Hugo Espírito Santo ficou desempregado e fez do golfe a vida dele
Hugo Espírito Santo é a grande referência do pitch & putt (p&p) em Portugal. Não é o campeão nacional em título (estatuto que pertence a João Maria Pontes, do Oporto), mas já o foi em quatro ocasiões (2009, 2010, 2011 e 2013) e, se mais dúvidas houvesse, acaba de sagrar-se nº1 no ranking nacional da especialidade pela 5ª vez consecutiva, já para não falar dos seus brilharetes internacionais, a contribuir para que seja também o nº1 no ranking da IPPA – Associação Internacional de Pitch & Putt.
Mas o envolvimento dele no golfe está longe de se restringir ao p&p. Já com o nível 2 do curso de treinador de golfe, com o curso do TPI (Titleist Performance Institute) e com uma pós-graduação em golfe na Faculdade de Motricidade Humana, este conimbricense de 34 anos, formado em Educação Física, é hoje quem comanda a academia de golfe do Complexo Turístico de Rilhadas, um coutryside resort na freguesia minhota de Cepães, a 5 quilómetros de Fafe e Guimarães.
Já lá vai uma década desde que o golfe entrou na vida de Hugo Espírito Santo, quando Vladimir Santos (seu vizinho) e Vítor Espírito Santo (primo) o levaram pela primeira vez ao campo da Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Não foi preciso muito tempo para que o profissional João Couto, do Golfe de Montebelo, em Viseu, lhe atribuísse o primeiro handicap – 24. Depois, quando a FPG instituiu o p&p no país, em 2009, começou a ganhar currículo nesta variante e a ter formação de treinador de golfe.
Em boa hora o fez. Há quatro anos ficou desempregado e golfe acabou por representar uma saída para ele. Tinha dado aulas no Colégio Bissaia Barreto, em Coimbra e depois esteve no ensino público no Cacém, Sintra. Até que deixou de ser colocado, vivendo o drama de tantos outros professores contratados. Mas não se deixou ficar de braços cruzados e, com a experiência e formação entretanto adquiridas na modalidade, propôs a Ricardo Gonçalves, promotor de Rilhadas, a criação de uma academia de golfe. Que foi aceite.
“No meu primeiro ano de desempregado custou-me imenso, porque tinha estudado uma vida inteira para o ensino e não era suposto ficar sem trabalho”, diz Espírito Santo. “Tive de enveredar por outro caminho, um caminho que já estava no meu horizonte há algum tempo, mas que não esperava que chegasse tão cedo. Estou consciencializado de que a minha carreira, o meu futuro, será como treinador de golfe.”
O Complexo Turístico de Rilhadas estende-se por uma área verdejante de 5 hectares, possuindo alojamento, restauração e uma oferta diferenciadora de produtos, como golfe, ténis, futebol, karts, voleibol de praia, piscinas e circuito aventura – BTT, escalada, slide, rappel, pontes flutuantes, tiro, paintball e teia – e até uma casa tradicional para grandes eventos. O campo de golfe tem 9 buracos (três par-4, um par-5 e cinco par-3), curtos mas difíceis tecnicamente, com fairways estreitos, greens pequenos e árvores e água em jogo.
Espírito Santo é um plus 4,5 de handicap no pitch & putt © D.R.
Espírito Santo habita dentro do resort, numa casa que lhe foi disponibilizada pela administração.“Estou a gostar imenso, a envolvente é fantástica, não há ruído, não há trânsito, o ar é 100 por cento puro. E o projecto da Academia é aliciante, temos já 12 alunos e outros do clube de Rilhadas. Estou feliz por estar a fazer o que gosto, a jogar golfe e a leccionar. Mas também me encarrego da coordenação das diferentes actividades do complexo”, acrescenta.
Impunha-se-lhe uma pergunta: se não fosse o golfe, como se imaginava a viver o presente? “Seria treinador de futsal”, responde. “Joguei futsal desde pequeno até aos 19 anos, depois fui para treinador. Fui treinador-adjunto dos seniores na Associação Académica de Coimbra, clube que jogava na primeira divisão e que entretanto deixou de existir por falta de verbas. Mas eu já tinha posto o futsal de lado quando comecei a dedicar-me mais ao golfe.”
“Pretendo completar os níveis 3 e 4 do curso de treinador e o nível 2 do TPI”, continua. “Confio no meu trabalho, não desisto facilmente e sei que só com muita persistência se alcançam objectivos. No meu caso, tenho a ambição última de ser seleccionador nacional. Mas não faço tenções de tornar-me profissional de golfe, porque as provas da PGA Portugal têm pouco dinheiro e eu também não quero deixar de jogar as competições amadoras.”
Coroado nº1 do p&p 2014, entre R. Gonçalves (Rilhadas) e A. Ferreira (AGNP) / © D.R.
Quando ao seu estilo de ensino de golfe, tem uma linha orientadora: “Do simples ao complexo”, revela. “Nunca tento impingir o golfe às crianças como uma competição a sério, pelo menos até elas terem desenvolvido as suas capacidades coordenativas, intelectuais e até sociais. Começo sempre com pequenos jogos à volta do green, com chipping e putting e só depois vem o jogo longo. Aos 14 anos devem estar aptos a decidir se querem apostar na modalidade.”
Por falar em chipping e putting, estas são as vertentes de que se compõe o p&p, capítulo no qual Espírito Santo é um plus 4,5 de handicap. “A começar tenho logo 4 pancadas de desvantagem para o campo”, comenta o instrutor, que no golfe convencional é 4 de handicap. “Não tenho muito jogo comprido, não bato longe, mas bato certinho. E quando chego à volta do green, o meu jogo é muito forte, consigo pôr a bola perto da bandeira e fazer 1, 2 putts.”
Além da primeira vitória no campeonato nacional de p&p, Espírito Santo realça, no seu currículo, os três títulos de campeão ibérico (2012 a 2014) e os dois triunfos no European Team Championship da IPPA (2012 e 2013), neste caso em representação de Portugal e formando equipa com Mário Filipe. O quinto triunfo no ranking nacional de p&p também é um marco, claro, mas o conimbricense lamenta que em 2014 tenha havido menos participantes, não sabendo ele se devido à mudança de formato, se à crise que assola o país.
Crise a que ele soube muito bem dar a volta por cima… E se dantes era a Quinta das Lágrimas o seu clube, hoje procura colocar Rilhadas no mapa do golfe nacional. As sementes estão lançadas. Resta esperar pelos resultados. Mas é já certo que Espírito Santo vai continuar a espalhar a sua classe nos campos de golfe de p&p e não só.