A 600 metros de altitude, o CG Santo da Serra é um deslumbre visual
Não será exagero dizer que o Clube de Golfe do Santo da Serra (CGSS) é um dos mais espectaculares complexos de golfe do mundo. Situado a uma altitude de 600 metros, num planalto com declives, inseridona pitoresca freguesia de Santo António da Serra – dividida entre dois concelhos, Machico e Santa Cruz –, tem como pano de fundo as montanhas e desenrola-se num cenário luxuriante e floral, oferecendo vistas fantásticas para o mar, ilhas próximas, vilas costeiras distantes e vales verdejantes.
Sendo o mais antigo e conhecido dos três campos de golfe do arquipélago madeirense, tem fama internacional. Palco do Madeira Islands Open – do calendário do European Tour – entre 1993 e 2015 (excepto em 2009, 2010 e 2011, quando o anfitrião foi o Porto Santo Golfe), viu passar grandes nomes do golfe, como Severiano Ballesteros, Lee Westwood, Luke Donald e Martin Kaymer, antigos números um mundiais, ou ainda Justin Rose e Henrik Stenson, dois dos melhores da actualidade.
Não foram os primeiros. Logo na inauguração do seu campo original de nove buracos, a 25 de Fevereiro de 1937,contara já com o grupo dos cinco melhores golfistas profissionais britânicos da altura, todos eles, como os acima mencionados, jogadores da Ryder Cup no seu tempo – J.H. Taylor, Alf Padgham, Abe Mitchell, Bill Cox e Allan Dailey. Foram convidados para virem num cruzeiro para um jogo de exibição – e, claro, assinaram o livro de honra. J.H.Taylor (1871-1963) foi um dos principais pioneiros do golfe moderno.
É verdade, passaram já 80 anos sobre o nascimento do CGSS. Talcomo no Continente, a modalidade foi trazida para a Madeira por ingleses, que exploravam a produçãodo Vinho da Madeira. Já nos anos 20 do século XX a modalidade era praticada pela colónia britânica residente na ilha, em terrenos anexos ao Hotel-Pousada da Serra. Foram eles que criaram o inicialmente designado Favellas Santo da Serra Golf Club.
Esse campo inicial subsistiu durante mais de 50 anos, até que nos anos 80 o clube entregou o terreno ao Governo Regional, que por sua vez adquiriu o restante necessário para um complexo com 27 buracos, ou seja, com três circuitos de 9 buracos, concebidos de maneira a estarem inter-ligados entre si. Para os desenhar, foi chamado o norte-americano Robert Trent Jones (1906-2000), o mais prolífico e influente arquitecto de campos de golfe na segunda metade do século XX, com mais de 450 campos desenhados em todo o mundo.
Os primeiros 18 buracos – os nove buracos do campo Machico e os outros nove do campo Desertas, que constituem o championship course do complexo – foram inaugurados em 1991. O terceiro percurso, designado Serras, onde se encontrava o campo original, abriu em 1998, distinguindo-se dos dois outros por ser mais plano e arborizado, suavemente ondulado, com fairways largos ladeados de criptomérias gigantes e dois lagos a servirem de obstáculos.
O cenário global, esse, mantém-se intacto em relação aos primórdios. Nenhuns vestígios de construção imobiliária, apenas a natureza no seu esplendor: eucaliptos, criptomérias, mimosas e outras plantas exóticas, pequenos jardins botânicos.
Não obstante ser um desafio de montanha, o championship course tem poucos buracos inclinados abruptamente. Trent Jones criou, habilmente, um campo que segue plataformas e elevações até greens bem delineados, rápidos e de exigente leitura, muitas vezes com trajectórias rápidas sobre ravinas cavernosas, onde qualquer bola é irrecuperável.
Em 2016, o European Tour escolheu os 18 melhores buracos de par-3 do respectivo circuito, para criar o “campo virtual” ideal nesta categoria. O buraco 4 do percurso Machico do CGSS foi eleito para nele figurar: com 201 metros em linha recta, joga-se de um tee elevado sobre um abismo até um green empoleirado num cume, com a vastidão do oceano defronte. Do lado esquerdo este buraco é acompanhadopor uma enorme ravina que tem como base, lá em baixo, a cidade costeira de Machico, ao nível do mar, onde os descobridores do arquipélago primeiro aportaram, em 1419.
Desportivamente, o CGSS distingue-se pelo trabalho ao nível da formação de jovens, o que tem dado frutos em termos competitivos: foi campeão nacional de clubes em 2004, a jogar em casa, quer em masculinos como em femininos; e, entre 1996 e 2006, houve sempre pelo menos um madeirense do CGSS entre os três jogadores que, de dois em dois anos, constituem as selecções masculina e feminina de Portugal no Campeonato do Mundo por Equipas: Alexandre Henriques (1996), João Umbelino (1998), Carolina Catanho (2000, 2002 e 2004), Lara Vieira (2002 e 2004) e Nuno Henriques (2006). Alexandre Henriques foi campeão da Europa de boys e vice-campeão do mundo em 1996 no torneio Doug Saunders, tendo feito parte da selecção europeia.
Actualmente, o melhor jogador do clube é Carlos Laranja, de 17 anos. Natural de Santo António da Serra, foi 5.º no Campeonato Nacional Amador Absoluto deste ano, depois de ter partido para a última volta em 3.º. A fazer lembrar Cristiano Ronaldo quando veio da Madeira para o Continente, morou no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Oeiras, na condição de Jovem Talento, com o apoio da Federação Portuguesa de Golfe e de alguns membros do seu clube.
Ricardo Abreu, director-geral do CGSS, conta que o golfe no Santo da Serra chegou a ter 28.000 voltas antes da crise económica e financeira de 2008 e que actualmente está nas 18.000, mas que os sinais são positivos para o futuro: “Todo o turismo na Madeira está a subir e nós não fugimos à regra, até porque o passaporte de golfe está a ser um sucesso.”
Refere-se ao facto de os campos da Madeira terem alinhado estratégias comerciais para estabelecerem finalmente a região como destino de golfe, criando um passaporte que dá livre trânsito para jogar no CGSS ou no Palheiro Golf, no Funchal. Outra novidade, virada para o mercado nacional, são os pacotes de preços acessíveis para grupos de golfistas continentais. Se ainda não conheceu, está à espera de quê?