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Gémeos Girão: descubra as diferenças
09/07/2014 14:14 Rodrigo Cordoeiro
João e Afonso desafiadores no Nacional de Clubes de sub-18 / © FILIPE GUERRA

João e Afonso, do Oporto GC, têm no horizontes carreiras profissionais no golfe

Em 2009, os irmãos gémeos João e Afonso Girão sagraram-se, respectivamente, campeão e vice-campeão nacionais no escalão de sub-12 no Estela Golf Club. Na altura, telefonei ao pai deles, Paulo, para falar com o primeiro, no âmbito de um artigo para a Golf Digest Portugal. Paulo passou-me o filho não sem antes me pedir que não esquecesse Afonso, dando-lhe uma palavrinha depois de conversar com João.

Havia um motivo, como me explica agora Paulo. Nessa altura, por iniciativa própria, e apesar de tão novo, João mudara-se, pouco tempo antes, de Miramar para o Oporto, em busca de melhores condições. Afonso manteve-se em Miramar. Nesse Campeonato Nacional de Jovens, João tinha a direcção do Oporto e os restantes companheiros a apoiá-lo e felicitá-lo. Afonso, triste, não tinha ninguém de Miramar. Não tardou a juntar-se ao irmão em Espinho.

Eles cresceram e são hoje, com 17 anos feito em Junho, dois dos melhores amadores portugueses. No Campeonato Nacional Absoluto de 2013, João, na altura com 15 anos, esteve perto de se sagrar um dos mais novos campeões nacionais de sempre. No Aroeira 1, travou um duelo enorme pelo título com Pedro Almeida (então com 16 anos) na última volta. Chegou ao 18 (par-4) com 4 abaixo do par, sem bogeys. Com um buraco para jogar, Pedro liderava pela vantagem mínima.

Continuando: João bateu um drive para o meio do fairway e no segundo shot deixou a bola a um metro do pau. Pedro ficou a seis metros. Se João metesse o putt para birdie, como se esperava, e Almeida não fizesse melhor que par, haveria play-off. Mas Pedro fez birdie primeiro garantindo a vitória. João, desorientado, desiludido, já em descompressão, precisou de três putts para fechar com 5. Mas, surpreendentemente, sagrara-se vice-campeão nacional.

 

© FILIPE GUERRA

No último Campeonato Nacional Absoluto Peugeot, em Abril, na Quinta do Peru, João não conseguiu repetir a façanha do ano passado, mas o 4º lugar final demonstra que tem o jogo consolidado. Mas ele não saiu satisfeito: “Não foi das melhores alturas para mim, não estava muito confiante, não me sentia bem tecnicamente, e tive logo um mau arranque [duplo bogey], o que não veio ajudar psicologicamente”, disse.

Quanto a Afonso, terminou em 5º, e com um brilharete: a sua volta final de 66 (-6) foi a melhor de todo o torneio: “Estive bem do tee ao green nesses 18 buracos, com shots a três metros e os putts a entrarem. Ainda fiz 3 bogeys, mas 3 bons bogeys, não foram provocados erros estúpidos. Mesmo tendo começado mal o torneio, ainda consegui acabar numa boa posição, no top 5, que era o meu objectivo.”

Até agora, João tem estado num patamar acima de Afonso. Já brilhou a nível internacional, sendo 8º no European Young Masters de 2013, uma espécie de campeonato da Europa individual para sub-16. Recentemente foi convocado para fazer parte da selecção nacional de homens no European Amateur Team Championship [8 a 12 de Julho na Finlândia]. “É muito importante para mim sentir que estou nos melhores jogadores nacionais”, comentou.

“Têm bastante futuro, são dois miúdos trabalhadores, mas o João é mais aplicado; se acabar de jogar e as coisas não lhe correram bem, a primeira coisa que faz é ir treinar”, considera Eduardo Maganinho, profissional e treinador do Oporto. O pai dos gémeos concorda: “São dois bons competidores, mas há um que tem mais maturidade que o outro, embora nesta fase o Afonso também comece a levar isto de outra forma.”

 

© FILIPE GUERRA

João e Afonso são ambiciosos no golfe, sonham com uma carreira no European Tour, e ponderam passar primeiro pelos Estados Unidos, onde podem tirar um curso universitário e ao mesmo tempo competir ao mais alto nível, como fizeram outros portugueses no passado – alguns com mais sucesso, outro com menos. Actualmente, frequentam o 11º ano do liceu nos Salesianos de Lisboa. Embora sejam do Porto, residem com a mãe na capital portuguesa.

Paulo mostra-se cauteloso em relação às ambições dos filhos: “Eles vivem muito o golfe e eu tento ajudar naquilo que posso, mas tenho medo de que não consigam atingir os seus sonhos, porque em Portugal, no golfe, é complicado de se conseguir alguma como deve ser. A formação é precária, as infra-estruturas são poucas ou quase nenhumas… Gostava que o panorama se alterasse, mas não vejo evolução, não se produzem jogadores no país.”

E se eles forem para os EUA? “Talvez, não sei… Pode ser interessante, se eles nessa altura tiverem nível suficiente para jogar na primeira divisão das universidades. Agora, nós temos muito exemplos aqui em Portugal de miúdos que foram para os Estados Unidos atrás desse sonho e não foi grande coisa. Não é seguramente o ideal porque é longe e para nós, pais, também é longe”, considera.

 

© FILIPE GUERRA

João e Afonso têm um irmão mais velho, José Maria, de 19 anos, também ele um bom jogador de golfe, actualmente focado no curso de engenharia. Paulo conta que este tem uma influência positiva sobre os dois mais novos: “De alguma forma trava-lhes os sonhos e tenta com que eles sejam mais realistas, porque também é um bom jogador mas apercebeu-se que a prioridade não era o golfe.”

E rivalidade entre João e Afonso, existe? “Claro que há. Nenhum de nós quer perder com o outro”, diz João. “Ninguém gosta de perder, muito menos com pessoas da nossa idade. Mas treinamos muito juntos, cerca de três vezes por semana”, afirma Afonso. Mas Paulo conta que há um grande espírito de entreajuda os dois, ou não fossem irmãos gémeos e jogadores do mesmo clube. “Quando as coisas correm menos bem a um, o outro está lá para ajudar.”