Muitas estrelas ausentes, mas dois portugueses em prova supera expectativas nacionais
Há dias, o presidente da Federação Portuguesa de Golfe, Manuel Agrellos, comentava comigo a sua desilusão pela ausência de muitas estrelas no regresso da modalidade aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – a competição masculina começa amanhã em quatro voltas de stroke play no deslumbrante Rio Olympic Course, na Barra da Tijuca, com dois portugueses em prova, Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima. Ele disse qualquer coisa como isto: “O golfe deu-lhes tudo, e agora que o golfe precisa deles, escondem-se.”
Os australianos Jason Day (n.º 1), Adam Scott (n.º 8), Marc Leishman (n.º 37) e Matt Jones (n.º 84), os norte-americanos Dustin Johnson (n.º 2) e Jordan Spieth (n.º 3), os norte-irlandeses Rory McIlroy (n.º 3) e Graeme McDowell (n.º 73), os sul-africanos Branden Grace (n.º 11), Louis Oosthuizen (n.º 14) e Charl Schwartzel (n.º 23), os japoneses Hideki Matsuyama (n.º 17) e Hideto Tanihara (n.º 69), o italiano Francesco Molinari (n.º 56), o sul-coreano K.T. Kim (n.º 41), o francês Victor Dubuisson (n.º 78), o espanhol Miguel Angel Jiménez (n.º 166), o fijiano Vijay Singh (n.º 210), o zimbabueano Brendon de Jonge (n.º 319), o filipino Angelo Que (n.º 320) e o neo-zelandês Tim Wilkinson (n.º 340).
Este são os 21 jogadores que recusaram estar presentes na cidade brasileira, muitos alegando o medo do Zika, e entre parêntesis estão as posições que ocupavam no ranking mundial na altura da desistência. O contraste não podia ser maior com o ténis, que teve apenas um abandono no seu top-10 mundial (o austríaco Dominic Thiem) e ainda ontem viu o sérvio Novak Djokovic sair em lágrimas da derrota frente ao argentino Juan Martín del Potro.
A International Golf Federation, sob cuja égide se realizam as provas de golfe no Rio de Janeiro, tem sido criticada por não ter optado por um formato por equipas, mas Ty Votaw, vice-presidente do organismo, já respondeu que o apoio dos jogadores é fundamental se o golfe quiser repetir a presença nos próximos Jogos Olímpicos (pelo menos Tóquio-2020 está garantido) e que aqueles sempre foram a favor de uma prova de 72 buracos em stroke play.
Entre os 60 participantes de 34 nacionalidades da prova masculina (a feminina joga-se de 17 a 20 de Agosto), o mais cotado no ranking mundial é o sueco Henrik Stenson (actual n.º 5), que em meados de Julho venceu o British Open em Royal Troon, na Escócia, seguindo-se os norte-americanos Bubba Watson (6.º) e Rickie Fowler (8.º), os ingleses Danny Willett (n.º 9) e Justin Rose (n.º 12), o espanhol Sergio Garcia (11.º) e os norte-americanos Patrick Reed (n.º 14) e Brooks Koepka (n.º 15). Portanto, são 8 jogadores do top-15 mundial. Ainda assim, uma competição muito forte.
Ricardo Melo Gouveia (n.º 131), do European Tour, já disse que entra na competição para tentar conquistar a medalha de ouro e Filipe Lima (n.º 405), do Challenge Tour, também procura brilhar na cidade maravilhosa. O primeiro sai pelas 10h14 (14h14 em Lisboa), num grupo com o holandês Joost Luiten (n.º 66) e Rahman Siddkiur (n.º 318). do Bangladesh. O segundo joga a partir das 8h41 com o argentino Fabian Gomez e o sueco David Lingmerth (n.º 52).
Melo Gouveia e Lima com Nick Mumford e Benoît Willemart / © D.R.
Anteriormente, o golfe só esteve presente em duas edições dos Jogos Olímpicos. Em 1900, em Paris, e em 1904, em St. Louis (EUA). Na primeira foram os americanos Charles Sands e Margaret Abbot a ficar com o ouro, numa prova com apenas 22 jogadores de quatro países – 12 homens e 12 senhoras. Na segunda, entraram 77 atletas (72 americanos três canadianos e dois britânicos), com o título individual a sorrir ao canadiano George Lyon em match play e os EUA a ganharem por equipas.
O golfe foi cancelado dos Jogos de Londres em 1908 depois de um desacordo sobre o formato de jogo ter levado os britânicos a boicotarem o evento. Agora, o futuro da modalidade no maior evento desportivo do mundo deverá ser conhecido dentro de um ano, quando o COI votar nos eventos que irão estar presentes em Tóquio-2020 e se o golfe se manterá para além da edição na capital japonesa.
Para já, tantas ausências dos grandes nomes da modalidade não deixam de constituir um revés, mas a International Golf Federation espera que o organismo leve em conta na hora de decidir a miríade de problemas do Brasil e que terão contribuído para tantas desistências.