Carlos Barbosa fala de tudo um pouco sobre a modalidade
Para Carlos Barbosa, o golfe é um “escape extraordinário” para a sua “vida intensíssima e sobretudo muito stressante”, mas não só – é um dos clubes de afinidade do Automóvel Clube de Portugal, a que preside. O ACP Golfe ainda foi obra de final de mandato do seu antecessor, Alberto Romano. Sucedendo-lhe em Abril de 2004, Carlos Barbosa profissionalizou o departamento colocando Manuel Quinta ao leme e hoje o ACP Golfe é um dos maiores clubes de golfe de Portugal, com 1042 membros ativos e pagantes (talvez apenas apenas o Clube de Golfe de Vilamoura tenha mais sócios, pois no seu website constam 1189). A adquiriu redobrada notoriedade no meio quando em 2016 passou a patrocinar o melhor golfista português da actualidade, Ricardo Melo Gouveia, que aliás foi manchete na última revista do ACP, que chega a casa dos seus 300 mil sócios. Tudo isto deixa-o satisfeito por sentir que está a contribuir para o aumento do número de golfistas em Portugal. Já no tempo em que detinha o Correio da Manhã (que vendeu em 2001) organizava com o nome do jornal um dos mais conhecidos torneios amadores no país.
Com Manuel Quinta, director do ACP Golfe / © FILIPE GUERRA
GOLFTATTOO – Como é que está o seu golfe
CARLOS BARBOSA – Em grande crise, porque fui operado quatro vezes ao mesmo joelho esquerdo. Agora fui ao médico do [Cristiano] Ronaldo e espero recuperar a forma. Foram muitos anos de râguebi, que me estragaram os joelhos todos.
Então não tem jogado?
Pouco, com uma posição do swing um bocadinho incorrecta, abrindo ligeiramente o pé esquerdo. Há cerca de ano e meio que tenho as minhas quotas suspensas no Estoril e em Oitavos Dunes – vou jogando de vez em quando num e noutro.
Qual foi o seu melhor handicap?
Acho que 14,6. Houve um ano, 1990 ou 1991, em que ganhei cerca de uma dezenas de taças. Na altura tinha fama de “pistoleiro”, porque jogava com 18 ou 19 e ganhava tudo. Cada vez que perdia um torneio, levava raspanetes monumentais do Marinho, que era o meu caddie – e que para mim é o melhor caddie português de todos os tempos. Ele achava que aquilo era tudo trigo limpo. De facto, eu jogava muito, adoro jogar golfe, é um escape extraordinário para a vida intensíssima e sobretudo muito stressante que tenho hoje em dia.
Sendo golfista dir-se-ia que teria sido o senhor a fundar o ACP Golfe, mas não foi esse o caso.
Quando tomei posse em Abril de 2004, já existia o ACP golfe. Tinha sido fundado – e bem – pela anterior direcção. Foi uma bela ideia, mas estava praticamente no início de actividade e parado – encontrámos até cartas de alguns a sócios a queixarem-se. Nunca tive dúvida da validade da iniciativa. Começámos imediatamente a apostar nela como um dos produtos a desenvolver, profissionalizámos o departamento, contratámos o Manuel Quinta para liderar o projecto, demos-lhe metas e estratégias e hoje fazemos um balanço muito positivo. Tivemos um crescimento enorme, somos hoje o maior clube de golfe em Portugal, com 1083 sócios, todos pagantes.
É um clube que apadrinho imenso. Tem trazido muitos sócios para o ACP e temos também promovido imenso o golfe através do clube, o que nos traz grande satisfação, na medida em que sentimos que continuamos a contribuir para o aumento do número de golfistas em Portugal, nosso grande objetivo. Este ano, por exemplo, à data de hoje já entraram para o ACP Golfe 71 novos sócios, o que corresponde praticamente a um sócio por dia – e apenas 25 já eram federados.
Ricardo Melo Gouveia é inclusivamente tema de capa da última revista do ACP…
O que é algo de inédito na história da revista – o ter o golfe na capa da revista. O golfe é um dos vários clubes de afinidade que temos no ACP, como o são os Clássicos, Mulher, Júnior… Consideramos que ter o Ricardo na capa é mais uma maneira de puxar os nossos sócios a perceberem que estamos a apostar na modalidade e que, portanto, eles têm a possibilidade de entrar num clube de golfe que traz muitas vantagens.
É um clube sem campo, sim, mas de qualquer maneira o número de clubes com campo em Portugal não chega aos dedos de uma mão – neste capítulo lembro-me apenas do Lisbon, Miramar, Estela, se não estou em erro. Devo dizer que também temos uma revista dirigida aos sócios do ACP Golfe.
Entretanto o ACP Golfe renovou o patrocínio ao jogador para 2017.
Ele fez uma época de 2016 excepcional, sobretudo na parte final. Acompanhámos com muito carinho e entusiasmo. Eu encontrava-me no Dubai quando ele estava lá a jogar o DP World Tour Championship [prova de encerramento do European Tour, para uma elite de 65 jogadores], infelizmente, não tive hipóteses de estar com ele. Mas telefonei-lhe e falei com ele – e tudo isso porque estamos sempre em contacto.
É uma pessoa que gosto de apadrinhar porque tem feito uma carreira exemplar e sobretudo o ano passado deu-nos completamente o retorno em relação ao patrocínio que lhe fizemos. O que no fundo queremos é ajudar a que ele prossiga e que seja um dos melhores do mundo.
Com Ricardo Melo Gouveia, patrocinado pelo ACP Golfe / © ACP GOLFE
Tendo ACP 300 mil sócios, deve existir margem para captar mais dos seus sócios para o ACP Golfe.
Certamente. O golfe hoje em dia já não é um desporto elitista, esse paradigma caiu completamente por base. Existem campos municipais. Toda a gente pode jogar golfe. O ano passado entraram 200 dos nossos sócios para o golfe, pessoas que iniciam muitas vezes tardiamente o golfe, levados por amigos, mas também muitos jovens.
Uma das coisas que gostei de ver no último torneio do ano passado, foi um grupo de casais amigos que, com duas carrinhas Ford Transit, fazem todos os nossos torneios pelo país fora. Acho interessante esta componente lúdico-turística. Os membros do ACP Golfe são a alma deste clube, dedicados, muito entusiastas a promover o clube e a trazer novos sócios – e estão espalhados por todo o país, de Bragança a Faro.
Fez parte da Comissão de Honra da candidatura vitoriosa de Miguel Franco de Sousa nas eleições de Novembro na Federação Portuguesa de Golfe. Como é que viu esta corrida eleitoral?
Conheço o Miguel há muito anos, está ligado ao golfe há muito tempo. No fundo ele quer ser uma continuação daquilo que o Manuel Agrellos fez – e bem – na FPG, mas trazendo nova gente e sangue novo. É evidente que vai trazer outra capacidade, pois penso que anterior direcção já estava esgotada em termos do que se tinha proposto fazer. Tenho grande estima por aquele que foi o adversário do Miguel nas eleições, o Luís Filipe Pereira, e cheguei uma vez a dizer-lhe que não valia a pena ele concorrer, porque teria com certeza pouco apoio face ao seu rival.
A fasquia dos 50 mil em 2028, a que se propõe o novo presidente da FPG, é possível?
Acredito que sim, porque existem cada vez mais infra-estruturas simples e acessíveis para jogar. Às vezes, nas viagens que faço pelo interior do país, vejo, de repente, campos de pitch & putt, que não me passava pela cabeça que existissem. Se soubesse, teria trazido os tacos para dar ali umas tacadazinhas. Claro, vai ser preciso investir muito na juventude.
Tem-se discutido muito se o golfe passa de 18 a 12 buracos – eu sou 100 por cento apologista disso, porque os jogadores passarão a dispôr de mais tempo para a família e outras actividades e os campos ganham mais horas de saída para clientes. O golfe precisa de se reinventar um bocadinho, não faz sentido levar-se cinco e seis horas de jogo num torneio, sobretudo nos torneios sociais, em que as pessoas estão ali para se divertirem e não para o encararem como se de uma Ryder Cup se tratasse.
O râguebi evoluiu imenso, hoje em dia é um sucesso a nível mundial e mesmo os que não são praticantes seguem os grandes eventos como a Taça das Seis Nações. E se falo no râguebi podia falar na Fórmula 1 e no modo como reiventámos este ano o Mundial de Ralis.
Este ano o ACP Golfe reforça o seu calendário com um novo circuito, com torneio de apenas 9 buracos, que será jogado entre Maio e Setembro. Para dar hipóteses àquelas pessoas na faixa etária dos 30 aos 45 anos que não conseguem tirar 7 horas para jogar um torneio aos fins-de-semana.
Qual é o jogador de golfe que mais admira?
O jogador que mais admirei desde sempre foi o Seve Ballesteros, não pelo jogo consistente, coisa que ele não tinha, mas pela maneira como saía dos apuros onde estava permanentemente. Não era um jogador de estar sempre no fairway; ia para debaixo das árvores, para os bunkers, para sítios inacreditáveis – e mesmo assim ganhava torneios porque tirava a bola de sítios impensáveis. Foi o maior artista que eu alguma vez vi em termos de jogador.
O Tiger Woods era um relógio suíço, aquilo era tudo igual, chegava sempre ao green com as pancadas certas e tinha sempre o birdie à mão. Ora, acho que uma das coisas que entusiasma o público é o virtuosismo de alguns jogadores, é isso que leva milhões de pessoas a verem os torneios de golfe,
O Rory [McIlroy] também é para mim é uma coisa extraordinária, com a idade que ele tem… E depois há aqueles jogadores que apreciamos sempre, como aquele americano canhoto, o Phil Mickelson, que adoro ver jogar, um gentleman, sempre com um sorriso, bem disposto.
Já jogou certamente com grandes figuras do golfe, nomeadamente em pro-ams.
Joguei muitos anos o pro-am do Open de Portugal com o Sam Torrance [escocês, 43 vitórias como profissional e oito vezes jogador da selecção da Europa na Ryder Cup], de quem sou grande amigo. Ele dizia que ganhava mais dinheiro a jogar às cartas nos torneios do que propriamente no golfe. Era um tipo extraordinário e fez-me uma coisa que nunca vou esquecer na vida. Num Troféu Lancôme em Paris, ele estava a discutir o título no mesmo grupo com o Ballesteros e o Olazábal. Eles bateram as suas saída no último buraco, vão a andar para o green e ele vê-me por detrás da cordas e vai-me cumprimentar e ainda está ali uns segundos a falar comigo. Não é normal, porque era um buraco importantíssimo, o decisivo.
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*A presente entrevista foi publicada originalmente no último suplemento “GOLFE” do jornal Público, dia 18 de Março