tínhamos profissionais de jogo com sucesso nos principais circuitos europeus, porque estes não tinham os apoios necessários para desenvolver as suas carreiras. Todas as semanas abria o live scoring do European Tour e via que todos os países tinham inúmeras bandeiras, nós tínhamos uma, quando tínhamos. Foi isso que me fez começar a procurar apoios que permitissem lançar a carreira do Gonçalo Pinto, foi na tentativa de alterar essa realidade que comecei a trabalhar com ele em 2014. 

Donde vem a sua ligação ao Gonçalo? 

Dos torneios amadores da FPG, de o ver jogar. Não há nenhuma relação prévia de amizade ou familiar.

Com Gonçalo Pinto / © D.R. 

Que balanço faz do seu percurso como agente de jogadores? 

Esta actividade não é fácil. As empresas ainda não se aperceberam das mais-valias que podem retirar de uma parceria com um jogador profissional de golfe.

É difícil ouvir um não, às vezes com desculpas e justificações absurdas. Temos de ter a capacidade para, depois de ver uma porta fechar, pensar logo numa alternativa e imediatamente ir bater a outra porta. Nunca se pode desanimar. Se acreditamos no que estamos a fazer, conseguimos manter a motivação. 

O golfe em Portugal movimenta milhões de euros. Um grande número de empresas de diferentes ramos de atividade beneficiam, directa ou indirectamente, dos milhões que o golfe gera em Portugal, mas depois não são capazes de investir uns tostões na modalidade. São os “nãos” destas empresas que tanto beneficiam do golfe que mais me custam a digerir. 

Graças a Deus, há muitas e boas excepções, e penso que o futuro vai ser risonho. Vai haver mais marcas e empresas com orgulho de se associarem a este desporto através dos jogadores profissionais. Não conheço nenhum caso de uma empresa que tenha tido uma má experiencia com um profissional de golfe. 

A sua primeira grande aposta, o Gonçalo Pinto, não conseguiu ainda vingar como profissional… 

Como muitos jovens jogadores, o Gonçalo não tem tido um início de carreira profissional fácil. As coisas não começaram bem e, como eu lhe costumo dizer, ele pôs-se a jeito. Os resultados não apareceram, em alguns momentos faltou alguma sorte, foi perdendo a confiança, as dúvidas começaram a aparecer – e quando isto acontece tudo fica mais difícil. 

As qualidades continuam intactas, e eu estou convencido que a pior fase já passou, tenho visto indicadores muito positivos. Todos os que estamos envolvidos no projecto de tornar o Gonçalo um jogador de sucesso sabemos que não é fácil inverter esta situação, mas vamos continuar a trabalhar para o ajudar a ultrapassar esta fase má. 

Uma coisa é certa, nunca será Greatgolf a desistir dele, basta para isso que o Gonçalo continue a querer e a demonstrar que quer. A minha confiança e a do treinador (David Lewellyn) e dos patrocinadores no Gonçalo é total, todos sabemos que tem qualidades mais do que suficientes para ter sucesso no circuito europeu. 

Mas neste momento não se pode dizer que o Gonçalo se dedica a 100 por cento à sua carreira como jogador, tem desde há pouco tempo a função de treinador da JuveGolfe, porventura o clube sem campo que mais tem feito pela formação... 

Sempre procurei angariar os apoios necessários para ele se dedicar a 100 por cento ao seu jogo. Infelizmente não foi possível e apareceu a proposta da JuveGolfe, que permite ao Gonçalo ter alguma disponibilidade para treinar. Para a carreira de jogador profissional, não é a situação ideal, mas para a vida pessoal do Gonçalo o trabalho na Juvegolfe é muito importante porque lhe dá estabilidade financeira. Esperemos que ele tenha a disponibilidade de tempo necessária para treinar, que lhe permita atingir os desafios que tem pela frente durante os próximos meses. 

O David [Lewellyn] tem feito um trabalho com o Gonçalo que eu considero a todos os níveis fantástico, tanto ao nível técnico como na metodologia do treino, e até na parte psicológica e motivacional. Onde ainda não chegou onde ele quer é na estratégia de jogo. 

Professores de golfe conheço muitos, treinadores poucos. Para mim o treinador português que tem tido atualmente mais sucesso é o Luís Barroso, os resultados do Tiago Cruz e do João Ramos são a melhor prova disso. Admiro muito o Luís e o trabalho que ele tem feito.

Recentemente, o bicampeão nacional Tiago Cruz e grande dominador do golfe nacional a nível profissionais, juntou-se à equipa da Greatgolf…

O Tiago é um jogador maduro. Nas competições nacionais, se estiver focado a 100 por cento na competição, é muito difícil derrotá-lo. O Tiago está preparado e merece ter uma nova oportunidade de relançar a carreira internacional. Muito provavelmente essa oportunidade depende da realização de um torneio do Challenge em Portugal, que nos proporcionaria múltiplos convites para jogar torneios do mesmo circuito lá fora. 

Nos últimos anos tivemos duas gerações de jogadores de grande qualidade. A geração onde pontificaram o Ricardo Santos, Hugo Santos e Tiago Cruz e mais recentemente a geração do Ricardo Melo Gouveia, Pedro Figueiredo, João Carlota, Gonçalo Pinto, Tiago Rodrigues, José Maria Jóia e Miguel Gaspar – e seguramente estarei a cometer a injustiça de me esquecer de alguém. Esta última é talvez a geração que combina melhor a qualidade com quantidade. 

De todos estes podemos dizer que dois jogadores conseguiram lá chegar – Ricardo Santos e Ricardo Melo Gouveia. Se não houver rapidamente um torneio do Challenge em Portugal, corremos o risco de perder uma geração de jogadores como nunca tivemos em quantidade e qualidade. Infelizmente penso que o futuro próximo não nos vai trazer muitos Carlotas, Pintos e Figueiredos, por isso o Golfe Nacional tem de aproveitar estes que já demonstraram que têm qualidade. 

Parece impossível que não se consiga viabilizar financeiramente um torneio do Challenge Tour, para que isso aconteça são precisos 250 mil euros. E digo mais: nem sequer deveriam ser precisos apoios estatais. Não estamos a falar de um valor tão elevado que não devesse ser possível atingir só com o apoio de privados, mas não sou naïf ao ponto de acreditar que em Portugal isso é possível.

Com Tiago Cruz / © D.R. 

Explique-nos qual é a ligação de Filipe Lima à Greatgolf.

Temos um acordo de princípio, dependente de a Greatgolf lhe conseguir um contracto de patrocínio. Nesse sentido, tenho feito alguns trabalhos com ele, de apresentação a empresas. 

Algumas empresas que ponderaram realizar parcerias com o Filipe Lima para 2016, acabaram por não as concretizar. Provavelmente já se terão arrependido. A vitória no Challenge Tour e a presença nos Jogos Olímpicos são motivos suficientes para esse arrependimento. Houve o responsável de marketing de um grupo hoteleiro português que me disse que teria concretizado o patrocínio se soubesse que ele ia aos Jogos Olímpicos. 

Talvez no futuro o Filipe consiga os apoios que lhe permitam ter uma carreira financeiramente mais estável e como consequência disso consiga o regresso ao European Tour. Para atrair possíveis parceiros nacionais, ele tem de se envolver mais no golfe português, já lhe transmiti esta mensagem várias vezes. 

Por isso investi na presença dele no Campeonato Nacional do ano passado. Infelizmente, uma lesão no Cazaquistão inviabilizou a presença dele. Vamos ver se é este ano, já estou a trabalhar nessa possibilidade – a vontade do Filipe é estar presente, vamos ver se não há nenhum entrave. 

Entretanto, posso desde já dizer que vou começar a trabalhar brevemente com o Tiago Rodrigues. Ele está nos EUA neste momento, a passar duas semanas com o treinador, depois volta a Portugal para jogar o Campeonato Nacional de Clubes, que será a sua despedida como amador. 

Como vê o trabalho desenvolvido por José Correia à frente da PGA Portugal?

Foi incrível a reviravolta que ele conseguiu dar a uma associação que estava à deriva. Tem sido um prazer trabalhar com ele. A Greatgolf estará sempre disponível para colaborar com a PGA, tenho aliás orgulho no trabalho que tenho feito para ajudar a PGA a desenvolver-se. A Greatgolf, como promotora de torneios, quer ter como parceiro privilegiado a PGA de Portugal, por isso tenho trabalhado para conseguir apoios que permitam a PGA organizar mais e melhores torneios. 

O futuro vai-nos trazer parcerias ainda mais relevantes para o golfe profissional português — e posso já anunciar, de forma não oficial, que em Outubro se jogará um novo torneio do PGA Portugal Tour, com o patrocínio da Mota Engil e da Hilti. A Mota Engil assinala assim o seu regresso ao golfe depois de ter patrocinado durante muitos anos o Campeonato Nacional no campo de Amarante. 

Para bem do Golfe profissional em Portugal espero que o José Correia consiga manter o espírito de sacrifício e de abnegação que tem tido desde que é presidente. Os profissionais precisam que ele se mantenha a frente da PGA e que leve para a frente os vários projectos que está a desenvolver. 

Em relação ao golfe amador, apoia algum dos dois candidatos à FPG – Luís Filipe Pereira ou Miguel Franco de Sousa? 

É um assunto que não me diz respeito, e no qual não me quero envolver. Tenho a minha opinião pessoal sobre tudo o que se tem passado durante a campanha eleitoral e sobre o que está em cima da mesa. 

Há uma situação que me preocupa: o prestígio internacional do presidente Agrellos é muito maior do que o prestígio do Golfe Nacional. Essa situação pode levar o Golfe Nacional a perder alguma influência. 

O Eng.º Manuel Agrellos fica para sempre na história do Golfe Nacional. Sei da consideração que tem por todos os jogadores e o especial carinho que nutre pelos que passaram pelas seleções nacionais. Está sempre disponível para os ajudar, com conselhos e usando as influências e amizades que tem no Golfe Europeu. As partes menos positivas dos seus mandatos talvez tenham sido o falhanço no aumento de praticantes e a incapacidade para organizar em Portugal nos últimos anos um torneio do Challenge Tour. 

Aliás, o candidato a presidente que se comprometer com a realização de um torneio do Challenge passa imediatamente a contar com o meu apoio, e penso que não será só com o meu. De qualquer forma, não vai ser fácil ao sucessor do eng.º Agrellos atingir o mesmo nível que tiveram os seus mandatos.