Mudanças para a grande referência do golfe profissional português na última meia-década
Ricardo Melo Gouveia operou relevantes e drásticas mudanças na sua carreira nas últimas semanas e vai estrear-se este Domingo com um novo equipamento no PGA Summer Pro-Am que a Greatgolfe e a PGA de Portugal vão organizar no Salgados Golf Course, do Grupo Nau, Em Albufeira.
2É uma excelente iniciativa por parte da Greatgolfe para ajudar a dinamizar a PGA de Portugal. Estamos todos com pouca competição e, por isso, é o momento certo para competirmos e convivermos com os amadores", disse o atleta olímpico português à Tee Times Golf, em exclusivo para Record.
Ricardo Melo Gouveia já está neste momento a treinar com o novo equipamento da Titleist, depois de anos ligado à Srixon, e será a sua primeira competição com os novos tacos. Uma mudança revolucionária por ser completa.
"É um contrato que engloba tudo, wedges, ferros, madeiras, putter, bola, boné, o saco completo. Só os sapatos é que não porque este ano já tinha contrato com a Nike", explicou o português de 29 anos, cumpridos no passado dia 6. A Titleist equipa, entre outros, Ricardo Santos, o melhor português no ranking mundial, enquanto a Srixon, por exemplo, continua ligada ao seu irmão mais novo, Tomás Melo Gouveia.
Ricardo Melo Gouveia tem estado muito ativo nas redes sociais nestes últimos tempos e publicou várias mensagens referentes a este tema sensível a qualquer jogador, pois cada material tem características próprias e, às vezes, levam-se semanas a conseguir a correta adaptação às novidades.
Numa primeira mensagem não foi ingrato para com a Srixon, marca que o acompanhou nos momentos mais altos da sua carreira, como quando foi n.º1 do ranking do Challenge Tour em 2015, quando entrou no top-100 do ranking mundial em 2016, quando representou Portugal no Rio2016 e quando arrancou dois top-10 nas edições de 2017 e 2018 do Portugal Masters.
Num post em inglês, escreveu: "Está na altura de dizer adeus a este saco e dar as boas-vindas ao novo. Muito obrigado à Srixon Europe por ter estado sempre presente, nos bons e nos maus momentos. Foi uma bela viagem!"
Dias depois surgiu uma nova publicação, igualmente em inglês, já referente ao novo material da Titleist: "Estou realmente entusiasmado com o que vem aí em tão boa companhia. Obrigado pelo apoio."
A troca de equipamento seguiu-se a outra alteração de fundo na sua carreira, pois no último mês e meio já andava a trabalhar com um novo treinador, Gonçalo Pinto, um amigo de longa data e antigo companheiro nos tempos de amadores no Clube de Golfe de Vilamoura.
"Durante a quarentena estive uma ou outra vez com o Gonçalo Pinto e percebi bem a filosofia dele. Gostei imenso da maneira dele trabalhar. Nessa altura tive bastante tempo para pensar e decidi falar com o Gonçalo para ele ser o meu treinador técnico", informou-nos o português residente em Inglaterra, que tem estado em casa dos pais, no Algarve, desde que se iniciou a pandemia.
Há uma enorme cumplicidade entre os dois amigos. Eram até conhecidas as apostas que faziam entre eles em cada torneio, premiando quem ficasse melhor classificado. Gonçalo Pinto, até é mais novo (27 anos) e foi campeão nacional amador em 2011 e 2012, ou seja, dois anos depois de Ricardo Melo Gouveia ter arrebatado esse troféu.
Sendo um talento nato, Gonçalo Pinto tem até um recorde nacional único – em 2012, depois de ter sido campeão nacional amador, foi também o melhor no Campeonato Nacional PGA de profissionais. A sua carreira incluiu uma vitória no Campeonato Internacional Amador de Portugal e campeão europeu de clubes (amadores).
A transição de amador para profissional não lhe foi favorável, não sendo capaz de evoluir como profissional ao mesmo nível do que alcançara como amador. Nos últimos anos dedicou-se muito mais à nova carreira de treinador. Aliás, em 2020, faltou ao Solverde Campeonato Nacional PGA, exatamente porque estava na Áustria com Ricardo Melo Gouveia, num torneio do European Tour – o que revela quais as suas prioridades neste momento.
Gonçalo Pinto não será o único treinador de Ricardo Melo Gouveia nesta nova fase. O galês David Llewellin, um amigo de longa data da família, ao ponto de ficar sempre alojado na casa dos Melo Gouveia quando se desloca ao Algarve, voltará a ter um papel mais ativo.
"O David ajudará o trabalho do Gonçalo. Ele tem a parte da experiência que falta um bocadinho ao Gonçalo, portanto, acho que complementam-se muito bem e estou bastante contente com essa mudança", acrescentou Ricardo Melo Gouveia.
O galês, nos seus tempos de jogador, chegou a ser 39.º na Ordem de Mérito do European Tour, circuito onde conquistou um título. Como treinador orientou alguns portugueses, incluindo Pedro Figueiredo, e ainda alguns valores seguros do European Tour como os galeses Jamie Donaldson e Rhys Davies.
Na hora da mudança, Ricardo Melo Gouveia fez questão de não esquecer o intenso trabalho realizado durante um ano e meio com David Silva, o antigo presidente da PGA de Portugal, que tem desenvolvido um projeto bem-sucedido na Finlândia: "Deixei de trabalhar com o David Silva durante a quarentena. Não foi uma decisão fácil, mas percebi que as coisas não estavam a resultar. O David é um ótimo treinador, tem imensos conhecimentos, mas comigo não estava a resultar."
Recorde-se que em várias entrevistas ao longo do último ano, tanto David Silva como Ricardo Melo Gouveia referiram a opção que a dupla fez no outono do ano passado de reconstruírem grande parte dos gestos técnicos do jogador, sobretudo o swing, procurando estar mais perto das exigências e das tendências do golfe internacional ao mais alto nível.
Correu-se, então, o risco de perda de alguma confiança e de resultados negativos, tendo sempre em vista um processo a longo prazo. Uma das consequências naturais e compreensíveis foi Ricardo Melo Gouveia ter perdido o estatuto de membro do European Tour após quatro anos consecutivos na primeira divisão europeia.
Pelos vistos, o processo estava a ser penoso e o profissional da Quinta do Lago decidiu dar por terminada essa experiência. Com Gonçalo Pinto é normal que possa haver alguma recuperação do swing natural de Ricardo Melo Gouveia e só o futuro mostrará exatamente os efeitos desta mudança de equipa técnica.
O certo é que nos dois torneios austríacos do European Tour (e também do Challenge Tour) que disputou no passado mês de julho, já com Gonçalo Pinto, sentiu-se mais identificado com a qualidade do jogo praticado.
"No geral, acho que foi bastante positivo. Sinto que, devagarinho, o jogo está a voltar ao sítio e isso é o mais importante", disse-nos depois de ter passado um cut pela primeira vez na presente temporada, após falhar o cut dos quatro primeiros torneios que disputou.
Foi no Euram Bank Open, no Golfclub Adamstal, em Ramsau, onde nunca tinha jogado, Terminou em 36.º (empatado), com 278 pancadas, 2 abaixo do Par, após voltas de 67, 67, 72 e 72, recebendo pela primeira vez um prémio monetário em 2020, no valor de 3.118 euros. Pedro Figueiredo falhou na altura o cut por 2 ‘shots’, com um agregado a Par do campo após voltas de 71 e 69.
As duas primeiras voltas de 67 foram bastante promissoras e Ricardo Melo Gouveia ainda se recorda das sensações recolhidas: "Nos primeiros dois dias estive muito sólido e não falhei quase shot nenhum, estive muito bem do tee. No terceiro dia não entrei tão bem no jogo, mas ia a aguentar-me bem até à suspensão (durante duas horas, devido a uma trovoada), estava no buraco 10, mas depois aquela paragem não me ajudou muito, quando recomecei entrei um bocadinho fora de ritmo e só consegui dar a volta nos segundos nove buracos do último dia. Nos primeiros nove da quarta volta também não entrei bem, estava bastante complicado com a chuva, mas depois não falhei qualquer shot nos segundos nove e poderia ter feito umas 5 ou 6 abaixo, mas falhei um putt ou outro."
Desde então não houve mais torneios do Challenge Tour e o jogador do ACP Golfe não teve entrada nos torneios do ‘UK Swing’ do European Tour. Ainda chegou a equacionar jogar com o irmão um dos torneios do Pro Golf Tour, mas tudo indica que vá contentar-se com o PGA Summer Pro-Am de Domingo e depois encaixe em setembro a série de três provas do ‘Iberian Swing’ do European Tour: o Estrella Damm N.A. Andalucía Masters em Valderrama (para o qual tem um convite), o Portugal Masters no Dom Pedro Victoria Golf Course em Vilamoura (também com convite) e o Open de Portugal at Royal Óbidos (com entrada direta).
Neste momento, Ricardo Melo Gouveia é o 273.º classificado na Corrida para o Dubai do European Tour e 95.º na Corrida para Maiorca do Challenge Tour.
Embora já se saiba que em 2020, devido à pandemia, foram canceladas as subidas de divisão e, por isso, os rankings sejam menos importantes esta temporada, nem por isso os próximos torneios deixarão de ser relevantes para o atleta olímpico português ganhar confiança nas mudanças que tem vindo a operar na sua carreira.
Daí que diga estar entusiasmado e ansioso por regressar a Valderrama (no sul de Espanha), um dos seus campos preferidos, onde foi 16.º (-1) em 2018, 23.º (+1) em 2017 e 38.º (+14) em 2016, falhando o cut no ano passado. E depois, já se sabe, o Portugal Masters, onde foi 7.º (-15) em 2018 e 5.º (-14) em 2017. No ano passado obteve em Vilamoura a sua segunda melhor classificação da época – 27.º (-8).