Jorge Papa, director do Morgado Golf Resort, faz balanço de três anos de Open de Portugal
GOLFTATTOO – Uma vez mais, o campo do Morgado do Reguengo recebeu o Open de Portugal em excelentes condições de manutenção. Que diferença houve este ano no palco da prova em relação às duas edições anteriores?
JORGE PAPA – O campo está substancialmente diferente, principalmente ao nível do rough, que deixámos crescer até nove centímetros, criando um acrescento de dificuldade substancial. E está presente em toda a envolvente do campo, nomeadamente à volta dos greens, onde existe muito pouco espaço para trabalhar a bola. O que nós quisemos foi ter um campo com um grau elevado de dificuldade.
Há quem diga que o rough está exagerado ou muito denso, mas o que é certo é que os resultados falam por si. Quando, após três voltas, os nove primeiros estão separados por uma única pancada, é óbvio que isso me deixa satisfeito em termos de competitividade.
De resto, desde que aqui estou no Morgado Golf Resort, e já lá vão uns bons anos, nunca vi o campo tão bom, de uma forma geral. Em termos de equilíbrio está muito bom.
Este é o terceiro ano em que o Morgado Golf Resort recebeu o Open de Portugal. Em 2017, o evento foi pontuável para o European Tour, em 2018 e 2019 para o Challenge Tour. As exigências em relação ao campo diferem muito de um circuito para o outro?
Sim, são muito diferentes, mas nós é que não baixámos a fasquia. Quisemos sempre melhorar o campo, sempre. Fomos em contra-ciclo – e conseguimos.
Diz que com o rough mais alto, o campo está mais difícil, mas os resultados este ano foram mais baixos do que em 2018. Adrian Meronk ganhou no domingo com -15, quando o vencedor do ano passado, o grego Dimitrios Papadatos, somou um total agregado de 7 abaixo do Par.
O ano passado o vento foi um factor determinante. Então, houve muito vento no fim-de-semana, sobretudo no sábado, o que condicionou os resultados. Por outro lado, os ‘greens’ este ano não estão nem tão duros nem tão rápidos como estavam o ano passado – e ainda bem. Houve uma articulação de forma a que os ‘greens’ se mantivessem a uma determinada velocidade, não deixando de estar em óptimas condições. Agora, se este ano tivéssemos tido o vento que tivemos em 2018, não tenhamos dúvidas de que isto era capaz de ser muito mau. O ‘rough’ tem a particularidade de ser de bermuda pura, que é muito dura, muito densa. Quando a bola cai, é difícil encontrá-la. Já os greens estiveram com uma velocidade entre os 10.4 e os 11 no ‘stimpmeter’.
Em 2017, os resultados foram muito baixos, com o inglês Matt Wallace a vencer com -21. Como é que se justifica esta mudança nos resultados em relação à primeira edição do Open no Morgado Golf Resort?
É de facto uma grande variação. No primeiro ano em que recebemos o Open de Portugal não tivemos tempo praticamente nenhum para preparar o campo. No segundo ano também não foi muito diferente – saímos da época alta no golfe para receber o torneio. Já este ano, tivemos o campo fechado quatro semanas, o que permitiu fazer aqui uma série de operações. Os fairways, por exemplo, estão no seu melhor estado de sempre. Mas não foi só isso. Mesmo durante o próprio evento, continuamos com uma manutenção efectiva para melhorar ainda mais o campo. O pessoal também se empenhou muito este ano, foi de facto inexcedível. Trabalhámos de dia e de noite, constantemente.
As últimas duas edições foram em Maio, este ano foi em Setembro. Em termos de preparação isso tornou as coisas mais difíceis?
Muito mais difíceis. Incomparavelmente mais difícil. A todos os níveis. Enquanto que em Maio, normalmente, o Open se realizava depois de uma temporada de chuva, com o tempo mais ameno, ideal para esta relva crescer e estar saudável, já em Setembro acontece na sequência de dois meses, Julho e Agosto, que foram uma coisa tremenda, com muito calor.
São três anos já de Open de Portugal no Morgado Golf Resort. Que benefícios é que o torneio trouxe ao campo?
O maior benefício traduz-se na qualidade do campo, por todas as benfeitorias de que foi alvo. E foram muitas, desde a rega aos espaços envolventes, passando pelos novos ‘tees’ que foram criados para edição inaugural, num total de 14. O campo está incomparavelmente melhor do que era antes do Open. Isso deve-se também, não posso deixar de salientá-lo, ao empenho, ao apoio e ao investimento que a administração colocou no evento.
Depois, obviamente, a notoriedade do campo é agora outra. Nesse sentido, também foi muito bom para nós a vitória do Matt Wallace em 2017, ele que é um hoje um dos melhores jogadores do mundo. Pertence-lhe o recorde do campo, com -10.
Entretanto, enquanto o Morgado do Reguengo recebe o Open, o seu campo irmão, o Álamos, regista uma boa ocupação…
Sim, estamos quase em plena época alta, que começa a 16 de Setembro. É a época em que temos mais clientes britânicos aqui a jogar golfe. Nos nossos dois campos, em Setembro fazemos cerca de 7 mil voltas, em Outubro 11 mil e em Novembro outras 6 mil. É o nosso trimestre com maior taxa de ocupação. A partir de segunda-feira, o Morgado já estará pronto para ser utilizado, em condições excelentes, mas difíceis. Temo que alguns jogadores se irão queixar, pois com certezas haverá muitas bolas perdidas. Teremos de explicar que se trata do setup do Open.
Mário Azevedo Ferreira, CEO da NAU Hotels & Resorts, alertou numa crónica no jornal Público para a problemática da falta de água no Algarve. Como é o que Morgado Golf Resort e os seus campos de golfe estão a lidar com esta realidade?
Muito mal. Estamos com graves dificuldade. Dependemos de duas barragens, dois reservatórios, que são cheios com água da chuva. E quando não temos água temos de recorrer a uma terceira alternativa que é a barragem da Bravura, que nos fornece água através de uma adutora que temos até lá. Só que é um preço alto e não é uma alternativa viável.
Para termos este campo preparado para o Open, tivemos de tomar algumas decisões drásticas, nomeadamente a redução de água em todo o restante resort, e inclusivamente nos Álamos. Este ano só tivemos 18 dias de chuva, em Março, e, além disso, o Verão foi precoce e já em Maio havia temperaturas elevadas.
Eu não me lembro de ter as barragens tão vazias. A nossa barragem maior está completamente seca e a barragem pequena, que é o reservatório de rega, está no limite. É um problema gravíssimo do golfe no Algarve e têm de ser encontradas soluções, porque o golfe é um motor económico na actividade turística do Algarve muito forte, combatendo a sazonalidade.
Pessoalmente, que tal foi para si ter sido o anfitrião do Open de Portugal, na qualidade de director de golfe, durante estes três anos de Open?
Já tenho vários Opens no currículo. Comecei nos anos 80, na Quinta do Lago, fazendo as edições de 84, 85 e 86. Depois, nos anos 90, com a João Lagos Sports, não só no Open de Portugal, mas também no Open da Madeira. Agora, como director de golfe e responsável de manutenção, foi uma experiência extraordinária aqui no Morgado. Foi gratificante – e aliás eu adoro a minha profissão.