
Africanos de nascimento e residência, Roy da Costa e Stephen Ferreira representam Portugal no golfe
A 24 de Janeiro, o golfe nacional saudou a entrada do português António Rosado no Sunshine Tour 2015, o principal circuito de golfe da África do Sul. O algarvio conseguiu o apuramento através da respectiva Escola de Qualificação – eram 240 jogadores e só os 30 primeiros ficavam com o cartão, Rosado foi 28.º. O que nem toda a gente sabe, nem saudou, é que haverá mais dois portugueses para acompanhar no Sunshine Tour – Roy da Costa e Stephen Ferreira. Nascidos e residentes em África, mais concretamente no Zimbabwe, eles têm como única nacionalidade a portuguesa.
Roy e Stephen, ambos jogadores profissionais de golfe, são tio e sobrinho – a mãe de Stephen é irmã de Roy. Stephen, 23 anos, filho de pai zimbabweano, nasceu em Harare, capital do Zimbabwe, e viveu lá a vida toda. Roy, 50 anos, nasceu no Malawi e é também residente em Harare. As raízes? O pai de Roy e da mãe de Stephen nasceu em Vidago, Trás-os-Montes, e emigrou com 19 anos para África, onde conheceu uma inglesa do Malawi com quem se uniu.
Stephen treina no Morgado do Reguengo sob observação de Roy / © FILIPE GUERRA
Roy e Stephen acabam de passar uma temporada de cerca de um mês no Algarve, regressando amanhã, quinta-feira, a África, para darem início à temporada 2015 no Sunshine Tour. Roy veio a Portugal jogar a Escola de Qualificação do European Senior Tour (circuito europeu de profissionais acima dos 50 anos) e Stephen veio com ele para lhe fazer de caddie. A primeira fase decorreu em simultâneo em três campos algarvios do Grupo Pestana – Vila Sol, Silves e Gramacho. Roy jogou em Vila Sol e foi eliminado no 35.º lugar, com voltas de 81-82 (total de +19).
Mas eles aproveitaram também para jogar quatro torneios do Algarve Pro Golf Tour e ainda o TGC Open, em rodagem para o Sunshine Tour. Eles ainda se recordam de como foi chegar a Portugal a 13 de Janeiro e começarem a competir logo no dia 14 no 1.º Salgados Classic, sem volta de treino, num campo que desconheciam e que ainda por cima é complicado para quem nele evolui pela primeira vez: os 18 buracos dos Salgados são uma sucessão de lagunas de água salgada, canais e lagos de água doce que parecem cobrir quase tanta área como o terreno de jogo.
Stephen Ferreira foi o que mais se ressentiu nessa prova nos Salgados fazendo voltas de 80-80 para, com um total de 16 acima do par-72, concluir na 59.ª posição, entre 69 jogadores. Roy da Costa foi 41.º, com 76-76. Mas Stephen viria depois a mostrar, nos torneios seguintes, que é um bom jogador: 18.º lugar no 1.º Morgado Classic, no par-73 Morgado do Reguengo, com 74-71; 4.º lugar no 2.º Salgados Classic, com 70-70, o que representou uma melhoria de 20 pancadas (!) em relação ao torneio de estreia; 3.º lugar no TGC Open, este em três voltas de 67-72-76, para um total de 1 abaixo do par-72 sob más condições climáticas; finalmente, foi 35.º, domingo último, no 2.º Morgado Classic, com 74-77. Quanto a Roy, nestes cinco torneios teve como melhor marca o 21.º lugar no TGC Open, com 77-75-76.
Roy da Costa durante o 1.º Morgado Classic, a 18 de Janeiro / © FILIPE GUERRA
Ao contrário de Stephen, que só tinha vindo uma vez a Portugal, para umas curtas férias na terra transmontana dos seus ancestrais, Roy já passou algumas temporadas em Portugal no passado a jogar golfe. Em 1982, foi vice-campeão nacional amador perdendo na final para John da Silva Bento. Tornou-se profissional em 1985 e jogou o Open de Portugal em 1985 (Quinta do do Lago), 1986 (Quinta do Lago) e 1987 (Estoril). A única vez que passou o cut foi em 85, terminando em 72.º com voltas de 70-76-80-82, ou seja, 20 acima do par-72, numa edição ganha pelo inglês Warren Humphreys com 9 abaixo.
Roy da Costa contou a GolfTattoo que em 1992 quis deixar de ser profissional de golfe e que precisou de três anos para que o estatuto amador lhe fosse restituído, o que só que aconteceu em 1995, ganhando logo nesse ano o Campeonato Nacional Amador do Zimbabwe, entre outros êxitos no país que até 1979 se chamava Rodésia. O seu sucesso levou a que o Zimbabwe lhe concedesse cidadania honorária, para poder tê-lo como representante no golfe. “Fui seis anos capitão”, lembra. Finalmente, em 2001, tornou-se novamente profissional. “Já tinha feito tudo como amador – e eu gosto de jogar torneios”, justifica.
Mais recentemente, como contou, o ano passado vendeu o negócio de tecidos que detinha no Zimbabwe e disse para si próprio: “Vou jogar golfe!” Hoje totalmente dedicado à modalidade, encara com bons olhos a vinda para a Europa, e foi por isso que veio tentar a sua sorte na Escola de Qualificação do European Senior Tour.
Stephen mostrou ser um jogador forte nos torneios que jogou no Algarve / © FILIPE GUERRA
Stephen também está inteiramente dedicado ao golfe, embora não tenha qualquer patrocinador. “A minha mãe apoia-me um pouco”, diz. Em 2013 e 2014, competiu tanto no Mena Tour como no circuito do Zimbabwe. O Mena Tour é um circuito para profissionais e amadores de alta competição que se desenrola no Médio Oriente e no norte de África, numa iniciativa da Shaikh Maktoum Golf Foundation, com reconhecimento da Arab Golf Federation e do Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews. Os resultados aqui não foram famosos: num total de 11 torneios realizados, falhou o cut em 7, e a sua melhor classificação foi o 17.º lugar no Ras Al Khaima Classic, a 16 de Outubro de 2013.
Foi no tour do Zimbabwe que Stephen se destacou em 2014. “Acabei bem o ano, ganhei três dos últimos cinco torneios, o que me deu o 6.º lugar na ordem de mérito”, informa. Segundo Stephen e Roy, os 10 primeiros nesta tabela conquistam o cartão do Sunshine Tour – e é por isso que eles lá jogarão este ano, uma vez que Roy foi 10.º.
Ora, sabendo nós que António Rosado venceu a ordem de mérito no IGT Pro Tour 2014, um circuito secundário de golfe da África do Sul, e que não se livrou nem assim de pagar a inscrição para jogar a Escola de Qualificação do Sunshine Tour, não resistimos a perguntar a Roy e Stephen por que motivo o top 10 de um circuito como o do Zimbabwe dá direito ao cartão do principal tour sul-africano. Eles respondem que essa é uma contrapartida para a organização do Open do Zimbabwe, torneio de referência no Sunshine Tour, que tem a designação de The Golden Pilsener Zimbabwe Open e que este ano se joga de 9 a 12 de Abril no Royal Harare Golf Club.
António Rosado tem categoria 11b no Sunshine Tour, Roy da Costa e Stephen Ferreira têm a 12b. Estas categorias não são suficientes para nenhum deles ter entrada directa no primeiro torneio da época, o Dimension Data Pro-Am, de 19 a 22 deste mês em Fancourt, pelo que eles vão ter de jogar, a 17, o qualifying para o mesmo, no Montagu Golf Course. Vamos estar atentos aos três.