Nomeação como Treinador Nacional reconhece mérito do clube
Em Dezembro, durante a Taça Manuel Agrellos no Montado Hotel & Golf Resort, perguntei a Nelson Ribeiro (NR), em pleno campo, se seria ele o novo Treinador Nacional. Ele estava a comandar, juntamente com Paulo Ferreira, a selecção do Norte na Taça de Portugal, a Final do Circuito Drive, o circuito juvenil da Federação Portuguesa de Golfe (FPG), que decorreu em simultâneo com aquele encontro que coloca frente a frente, ao estilo da Ryder Cup, as selecções da PGA Portugal e da FPG.
Respondeu que não, que não estava no leque de candidatos, o que me deixou surpreendido e, confesso, desiludido, porque me parecia a escolha mais lógica, um imperativo até. Admiro as suas qualidades profissionais e humanas e, claro, o trabalho que desenvolveu em Miramar. Foi por isso uma boa surpresa o saber na semana passada que, afinal, tinha sido ele o eleito pela FPG. E julgo poder dizer, pelas reacções que fui vendo e recolhendo, que não poderia ter havido escolha mais consensual para o cargo, se bem que nestes casos haja sempre invejas e outros sentimentos mesquinhos.
“Todo o trabalho que o jogador fizer quando se encontrar sozinho, esse é o trabalho que conta para mim, porque acompanhados, por norma, todos os jogadores dão o máximo”, disse-me o ano passado a propósito de Pedro Lencart, o campeão nacional amador, de apenas 16 anos, seu pupilo desde sempre no Club de Golf de Miramar (CGM).
Ou: “Existem jogadores dotados de uma capacidade coordenativa incrível mas com um perfil desajustado; quando o jogador consegue sentir que a modalidade faz ‘parte dele’, todo o resto se torna mais simples.”
Manuel Marques (MM), membro do CGM, é privilegiado para falar sobre NR. Conta que nos últimos quatro anos conversou com ele duas, três vezes por semana. Os seus filhos, Alberto e Rita, de 12 e 13 anos, são alunos dele e duas das mais jovens promessas do golfe português, já com títulos a nível nacional e muitos outros desempenhos de relevo.
“Pelo perfil, é a pessoa ideal para o lugar que vai desempenhar, tem conhecimento e vontade constante de o aprofundar, ideias próprias, coerência, rigor, ambição e capacidade de trabalhar a longo prazo (ainda me lembro de o Pedro Lencart ter a idade do Alberto)”, confia MM, para quem NR pode ser equiparado no futebol a Mourinho e Marco Silva, no sentido de ter trazido uma nova dimensão científica à modalidade, tendo como suporte o conhecimento, o trabalho no dia a dia com o clube, com os atletas, até com as suas famílias.
“A Rita e o Alberto, cada um à sua maneira, foram exponenciados pelo Nelson”, considera. “A Rita há três anos não quis jogar mais, eu próprio mentalizei-me disso, cada um é livre de fazer o que lhe apetece, não podia obrigá-la, mas o Nelson, de alguma maneira, foi capaz de cativá-la novamente. Isso é outra coisa gira nele, pois tanto se relaciona com um miúdo de 8 anos como com um jovem de 20 ou como com um senhor de 80, enfim, consegue criar ambiente para cada um na sua idade.”
MM diz que o CGM “criou as condições” para NR ter sucesso, e que agora “a nação reconhece nele o mérito e a assertiva escolha”. “Não tem uma geração pronta, mas tem muitos miúdos com talento – e de qualquer maneira ele é um maratonista”, acrescenta, revelando que foi “extremamente difícil” para NR “abdicar em parte do trabalho com os miúdos dele no CGM”, mas que foi por uma causa nobre, para “partilhar o seu conhecimento com os miúdos de todo o país”, como terá sido por uma causa nobre, naquilo que mais admira nele, o “ter abdicado de jogar aos 18 anos para ser treinador”.
Para Pedro Araújo (PA), vogal da direcção do CGM com o pelouro desportivo, a designação de NR para Treinador Nacional “é o reconhecimento do seu trabalho ao longo destes 14 anos, mas mais do que isso é o reconhecimento do trabalho muito sustentado de Miramar em termos de performance dos atletas, dos mais jovens aos mais velhos, porque o Nelson não esteve sozinho, contou com uma equipa”.
“A expectativa é que este trabalho possa ser transposto numa perspectiva nacional”, sublinha PA, adiantando que terá de haver alguns ajustes para colmatar a saída de NR, embora este mantenha o vínculo ao clube no apoio aos muitos atletas internacionais do CGM. “Estamos a avaliar essa situação, temos o Sérgio Ribeiro, também o Alexandre Abreu, que é formado no clube e que tem dado alguma ajuda à equipa técnica, mas a base continuará e com esses ajustes o clube vai continuar a dar cartas e estamos confiantes para 2017.”
Tiago Almeida, antecessor de Pedro Araújo no pelouro desportivo do CGM, viu com “muito orgulho, quase paternal”, a escolha de NR para dirigir as selecções nacionais nos próximos quatro anos. “Em 2009, o Álvaro Teles de Menezes ganhou um segundo mandato como presidente do CGM e convidou-me a ficar com o pelouro da escola”, conta. “É nessa altura que reformulo o conceito do projecto e puxo pelo Nelson, que assume a liderança desportiva. Os resultados apareceram e em 2012 dotámos a escola de um projecto de médio/longo prazo, que passava pela criação de turmas de alta competição”, acrescenta. Com os resultados que se conhecem.
“Sempre reconheci no Nelson alguém com competência e perfil para assumir este papel, ninguém mais do que ele percebe as necessidades do golfe jovem em Portugal e ninguém melhor do que ele é capaz de projectá-lo em competição”, afirma Tiago Almeida.