Um grande Verão em termos desportivos vale convites para universidades dos EUA
A vitória de Vítor Lopes, a 10 de Outubro, no Telegraph BMW Junior Golf Championship, na Quinta do Lago, passou um pouco despercebida aos olhos dos media nacionais – ao que não terá sido alheio o facto de ter sido obtida enquanto se desenrolava o Portugal Masters em Vilamoura –, mas não passou ao lado de “olheiros” norte-americanos: desde então o jogador do Clube de Golfe de Vilamoura, de 18 anos, já recebeu vários convites para universidades dos Estados Unidos, nomeadamente de Kansas State e de Florida Gulf Coast, ambas da Divisão 1 da NCAA (National Collegiate Athletic Association). Não são as únicas interessadas, mas a melhor proposta será a de Kansas State, que contempla bolsa completa.
“Em Portugal não ligaram muito ao torneio do Telegraph, mas eu apercebi-me da sua importância quando constatei os nomes gravados na taça: Justin Rose, Tommy Fleetwood, Tom Lewis e Matthew Fitzpatrick…”, conta Vítor Lopes, que este ano se revelou um caso muito sério no golfe amador nacional, com vitórias ainda no major da Taça da Federação Portuguesa de Golfe; no Oceânico World Kids 2014; e no Campeonato Nacional de Clubes, além do primeiro lugar individual empatado com o italiano Enrico Nitto no European Mens Club Trophy, o Campeonato da Europa de Clubes, na Bulgária, prova em que Vilamoura defendia o título e que acabou reduzida a uma volta devido a más condições climáticas, com Parco di Roma a sagrar-se campeão e o team algarvio a ser vice-campeão.
Vítor Lopes e India Clyburn posam com troféus do Telegraph Junior Championship / © D.R.
Lopes chegou ainda aos 16 avos-de-final do British Boys; foi 12º no Internacional de Espanha de Sub-18 em stroke play e 3º na tabela individual no Campeonato da Europa de Sub-18 para os países do escalão secundário, prova em que a selecção portuguesa foi 4ª quando precisava de chegar à final para ser promovida ao escalão principal. Isto sem esquecer o 2º lugar no 4º Torneio do Circuito Liberty Seguros e a sua participação no Campeonato da Europa por Equipas para Homens. Tudo isto quase só num Verão. E terminou a época no 3º lugar do Ranking Nacional BPI, atrás do seu companheiro de clube João Carlota (nº1) e do campeão nacional Tomás Silva (nº2), do Estoril.
A que se deveu este salto qualitativo? “Atitude”, responde Vítor. “Aprendi muito em torneios internacionais. Estou mais calmo, já não me sinto inferior a outros jogadores. Sei falhar nos sítios certos e tenho aprendido com o Nuno Campino [seleccionador nacional] em termos de estratégia de jogo, ele é bastante bom a este nível. Mas não é agora que vou parar. Estes resultados abriram-me os olhos, dão-me confiança no sentido de pensar que o golfe pode ser o meu futuro. Tenho vontade de ser o nº1 até internacionalmente.”
O algarvio concluiu a época no 3º lugar do Ranking Nacional BPI © FILIPE GUERRA
Se a vitória no Telegraph BMW Junior Golf Championship foi importante, pela exposição mediática que tem num dos mais importantes jornais diários britânicos, foi no British Boys que Vítor Lopes primeiramente chamou as atenções. Afinal, ao chegar aos 16 avos-de-final, ficou entre os 32 melhores num torneio de máxima importância com 252 participantes iniciais. Mas não foi só por isso. É que o português demonstrou claramente que era um forte candidato ao título e que tinha hipóteses de imitar Pedro Figueiredo, campeão em 2008.
Lopes fez uma grande partida nos 16 avos-de-final da competição no Prestwick Golf Club, em Perthshire, Escócia, mas isso não foi suficiente porque o seu adversário, o inglês Bradley Moore, esteve verdadeiramente endiabrado na parte final do encontro, com cinco birdies nos últimos oito buracos, três deles no 15, 16 e 18, para ganhar por 1 up. Foi incrível, porque, mesmo liderando quase sempre o match, ao português não foi suficiente fazer dois birdies nos últimos quatro buracos para evitar este desfecho.
“A cara de quem perde nunca é a mesma de quem ganha, mas se houve um match que custou a engolir uma derrota foi este. Pude assistir a um dos melhores matches da minha vida como treinador”, disse na altura David Moura, Treinador Nacional Adjunto, que acompanhou os portugueses no British Boys. Diz Vítor Lopes: “Saí um pouco insatisfeito desse torneio, pois joguei bem, mas não tive sorte nesse match. Tinha em mente que queria ser campeão.”
Na Taça da Federação Portuguesa de Golfe, no Montado Hotel & Golf Resort, rumo ao seu primeiro título num major, Vítor Lopes também protagonizou jogos épicos. Como os dos oitavos-de-final frente a Tomás Bessa, de Miramar. Os dois “bombardeiros” de drive do golfe juvenil português andaram num verdadeiro “taco-a-taco” com alguns momentos espectaculares. Os dois jogaram em -2, sem que o algarvio tenha sofrido qualquer bogey. Isto num duelo que só ficou decidido no 22º buraco, o 4º do play-off.
E que dizer da final da Taça, em 36 buracos, frente a João Girão do Oporto? Vítor Lopes concluiu os 18 buracos a perder por 3. No regresso ao campo, o jogador do Clube de Golfe de Vilamoura fez birdie-eagle-par-birdie-bogey-birdie-birdie e virou completamente as cartas na mesa, passando de 3 buracos abaixo para 2 acima, não mais largando o comando até ao triunfo final de 5 buracos de vantagem com 4 para se jogar, fechando a final no 32º buraco.
“Estava enervado quando fui para a club house depois dos primeiros 18 buracos, porque não queria ficar de novo em 2º lugar, como já tinha acontecido quatro vezes em provas da FPG (no Circuito Liberty Seguros)”, conta. “Nessa paragem, comi, reflecti, o meu treinador [Joaquim Sequeira] conversou comigo e motivou-me. Se tivesse ido logo para o tee do buraco 1 iria estar irritado. Foi uma boa decisão, a paragem. A vitória na Taça da Federação fez-me abrir os olhos, porque me colocou ao nível dos melhores.
Seguir uma carreira profissional no golfe é o sonho de Vítor Lopes / © FILIPE GUERRA
Não menos espectacular foi a sua vitória entre os 12 boys finalistas no Telegraph BMW Junior Golf Championship, que teve uma participação inicial de 700 jogadores. No recém-reaberto campo Norte da Quinta do Lago, beneficiando de um convite da organização que é endereçado à federação do país anfitrião, Lopes finalizou as três voltas metendo um putt de 12 metros para birdie, que lhe deu o triunfo com um total de 206 pancadas (70-68-68), 10 abaixo do par. Deixou o vice-campeão, o inglês Rhys Nevin-Wharton, a quatro shots.
“A primeira vez que o vi, no Drive [golfe escolar], notei logo que era diferente: alto, forte, com boas capacidade físicas”, recorda o Treinador e Seleccionador Nacional, Nuno Campino. “Eu sempre lhe disse que mais ou tarde ou mais cedo os resultados iriam aparecer. O que se passou neste Verão foi que ele ganhou confiança. Mas ele não está perto sequer de ter atingido todo o seu potencial, isto é só o princípio do que ele poderá fazer por ele mesmo”, acrescenta.
Campino considera que Lopes precisa de melhorar o jogo curto e o putting, no que é corroborado por Joaquim Sequeira, o treinador dos melhores jogadores do Clube de Golfe de Vilamoura: “O seu ponto forte são os ferros compridos. É jogador para chegar à bandeira a 200 metros, e nos 100-50 metros para dentro defende-se bem. Pontos fracos são o chipping e o putting. O Vítor já tinha dado algumas boas indicações em 2013, mas a sua cabeça não estava inteiramente lá, como está agora.”
Tendo começado a jogar com 12 anos, sob a batuta do profissional inglês Peter Lester, no campo de Vila Sol, onde a sua mãe, belga, era directora de uma galeria artística, Vítor, residente em Faro, 1,94 metros de altura, está actualmente a cumprir o 12º ano de escolaridade, após o qual, em princípio, abraçará o desafio dos Estados Unidos, embora nas suas cogitações não deixe de estar a ambição de estar um ano inteiro totalmente dedicado ao golfe.
Definitivamente para segundo plano terão passado as suas veleidades na moda – o algarvio já fez desfiles para marca como a Ralph Lauren, Diesel e Quebramar e estava na mira da agência Elite Model. Uma carreira no golfe ao mais alto nível parece bem mais aliciante. Mas a época ainda não acabou para o algarvio, que em Dezembro irá competir no 50º The Junior Orange Bowl International Golf Championship a 15 e 16 de Dezembro, no Biltmore Hotel Golf Course, em Coral Gables, Florida. Um bom desempenho aqui e se calhar os americanos já nem o deixam regressar a Portugal...