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Royal Óbidos em contagem decrescente para o Open de Portugal
13/09/2021 14:50 GolfTattoo \ Hugo Ribeiro
Ricardo Melo Gouveia será uma das estrelas da 59.ª edição do Open de Portugal at Royal Óbidos © Octavio Passos

O campo desenhado pelo saudoso Seve Ballesteros está a preparar-se para uma semana de gala

«O Seve é um grande homem da história do golfe e é sempre especial jogar num campo que ele desenhou».

A frase é de Pedro Figueiredo, um dos melhores jogadores de golfe portugueses de sempre, que há três anos milita no European Tour, mas poderia ter sido proferida pelos mais de cem jogadores que em 2020 deslocaram-se ao Royal Óbidos Spa & Golf Resort para participarem na 58.ª edição do Open de Portugal.

Há um ano, em setembro, organizar o evento de meio milhão de euros em prémios monetários, a contar simultaneamente para a Corrida para o Dubai do European Tour e para a Corrida para Maiorca do Challenge Tour, foi uma autêntica lança em África.

Com a pandemia ainda descontrolada em muitos países, Portugal surgiu como uma solução capaz de proporcionar duas semanas seguidas de competição a alguns dos melhores golfistas da Europa, primeiro no Portugal Masters e depois no Open de Portugal at Royal Óbidos.

O esforço conjunto do promotor, a Federação Portuguesa de Golfe (FPG), do European Tour, do Challenge Tour e de Royal Óbidos permitiu criar uma bolha sanitária extremamente rigorosa e bem conseguida, que compreendeu jogadores, treinadores, caddies, acompanhantes, jornalistas, árbitros e membros da equipa organizadora.

Foi um evento insólito – e, espera-se, irrepetível –, sem público nem Pro-Am, em que os convidados e patrocinadores revelaram uma conduta irrepreensível, ao aceitarem integrar uma segunda bolha que não entrava minimamente em contacto com os elementos da bolha principal.

Todas estes obstáculos foram superados, tal como o mau tempo que fez-se sentir nos dois primeiros dias, levando José Maria Zamora, o experiente diretor de torneios do European Tour, a ter de adiar a conclusão da segunda volta para a terceira jornada, devido a ventos ciclónicos.

Quando Royal Óbidos assinou o protocolo de três anos com a FPG para receber o Open de Portugal entre 2020 e 2022 dificilmente poderia prognosticar uma estreia mais atribulada, mas o profissionalismo, a dedicação e a boa vontade de todas as partes envolvidas transformaram um cabo das tormentas num cabo da boa esperança. E quando tudo terminou, num Domingo já crepuscular, o balanço foi largamente positivo.

A começar pelo aspeto desportivo. A semana arrancou com muitos a desejarem que o sul-africano George Coetzee fizesse história e tornasse-se no primeiro jogador a vencer o Portugal Masters e o Open de Portugal… e logo em semanas consecutivas.

Quando não foi o consagrado Coetzee – que, mesmo assim, foi 3.º classificado – mas o seu bem menos conhecido e mais jovem compatriota Garrick Higgo a elevar uma das mais bonitas taças do golfe internacional, foi normal que muitos dos presentes expressassem algum lamento.

Só que, um ano depois, tudo mudou e uma vez mais o Open de Portugal mostrou ser uma competição fadada a lançar carreiras.

Lembram-se de Matt Wallace, campeão em 2017, então no Morgado Golf Resort, que depois disso venceu três títulos do European Tour em 2018 e terminou tanto essa época como a seguinte no top-10 da Corrida para o Dubai?

Garrick Higgo conquistou o seu primeiro título do European Tour no Open de Portugal 2020 © Octavio Passos 

Pois é, Garrick Higgo também conquistou o seu primeiro título do European Tour no Open de Portugal com apenas 21 anos. Só que, desde então, somou mais dois troféus da primeira divisão profissional europeia nesta temporada de 2021, em abril e maio, e no mês seguinte, em junho, arrecadou outro título no PGA Tour, o mais importante circuito mundial, entrando pela primeira vez no top-50 do ranking mundial.

Se há um ano Garrick Higgo dizia que o Open de Portugal at Royal Óbidos era o momento mais importante da sua carreira até aquela altura, agora é forçoso reconhecer que é igualmente um orgulho para o nosso Open nacional contar com o nome deste jogador na sua lista de prestigiados campeões.

O balanço foi igualmente positivo para o golfe nacional do ponto de vista desportivo, com Vítor Lopes a cotar-se como um dos grandes animadores da prova. Liderou após os 18 buracos, os 36, os 54 e terminou no 7.º lugar, a sua melhor classificação de sempre em torneios do European Tour, com apenas 24 anos.

Vítor Lopes terminou o Open de Portugal 2020 no 7.º lugar, a sua melhor classificação de sempre em torneios do European Tour © Octavio Passos 

Tomás Bessa (49.º), Ricardo Melo Gouveia (35.º), Stephen Ferreira (28.º), Ricardo Santos (24.º) e Pedro Figueiredo (18.º) também passaram o cut.

Se Higgo, Coetzee, Lopes e “Figgy” foram alguns dos heróis do 58.º Open de Portugal at Royal Óbidos, o saudoso e malogrado Seve Ballesteros foi outra das grandes figuras.

Conta-se que este campo foi o último desenho do próprio Seve a ser construído e postumamente inaugurado.

«Dá para ver algumas características singulares do Seve no campo. Eu sinto-me logo confortável nele quando olho para a maioria dos buracos. Do tee é um campo generoso, com fairways largos. O shot do tee é importante e tem alguns Par-3 compridos. Mas são mais importantes os shots de ferros, sobretudo com ferros compridos, até porque o jogo no green é depois decisivo, dado serem greens grandes com lombas», acrescentou Pedro Figueiredo.

Não se sabe se “Figgy” voltará este ano. João Coutinho, o diretor de campeonatos da FPG e deste Open de Portugal, informa que «só na semana anterior serão anunciados os jogadores portugueses presentes», seja os convidados seja os outros.

Teoricamente, sendo uma semana de Ryder Cup, os portugueses membros do European Tour poderão jogar no Challenge Tour, mas só mais tarde saberemos se Figueiredo, Santos e Lima estão para aí virados.

Em contrapartida, é seguro que Ricardo Melo Gouveia será uma das estrelas da 59.ª edição do Open de Portugal at Royal Óbidos. O antigo atleta olímpico português já venceu duas vezes esta época na segunda divisão europeia e não teve problemas em declarar ao Gabinete de Imprensa do Challenge Tour que deseja um terceiro troféu em 2021, para garantir uma melhor categoria no European Tour em 2022.

Seria um sonho “Melinho” fazê-lo no Open de Portugal, onde nunca foi coroado um português. E há algo de que ele tem a certeza: «É um campo onde os Par-3 são bastante importantes. São buracos difíceis. Outro fator importante é o vento. É preciso saber controlá-lo».

Uma coisa é certa, o campo superou com distinção o teste da chuva. Não foi a carga de água que tombou qual dilúvio na sexta-feira do ano passado a fazer com que parte da segunda volta fosse adiada para Sábado. Bem pelo contrário. «Os greens estavam perfeitos, nem havia água lá. O campo tem muito boa drenagem», frisou Stephen Ferreira, o português do Zimbábue que maravilhou ao jogar nesse dia terrível em 71 pancadas.

O problema foi o vento. «O pior vento com que joguei e olhem que no Sunshine Tour, em Port Elizabeth e na Cidade do Cabo há vento a sério», garantiu Ferreira. «Bati um drive que nem chegou ao fairway e sou dos jogadores mais compridos», salientou Vítor Lopes.

Dado o mau tempo de 2020, deu muito jeito aos jogadores que os roughs estivessem pouco densos, mas Filipe Lima – também ele um ex-atleta olímpico que tem um título do European Tour no seu palmarés – julga que Seve preferiria que o campo, em condições meteorológicas normais, fosse um pouco mais difícil.

«É um campo excelente, onde temos de trabalhar muito a bola. Gosto deste tipo de campos e costumo jogar bem nos campos do Seve. É fantástico que o Open fique aqui por três anos. Se posso dar um conselho, diria para deixarem os roughs crescerem e ficarem como estavam antes. Não faz mal se não fizermos tantos birdies. Fica mais difícil para todos e é mais natural», disse Lima, que detém o recorde nacional na prova, de ter sido 2.º classificado em 2018 (no Morgado Golf Resort) e 3.º em 2005 (no Oitavos Dunes).

Ainda não será este ano que esse desejo de Filipe Lima será cumprido, mas o campo tem sido primorosamente preparado para acolher o Open de 23 a 26 de setembro, com o Pro-Am a 22. Aliás, Emanuel Casimiro, o “Golf Course Superintendent” de Royal Óbidos garante que «não houve diferença no nosso trabalho» para um torneio do European Tour em 2020 ou para uma prova do Challenge Tour em 2021, pois «estamos a preparar o campo da mesma forma».

 

Imagem do green do buraco 18 de Royal Óbidos © Octavio Passos

 Um luxo, portanto, para os jogadores da segunda divisão europeia. «A preparação do campo para o Open começou logo no início do ano. Desde o começo o enfoque foi nos greens», assegurou o licenciado em Engenharia Agrícola pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro: «Os greens foram furados com vazadores, com bicos sólidos a uma profundidade de 20 centímetros, escarificação profunda com a máquina Graden e realizámos uma operação com a Dryject. Ao mesmo tempo efetuámos um programa de redução da poa annua nos greens, combinado com uma ressementeira de bentgrass. Tivemos também um programa de espalhamento de areia nos greens mais “intenso”, combinado com escarificações ligeiras e uma furação com bicos sólidos mais finos de 15 em 15 dias, de forma a termos os greens mais firmes e consistentes».

Se os greens já foram elogiados em 2020, prevê-se que estejam ainda mais do agrado dos craques em 2021. Mas a intervenção da equipa de manutenção não ficou-se por aqui.

«Os tees e approaches também sofreram as mesmas intervenções dos greens, tirando a Dryject. Nos fairways furámos com vazadores e sólidos, tendo efetuado uma operação com facas “slitting” por todo o campo», elucidou ainda o “greenkeeper” que passou antes por outros campos como Bom Sucesso, Palmares, Vidago, Alto Golf e Montado.

Agora, até ao Open começar, o importante será «continuar com os trabalhos rotineiros. O regime de cortes vai aumentar, tal como o número de vezes que rolamos os greens de maneira a ter uma superfície de jogo consistente e com a velocidade desejada para o torneio. Iremos ter uma atenção especial no programa de nutrição e fitossanidade dos relvados de forma a termos o campo nas melhores condições para as “cargas” que vai sofrer durante o torneio».

Normalmente, o European Tour faz vistorias prévias aos campos, para aferir da sua qualidade mas, sendo este ano o torneio um evento do Challenge Tour, onde a exigência é menor e, sobretudo, por estarmos em contexto de pandemia, o circuito europeu tende a diminuir essas viagens de supervisão. Não haverá vistoria este ano.

Sabendo dessa situação, a FPG fez questão de contratar um serviço consultor independente para brevemente visitar o Royal Óbidos Spa & Golf Resort.

«Já recebi as diretrizes do Challenge Tour sobre a velocidades dos greens e dos cortes. Isso vai ajudar a equipa de manutenção do campo», disse João Coutinho.

O diretor técnico nacional garante que «da parte do promotor (FPG) também não haverá diferença na preparação da prova entre um evento do European Tour ou do Challenge Tour. A qualidade mantém-se. A grande diferença, como é óbvio, é no número de pessoas envolvidas. Naturalmente, sendo um torneio do Challenge Tour haverá menos caddies, menos jornalistas, menos público».

Menos público? Essa é uma grande novidade que deverá ser oficializada em breve, depois de algumas reuniões que ainda vão realizar-se, mas, desta feita, não deverá haver bolha sanitária. Mantêm-se os cuidados com a COVID-19, mas tudo indica que venha a ser oficializado que o 59.º Open de Portugal at Royal Óbidos vai ter Pro-Am e público com entrada livre.

Um belo presente para o Royal Óbidos Spa & Golf Resort, que há um ano passou com distinção uma enorme provação e que este ano goza do estatuto de anfitrião do segundo mais importante torneio de golfe português em 2021, dado o recente anúncio de que o Portugal Masters, inicialmente previsto para Abril, vai mesmo realizar-se, em Novembro.