Madeirense Carlos Laranja, de 15 anos, está a viver no Centro de Alto Rendimento do Jamor
Carlos Laranja poderia ser definido numa palavra: destemido. Basta atentar na forma como se comportou no Madeira Open BPI de 2015, prova pontuável em simultâneo para os dois principais circuitos europeus de profissionais – o European Tour e o Challenge Tour.
Com apenas 15 anos (fará 16 a 21 de Fevereiro), a jogar no “seu” Clube de Golfe do Santo da Serra, fez voltas de 74-75 (5 acima do par no agregado total) para acabar empatado com sete jogadores no 127.º lugar (entre 156 concorrentes), a 7 pancadas do cut. A classificação não é nada de especial, mas é de realçar que deixou 22 profissionais para trás. O desempenho naquele que foi o seu primeiro torneio na alta-roda indicia solidez de jogo debaixo de pressão.
A propósito, comentou: “Fiquei um pouco triste com os meus resultados, porque tanto no primeiro dia como no segundo perdi muitas pancadas nos últimos buracos.” O que se passou? “Talvez tenha sido o facto de estar a chegar mais perto da clubhouse (quando já começa a aparecer mais gente) e a ansiedade de acabar.”
Natural da freguesia do Santo da Serra, situada 500 metros acima do nível do mar, no concelho do Machico, Carlos Laranja, um 0,1 de handicap, é hoje o melhor golfista madeirense e faz parte da selecção nacional no escalão de sub-18. Em Setembro, na República Checa, contribuiu para a vitória de Portugal na segunda divisão do Campeonato da Europa por Equipas de Boys, o que valeu a promoção do país ao escalão primodivisionário em 2016.
Logo de seguida, deixou a Madeira e foi viver para o Centro de Alto Rendimento do Jamor (no Centro Desportivo Nacional, em Oeiras), na condição de Jovem Talento, com o apoio da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) e de alguns membros do CG Santo da Serra. Daqui, pode ir a pé para a escola (10.º ano na Escola Secundária Amélia Rey Colaço, em Linda-a-Velha) e para o Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor, onde tem academia e campo de 9 buracos.
“Vim da Madeira para o continente para progredir e ter mais oportunidades de competição”, justifica. “Adaptei-me bem, mas ainda não estou a 100 por cento em todas as minhas competências. Há dias em que sinto mais saudades da Madeira e da minha família do que outros, aqui o clima e o ambiente são diferentes e é tudo maior.”
Laranja segue um plano de treino delineado pelo seleccionador nacional da FPG, Nuno Campino, que diz: “O Carlos é um dos melhores boys em Portugal, sim, e temos também o Vasco Alves e o Pedro Lencart. Eu diria que os três estão equiparados com muito bom nível de golfe, e que todos eles podem ser muitos bons jogadores no futuro, se trabalharem decentemente.”
Poderá Carlos Laranja, como Cristiano Ronaldo, tornar-se numa estrela do desporto nacional e internacional? “Ele agora tem as aptidões para ser um bom jogador”, responde Nuno Campino. “Agora, se vai ser bom jogador ou não, isso no desporto nunca sabemos o que vai acontecer, não conseguimos prever, a única coisa que podemos controlar é o treino, a capacidade de trabalho, se trabalhamos bem ou trabalhamos mal, fazer as avaliações certas nas alturas certas, montar todas as estruturas que o possam ajudar a que ele seja melhor jogador.”
Em Lisboa nada lhe falta, conta Nuno Campino: “Foi bom para ele ter vindo para o continente, claro, tem acompanhamento técnico, preparação física com José Pedro Almeida, acompanhamento psicológico com o Gonçalo Castanho, há aqui uma equipa a trabalhar com ele. Mas o mais importante é que pode competir com os outros jogadores, enquanto que na Madeira ele não conseguia jogar muitas provas. Acho que vai ser um passo muito importante para ele, vai poder avaliar-se a ele próprio, se tem capacidade para jogar ao mais alto nível, se tem capacidade para tentar ganhar provas nacionalmente e depois internacionalmente. Vamos ver com calma, temos de ver que isto é um plano a longo prazo, não é para obter resultados amanhã, mas daqui a 2 ou 3 anos.”
Carlos Laranja afirma que “qualquer jogador da minha idade sonha ser profissional de competição, mas para chegar lá é preciso muito trabalho. Vim para evoluir, para ter melhores momentos de trabalho, mas o golfe é um desporto que nem sempre responde às nossa capacidades, está tudo dependente do que eu possa ou não fazer”.
A sua estreia competitiva em 2016 foi no segundo fim-de-semana de Janeiro, no 1.º Torneio do Circuito FPG, com todos os melhores amadores nacionais em prova, no Penina Hotel & Golf Resort, que já tantas vezes recebeu o Open de Portugal. O madeirense abriu com uma volta de 71 (2 abaixo do par-73) que o deixou empatado em quarto lugar, a 3 pancadas do líder T0más Bessa (68).
Estava, portanto, na corrida pela vitória para a segunda e última volta, domingo. “Poucas vezes tinha estado naquela situação, tentei ir descontraído, consegui fazer o meu jogo, manter-me razoável durante o campo quase todo, até que tive lapsos nos dois últimos dois buracos, com duplo bogey no 17 e bogey no 18”, explica.
Viria a concluir a última volta com um 76 (+3), o que lhe deu o sexto lugar final, a cinco pancadas do vencedor – o bicampeão nacional Tomás Silva. Melhor no Circuito FPG, para ele, só o quarto lugar no 4.º Torneio de 2015, no Estela Golf Club. Ah, e aquele 71 de sábado igualou a sua melhor volta de sempre no calendário federativo.
A coisa promete para este ano.
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Este artigo foi publicado inicialmente no caderno GOLFE do jornal Público, dia 30 de Janeiro