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O golfista-pastor de Viseu revisitado
12/08/2014 12:18 Rodrigo Cordoeiro
Ruben Figueiredo defronte da club house de Oitavos Dunes, em Cascais / © FILIPE GUERRA

Ruben Figueiredo ainda alimenta aos 17 anos o sonho de ser profissional de golfe

Quem não se lembra do golfista-pastor? Já por várias vezes, Ruben Figueiredo foi notícia na maioria dos órgãos de comunicação social portugueses. Era uma boa história. Reza a lenda que foi no meio das ovelhas do pai que deu as primeiras tacadas ainda de cajado em punho, na freguesia de Farminhão, Viseu. A sua mãe é operária fabril.

A verdade é que ele se descobriu golfista em 2005, depois de um programa municipal que levou as crianças do concelho ao Golfe de Montebelo. Ruben foi o único a apaixonar-se pelo golfe. Montebelo ofereceu-lhe todas as condições sem custos para a família e ele evoluiu até se sagrar campeão nacional de golfe no Desporto Escolar em 2009, no Montado Hotel & Golf Resort.

Em 2010, voltou a ser alvo de mediatismo pela última vez, quando recebeu uma bolsa do Legacy Fund (fundação sediada em Portugal, que aposta em novos talentos) para um estágio de duas semanas na Academia de Hank Haney (na altura o treinador de Tiger Woods) na ilha de Hilton Head, Carolina do Sul (EUA). Foi a primeira vez que saiu de Portugal.

Durante a segunda volta do recente Campeonato Nacional PGA / © FILIPE GUERRA

Quatro anos depois, na semana passada, GOLFTATTOO encontrou Ruben Figueiredo, já com 17 anos e 2,2 de handicap, a competir no Campeonato Nacional PGA, no Onyria Palmares, ou seja, no campeonato nacional de profissionais. Ainda é amador, mas recebeu um convite e brilhou com uma segunda volta de 71 pancadas que foi tão só o quarto melhor resultado do dia, a uma pancada do 70 de Ricardo Santos.

“Virei os primeiros 9 buracos com três acima do par e fiz quatro birdies nos últimos 9, que eram os mais difíceis”, conta o viseense, que viria a terminar a prova no 19º lugar entre 32 participantes. É que antes daquele 71 tinha havido um 81 e depois, a fechar, um 78.

Desde que deu os primeiros passos no golfe, o sonho de Ruben sempre foi o de ser um dia profissional de golfe. Em 2007, o pai de Ruben, Rui Figueiredo, contava ao Expresso: “Acho que é [o golfe] uma grande ilusão para o Ruben. Sei bem, ele dizia-me que havia de ser famoso. Nunca me opus ao Ruben e sempre lhe disse que em primeiro lugar estavam os estudos e em segundo lugar o golfe. Mas pode ser que isto dê pano para mangas.”

Nessa reportagem, o seu treinador, João Couto, profissional do Golfe de Montebelo, elogiava-lhe a determinação e a capacidade de concentração: “Se não estiver acompanhado, é capaz de jogar sozinho o dia todo. Porque ele tem muita vontade, isso é o mais importante. Com a vontade dele, com a prática e com os ensinamentos, não tenho dúvidas de que daqui a cinco anos será um grande craque.”

Ao fim deste tempo todo, só em parte a profecia se concretizou. É um bom jogador, sem dúvida, como o atesta o seu handicap, mas está longe de ser um amador de top em Portugal. Em abril, foi 43º no último Campeonato Nacional Amador Absoluto Peugeot, com voltas de 79-83-81-81 na Quinta do Peru (par-72). Esteve melhor em Julho, com o quinto lugar no Campeonato Nacional de Sub-18, no Aroeira 1 (par-72), com voltas de 74-79-74, ficou somente a 7 shots do vencedor, Nathan Brader. No Ranking Nacional BPI 2014, está fora dos 50 primeiros.

Como pontos altos desde que venceu o Campeonato Nacional de Golfe de Desporto Escolar, Ruben Figueiredo tem a vitória no Campeonato Nacional de Segundas Categorias em 2012, no CampoReal. Representou Oitavos Dunes nos últimos três anos no Campeonato Nacional de Clubes Solverde – e aqui chegados é altura de explicar como é que Ruben Figueiredo passou a integrar um dos mais caros e exclusivos clubes de golfe portugueses, tão longe – em Cascais – do seu local de residência.

O facto de Ruben ter aparecido em várias entrevistas, na televisão e não só, despertou o interesse por parte de um casal luso-canadiano que tem casa na Quinta da Marinha, o complexo turístico-residencial onde se situa Oitavos Dunes. Tony e Sue Cabral têm apoiado Ruben Figueiredo desde então. Contribuiram para que recebesse aquela bolsa de golfe e abriram-lhe as portas de sua casa incondicionalmente. Ruben teve então aulas com o profissional do clube, Philip A’Court, o qual chamou a atenção da direcção para que o jovem talento pudesse jogar pela equipa de Oitavos.

Ele é um dos titulares na equipa de homens de Oitavos Dunes / © FILIPE GUERRA

Além do Campeonato Nacional de Clubes, Ruben já representou Oitavos em dois World Club Championship, em 2012 (Cabo de São Lucas, México) e 2013 (Jezhu, Coreia do Sul). Trata-se de um torneio restrito aos 100 melhores campos do mundo segundo eleição da revista Golf Magazine. “Participam bons jogadores, os melhores dos respectivos clubes, e tem transmissão no Golf Channel”, esclarece Ruben. “Nas duas ocasiões fiz equipa com o Pierre-Alexis Roland, jogador belga de Oitavos. Ficámos em 6º no México e em 5º na Coreia, entre cerca de 20 equipas.”

Actualmente Ruben continua a alimentar o sonho de ser profissional. “Sempre foi o meu objectivo, mas agora vejo que vai ser mais difícil do que eu pensava. E então vamos ver… É preciso trabalhar muito e nem todos conseguem lá chegar. Mas agora que terminei o 12º ano, gostaria de passar um ano só a jogar golfe, para crescer como golfista e ver o que acontece. Mas para isso preciso de apoio. Não estou inclinado para um curso universitário, prefiro antes arranjar um emprego que me dê para viver.”

Ruben está a passar as férias de Verão na Quinta da Marinha, onde treina e joga com jogadores do calibre do amador João Ramos e do recém-sagrado campeão nacional de profissionais Tiago Cruz. A preparar-se para o Campeonato Nacional de Clubes Solverde que se joga no Oporto lá mais para o fim do mês. Depois, no início de Setembro, tem a Taça da Federação Portuguesa de Golfe, o segundo major do ano, a seguir ao Campeonato Nacional Absoluto.

Bons desempenhos nestas duas provas, agora que tem tempo para treinar, seriam importantes para justificar a sua opção futura pelo golfe. E para cativar algum eventual apoio, de maneira a manter acesa a chama da esperança e ser mais do que apenas um bom jogador amador.