
... E há um novo clube que quer recuperá-los. Chama-se Indy Golf e é presidido por José Carlos Rodrigues
Os números são estes: nos últimos quatro anos, houve quatro mil pessoas que eram golfistas federados e que deixaram de o ser, que jogavam golfe e que deixaram de jogar. Para eles, foi lançada na semana passada a Associação de Golfistas de Independentes de Portugal, ou Indy Golf. José Carlos Rodrigues, jornalista de profissão e árbitro de golfe, foi um dos seus 16 fundadores e o principal impulsionador. E explica os propósitos deste projecto em entrevista GolfTattoo.
GolfTattoo – O que é a Associação de Golfistas de Independentes de Portugal, ou, abreviando, o Indy Golf?
José Carlos Rodrigues – É uma associação que quer voltar a trazer para o golfe aquelas pessoas que não se sentiam bem nos seus clubes e que nos últimos anos abandonaram, deixando até de ser federados. Os números dizem que nos últimos quatro anos, muito particularmente na região da Grande Lisboa, houve perto de 4 mil pessoas que, por motivos vários, deixaram de jogar. Honestamente, acho que é um desperdício haver 4 mil sacos de golfe a apanhar pó.
Como chegaste ao número dos 4000 ex-golfistas?
São os números existentes nas estatísticas da Federação Portuguesa de Golfe (FPG). Eram praticantes adstritos a um clube, a um campo – e jogavam pouco. Jogavam com os amigos – e o golfe também é muito isso, são poucos os amadores que gostam só de jogar competição pura. Ora, estas pessoas terão perdido esse pequeno prazer. O meu trabalho nestes próximos meses é voltar a chegar a eles e mostrar que podem voltar a jogar, descomprometidamente.
É uma aposta num nicho de mercado…
Com isto não inventei a pólvora. Associações de independentes há em muitos países na Europa: Suíça, Alemanha, Holanda, França. Há outra a ser criada em Espanha. Resultam para o chamado jogador descomprometido, que gosta de jogar de vez em quando e que não tem tempo para ter uma vida clubística. Para quem gosta de competição, o clube é o sítio ideal. Para quem gosta de jogar por lazer, se calhar esta é a melhor opção. Haverá outras, e eu não sou dono da ciência toda. Mas também vi que lá fora este caminho foi seguido e teve resultados assinaláveis.
Essas pessoas abandonaram o golfe porquê?
Presumo que terá pesado a questão monetária. Se eram pessoas que jogavam uma vez por mês, e se pagavam mil euros por ano, que era a média da quota anual para clubes, cada jogo saía-lhes a 100 euros.
Foi o teu caso…
Eu era sócio da Aroeira e o ano passado joguei lá umas sete ou oito vezes. Cada jogo saiu-me a cento e tal euros. Realmente, é caro. Eu jogo às vezes um torneio ou outro, mas também gosto de jogar com o meu grupo de amigos. Sendo sócio da Indy Golf, consigo, com menos dinheiro do que gastava anteriormente, continuar a ter o mesmo prazer e a jogar com os meus amigos em vários campos.
Quais são os campos com os quais o Indy Golf tem parcerias?
Antes do lançamento do Indy Golf, falei com os campos. Expliquei-lhes os objetivos que já te descrevi. Portanto, o que propus aos campos foi: ‘Tenho esta ideia, vou levá-la para a frente, ajudem-me a recuperar estes jogadores que abandonaram.’ Esta é a essência, voltar a criar condições para que os jogadores que gostam de golfe, que jogam por prazer com os seus amigos, por lazer, voltem a ter capacidade de praticar a modalidade. É tão simples quanto isso.
E que tal foi a adesão dos campos?
Muito boa. Falta-me terminar as conversações com a Quinta do Lago, que nos últimos meses teve todo o processo de relançamento e reabertura do campo Norte. Falta-me também formalizar com Royal Óbidos, Parque da Floresta, Oporto, Oitavos Dunes, Estela e com os campos do Grupo Pestana. De resto estão todos oficializados, e em processo de confirmação de acordos, incluindo os campos da Madeira e Açores. A todos fui presencialmente apresentar o projeto, por ato de civilidade que pelo menos o primeiro contacto fosse feito cara a cara. Representou um esforço significativo em termos de tempo e dinheiro, mas acho que será compensatório para todos os nossos associados.
Qual é o preço de adesão ao Indy Golf?
Com gestão de handicap são 145 euros/ano, sem gestão de handicap são 120 euros. Em ambos os casos, os associados têm direito a seguro desportivo e a descontos em alguns torneios organizados pela OIH e pela Double Eagle Golf. E podem jogar em praticamente todos os campos do país com preços que vão dos 25 euros na Quinta do Vale e em Castro Marim até aos 110 euros em Vale do Lobo, que é um campo de luxo. Na região da Grande Lisboa, a referência é entre €28 e os €45. Isto a pensar em 18 buracos, claro.
José Carlos Rodrigues: "Lá fora este caminho teve bons resultados." © FILIPE GUERRA
Qual a vantagem de um golfista se associar ao Indy Golf e não, por exemplo, a um clube sem campo?
A vantagem é de maleabilidade. Mas porque a Indy Golf, ao ser membro da FPG, tem a obrigação de fazer torneios, vamos realizar torneios que este ano têm em consideração uma coisa: a falta de tempo. Assim, vai acontecer o “Lisbon 9 Tour”, um circuito constituído por cinco torneios a serem disputados nos campos de 9 buracos existentes na região de Lisboa, nos meses de Maio e Junho de 2015. Terá início no campo do Paço do Lumiar, seguir-se-á o Golf dos Capuchos, depois o Blue Course do Estoril, depois o Oeiras Golf e terminará em Junho no percurso dos Mosteiros (Penha Longa).
Uma das causas apontadas para o decréscimo de golfistas na Europa e nos Estados Unidos é o excesso de tempo que se leva para fazer 18 buracos. Nesse sentido, o “Lisbon 9 Tour” abraça as novas tendências da modalidade?
Há essa tendência, atualmente até se discute se deviam ser 12 buracos em vez de 18. Acho difícil passar os 12 assim de repente, toda a indústria está formatada para 9 ou 18 buracos. Quero mostrar que é possível jogar em pouco tempo e ter o mesmo prazer que se tem num campo de 18. Eu também gosto de jogar 18, mas é quando tenho tempo. Muitas vezes, para jogar 18 buracos tenho de tirar um dia de férias. Está também planeado para 25 de Setembro uma competição designada “Friday Golf Day”,com quatro torneios a serem realizados simultaneamente em quatro campos da região de Lisboa. Os torneios terão início às 13 horas, sendo a entrega de prémios realizada nessa mesma noite, num restaurante no centro de Lisboa. E vamos fazer também, a 26 e 27 de Setembro, na piscina tropical da Aroeira, uma feira de novos e usados. Toda a gente tem material de golfe que quer trocar ou que quer vender… Irei convidar as marcas para estarem presente e cada jogador também pode ter a sua banca.
O Indy Golf tem outros projectos em vista?
É evidente que no futuro haverá mais coisas. Com o crescimento da associação haverá mais torneios informais a decorrer no país. Para o ano que vem haveremos de promover torneios nos Açores, onde me acarinharam de forma especial, para além de possuírem campos fantásticos e que merecem ser jogados. Espero também conseguir fazer algo na formação de novos jogadores. Para quem quiser ter aulas, temos vários profissionais de norte a sul do país que se disponibilizaram a praticar preços acessíveis aos nossos associados. E se houver capacidade, nas férias da Páscoa quero fazer, com a colaboração desses profissionais, uma ação de formação junto dos professores de Educação Física. Acho que temos de ter esse papel, para que eles estejam atentos para o golfe, não só para as outras modalidades.
Formação junto dos professores de Educação Física é um trabalho desenvolvido pela FPG…
Penso que todos os esforços são bem-vindos.
Além do presidente do Indy Golf, és também árbitro de golfe e desempenhas um papel no Clube de Golfe dos Jornalistas. Fala-me destas tuas outras actividades.
Arbitragem, faço por prazer. Quando me liguei ao golfe, descobri que toda gente discutia regras e poucos a sabiam. Gosto de arbitrar, e, como qualquer árbitro, dá-me uma dor de alma quando tenho de penalizar alguém. Felizmente, o árbitro de golfe – porque que as regras ajudam a resolver situações – tem um papel que não é só penalizador, serve para aliviar o jogador ou solucionar uma situação para a qual este não encontra saída. Além disso, ser árbitro tem uma vantagem: como tem a possibilidade de arbitrar na alta competição, acaba ao mesmo tempo por assistir a muito bom golfe – e isso é um prazer. Quanto ao Clube de Golfe dos Jornalistas, sou membro-fundador e hoje faço parte da Comissão Técnica, ajudo a preparar os torneios. É um clube pequeno, que ajudei a criar, pelo qual tenho carinho, quase uma sociedade de jogadores, onde vale sempre a pena continuar porque tenho lá alguns dos meus amigos, e o golfe também é isto, é estar onde estão os nossos amigos.