Autoridades encerraram só no último ano 66 campos, convertendo muitos em áreas para cultivo
O golfe passou a ser equiparado aos carros e relógios de luxo na China, a ser sinónimo de novo-riquismo e a estar na mira das autoridades daquele país. Determinado a combater a corrupção na sociedade e a extravagância no estilo de vida de muitos dos elementos do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente Xi Jinping iniciou uma luta contra a modalidade só comparável, ainda que de forma inversa, à paixão que nutre pelo futebol.
Só na semana que passou, segundo alguns jornais chineses, três campos de golfe foram encerrados na zona de Xangai. Onde antes se viam relvados bem tratados, era agora possível ver retro-escavadoras a sulcarem o terreno. Era a imagem visível de um programa nacional do governo chinês, que está a promover o fecho de campos de golfe e a converter muitos deles em terrenos agrícolas.
A construção de campos de golfe está proibida na China desde 2004 por questões ambientais. Mas a verdade é que eles proliferaram um pouco por todo o lado e à mesma velocidade com que as elites chinesas ganharam poder de compra e construíram mansões luxuosas ou condomínios privados.
Mas como é que algo que é ilegal se expandiu de forma tão numerosa? A resposta a esta pergunta surge na forma como muitos dos projectos foram apresentados pelos seus promotores às autoridades, sendo designados como instalações destinadas ao desporto, parques ecológicos ou recebendo outras designações criativas. A primeira regra para que um campo de golfe recebesse luz verde era mesmo a de não ser descrito como campo de golfe.
O problema é que, com a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2012, o golfe passou a ser associado à prática de actividades irregulares e corruptas. Crescentemente popular entre as elites económicas e políticas chinesas, foi apontado como um desporto propício ao estabelecimento de relações promíscuas entre negócios e política, passando a estar na mira do PCC. Em Outubro, o partido indicou mesmo a prática do golfe - juntamente com ter relações sexuais "inapropriadas" e o consumo excessivo de comida e bebida - como violações disciplinares graves às regras internas, anunciou a agência oficial Xinhua.
Só em 2015, o ministério do Território e dos Recursos Naturais anunciou o encerramento de 66 campos de golfe “ilegais”, alegadamente por desrespeitarem as normas relativas à protecção dos terrenos agrícolas e dos recursos hídricos.
Insensível a esta nova realidade, um estabelecimento escolar público, em Xangai, tenta desenvolver a modalidade. A Escola Experimental de Línguas estrangeiras tornou obrigatórias as aulas de golfe para os seus 400 alunos, com a justificação de que a prática deste desporto é um “acto social importante”, segundo o seu director.