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Um Paço para reis e plebeus do golfe
03/01/2017 18:14 GOLFTATTOO
Vista exterior da Club House do Paço do Lumiar / © D.R

O caso exemplar do Clube de Golfe do Paço do Lumiar, em plena Lisboa

O que têm em comum Soren Kjeldsen, Nuno Campino, os gémeos Afonso e João Girão e Francisco Matos Coelho? O Clube de Golfe do Paço Lumiar

O dinamarquês sagrou-se campeão do mundo de golfe de profissionais no final de 2016 tendo o Head-Pro do Paço Colin Smith como seu Swing Coach.

O mesmo Colin Smith treinou Campino na melhor fase da sua carreira como jogador quando foi dos poucos na história do golfe nacional a impor-se como campeão nacional amador e profissional representando o Clube de Golfe do Paço do Lumiar. Recentemente cessou as funções de selecionador nacional da Federação Portuguesa de Golfe.

Os gémeos Girão fazem parte da seleção nacional da FPG, representam o Oporto Golf Club, o atual campeão nacional de clubes, e estudam e competem nos Estados Unidos e durante um período de cerca de ano e meio tiveram aulas com o Colin Smith.

Matos Coelho é o campeão nacional de sub-14, ganha com alguma regularidade torneios do circuito US Kids e é já um dos expoentes máximos das camadas jovens do Clube de Golfe de Vilamoura. Pertenceu às escolas do Paço do Lumiar, é sócio e utiliza as instalações para o seu treino diário.

O que une estes jogadores tão díspares, aos quais poderíamos acrescentar Filipe e Tiago Tavares, António Mendes, João Malagueira, Marta Ramalho, Rita Câncio, Madalena Ribeiro campeões nacionais e/ou integrantes das Seleções Nacionais e tantos outros, é terem sido treinados pelos profissionais do Paço e terem recorrido frequentemente às boas condições dos campos de treino do Clube de Golfe do Paço do Lumiar.

O campeão do mundo de golfe de profissionais Kjeldsen é ainda orientado por Colin Smith, uma relação profissional que se iniciou em 1992, desde que tinha 16 anos, e que se prolonga nos dias de hoje, tendo-se transformado ao longo dos anos numa sólida amizade.

Quem se dirige pela primeira vez ao Clube de Golfe do Paço do Lumiar apercebe-se logo da ligação daquela casa a Soren Kjeldsen pela existência em lugar visível de um saco de golfe assinado por Kjeldsen.

Soren, como é tratado por todos no clube, nunca representou oficialmente o Paço do Lumiar nos circuitos profissionais onde compete, designadamente no European Tour, mas vem muitas vezes a Lisboa treinar, criou uma relação próxima com todos os sócios, e até se predispôs a um “open day” para os juniores e uma sessão de perguntas e respostas bem animada.

O campeão mundial pela Dinamarca ganhou uma crescente amizade com a família Fevereiro, gestora e proprietária do clube e do campo.

“A minha mulher (Graça) fala com ele quase todas as semanas. Já fomos duas vezes a Augusta ver o Masters a seu convite, também fomos vê-lo jogar a inúmeros Open’s e tivemos a sorte de o ver vencer em Valderrama o Volvo Master e em Sevilha, é um amigo da família e tem muitos fãs no clube”, conta-nos José Fevereiro, o patriarca da família, hoje em dia totalmente dedicado à gestão do clube que fundou há 14 anos.

“Nessas viagens levámos connosco alguns sócios. Organizámos muitas viagens de golfe para os nossos sócios, Escócia, Brasil, Marrocos, Itália e muitas vezes ao Porto Santo”, acrescentou logo a sua filha Carmo, que o ajuda na gestão da casa.

No Paço do Lumiar pode haver apenas nove buracos, mas o desenho de Gary Grandstaff é extremamente competitivo, apresentando um Par-29 de 1561 metros das saídas brancas, com sete buracos de Par-3 e dois de Par-4, um deles de 371 metros. Um jogador de handicap médio leva umas duas horas a completar o percurso.

“Temos buracos de Par-3 de 160 e 170 metros. É muito diversificado e quando o vento sopra forte o desafio é ainda maior. Posso torna-lo mais fácil ou mais difícil, graças a greens de 35 metros. Aliás, uma vez, o Circuito Drive da FPG veio cá e nenhum jogador foi capaz de ficar abaixo do Par”, refere José Fevereiro.

Motivo de vaidade é o bom estado do campo, “regado unicamente com recurso à água dos lagos”, como explica Carmo Fevereiro. Depois do greenkeeper João Machado ter deixado o clube há um ano e meio, a solução passou pela contratação da Native Golf, passando o campo a ser supervisionado por Simão da Cunha, um dos mais conceituados especialistas portugueses, também colunista no Golftattoo.

O bom estado do campo, resultado de uma manutenção especializada, é um dos argumentos para atrair mais jogadores / © D.R.

Mas se o campo atrai cada vez mais portugueses, estrangeiros residentes em Lisboa e muitos turistas nos últimos três anos; se o restaurante já conquistou um público extra golfe; e se a loja da Nevada Bob’s funciona na perfeição; a verdade é que a jóia da coroa do Paço do Lumiar é o seu driving range de lago frontal com bolas flutuantes com iluminação artificial, o putting green e a excelente zona de jogo curto que lhe permite manter uma academia de provas dadas.

 “Nos últimos tempos, quem tem feito mais pela formação nesta zona da Grande Lisboa somos nós e a FPG no Jamor”, declara convincentemente José Fevereiro.

Para um clube com um campo de nove buracos, é notável que o Paço do Lumiar já tenha superado este ano “os 700 sócios, 300 dos quais filiados na FPG por nós, embora muitos outros sejam também federados mas através de outros clubes de que também são sócios”, como explicou Carmo Fevereiro.

O segredo está numa tipologia diversificada de associação ao clube, de preços bastante variáveis, “a la carte”, permitindo a quase todos praticarem esta modalidade.

O Paço do Lumiar está acessível por metro e autocarro, o estacionamento é fácil, pelo que não admira que o golfe fervilhe constantemente, incluindo a competição, com mais de 40 torneios por ano (em 52 semanas), estando prometido o regresso do Circuito Drive.

No entanto, a família Fevereiro regozija-se sobretudo pelo seu trabalho na formação.

“O clube existe há 14 anos e tem uma vertente muito especial, porque o seu core business é a formação – frisa José Fevereiro – e já pusemos a jogar cerca de três mil novos jogadores em Portugal. Passam por aqui cerca de 150 a 200 jogadores iniciados por ano”.

“O problema – avança logo, antecipando a nossa pergunta seguinte – é a fidelização. Há uma taxa elevada de desistência no golfe em Portugal. Este jogo não é fácil, é preciso persistência e é preciso tempo. Julgo que nós até temos um grau de fidelização muito superior à maioria dos clubes portugueses de características formadoras, mas, com o aparecimento de variadíssimos clubes sem campo, os novos jogadores são tentados a irem para esses clubes, só que muitos desses clubes não têm formação e não fidelizam tanto os jogadores”.

Uma boa solução poderá passar por o Paço do Lumiar fornecer esses serviços a clubes sem campo, como acontece neste momento, por exemplo, com o ACP Golfe.

“O nosso método é completamente diferente do que existe em Portugal e por isso é que fomos buscar o Colin Smith” que em conjunto com a Graça desenharam um método de ensino inovador baseado em níveis de aprendizagem, continuou José Fevereiro. O escocês tem uma vasta experiência. Treinou em Sunningdale (Inglaterra), Royal Waterloo (Bélgica), Fureso e Aalborg (Dinamarca), antes de ser o diretor técnico da PGA da Dinamarca durante quatro anos, passando depois para a sua própria academia na Escócia, antes de regressar a Portugal em 2002.

Colin Smith é o Head-Pro do Paço por onde passam mais de 150 jogadores iniciados por ano, resultado de um método de ensino inovador / © D.R.

”Nós não temos aulas de golfe avulso – vinca José Fevereiro – porque nenhum professor é um curandeiro e não muda nada numa aula. Um profissional com o currículo do Colin não pode estar exposto a uma aula que corra mal. Tem de ter tempo para seguir um método de ensino que leve as pessoas a terem sucesso na modalidade. Neste momento temos também a trabalhar connosco o profissional Vítor Silva. Este está no Clube há 12 anos tendo sido formado pelo Colin, para que o método de ensino seja sempre o mesmo”.

Carmo Fevereiro acrescenta: “Temos cinco níveis de curso e vamos aumentando a exigência, introduzindo valências de estratégia, jogo curto, etc. O nível 1 poderá fazer-se em três ou quatro meses, os iniciados passam por todas as áreas de jogo, a última aula é uma ida ao campo, depois de terem tido aulas de regras e de etiqueta. Atribuímos um handicap de clube e organizamos torneios para aqueles que ainda nem conseguem atingir o hcp EGA de 36”.

Os números atestam o sucesso desta fórmula. “Temos cerca de 180 jogadores nas aulas de grupo para adultos”, diz-nos Colin Smith.

São, contudo, os jovens que fazem brilhar os olhos do veterano treinador escocês: “Há três ou quatro anos atingimos o nosso potencial. Chegámos a ter mais de 100 juniores a trabalhar ao mesmo tempo. Formámos uma geração de jogadores jovens que venceu vários campeonatos da FPG em várias idades. Mas em Portugal muitos jovens deixam a competição quando entram para a universidade. Depois também veio a crise, mas agora sinto de novo um entusiasmo e as coisas estão a mexer. Estamos com cerca de 40 jovens, todos muito pequenos, vai levar tempo a formá-los mas vejo um bom futuro”.

No fundo, sente-se no Clube de Golfe do Paço do Lumiar, o mesmo que quando se visita a academia de futebol de Alcochete do Sporting Clube de Portugal. Há clubes que se especializam na formação, alimentando depois outros clubes.

A família Fevereiro – que adquiriu o campo de golfe à Quinta dos Alcoutins, numa zona arborizada, perto de antigos solares que nem parece estar situada no centro da cidade – tem orgulho nessa missão de formar jogadores ao longo dos anos, aprecia a amizade que permanece entre todos ao longo dos anos e fomenta um ambiente familiar.

“Sabemos o nome de todos os sócios”, sublinha José Fevereiro, que se despede com uma mensagem que bem poderia ser o lema do clube: “O golfe não é só para formar campeões. Queremos formar jogadores de golfe e nem todos têm de chegar a campeões. Têm é de ter as bases para se divertirem e para continuarem a jogar no futuro”.