Os vencedores ‘net’ e ‘gross’ foram decididos pelo sistema de desempate e o encerramento do Victoria
A 35.ª edição do Grande Troféu de Vilamoura contou com 289 jogadores de 15 países e disputou-se de 7 a 9 de dezembro. Foi caracterizada por emocionantes regressos à competição dos vencedores das classificações gerais ‘net’ e ‘gross’, respetivamente o sueco Per Nilsen e o português Lucas Lopes Azinheiro, e ainda, por ter sido a última competição disputada este ano em dois dos cinco campos do Dom Pedro Golf, o Old Course e o Victoria Golf Course.
O grupo Arrow Global Portugal, que comprou este ano os ativos de golfe e de hotelaria do grupo Dom Pedro (à exceção do hotel de Lisboa), pretende requalificar a oferta turística em Vilamoura e elevar ainda mais os seus níveis qualitativos, para apontar a novos públicos-alvo.
Nesse sentido, o Old Course está fechado desde segunda-feira, dia 11 de dezembro, durante pouco mais de um mês, mas apenas para tratar da relva do campo, embora prevejam-se já obras futuras na Clubhouse e demais infraestruturas de apoio.
Bem mais profunda será a requalificação do Victoria Golf Course. Foi por isso que, no dia 10 de dezembro, o último em que foi possível jogar-se no campo, tenha havido lotação esgotada (embora já não em situação de campeonato), com mais de 120 reservas de voltas. Todos quiseram ser dos últimos a jogar no desenho de Arnold Palmer, antes de fechar até fevereiro de 2025.
Prevê-se que tudo seja alterado no palco do Portugal Masters, desde o campo, à Clubhouse, passando pelo sistema de rega, tipos de relvas, etc. Inaugurado em 2004, pelo Grupo André Jordan, o Victoria Golf Course recebeu a Taça do Mundo de profissionais em 2005 (então integrada nos World Golf Championships). Passou depois para as mãos do Grupo Oceânico em 2006, recebeu o Portugal Masters do European Tour/DP World Tour entre 2007 e 2022, antes de entrar agora numa nova etapa, sobre a qual daremos mais novidades para a semana, aqui, no GolfTattoo.
«Nem tinha pensado nisso, mas é uma boa questão, ter sido um dos últimos a competir no campo do Arnold Palmer. Um campo desafiador, por ser longo. E mesmo sendo muito aberto, tem muitos ‘bunkers’ nos ‘fairways’, muita água em jogo na segunda metade e os ‘greens’ são muito grandes. Mesmo que façamos muitos greens em regulação, há sempre o desafio dos ‘putts’ longos», comentou a GolfTattoo Per Nilsen, o campeão desta 35.ª edição, sucedendo a Orlando Henriques, o vencedor de 2022.
Per Nilsen, o vencedor net
Já Lucas Lopes Azinheiro, o melhor ‘gross’, teve motivos ainda maiores para elogiar o campo que agora vai encerrar: «Foi no Victoria que jogámos a volta decisiva e foi ela a dar-me a vitória no torneio. Ainda por cima, é a última volta que farei para sempre neste Victoria e ficarei assim com boas memórias de um campo onde vivi grandes momentos. Foi fantástico. Estamos em tempos de mudança em Vilamoura e concordo que as coisas sejam mudadas, se for para fazer melhor».
Com efeito, o desfecho do 35.º Grande Troféu de Vilamoura não poderia ter sido mais ajustado ao momento único que estes jogadores viveram, pois o título que definiu o melhor jogador do torneio (o da classificação geral ‘gross’) foi decidido exatamente no Dom Pedro Victoria Golf Course.
Lucas Lopes Azinheiro assumiu o comando da prova logo no primeiro dia, com uma volta de 72 pancadas (-1) no Dom Pedro Old Course, enquanto o seu mais direto concorrente, o inglês Robert Barry, ‘disparou’ 76 (+3).
O jogador do Clube de Golfe de Vilamoura, a atuar em casa, parecia ter uma vantagem importante, mas no segundo dia, no Dom Pedro Pinhal, um campo que tem sido tradicionalmente o seu calcanhar de Aquiles, ‘enterrou-se’ com 81 pancadas (+9), enquanto Robert Barry esteve muito bem com 73 (+1) e saltou para a frente do torneio ‘gross’ após essa segunda volta.
Luca Lopes Azinheiro, vencedor gross
O Dom Pedro Golf decidiu, e bem, que deveriam ser as Primeiras e Segundas Categorias a concluir o torneio no Victoria Golf Course e Lucas Lopes Azinheiro, a jogar com ‘handicap’ 0, esteve muito bem, cumprindo o desenho do saudoso Arnold Palmer em 75 pancadas, (+3). Enquanto isso, Robert Barry, também ele ‘scrach’, não conseguiu melhor do que 79 (+7).
Ambos concluíram os 54 buracos com 228 pancadas, 11 acima do Par, pelo que optou-se, de acordo com o regulamento, por proceder ao desempate, mediante os melhores últimos 18 buracos e esses foram os de Lucas Lopes Azinheiro. Por isso, o antigo vice-campeão nacional amador (2020), agora com 21 anos, venceu a classificação geral ‘gross’, com o Dom Pedro Victoria Golf Course a ser duplamente determinante para a sua vitória.
«Já tinha jogado este torneio várias vezes, sempre vi grandes jogadores a ganhá-lo e era algo que fascinava-me, era um sonho vencê-lo um dia. Portanto, é positivo, venci um torneio e em casa, é uma sensação incrível», disse o algarvio, que quer agora regressar ao golfe, depois de três anos de estudos universitários intensos, durante os quais pouco competiu. Por exemplo, não jogava uma competição a sério desde outubro.
«O meu pai foi convidado para jogar o torneio e convidaram-me também. Aproveitei a oportunidade para tirar a ferrugem aos tacos. Gostava de começar a jogar mais agora. Licenciei-me em Solicitadoria, no ISCAL, e estou agora a estagiar, durante nove meses, para poder entrar na Ordem», disse o jogador que também contempla no seu currículo desportivo um vice-campeonato nacional de clubes ao serviço de Vilamoura (2018).
Tal como Lucas Lopes Azinheiro, também Per Nilsen é membro do Clube de Golfe de Vilamoura. Igualmente no seu caso houve um empate no topo de classificação. E, incrivelmente, também ele estava a regressar ao golfe, por motivos diferentes.
«Há quatro meses submeti-me a uma cirurgia ao ombro direito, só há menos de um mês regressei ao golfe e quero agradecer ao meu médico e ao meu fisioterapeuta, porque sem eles não teria conseguido jogar este torneio», disse o sueco no seu discurso de campeão, na cerimónia final, que decorreu no Casino de Vilamoura, um dos muitos patrocinadores do evento.
No momento da sua paragem por lesão, tinha um ‘handicap’ de 6, o seu melhor de sempre. «Desde que há quatro anos e meio mudei-me para o Algarve, depois de reformar-me, tenho jogado muito mais golfe do que quando trabalhava. Jogo aí umas cinco vezes por semana», acrescentou o jogador de 66 anos que, agora, tem um ‘handicap’ de jogo de 11.
Também no seu caso, o Dom Pedro Victoria Golf Course foi determinante, pois precisou de uma boa última volta ali, de 71 (‘net’) para empatar no topo da classificação com Manuel Cândido de Oliveira, do Clube de Golfe do Sport Lisboa e Benfica, que estava a jogar no Old Course a última volta das Terceiras Categorias.
Ambos fecharam a competição com 209 pancadas, o português de 20 de ‘handicap’ com voltas de 70, 66 e 73, e o escandinavo com rondas de 73 (Old Course), 65 (Pinhal) e 71 (Victoria). Neste caso, por o geral ‘net’ definir igualmente o campeão do torneio, o sistema de desempate foi um mais ajustado ‘play-off’ e a decisão de fazê-lo no buraco 18 do Dom Pedro Pinhal foi a mais acertada, para colocar os dois jogadores em pé de igualdade, ou seja, ambos foram jogar a ‘morte súbita’ a um campo onde não tinham estado nesse dia. Per Nilsen cumpriu o Par-4 do buraco para vencer.
O antigo consultor de gestão explicou como decorreu esse ‘mata-mata’ decisivo: «Foi a primeira vez que joguei num ‘play-off’, mas sentia-me solto e inspirado. Disse a mim próprio que iria ganhar. Gosto muito daquele buraco, é um desafio. Tive uma boa saída, um pouco à esquerda do ‘fairway’, via à frente uma árvore. O Manuel não é tão comprido como eu e ficou mais curto, mas depois fez um grande segundo ‘shot’ que ficou a uns 60 ou 50 metros. Percebi que tinha de arriscar e tive um bom contacto com a bola, ficando a uns 2 centímetros do ‘green’. O terceiro ‘shot dele’ deixou-o a uns 2 ou 3 metros da bandeira. O meu ‘putt’ quase entrou. Ele falhou o ‘putt’ para Par e eu fechei logo a seguir. Fiquei muito feliz».
Per Nilsen e a mulher residem no Algarve desde que entraram para a reforma e tão cedo não pensam abandonar Portugal: «Tenho um amigo com quem trabalhei durante mais de 30 anos, que odeia o frio e tinha prometido há muitos anos que iria viver num país quente após reformar-se. Ao longo da vida viajou pelo Mundo fora e um dia descobriu Portugal. Em 2014 comprou um apartamento aqui e estava sempre a desafiar-me para vir visitá-lo. Em 2015 vim com a minha mulher, jogámos golfe com alguns amigos e ficámos apaixonados. É lindo, as pessoas são simpáticas, o clima é perfeito, há muito golfe. Três meses depois de termos vindo a Portugal comprámos uma casa».
O Grande Troféu de Vilamoura integra o grupo dos históricos torneios de clubes tradicionais de Portugal, como a Lisbon Cup (do Lisbon Sports Club), a Taça Kendall (Oporto Golf Club), a Taça R.S. Yeatman (Club de Golf de Miramar), a Taça Mendes d’Almeida (Vidago Palace Golf Course), o Aberto do Estoril (Club de Golf do Estoril). Estas provas de clubes ainda mais antigos contam todas para o Ranking Nacional BPI, ou seja, o ranking dos melhores amadores da Federação Portuguesa de Golfe (FPG). O Grande Troféu de Vilamoura chegou em tempos a atribuir pontos para esse ranking, mas hoje em dia já não.
Tal como esses torneios históricos tem grandes campeões, incluindo alguns dos melhores jogadores portugueses das suas gerações, casos de João Pedro Carvalhosa (1988), Henrique Paulino (1989), José Correia (1992), Ricardo Santos (2000). Se fôssemos à classificação ‘gross’ veríamos muitos outros vencedores renome como, mais recentemente, Stéphane Castro Ferreira em 2019 e este ano Lucas Lopes Azinheiro.
No entanto, a sua lógica não é meramente competitiva, encerra uma componente de promoção do destino turístico de Vilamoura, numa época que já começa a ser baixa, mesmo no golfe algarvio, e consolida a relação dos hotéis e campos de Vilamoura com os seus clientes habituais. Este ano vimos muitos jogadores repetentes, mas também abundantes novidades, designadamente uma numerosa comitiva vinda de Marrocos.