Como o duelo bienal entre Europa e EUA se tornou num colosso desportivo a nível global
À volta da máquina do café para mais uma manhã de trabalho, perguntavam-me como é que uma taça com pouco mais de 43 centímetros se transformou num dos troféus mais disputados e empolgantes do mundo. Esta é a semana da Ryder Cup, competição de golfe que opõe a seleção da Europa à dos Estados Unidos da América e que todos os jogadores profissionais sonham um dia poder jogar. A figura de Abe Mitchell, grande golfista britânico figurado da taça, representa o topo deste desporto ímpar.
Tudo começou em 1927, com os países da Grã Bretanha (sem a Irlanda) a jogarem um match contra uma equipa americana. Mais tarde, por razões políticas, os irlandeses foram incluídos na equipa britânica e assim se mantiveram até 1979. O domínio americano durante 30 anos foi de tal maneira evidente que a competição ameaçava perder interesse. Foi por essa altura que o aparecimento de um jovem chamado Severiano Ballesteros, e também por sugestão de algumas personalidades, entre elas Jack Nicklaus, levou a que a equipa das Ilhas Britânicas fosse sabiamente alargada aos restantes países da Europa.
Apesar de a Europa ter perdido os três primeiros confrontos, em 1983, ao perder por apenas um ponto, os europeus ficaram desiludidos e iludidos ao mesmo tempo, pois começaram a acreditar que podiam bater os americanos.
Em 1985, em Belfry, campo talismã dos europeus, começou a construir-se a história da Ryder Cup da era moderna ou da “era Ballesteros”.
Foi uma vitória esmagadora, muito por responsabilidade do mítico Ballesteros, mas também de um jovem alemão, Bernard Langer e de vários talentosos britânicos: Sandy Lyle, Ian Woosnam e Nick Faldo.
Esta vitória foi decisiva para o crescimento do golfe na Europa. A Ryder Cup tornou-se num êxito comercial, com os direitos televisivos a serem incrementados para números astronómicos, receitas de bilheteira, merchandising, e inclusivavamente, para o sucesso do European Tour, que nessa altura era ameaçado por um senhor, chamado Greg Norman que ambicionava fazer um Tour Mundial (onde é que já vimos isto?).
Desde 1985 a Europa venceu por 11 vezes a Ryder Cup, os Estados Unidos apenas seis e houve apenas um empate.
Muitos nos lembramos da dupla mais vitoriosa de pares, constituída por Ballesteros e Olazabal, do putt de Sam Torrance no Belfry, a edição de 1997 em Valderrama (a primeira Ryder Cup fora do solo britânico), o milagre de Medinah, Sérgio Garcia a ser o jogador com mais pontos na história da competição e tantos outros momentos inesquecíveis que irão perdurar nas nossas memórias.
Mas voltemos a 1979. Aos britânicos, juntou-se a “armada espanhola”, exímia no jogo curto e excelente no match play., Garrido, Olazábal, Pinero, Canizares, e, claro, Ballesteros, foram os pioneiros nesta aventura. Depois foram surgindo jogadores de outros países como Langer, Constantino Rocca, Henrik Stenson, ou Thomas Bjorn.
A Ryder Cup tornou-se verdadeiramente global com o alargamento da equipa europeia e até à presente edição já tivemos jogadores de 14 países, 9 deles da Europa dita continental.
Espanha e Suécia lideram, em número de jogadores presentes, seguidos de França, Itália, Alemanha, e países de menor dimensão como a Dinamarca, Áustria, Bélgica e Noruega a terem um lugar na história quase centenária Ryder Cup. E este ano foi por muito pouco que a Polónia (país sem tradição no golfe) não teve um jogador na Ryder Cup – imagine-se só, a Polónia!
E Portugal? Podemos ter essa ambição? É um sonho?
Eu acredito que pode ser uma realidade.