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Conhecer o caddie de Ricardo Melo Gouveia
11/01/2016 16:09 RODRIGO CORDOEIRO
Nick Mumford com David Howell no Qatar Masters de 2008 / © GETTY IMAGES

Nick Mumford fala da parceria com o português e da sua carreira de quase 20 anos

Até aqui, Ricardo Melo Gouveia competiu dois anos (não foram bem dois anos, melhor seria dizer ano e meio visto que se tornou profissional no Verão de 2014) no Challenge Tour sem caddie fixo, mas a sua promoção ao European Tour, na condição de número 1 na ordem de mérito daquele circuito em 2015, a isso exigiu. O inglês Nicholas Mumford, de 48 anos foi o escolhido, depois de trabalhar 12 dos últimos 14 anos com o dinamarquês Anders Hansen, que se retirou dos relvados por ocasião do último Portugal Masters, em Outubro. Mas na sua carreira Nick Mumford passou pelo saco de nomes como Lee Westwood, Adam Scott, David Howell e Francesco Molinari. A estreia de ambos foi no final de Novembro, na primeira prova do European Tour relativa à época 2015-2016, com o 18.º lugar no Alfred Dunhill Championship, no Leopard Country Club, África do Sul. Numa altura em que se preparam para jogar o segundo torneio juntos, já a partir de quinta-feira em Joanesburgo, fomos conhecer melhor o homem que fará equipa com o português na sua primeira temporada na alta-roda europeia.

GOLFTATTOO – Entusiasmado por trabalhar com o Ricardo em 2016? 

NICHOLAS MUMFORD – Sim, estou obviamente muito empolgado com o seu novo desafio para 2016. O Ricardo teve um ano espantoso em 2015, estabelecendo novos patamares e batendo recordes no European Challenge Tour, o que prova que ele é um dos talentos em ascensão no mundo do golfe. Ricardo é um homem aprazível e por isso é muito fácil lidar com ele. Estou certo de que qualquer caddie apreciaria esta oportunidade. 

Quando é que se conheceram? 

Fui apresentado ao Ricardo pelo seu manager Rory Flanagan (Hambric Sports Group) no último Portugal Masters, em Outubro, em Vilamoura. 

E como foi a vossa primeira experiência juntos em competição, no Alfred Dunhill Championship? 

Gostei muito da nossa primeira semana juntos, em Leopard Creek. É realmente um campo de golfe especial, numa parte muito bela do mundo. Trabalhar para qualquer golfista pela primeira vez é sempre um desafio e Leopard Creek foi particularmente tricky sendo em altitude e com as flutuações de temperatura que tivemos nessa semana. Fiquei muito impressionado pela forma como o Ricardo dedicou o seu tempo a treinar todas as partes do seu jogo. O seu golfe melhorou todos os dias e, tendo em conta o ano atarefado e a quantidade de viagens que fez, acabar em 18.º foi um grande feito.                                                     

Quando é que ouviu falar dele pela primeira vez? 

Na verdade não sabia muito dele até Rory [Flanagan] me ter mencionado o seu nome. Comecei então a seguir a sua progressão nos últimos meses da sua época no Challenge Tour. 

Estou certo de que todos os portugueses adeptos do golfe querem saber mais sobre si… Fale-nos um pouco de si… 

Moro numa pequena cidade chamada Warminster, no oeste de Inglaterra, no condado de Wiltishire. É perto da cidade de Bath. Vivo nesta área desde os 16 anos. O meu pai esteve Exército Britânico, pelo que antes disso vivi em vários lugares – Alemanha, Irlanda do Norte, Escócia, onde quer que o meu pai estivesse a trabalhar. 

Quando foi o seu primeiro contacto com o golfe? 

O meu pai começou a jogar golfe quando eu era novo, lembro-me de ele me comprar um ferro 9 júnior quando eu tinha oito anos, com o qual eu batia bolas para os postes de râguebi no campo do exército. 

Quando iniciou a sua carreira como caddie? Como foram os primeiros anos? 

Comecei a actividade como caddie em 1996. Trabalhei como contabilista para uma empresa financeira em Bristol, mas quando eles se mudaram para a zona de Londres fui despedido. O meu bom amigo David Howell, com quem eu jogava golfe regional, arranjou-me o meu primeiro emprego, para Michael Welch, que tinha acabado de se tornar profissional e era o campeão amador britânico, europeu e mundial. 

As minhas primeiras quatro semanas envolveram uma viagem por estrada pela Europa com três outros amigos e caddies. Voámos para Madrid, alugámos um carro e fomos para Cannes, no sul de França, para o primeiro evento. Na semana seguinte conduzimos até Valência, Espanha, e depois até Bergamo, Itália, e finalmente regressámos a Madrid. Foi uma viagem de 6000 quilómetros num Fiat Punto. 

Naqueles dias os ordenados eram baixos e as viagens aéreas eram caras. Falhámos o cut nos quatro torneios, mas, devido à falta de caddies profissionais, era possível trabalhar para outros jogadores que tinham conseguido chegar ao fim-de-semana, por isso desenrasquei-me financeiramente. Pouco depois trabalhei para Gary Emerson no PGA Wenthworth, em Inglaterra, e fiz o meu primeiro cheque como caddie

Nesses dias tínhamos nomes como Seve Ballesteros, Nick Faldo, Ian Woosnam, Bernhard Langer e Costantino Rocca a jogarem todas as semanas, e portanto, sendo eu um ávido golfista e ser capaz de estar lado a lado com os meus heróis, se não podia jogar, fazer de caddie era a melhor coisa seguinte – e eu adorava.

Com Edoardo Molinari no British Open de 2014 / © GETTY IMAGES

É verdade que foi o primeiro caddie professional de Adam Scott? 

Sim, conheci Adam na Austrália em 1999, enquanto estava a trabalhar para Wayne Riley. Quando Adam se tornou profissional a meio do ano 2000 tive a sorte de pegar no seu saco. Depois de fazer o Open da Irlanda, o European Open e o Loch Lomond com Adam, ele qualificou-se então para o British Open em St. Andrews. Nunca esquecerei a nossa primeira volta de treino, às seis da manhã de terça-feira, com Mark Calcavecchia, Mark O’Meara e Tiger Woods. 

Podia prever que Adam Scott venceria o Masters e se tornaria o número um do mundo? 

Acho que toda a gente acreditava que Adam Scott iria vingar no golfe. Na verdade estou surpreendido que ele não tenha ganho mais majors. Ele tem um dos melhores swing no jogo e é verdadeiro profissional e cavalheiro. Ainda somos amigos. 

Trabalhou com Anders Hansen durante 12 anos… Estava no saco dele por ocasião das suas duas vitórias no PGA Championship (em 2002 e 2007), a prova-bandeira do European Tour? 

Trabalhei com Anders em 12 dos últimos 14 anos da sua carreira. Estava no saco dele quando ele ganhou o Volvo PGA Championship em 2002. 

Como foi trabalhar tanto tempo com ele? 

Sinto-me afortunado por ter trabalhado com Anders Hansen por um tão longo período de tempo, ele teve uma carreira fantástica e tratava muito bem de mim. O Anders é famoso por ser um dos melhores ball strikers no tour, não o mais longo mas certamente um dos mais direitos a bater na bola que já vi na minha vida. Quando trabalhamos para uma pessoa assim tanto tempo constróis muita confiança e ele embora fosse o meu patrão é também um bom amigo. Acredito que ele é um dos melhores jogadores do mundo com ferros médios. Foi um privilégio viajar pelo mundo e vê-lo jogar golfe por tanto tempo. Os nossos highlights foram a vitória no Volvo PGA de 2002 e os terceiro lugares no WGC- Cadillac Championship e no US PGA Championship, que o ajudaram a chegar a número 23 no ranking mundial. 

Como se sentiu no Portugal Masters sabendo que este seria o último torneio na carreira de Anders Hansen e o fim da vossa parceria? 

Sim, foi uma experiência muito emocional para mim e para o Anders. Não esquecerei como ele me ajudou ao longo dos anos e as experiências que partilhámos. Acredito que ele está a retirar-se demasiado cedo, visto que ainda pode competir ao mais alto nível, mas também admiro a sua decisão – quando ficas farto de voar à volta do mundo, é tempo de parar. Desejo-lhe o melhor para o futuro e ainda nos mantemos em contacto de tempos a tempos. Ele está interessado em saber como estão a correr as coisas entre o Ricardo e eu, o que é bom saber.

Com Anders Hansen no Abu Dhabi Golf Championship de 2012 / © GETTY IMAGES

Também trabalhou com David Howell, Oliver Fisher, Francesco Molinari… 

Nos meus primeiros anos como caddie trabalhei para muitos golfistas, algumas vezes por semanas, meses, tentando ganhar experiência e aprender o que esta profissão implicava. Tenho de agradecer por isso a Michael Welch, Gary Emerson, Andrew Oldcorn, Stephen Richardson, Andrew Sherbourne, Paul Curry, Christy O’Connor Jr., Stephen Field, Wayne Riley, David Park, Lee Westwood e Adam Scott. 

Joguei contra David Howell num match de clube quando ele tinha 14 anos e, sendo nós da mesma área, estivemos juntos em vários equipas como amadores, pelo que o conheço há muito tempo e tenho seguido sempre a sua carreira. Trabalhei para David em 2009/2010 e foi muito parecido com trabalhar para o teu melhor amigo. O jogo do David não estava óptimo nessa altura, mas seguramente que nos divertimos. É óptimo vê-lo jogar bem outra vez. 

Oliver Fisher é um golfista atlético e muito dedicado e tem a força para o jogo moderno. Gostei do tempo que passámos juntos, mas infelizmente as coisas não resultaram. Estou certo que ele se tornará muito bom nos anos vindouros. 

Francesco Molinari é também um dos golfistas mais direitos que já vi e um verdadeiro profissional, com uma grande equipa à sua volta. Nunca vi madeiras e híbridos batidos com tanta precisão. É óptimo vê-lo tentar competir na Europa e no PGA Tour, o que não é tarefa fácil. 

Quais são as características mais importantes num caddie? 

O velho provérbio “aparece, acompanha, e cala-te”. No entanto acredito que os mais importantes activos são o estar suficientemente confiante para dizer o que sentes e o que pensas no momento certo, e ser capaz de ficar calmo debaixo de pressão. Isto vem com a experiência. Fazer de caddie não é só sobre pegar no taco certo, é sobre ajudar o teu golfista a jogar o shot certo na altura certa debaixo de condições diferenciadas. Por vezes precisas de falar, outras só precisas de dar a distância e o vento e deixar o golfista sentir o shot. 

Tem alguns caddies que admire especialmente? 

Conheci muitos grandes caddies pelo mundo com muitas personalidades diferentes. Admiro a calma e as histórias dos velhos rapazes, como David Renwick, Fluff e Pete Coleman e gosto da irresistível confiança de Steve Williams, Billy Foster e John McLaren. 

Além do Ricardo, o que representa Portugal para si? 

Visitei Portugal muitas vezes enquanto fiz de caddie no European Tour e tenho sido recompensado com alguns campos muitos bons e com um tempo espantoso. É bom ver que Portugal está a começar a produzir alguns bons golfistas como Ricardo Santos e Ricardo Gouveia. Lembro-me que o Ricardo Santos ganhou o troféu para melhor rookie do ano em 2012, o que é um grande feito para o vosso país. Seria realmente especial ajudar o Ricardo a fazer o mesmo este ano, mas obviamente irá haver competição cerrada. 

É casado, tem filhos? 

Não sou casado, mas tenho uma companheira de longa data, Julie, estamos juntos há oito anos. Tenho uma filha, Emily, com 18 anos; Julie tem uma filha, Charlotte, de 26, um filho, Luke, de 23, e um neto, Corey Tiger, de 5. Acho que isso quer dizer que sou um avô padrasto!!!