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Pedro Lencart estuda melhor momento para virar profissional
11/12/2020 17:03 Hugo Ribeiro / Tee Times Golf
Pedro Lencart ganhou em 2020 oito torneios que contaram para o Ranking Nacional BPI da FPG © FILIPE GUERRA

Em contexto de pandemia, o amador de 20 anos aguarda calendários definitivos de 2021 para decidir

Pedro Lencart foi inquestionavelmente o melhor jogador português a nível amador em 2020 e demonstrou algumas vezes durante o ano estar a aproximar-se do nível competitivo dos melhores profissionais portugueses. A transição definitiva para o profissionalismo é algo que anda a matutar há vários meses.

Esta época, o jogador do Club de Golf de Miramar ganhou oito torneios que contaram para o Ranking Nacional BPI da Federação Portuguesa de Golfe (FPG). Foi, obviamente, o n.º1 de 2020 nessa hierarquia para amadores.

Entre esses triunfos figuraram o Campeonato Nacional Amador/Audi e a Taça da FPG/BPI, ou seja, os dois Majors amadores portugueses a nível individual. Para além disso, sagrou-se ainda vice-campeão do Internacional Amador de Portugal, um evento do calendário da Associação Europeia de Golfe.

No Campeonato Nacional Absoluto Audi, em setembro, foi também vice-campeão nacional absoluto. Lutou de igual para igual com os melhores profissionais portugueses. Só foi superado por Ricardo Melo Gouveia e deixou atrás de si os dois membros portugueses do European Tour – Ricardo Santos e Pedro Figueiredo.

Não foi uma surpresa porque já em março, no The Tour Championship do Portugal Pro Golf Tour (PPGT), entre atletas de circuitos profissionais do European Tour, Challenge Tour, Alps Tour, Pro Golf Tour, EuroPro Tour, o jovem portuense brilhou.

Terminou no 5.º lugar e foi o melhor português. Note-se que, em Troia, dos melhores profissionais portugueses, só faltaram Filipe Lima e Stephen Ferreira! Lencart superou todos os outros da elite nacional!

O PPGT tem sido, aliás, usado por Pedro Lencart como forma de ir-se habituando a competir com regularidade a nível profissional. Este circuito, organizado pelo empresário José Correia, disputa-se entre novembro e março e atrai mais de uma centena de jogadores estrangeiros, ostentando um nível de jogo bastante interessante.

Na temporada de 2019/2020, o triplo campeão nacional amador (2016, 2018 e 2020) jogou cinco torneios do PPGT com os seguintes resultados (com destaque para dois top-5):  4.º (-3) no Dom Pedro Pinhal Open; 23.º (+1) no Pinheiros Altos Open; 33.º (+8) no San Lorenzo Classic; 28.º (+1) no 2.º O’ Connor Classic; 5.º (-4) no PPGT Tour Championship.

O n.º1 amador português disputou ainda outros torneios profissionais onde não foi tão feliz: 13.º (+3) no Solverde Campeonato Nacional PGA; 104.º (+6) no Open de Portugal at Royal Óbidos do European Tour; 121.º (+7) no Portugal Masters do European Tour; e 100.º (+10) no Qualifying School do Alps Tour Golf.

"Se o meu jogo estiver no seu melhor, sei que consigo fazer voltas de 5 ou 6 pancadas abaixo do Par, para lutar com estes jogadores. Mas sei que basta falhar qualquer coisa para já não ser tão fácil. Não é como ao nível amador, no qual, se não conseguir concretizar alguns putts, ainda estou na luta. Neste caso, entre profissionais, é preciso estar tudo muito afinado e conseguir boas voltas seguidas", disse Pedro Lencart ao Gabinete de Imprensa do PPGT, em março, depois do 4.º lugar em Troia.

É por isso que o seu treinador e também selecionador nacional da Federação Portuguesa de Golfe (FPG), Nélson Ribeiro, considera tão importante esta mescla de torneios amadores com eventos profissionais.

"O Pedro Lencart estará numa fase final do seu estatuto amador. Ele precisa de torneios como o Portugal Masters, o Open de Portugal, este Campeonato Nacional Absoluto Audi, para fazer uma transição gradual, se possível mês a mês, numa situação competitiva que seja o mais parecida possível com o formato profissional, mesmo ao nível do treino", disse Nélson Ribeiro, em setembro, ao Gabinete de Imprensa da FPG.

Sejamos claros, para Pedro Lencart a questão não consiste em saber se um dia será ou não um golfista profissional, mas apenas em descobrir qual o momento mais adequado para abraçar essa profissão.

Aos 20 anos, não é cedo nem tarde para dar esse passo em frente e pode perfeitamente dar-se ao luxo de aguardar mais um ano.

A ideia original de tornar-se profissional em 2020, depois do Campeonato do Mundo Amador por equipas (Eisenhower Trophy), foi minada pela pandemia, que forçou-o a parar cerca de quatro meses, entre meio de março e meados de julho.

A recalendarização competitiva em contexto de pandemia cancelou praticamente todos os torneios internacionais amadores, incluindo o Mundial, não cancelado, mas adiado para 2021.

No passado mês de novembro, Pedro Lencart foi jogar a Final da Escola de Qualificação do Alps Tour Golf, uma das terceiras divisões europeias e declarou que se conseguisse ficar no top-35 iria ganhar uma categoria para jogar nesse circuito em 2021. Optaria, então, por passar logo a profissional.

As coisas não correram-lhe de feição em Itália e falhou o cut. Esse resultado forçou-o, obviamente, a reequacionar os seus planos.

"Em relação ao próximo ano, ainda nada está decidido. Junto com o meu treinador e a minha família, iremos decidir o que fazer, tendo em conta os torneios que poderei jogar como amador ou como profissional", disse agora à Tee Times Golf em exclusivo para Record.

O selecionador nacional e seu treinador confirmou-nos o mesmo: "O Pedro Lencart, à semelhança de dezenas de jogadores da mesma geração distribuídos pela Europa, aguarda pela publicação dos calendários competitivos (amador e profissional), para tomar uma decisão racional sobre qual o período ideal para efetivar o desejo que tem de competir a nível profissional."

A questão financeira, não sendo determinante no caso do jovem português, deve, apesar de tudo, ser equacionada. Tradicionalmente, a FPG suporta a esmagadora maioria dos custos dos atletas de alto rendimento ao serviço das seleções nacionais amadoras. Mas a história tem sido bem diferente quando os jogadores passam a profissionais. Nessa altura os apoios financeiros federativos tornam-se escassos.

O cenário poderá ser diferente neste caso. "A supervisão do Pedro Lencart é executada por meio do estatuto de alto rendimento, com base no projeto esperanças olímpicas do Comité Olímpico de Portugal, o qual integra", explicou Nélson Ribeiro.

No entanto, não deixaria de ser mais confortável apostar num 2021 ainda como amador, disputar o máximo de competições internacionais possíveis a nível amador, incluindo o Mundial e os Europeus, misturá-las aqui e ali com experiências em circuitos profissionais e manter o apoio financeiro da FPG.

No fundo, olhar para 2020 como uma temporada em que a COVID-19 colocou a sua carreira em suspenso durante um ano. Por outro lado, o bom nível de jogo que tem mostrado convida à vertigem de passar mais cedo a profissional, assumindo o maior risco financeiro que isso implicaria.

"Vamos ver… ainda estou a pensar qual o melhor momento para passar a profissional. Esta pandemia veio tornar tudo mais confuso", dizia ele há três meses.

Uma coisa é certa, para trás das costas ficaram as incertezas por uma experiência falhada no circuito universitário norte-americano, terminada no ano passado: "Nos Estados Unidos o meu golfe não estava a ir no caminho certo. Não estava a conseguir os resultados que queria. Também tive uma lesão que ajudou-me a tomar essa decisão, porque implicou uma cirurgia e três meses de convalescença em Portugal. Olhando para trás, essa paragem ajudou-me a refletir, a pensar, a recuperar a motivação".

De novo motivado e a jogar muito melhor, fruto de muito trabalho discreto e silencioso com o seu treinador, arrancou uma temporada de sonho em 2020, uma das grandes épocas de sempre de um português a nível amador. Pedro Lencart tem agora menos dúvidas e mais certezas.

Independentemente da data em que vier a passar a profissional, vale a pena recuperar algo que disse-nos ainda em março e que adapta-se que nem uma luva ao seu momento atual: "O futuro pode ser risonho para mim. Vou continuar a esforçar-me para fazer evoluir o meu jogo no caminho certo. O plano é passar a profissional, mas vamos ver como as coisas correm com os calendários".