O maior evento desportivo nacional para empresas e o segredo por detrás do sucesso
Um dos episódios mais singulares da época foi protagonizado pelo campeão nacional absoluto Tomás Silva quando abdicou de lutar pelo primeiro lugar no Ranking Nacional BPI 2014 para poder jogar no Expresso BPI Golf Cup. Estávamos no início de Novembro. No calendário federativo, faltava só disputar-se o 6º Torneio do Circuito Liberty Seguros, no Aroeira 2. Tomás era 2º no Ranking, só atrás do líder João Carlota, e tinha hipóteses de chegar a primeiro. O problema é que, no mesmo fim-de-semana, jogavam-se em Tróia as meias-finais regionais do Alentejo no também designado Campeonato Nacional de Empresas. Entre um e outro, Tomás optou pelo texas scramble do Expresso BPI, entregando a João Carlota, de mão beijada, o estatuto de nº1 do golfe amador português em 2014.
Sensivelmente na mesma altura, Francisco Costa Matos, a jogar em casa, brilhou no Açores PGA Open, na Batalha. Liderava no primeiro dia com Tiago Cruz e lutou até ao fim com este e com Hugo Santos, dois dos melhores portugueses da actualidade. Com voltas de 70-73, para um total 1 abaixo do par-72, terminou em terceiro, à frente de outras referências como Pedro Figueiredo e Gonçalo Pinto. Enquanto jogava, fazia o playability test – o exame prático de acesso à PGA de Portugal. Escusado será dizer que teve nota máxima. Mas adiou por dois meses a passagem a profissional de golfe porque tinha um último grande desígnio para cumprir na condição de amador: vencer o Expresso BPI.
Costa Matos (Mercedes-Benz AVM) em acção na Finalíssima / © FILIPE GUERRA/GOLF PRESS
Mas, afinal, o que tem o Expresso BPI? É o maior evento desportivo nacional para empresas. Este ano reuniu 332 equipas e 1447 jogadores em oito regiões (Lisboa, Norte, Douro, Centro, Algarve, Madeira, Açores e Alentejo), recebendo pequenas, médias e grandes empresas (portuguesas e estrangeiras) ligadas a praticamente todas as áreas da economia e jogadores das mais variadas profissões, bem como amadores de alta competição. Acima ilustrámos com dois casos de jogadores de handicaps baixos, mas poderíamos tê-lo feito com golfistas de handicap médio ou alto. Sabe-se, por exemplo, que há golfistas que só cumprem com a licença federativa para poderem jogar no Expresso BPI. E quantos não o consideram o seu torneio de eleição?
“Eu acho que é uma mistura de várias coisas”, responde João Morais Leitão, da empresa organizadora do circuito, a Media Golf. “Nomeadamente a notoriedade que nos dá o Expresso e os nossos outros media partners: A SIC Notícia, a Golf Digest, a Rádio Renascença. Obviamente o Expresso tem dado uma divulgação muito boa à prova. E depois, claro, há as marcas importantes que estão connosco há já muitos anos, como é o caso do BPI. Criámos um modelo apreciado pelas pessoas. É uma prova muito abrangente, metendo todas as idades, todos os handicaps, e com um grande espírito de equipa.”
João Morais Leitão recorda que, no início, ainda houve algumas reticências, entretanto ultrapassadas, por parte de jogadores de handicap baixo, relativamente à modalidade do texas scramble. “Temos vindo a afinar a modalidade e agora está numa fase em que as pessoas se divertem, sejam handicaps altos, médios ou baixos”, avalia. “Conseguem-se muito birdies, o que é apelativo. Temos agora um texas scramble modificado. Até ao green é texas scramble, mas no green é foursomes. E as saídas por cada jogador são limitadas.”
GOLFTATTOO marcou presença, a convite da organização, na Finalíssima deste ano, no Vidago Palace, para as três equipas apuradas via Final Nacional. Remontando o Expresso BPI a 1998, a Finalíssima só foi instituída em 2008. Passou por campos tão icónicos como o Old Course de St. Andrews (2008 e 2011), Ailsa de Turnberry (2009) e Valderrama (2010), antes de assentar arraiais em Portugal, para promoção do que de melhor o país tem em termos de golfe. Em 2012, a Finalíssima teve duplo palco no Algarve – Monte Rei e Onyria Palmares. Em 2013, fixou-se no Vidago Palace e é aqui que se vai manter mais dois anos, em 2015 e 2016.
Jogadores e caddies da Finalíssima defronte do hotel / © FILIPE GUERRA/GOLF PRESS
“Eu acho que no Vidago Palace conseguimos proporcionar aos jogadores uma experiência fabulosa porque estão num hotel deslumbrante e podem ir a pé para o tee do 1”, considera João Morais Leitão. “Aliás, a nossa selecção de campos também é muito importante, jogamos a prova em grandes campos nacionais, oito campos são de top”, acrescenta o CEO da Media Golf, sob o fundo da imponente fachada do Vidago Palace Hotel, que, tal como o campo de golfe, esteve fechado durante quatro anos para obras de restauração e remodelação (e, no caso do golfe, de ampliação de 9 para 18 buracos), até reabrir as portas em 2010, cortesia da Unicer, proprietária do complexo desde 2002.
“Foi uma oportunidade de nos juntarmos aos melhores”, diz Alexandre Barroso, director do Vidago Palace Golf Course. “O Expresso Golf Cup terá sentido que o Vidago Palace tem as condições ideais para um evento desta natureza, e a verdade é que acho que, na Finalíssima, conseguimos ser modelares, que nos adaptámos à ambição da organização. Trata-se do melhor torneio de equipas em Portugal, reconhecido por toda a gente, com uma visibilidade muito forte e com a melhor organização em termos de torneios amadores nacionais. E é gratificante perceber o entusiasmo com que as equipas lutam para chegar ao Vidago Palace. Isso é que nos traz notoriedade através dos excelentes media partners da prova.”
Além do Vidago Palace, os outros campos oficiais do Expresso BPI são os do Estela Golf Club (Norte), Golfe Montebelo (Centro), Onyria Palmares Beach & Golf Resort (Algarve), Clube de Golf do Santo da Serra (Madeira) e Tróia Resort (Alentejo). Já o Belas Clube de Campo, que desde o início recebe aquelas que são de longe as maiores qualificações regionais, as de Lisboa, tem o título de “Co-Sponsor”. Finalmente, os Açores, palco invariável da Final Nacional (seja nos dois campos de São Miguel, Furnas e Batalha, ou no Clube de Golfe da Ilha Terceira), são o “Destino Oficial”.
João Morais Leitão entrega troféu aos vencedores / © FILIPE GUERRA/GOLF PRESS
Os jogadores participantes na Finalíssima chegaram a Vidago com carros Mercedes-Benz disponibilizados pela organização. De manhã, na saída do hotel, tinham buggys à sua espera, para serem transportados para o driving range, onde fariam o aquecimento. Aqui, cada um tinha o seu posto de treino com os respectivos nomes nas divisórias. As bolas de treino eram Titleist Pro V1. E cada jogador tinha o seu caddie com um bibe e o nome nas costas. Nas saídas, no primeiro buraco, existia um grande relógio da Omega e os nomes das “estrelas” foram anunciados pelo speaker.
“Na Finalíssima procuramos recrear, ainda mais que do que na Final Nacional, um ambiente de torneio do Tour, proporcionando uma experiência única aos heróis que chegam a esta fase da prova”, confirma João Morais Leitão, continuando: “Procuramos sempre todos os anos melhorar e inovar. Começa a ser mais difícil, claro, porque o patamar de exigência está já lá em cima. Mas procuramos sempre encontrar um pormenor ou outro que não apresentámos antes para termos sempre novidades.”
A atenção ao pormenor é, com efeito, um dos factores de prestígio do Expresso BPI. E o excelente catering no campo, para o qual contribuem alguns “Produtos e Serviços Oficiais” do torneio, como a Carlsberg, Freixenet, Nespresso e The Glenlivet. E a rica tômbola de prémios, este ano recheada com material de golfe Titleist. Em sorteio estão sempre um driver, um putter Scotty Cameron, um wedge Vokey Design e um saco. Mas há mais: uma garrafa de The Glenlivet 18 anos, uma caixa de vinho Meandro (Vale Meão) e um fim-de-semana ao volante de um topo de gama Mercedes-Benz.
A Nespresso é um must do Expresso BPI Golf Cup / © FILIPE GUERRA/GOLF PRESS
O Expresso BPI Golf Cup comportou este ano 17 dias de Qualificações Regionais, 10 dias de Meias-Finais Regionais, 2 dias de Final Nacional e outros 2 dias de Finalíssima. Durante as Qualificações Regionais, a melhor dupla gross recebe uma dúzia de bolas Pro V1, e a prova não se restringe aos 18 buracos, há ainda tempo para competições-extra, que atribuem os Prémios Especiais, como um concurso de putting (o Allianz Putting), com um putter Scotty Cameron em jogo; um concurso de chipping (Há Mais Golfe em NOS), em disputa por um híbrido da Titleist; e um concurso de drives (Drive to the Major, da Mercedes Benz) que oferece ao melhor um convite para assistir ao British Open na condição de VIP. Allianz, NOS e Mercedes-Benz são os Sponsors do Expresso BPI, num quarteto que fica completo com a Solverde. O BPI, naturalmente, é o Sponsor Principal.
Nesta última Finalíssima, participaram uma equipa dos Açores (Mercedes-Benz AVM), uma da Madeira (Prazer do Mar) e outra do Douro (Allianz), esta a jogar em casa uma vez que as regionais se realizam no Vidago. Uma rápida vista de olhos dava para ver que existiam duas equipas com handicaps baixos, constituídas na íntegra por jogadores single figure, ou seja, com handicaps de um só dígito; e uma terceira com handicaps médios, entre o 12,5 e o 16,4. O mais baixo handicap em prova (3,4) pertencia a… Francisco Costa Matos, que, em representação da Mercedes-Benz AVM, haveria de levar o troféu para casa conquistando mesmo aquele que era o seu grande objectivo antes de se tornar profissional.
“Há anos que eu acompanhava o Expresso BPI Golf Cup, ainda antes de começar a jogar. Tendo em conta que o meu parceiro [Miguel Amaral] é de longa data achei que não devia abdicar do compromisso para com a equipa, até porque sabia que a minha presença seria uma mais-valia e queria presentear o capitão [Francisco Bettencourt] com o troféu deixando ao mesmo tempo a minha marca no torneio”, disse Costa Matos, de 28 anos, ao GOLFTATTOO, para explicar a sua aposta no Expresso BPI.
Se nas qualificações e nas meias-finais regionais a prova se desenrola em versão stableford, na final nacional e na finalíssima é em medal. A Mercedes-Benz AVM sagrou-se vencedora com 274 pancadas (133-141), 14 abaixo do par-72. Francisco Costa Matos/Francisco Amaral estiveram em altíssimo nível fazendo 62-68, ao passo que Francisco Bettencourt/Louis Martínez marcaram 71-73. “Foi claramente um objectivo que ficou atingido”, assevera o capitão do quarteto, Bettencourt. “Já tínhamos ficado várias vezes muito perto e este ano era especial por ser a despedida do Francisco, por não podermos contar mais com ele.”
Bettencourt, um dos melhores de sempre no torneio / © FILIPE GUERRA/GOLF PRESS
O novo conjunto vice-campeão foi o do Prazer do Mar (actividades marítimas turísticas), a seis shots do primeiro, com 280 pancadas (147-133), tendo como representantes Carlos Gouveia/Manuel Brazão (74-71) e Mário Aguiar/André Costa Silva (73-62), estes com uma segunda volta que igualou o brilhante score do primeiro dia por parte de Costa Matos/Amaral. A Allianz completou o pódio com 281 (142-139), sendo que Carlos Lima/César Campos fizeram 72-73 e Ricardo Cabral/Pedro Barroso 70-66.
“Foi um bom ano de Expresso BPI, houve muito entusiasmo em todo o país”, resume João Morais Leitão. “Tivemos a participação de vários bons jogadores, alguns foram longe na prova. E posso dizer que para o ano que vem, vamos ter muitas novidades. Vai ser a 18ª edição da prova e queremos fazer uma coisa memorável. Vai ser surpreendente, estou certo de que os participantes vão ficar satisfeitos. Já temos várias ideias, agora temos de implementá-las.”
É claro que este artigo ficaria incompleto se não se mencionasse a preocupação com o compromisso social por parte do Expresso BPI Golf Cup, em donativos a instituições de solidariedade advindas de uma percentagem no pagamento das inscrição das equipas, este ano valor de 6 mil euros, atribuídos ao projecto “Famílias-on-line” da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Ao longo dos anos, já foram distribuídos mais 100 mil euros e, desde 2009, tem sido a SIC Esperança (Instituição de Solidariedade Social) a fazer a selecção do projecto social a apoiar.
E quanto a Tomás Silva, esteve em grande nível naquelas meias-finais do Alentejo, em representação da SIC Notícias, perfazendo 42 pontos em parceria com o seu pai, José, mas a outra dupla do quarteto não foi além dos 35, pelo que a classificação final foi o 12º lugar entre 25 equipas. Tomás Silva falhou assim o apuramento para a Final Nacional, mas nem por isso esta etapa do Expresso BPI deixou de ter campeões: jogaram a bicampeã nacional absoluta Susana Mendes Ribeiro e o campeão nacional de 1995, Mário Nuno Coelho, na senda de outros nomes grandes da modalidade que já passaram pelo torneio, como Ricardo Santos, Hugo Santos e Tiago Cruz, três dos melhores golfistas portugueses da actualidade, só para citar alguns.
Mas afinal, quem não quer jogar o Expresso BPI Golf Cup?