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Ricardo Santos aliviado com descoberta preciosa
13/12/2014 15:34 Rodrigo Cordoeiro
Ricardo Santos com motivos para festejar agora que vai cortar o mal pela raíz / © GETTY IMAGES

Tacos com que jogava estavam desajustados e levavam-no a cometer erros para compensar

Nos primeiros dias de Dezembro, Ricardo Santos foi pela primeira vez na vida aos Estados Unidos, a San Diego, Califórnia, para ter uma aula de putting com o especialista Dave Stockton. Mas o mais importante desta viagem de três dias acabou por ser a visita à academia do Titleist Performance Institute, onde o golfista português – o melhor de sempre na alta roda europeia – percebeu os motivos pelos quais as coisas não lhe estavam a correr bem em termos de jogo. 

“Cheguei à conclusão que andei estes anos todos com os tacos mal, ou seja, com o fitting mal feito, o que me fazia cometer erros técnicos para compensar os erros dos tacos”, revelou ao GOLFTATTOO. “Tinha os tacos meia polegada maiores e mais dois graus upright do que deviam estar. Também mudei a vareta, para tamanho standard, mais curta e mais leve do que a que tinha.” 

Para Ricardo Santos, que este ano perdeu o cartão de full member do European Tour, esta foi uma descoberta preciosa. “Digamos que serviu para limpar a minha cabeça. No campo sentia-me a jogar bem e a bater bem na bola, e de repente saíam-me dois ou três shots que eu não conseguia perceber porquê. Já começava a ficar preocupado, pensando que o meu problema era psicológico. Os cabos estavam a entrar em curto-circuito.” 

“Eu não posso estar aqui 100 por cento seguro, mas lá [em San Diego] senti muita diferença”, continua. “Para além da distância que ganhei, foi também a consistência. Está bem que isto foi tudo no campo de treino, agora têm de ser dadas provas em campo. Pelo menos, senti-me muito melhor e mais confiante. Agora sei aquilo estava mal, por isso acho que só posso melhorar, ser mais consistente.” 

Os tacos com que Ricardo tem jogado nos últimos anos estavam construídos de maneira a que ele, fazendo o swing perfeito, falhasse à esquerda. “O meu subsconsciente já sabia disso e fazia compensações para a bola ir à direita. Umas vezes as mãos compensavam, outras vezes não. Bastava chegarem um pouco atrasadas para acontecerem os maus shots, era tudo uma questão de timing.” 

O fitting no Titleist Performance Institute foi feito depois de registados excelentes resultados nos testes de biomecânica.  “Eles diziam que, com aqueles dados, não entendiam os motivos para a minha inconsistência de jogo, sobretudo nos ferros compridos. Fiz um fitting com um dos melhores na matéria, e com a ajuda das máquinas todas que eles têm lá para fazer a coisa mais na perfeição.” 

Mas o primeiro motivo que levou Ricardo Santos a San Diego foi uma consulta de putting com o californiano Dave Stockton, de 73 anos, antigo campeão do PGA Tour (10 vitórias) e do Champions Tour (14 títulos), com dois majors no palmarés – PGA Championship em 1970 e 1976 – e três participações vitoriosas na Ryder Cup, duas como jogador (1971 e 1977), uma como capitão (1991). Nos tempos áureos, era considerado um dos melhores no putting e hoje tem na sua carteira de clientes, como treinador, Phil Mickelson e Rory McIlroy, só para citar os mais mediáticos. 

“No final da época decidi que tinha de mudar alguma coisa no meu putting, na minha técnica de putting –  e decidi ir ao melhor (penso eu que seja o melhor)”, justifica Ricardo. “Tenho visto alguns jogadores recolherem frutos do seu trabalho com ele. Obviamente, o Rory e o Mickelson são os mais conhecidos. Acho que o Rory evoluiu bastante no putting. Tem sido a grande diferença dele, para melhor, em relação a outros anos, para além da distância que ganhou. Agora está em nº1 do mundo e ganhou dois majors esta época…” 

O algarvio sentiu que precisava de fazer alguma coisa no putting / © GETTY IMAGES

Santos ressalva no entanto que Stockton não é só putting, como pensa a maioria dos que se lhe dirigem em busca de ajuda nos greens. “Tem também aulas de jogo curto, até porque está tudo muito inter-ligado”, esclarece o português. “Claro que o jogo curto é mais na base do chip and run, a bola mais a rolar, e não nos shots artísticos. É uma pessoa com bastante experiência e com um feeling fora do normal.” 

Ricardo Santos esteve 3 horas com Dave Strockton no passado dia de 4 de Dezembro. “É tudo à base de feeling, na forma como ver a linha, no imaginar a bola… Tecnicamente só me disse para manter as mãos mais baixas e não levantar o putter no embate na bola. A rotina é uma das coisas mais importantes no putting, e aqui aconselhou-me a não estar muito tempo em cima da bola, para não fazer swings de ensaio, quanto muito apenas um swing de ensaio, ao ritmo com que imaginamos executar a pancada, não aqueles swings de prática muito rápidos.” 

Basicamente, foi isso. “Claro que ele a explicar e eu treinar, demorou algumas horas – e para eu me adaptar ainda vai levar muitas mais horas”, avalia. “Ele disse-me que eu era um jogador de feeling, que isso se notava. Fez-me vários testes com linhas, a várias distâncias, e a bola ficava sempre perto do buraco, não 2 metros curta nem 2 metros comprida. Feeling tenho, agora tenho de praticar, pois o objectivo é meter a bola, não é meter lá perto.” 

A 3ª Taça Manuel Agrellos, com  profissionais vs. amadores, arranca segunda-feira no Montado Hotel & Golf Resort e Ricardo Santos é a grande ausência. A competição começa no mesmo dia em que ele parte com a esposa Rita e as filhas para umas merecidas férias no México. “Desde 2011 que não fazíamos férias juntos”, diz Ricardo. 

E quanto ao calendário para 2015, quando joga o seu primeiro torneio? “Isso é uma coisa que nunca vou saber, tenho de esperar sempre”, responde Santos, que este ano terminou a sua terceira época no European Tour no 117º lugar da Race to Dubai quando só os 110 primeiros mantinham o cartão para a temporada 2014-2015. Tal posição na tabela dá-lhe a categoria 16 para 2015, permitindo-lhe aceder a cerca de 15-20 torneios. Em 2012, o algarvio foi 90º na Race to Dubai com vitória no Open da Madeira e em 2013 alcançou o 65º lugar. Nestes três anos facturou quase 1 milhão de euros em prémios monetários (€980 mil). No ranking mundial ocupa presentemente a 539ª posição, depois de ter começado o ano de 2014 em 203º. 

“Tenho esperança de entrar no primeiro torneio de Janeiro”, diz. “Em Fevereiro tenho de certeza alguns torneios, na África do Sul. Em 2015 será assim, tanto poderei jogar numa determinada semana como não jogar. Tenho sempre também o Challenge Tour, mas primeiro vou ver como me correm as coisas no European Tour até ao Open da Madeira [19 a 22 de Março] e depois logo vejo.” 

Certo é que a partir daqui o seu estado de espírito é outro – para melhor. O que, parecendo que não, conta muito.