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FPG e a não-abertura do golfe
Crónica
16/03/2021 11:16 Comunicado
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Considera incompreensível a proibição prática desportiva – mesmo para modalidades ao ar livre e de baixo risco – até 5 de Abril

Foi com um tremendo desânimo e estupefação que recebemos a notícia de que a prática da atividade desportiva não iria acontecer antes de 5 de abril, mesmo para a lista de modalidades praticadas ao ar livre e consideradas de baixo risco onde o Golfe não pode deixar de estar incluído. 

Recorde-se que um campo de Golfe é uma instalação composta por organismos vivos, que contribui para o regular equilíbrio ambiental, e que carece de manutenção regular. Por isso, os clubes e instalações continuam com custos, mesmo estando totalmente privados de receita

É, para a Federação Portuguesa de Golfe, incompreensível que não se permita a prática do golfe, no atual contexto  em que se dá início ao alívio de  medidas de confinamento impostas até à data, que abrange  a reabertura dos cabeleireiros, manicures, pedicures ou bibliotecas – o que se saúda, naturalmente -, mas torna ainda mais difícil de compreender a decisão tomada, que parece muito claro não ter sido devidamente pensada e ponderada quanto à reabertura do golfe.

Vamos aos factos:

1. O Golfe é uma atividade desportiva praticada ao ar livre;
2. Portugal tem 15.500 praticantes de Golfe;
3. Existem 86 campos de Golfe em Portugal, dois quais, cerca de 50% estão situados no Algarve:

a. 40 no distrito de Faro
b. 14 no distrito de Lisboa
c. 8 no distrito do Porto
d. Restantes distribuídos pelo resto do país

4. Um campo de Golfe tem uma área média de 60 hectares;
5. A capacidade de um campo de Golfe de 18 buracos é de aproximadamente de 150 praticantes em simultâneo;
6. A área média disponível por praticante de Golfe é de 4.000 m2;
7. O Golfe é uma modalidade que pode ser praticada de forma transgeracional;
8. A prática desportiva num campo de Golfe ocorre de forma necessariamente organizada, ao contrário do que acontece nos espaços públicos, tal como jardins, praias, ciclovias, etc.

De acordo com o Eurobarometer on sport and physical activity, Portugal está no topo da lista quando avaliados os países (28) em função da taxa da população que nunca pratica atividade física e desportiva – 68% da população portuguesa não pratica atividade física regular ou desporto.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 5 milhões de mortes poderiam ser evitadas se a população global fosse mais ativa.

O Programa do Governo apresentado para a legislatura de 2019 a 2023 inclui o objetivo de colocar Portugal no lote dos 15 países com maior taxa de prática de atividade física e desportiva da União Europeia, nos próximos dez anos, ou seja, até 2029. Este desiderato, que naturalmente saudamos, teria certamente um enorme impacto na saúde dos Portugueses.

Integrar o lote dos 15 países com maior taxa de prática de atividade física e desportiva significaria que 54% da população seria ativa. Sendo este objetivo cumprido passaríamos a estar a par de países como França ou Espanha e estaríamos precisamente na média europeia.

Só se pode saudar o Governo por ter esta ambição definida, anterior à pandemia, bem sabemos, pese embora estar claramente refletida nos planos do Governo para 2021, como se pode verificar no Orçamento de Estado para o corrente ano.

As intenções têm de passar à ação. Realizar um trabalho profundo na definição de estratégias para o desenvolvimento da prática de atividade física e desporto junto dos parceiros do Estado para esta matéria, sejam as federações, comités olímpicos ou outras entidades ligadas ao ecossistema desportivo, torna-se absolutamente imperativo.

É indissociável a prática de atividade física e desporto do desenvolvimento sustentável dos países. Não é por acaso que os países com maiores taxas de atividade física e desporto são também os economicamente mais desenvolvidos e mais saudáveis.

Sabemos também que a prática de atividade física regular é um dos mais eficazes tratamentos preventivos para doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e também doenças do foro psicológico.

Um estudo realizado na Suécia, apresentado pela Golf and Health Organization, conclui que a taxa de mortalidade em jogadores de golfe é 40% inferior, ou seja, potencialmente um jogador de golfe vive mais 5 anos. Naturalmente não se deve ao golfe em particular, mas sim à prática de atividade física regular.

No documento apresentado pela Organização Mundial de Saúde – The Case for Investing in Public Health – apresentam-se algumas mensagens chave que ilustram bem a necessidade de implementação de estratégias que contribuam para uma população ativa, das quais temos a destacar:

• As doenças cardiovasculares e cancro custam aos países da União Europeia, anualmente, €169.000 milhões e €124.000 milhões, respetivamente;

• A obesidade representa entre 1% e 3% do custo total de saúde na maioria dos países

• A inatividade física custa até €300 por ano, por habitante da União Europeia;

• As doenças do foro mental têm um custo para as economias dos países Europeus na ordem dos €110.000 milhões por ano;

• Por cada euro investido em hábitos de vida saudáveis pode haver um retorno de até quatro vezes;

• O investimento em saúde pública gera resultados de saúde rentáveis e pode contribuir para uma sustentabilidade mais ampla, com benefícios económicos, sociais e ambientais;

É altura de agir e contribuir para que a prática de atividade física e desportiva seja uma realidade para toda a população, não só nas gerações mais jovens, mas, sobretudo, junto das populações mais velhas, cujos benefícios serão claramente muito superiores aos custos da inatividade – dos cidadãos e do Estado.

Queremos estar a par do melhor que se faz na Europa em termos de atividade física e desportiva, mas as decisões tomadas apontam claramente em sentido contrário. Portugal é agora dos poucos países da Europa onde a prática desportiva em geral e do Golfe em particular não está permitida. Países como Espanha, França, Itália, Suécia, Alemanha, Dinamarca ou Áustria, entre outros, tiveram sempre em conta as especificidades de cada modalidade e o grau de risco de contágio subjacente à sua prática na definição dos planos de reabertura.

Por cá, como se tem verificado, considera-se tudo “farinha do mesmo saco”: a decisão de abertura não parece ter sido devidamente ponderada, e só isso explica que o Golfe seja equiparado para efeitos de abertura aos ginásios e pior ainda, só reabra depois dos cabeleireiros, mediadoras imobiliárias, comercio automóvel e bibliotecas – atividades que se passam necessariamente em espaços fechados.

Desde o início da pandemia a Federação tem feito tudo para manter-se alinhada com o Governo nesta matéria, tendo, inclusivamente, defendido a estratégia implementada junto de uma comunidade claramente insatisfeita com a falta de coerência que verifica nas medidas implementadas, ao mesmo tempo que tem vindo a sensibilizar o Governo para as especificidades próprias desta modalidade que, tal como outras modalidades desportivas ao ar livre, deveriam ter sido melhor avaliadas nas decisões sobre o alívio do confinamento.

A decisão tomada de ontem é assim incompreensível a todos os títulos, representa um enorme desalento e acrescenta danos aos já verificados no Golfe nacional, os quais nas atuais circunstâncias eram absolutamente evitáveis.

Saudamos, contudo, o facto de, no Conselho de Ministros de ontem, o Governo ter aprovado um pacote financeiro de apoio ao Setor do Desporto no valor de 65 milhões de euros, visando garantir assim que os clubes e as federações desportivas consigam manter a sua atividade e os seus postos de trabalho no final desta pandemia.

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Miguel Franco de Sousa, Presidente da Federação Portuguesa de Golfe

Miraflores, 12 de março de 2021

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