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Conhecer Carlos Costa, tomba-gigantes na Taça
27/11/2014 17:26 Rodrigo Cordoeiro
Carlos Costa fotogrado na Avenida 24 de Julho, em Lisboa / © FILIPE GUERRA

Como um desconhecido atingiu meias-finais num major do golfe nacional amador

Carlos Costa? Quem é Carlos Costa? Muita gente deve ter feito a mesma pergunta quando este lisboeta de 26 anos, golfista do clube sem campo JuveGolfe, atingiu no final de Setembro as meias-finais da Taça da Federação Portuguesa de Golfe, a qual, a par do Campeonato Nacional Absoluto, compõe a dupla de majors amadores portugueses. Como foi possível que um jogador praticamente desconhecido, com 4 de handicap, e que nem estava classificado no Ranking Nacional BPI, ter chegado tão longe eliminando jogadores da craveira de João Ramos e Nathan Brader (campeão nacional de boys – escalão de sub-18)? 

“Eu era um jogador desconhecido porque não costumo participar nas provas da Federação, não tenho propriamente muita disponibilidade em termos de horário para o fazer”, começa por esclarecer este estudante universitário de Física, que já tem o curso de Treinador de Golfe – Nível 2 e também um diploma do Titleist Performance Institute (TPI). “Sou o professor encarregado de desenvolver o programa  de formação da JuveGolf, o que me deixa pouco tempo livre nos fins-de-semana.” 

Mas então como foi possível que, sem rodagem competitiva, tivesse feito a prova que fez na Taça da FPG? Houve alguma preparação especial? “Sim”, reconhece. “Tive de trabalhar uma parte do meu jogo que me estava a estragar a minha performance, que era o putting, mas principalmente foquei-me muito na parte física, até porque sabia que se passasse à fase de match play teria de jogar 18 buracos de manhã e 18 de tarde. Fiz uma adaptação dos ensinamentos do TPI aos conhecimentos que eu já trazia da área do fitness, de quando estive num ginásio em Évora a desenvolver precisamente um projecto na área do golfe. Mais do que a distância ou a resistência, aumentou-me a consistência de jogo.”

Apostou na preparação física para chegar longe na Taça da FPG / © FILIPE GUERRA

Carlos Costa é um claro exemplo do sucesso que pode ser o golfe no Desporto Escolar, porque foi através dele, na Escola Secundária Quinta do Marquês, em Oeiras, que se iniciou na modalidade. “Comecei lá, no ginásio, com uns tapetes, uns tacos de adulto em que se pegava mais abaixo e bolas furadas, a jogar para tabelas de basquetebol”, recorda. “O professor era o António Borrego, da Federação Portuguesa de Golfe. O Desporto Escolar fazia a ponte com o [Projecto] Drive e quando tive handicap passei a participar nas suas provas e a ir a estágios.”

O primeiro clube de golfe de Carlos Costa foi o dos Professores de Educação Física, e ele ainda se lembra de o representar no Campeonato Nacional de Clubes para os escalões jovens. Depois foi sócio do Golden Eagle, em Rio Maior, numa fase da sua vida em que viveu em Santarém. Até que em 2006 nasceu a JuveGolfe e o seu fundador e presidente, Armando Nunes, convidou-o a fazer parte dele. E quando, em 2012, a JuveGolfe, sedeada no Montado Hotel & Golf Resort, criou a sua própria academia, Carlos Costa, na altura já com o curso de Treinador de Golfe – Nível 1, ficou encarregado da formação. 

“Estamos no segundo ano de desenvolvimento e está a correr muito bem, temos uma academia com um número considerável de alunos novos”, conta Costa. “Já estamos metidos no Desporto Escolar nas câmaras de Setúbal e Palmela e também em ATL, actividades extra-curriculares, no Pinhal Novo e Setúbal. Tudo isto em colaboração com os professores de Educação Física da zona. Além disto, ajudo o clube também na parte da organização de torneios.” 

Ser profissional de golfe não faz por enquanto parte dos seus planos, mas isso não o impede de procurar ser cada vez melhor naquilo que faz, nomeadamente no ensino. “É preciso estudar para ganhar cada vez mais know-how. Não é um curso que me dá a capacidade de trabalhar com todas as pessoas que me aparecem à frente, porque elas não são todas iguais- Gosto de brainstorming JuveGolfe é neste momento o clube nacional com mais treinadores associados – além de mim, o Armando Nunes, Carlos Guerreiro, Sérgio Tavares e João Gil.”

Chegada às meias-finais da Taça da FPG fê-lo sair de relativo anonimato / © FILIPE GUERRA 

Em relação à Taça da Federação, diz que o seu objectivo era chegar o mais longe possível. “É minha forma preferida de jogar, o match play, reconhece. Não interessa quem apanhar pela frente, normalmente nunca baixo os braços.” E foi assim que, depois de ter sido 14º na fase de stroke play no Montado (apuravam-se 32), com voltas de 79-75, para um total de 154, 10 acima do par-72, eliminou sucessivamente Miguel Cristina, João Ramos e Nathan Brader para ficar entre os 4 melhores da competição, antes de ser batido por aquele que, batendo João Girão na final, viria a sagrar-se vencedor: Vítor Lopes. “Não teria conseguido este desempenho sem o apoio da Carla Sol”, fez questão de frizar.Eis o resumo do seu desempenho em discurso directo. Para a história. 

1ª ELIMINATÓRIA. ADVERSÁRIO: MIGUEL CRISTINA (CG Vilamoura). Vitória por 2/1 

“O jogo com o Miguel Cristina foi muito complicado. Nos primeiros 9 fiquei a ganhar 3 up e ele vai-me recuperar ainda na primeira volta, passámos all square para o 10. Levou ali outro jogador que não tinha passado a fase de match play e que, garanto eu, ajudou imenso em termos estratégicos, era uma pessoa que sabia muito de golfe, e aconselhava muito bem o seu jogador. O Miguel Cristina tinha uma coisa impressionante, batia uns drives em stinger em que a bola quase não levantava e andava que se fartava, ficando sempre no meio. Ali mesmo ao cair do pano fiz dois birdies do nada para fechar o jogo.” 

2º ELIMINATÓRIA. ADVERSÁRIO: JOÃO RAMOS (Oitavos Dunes). Vitória no 20º buraco, 2º do play-off 

“Ele treina muito mais do que eu, tem muito mais provas jogadas, é acompanhado por pessoas competentes. Sabia que ia ser um jogo difícil – e foi. Comecei muito mal, parecia que não sabia jogar, estava cansado, mas é a vantagem do match play, porque, apesar de a diferença de tacadas entre os dois ter sido grande nos primeiros 3 buracos, só estava a perder 3 down. A partir daí consegui recuperar e foi um excelente jogo. Entrei um bocado no jogo, a meter putts também, a fazer o meu chipping, que nesse jogo foi o que me valeu –  fiz 2 ou 3 chip-ins. Chegámos ao 18 all square e lá tivemos de ir a play-off, no 10 (par-4), de onde tínhamos saído. Empatámos o primeiro buraco, em que ele fez up & down do bunker metendo um putt de 4 metros para par. No segundo buraco, no 11 (par-4), estava a começar a ficar muito mau tempo e o torneio foi suspenso. Tivemos de marcar a bola depois de batidos os shots de saída. Foram 45 minutos à espera, com chuva, vento, trovoada. O João tinha falhado à esquerda deixando a bola colada a uma árvore, e consegue tirar a bola de uma forma fantástica, faz o shot para o green mas deixa a bola longe, aí a 10 metros a descer, com linha. Eu faço o par para ganhar – soube muito bem. Ele via-se que não queria mesmo perder e eu também não queria.” 

3ª ELIMINATÓRIA. ADVERSÁRIO: NATHAN BRADER (CG Vilamoura). Vitória por 3/1 

“Foi um grande jogo da minha parte. Ganhei por 3/1 e estava 3 abaixo do par em 17 buracos. Acabei os primeiros 9 com -2, com dois bogeys. Ao 12 buracos estávamos empatados. No 16 faço birdie com putt fantástico, comprido, a descer, com linha, a bola parecia que tinha olhos, foi para dentro do buraco. Vinha 1 acima fiquei 2,. No 17 ao 2º shot, o Nathan queria mesmo encostar a bola ao pau porque tinha de arriscar, arriscou de mais e o shot saiu muito mau, foi perder a bola à esquerda. Ele reconheceu estar admirado por eu ter batido o João Ramos, quando o João era um dos que poderia chegar à final ou ganhar.” 

4ª ELIMINATÓRIA. ADVERSÁRIO: VÍTOR LOPES (CG Vilamoura). Derrota por 8/6 

“Com o Vítor Lopes, foi uma tareia monumental que levei. Efectivamente já não dava para mais, já me custava rodar. Apesar da preparação física que fiz, foram muitas voltas de golfe. É um torneio muito exigente, mas mesmo que eu tivesse jogado contra o Vítor como joguei contra o Nathan, não acho que ganhasse. O Vítor estava 6 abaixo em 12 buracos... Eu estava completamente rebentado e ele estava fresco e com confiança, focado em não perder contra o adversário que tinha eliminado o companheiro de equipa Nathan Brader. Drives longos, shots ao pau a longa distância, putts de 3 metros para dentro entravam todos... O Vítor estava claramente na zone. Foi uma demonstração impressionante de técnica, de performance física e da parte mental do jogo. Parecia que estava a jogar contra um profissional. Se O Vítor mantiver este registo poderá no futuro ultrapassar sem dificuldade os feitos do Ricardo Santos.”