AcyMailing Module

AM
> Home / Artigos
Inquérito GolfTattoo (3): Pedro Nunes Pedro, presidente do Lisbon Sports Club
29/04/2020 15:06 Hugo Ribeiro / GolfTattoo
Pedro Nunes Pedro em Julho do ano passado competindo pela empresa Mona no Expresso BPI Golf Cup © FILIPE GUERRA / MEDIA GOLF

“Sugiro à FPG um calendário de provas alternativo”, diz o dirigente do mais antigo clube de golfe da Grande Lisboa

Se os desejos do Presidente da República e do Governo se concretizarem, estamos na última semana com o país em estado de emergência e tem-se falado cada vez mais da possibilidade de o golfe ser uma das modalidades a iniciar mais cedo parte da sua atividade normal, embora sujeito às necessárias contingências decorrentes das normas da Direção Geral de Saúde para o combate à COVID-19.

Durante um mês e meio de estado de emergência o golfe deparou-se com uma profunda crise, cujas consequências estão ainda a ser agora elencadas pelas diversas instituições que gerem ou representam a modalidade, sobretudo os campos e clubes, que viram as suas receitas caírem a 100% no mês de abril.

A FPG tem estado particularmente ativa com comunicados regulares, que inicialmente visaram cancelar todas as competições, depois algum alívio às tesourarias dos clubes, seguindo-se contactos com as mais diversas instituições da administração central, no sentido de comprovar que o golfe tem condições de iniciar parte da sua atividade mal seja possível. A FPG foi mesmo uma das quatro únicas federações desportivas nacionais a apresentar, no final da semana passada, um plano de retoma de atividade à secretaria de Estado do Desporto e Juventude e ao Instituto Português do Desporto e Juventude.

Mais recentemente, na segunda-feira, a FPG enviou aos seus membros, designadamente aos clubes, um documento intitulado “Plano de Reabertura de Instalações de Golfe”. Está datado de 24 de abril, foi enviado ao Governo na sexta-feira passada e é o resultado de um trabalho conjunto com o Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), a Associação de Gestores de Golf de Portugal (AGGP) e a Associação Portuguesa de Greenkeepers (APG).

Através do seu departamento de comunicação, a FPG tem mantido um contacto próximo com o meio do golfe nacional, através de notícias, vídeos e demais informações em várias redes sociais. O seu presidente, Miguel Franco de Sousa, tem-se desdobrado em entrevistas e até mesmo num artigo de opinião em diversos media tradicionais (televisão, jornais impressos e jornais online).

Outras instituições têm estado igualmente com grande dinamismo e há vários debates e webinars que têm sido levados a cabo durante estas semanas, abordando um espectro de temas bastante alargado.

O GolfTattoo, sempre com o apoio do Público Online, não poderia alhear-se a este fluxo de informação que visa trazer ao espaço público a real dimensão do problema com que se deparam os campos e os clubes, naquela que poderá vir a ser conhecida como a maior crise mundial desde a grande depressão de 1929 ou desde a segunda guerra mundial que terminou em 1945.

Nesse sentido, o Golftattoo elaborou um questionário que enviou a alguns clubes e/ou campos. Procurámos exemplos dos chamados clubes com campo, clubes sem campo, campos comerciais que têm clubes associados, campos com hotel, campos sem hotel, enfim, sem uma pretensão científica, esperamos ter atingido uma amostra significativa.

Hoje publicamos as respostas do Lisbon Sports Club, o clube mais antigo da região da grande Lisboa, situado na Serra da Carregueira, junto a Belas. Tal como o Oporto Golf Club, cujo diagnóstico foi ontem apresentado, trata-se de um clube de sócios com campo próprio.

O seu presidente, Pedro Nunes Pedro, foi um jogador amador de elevado nível. Sagrou-se campeão nacional de clubes por duas vezes, foi também por duas vezes campeão nacional de juniores e integrou a seleção nacional de amadores da FPG durante nove anos.

Na FPG desempenhou cargos importantes, como o de selecionador nacional e de membro da Comissão de Campeonatos e Alta Competição.

Profissionalmente é ‘marketing manager’ no GroupM e tem uma longa carreira ligada aos media: foi diretor geral no Diário Económico, administrador no Público, ‘advertising manager’ no Correio da Manhã, diretor comercial na RTP, e ‘account manager’ na SIC. Assina ainda, com alguma regularidade, colunas de opinião no Golftattoo.

1 – O que representou, quantitativamente, em termos de viabilidade e subsistência do clube/campo este período de estado de emergência?

A pensar numa crise da COVID-19 com primeiros três meses em abril, maio e junho, estamos a falar de uma quebra de receitas na ordem dos 25%. Obviamente que não temos a visibilidade do que poderá acontecer no último semestre do ano. 

2 – Que receitas conseguiu o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio?

O Lisbon Sports Club (LSC) é maioritariamente um clube de sócios e estamos a contar com eles. Os sócios fazem o pagamento do primeiro semestre no início do ano, nos primeiros dois meses, por isso, as receitas que angariámos são basicamente as dos sócios e as de alguns turistas que nos visitaram em janeiro e fevereiro.

3 – Que despesas/investimentos teve o clube/campo durante este período que irá ser de um mês e meio?

O LSC tinha um plano de investimentos previsto, obviamente que fizemos alterações e adaptações ao orçamento original, mas já tínhamos algumas obras em curso, conseguimos executá-las neste primeiro trimestre do ano. Agora, todos os investimentos a partir de abril e maio estão completamente cancelados até ao final do ano.

4 – Que tipo de manutenção o campo conseguiu fazer neste período e em que estado o campo se encontra neste momento? Quantos funcionários de trabalho presencial foram necessários durante este período? E quantos funcionários estiveram em trabalho em casa/teletrabalho.

5 – Foi possível pagar os ordenados na íntegra a todos os colaboradores com diferentes vínculos contratuais? Foi negociado com os colaboradores alguma redução salarial? Foi contemplada a hipótese de entrar em layoff?

Respondo às perguntas 4 e 5 em conjunto. Sim, estamos em layoff. Temos pessoas a fazer teletrabalho, como os funcionários da secretaria, o diretor do campo e outros funcionários por uma questão de idade. Depois, temos alguns funcionários a fazerem a manutenção do campo, dois por dia.

O nosso clube é equilibrado em termos de contas e, por isso, temos tido condições, quer de pagar salários, quer de pagar os nossos compromissos. Esta crise, mesmo com poupança de custos, pois em todos os setores estamos a tentar cortar ao máximo, e mesmo com as receitas previstas, levar-nos-á, obviamente, a um resultado menos bom, negativo. Mas estamos certos de que conseguiremos recuperar rapidamente esta situação.

6 – Que preocupação o campo/clube teve com a manutenção de comunicação com os seus clientes/sócios durante este período? E com instituições relevantes (FPG, Associação Regional, Autarquia, Direção Regional de Saúde, agências, operadores, etc.)? 

A nossa comunicação com os sócios tem-se mantido e tem sido regular. Temos também falado com os operadores turísticos para tentar que todos os cancelamentos se tornem em reagendamentos de marcações, quer para o último trimestre do ano se isso for possível, quer para o próximo ano. E, obviamente, estamos atentos às autoridades, à DGS, ao Governo, e às medidas que querem implementar, assim como ao trabalho que a FPG e o CNIG têm feito, com comunicações regulares sobre o nosso setor.

7 – Concorda com a solicitação da FPG às autoridades de o golfe ser considerado uma das primeiras modalidades desportivas a reabrir portas?

Concordo plenamente com a abertura dos campos. É um desporto individual, de lazer, que se pratica ao ar livre, no qual não há grandes pontos de contacto.

Obviamente que teremos de estar dentro do espírito da lei que for adotada, nomeadamente no restaurante, no bar, ou noutras áreas em que possa haver algum ajuntamento de pessoas.

O golfe só faz bem à saúde e, neste caso, o passeio agradável é até recomendado e deve ser feito.

Assim como concordo com o golfe para pessoas mais velhas. Tenho amigos com quem jogo que têm mais de 70 anos, são muito saudáveis e certamente têm muita vontade de jogar e de fazerem os seus passeios pelo campo.

Não nos esqueçamos que caminhamos no golfe uns 9, 10, 11, 12 quilómetros durante três ou quatro horas e isso só pode fazer bem à saúde.

8 – Como está a ser preparada a reabertura de atividade? Que alterações prevê em relação ao habitual funcionamento do clube/campo anterior à COVID19? Quais as prioridades/preocupações em termos de vendas, mercados de destino, campanhas de comunicação para os mercados internos e externos?

Para o Algarve vai ser complicadíssimo. O turismo no Algarve terá de certeza um resultado muito mau e o golfe, como sabemos, sustenta e é uma fonte de receita substancial no Algarve durante seis, sete ou oito meses por ano, com uma sazonalidade própria. Nos clubes com sócios há um equilíbrio das contas. Os sócios sustentam e apoiam os clubes e querem que os seus clubes se mantenham.

A nossa preocupação maior consiste numa receita que, no nosso caso, será na ordem dos 20% a 25%, maioritariamente de turistas. Teremos de olhar para outras prioridades, para outras soluções, e este valor de 20% a 25% já é significativo na receita, mesmo num clube tradicional como o nosso.

9 – Que planos o clube/campo tem em relação ao calendário competitivo que teve de ser suspenso/cancelado e em relação ao calendário competitivo que ainda possa vir a ser efetuado até ao final do ano?

Temos feito vários cenários em relação ao calendário desportivo. Temos um primeiro cenário para junho; depois um segundo cenário para setembro, caso se mantenham algumas restrições no jogo.

Creio que a FPG, na minha opinião, deveria fazer apenas um Campeonato Nacional Absoluto Audi, uma Taça da Federação BPI e pouco mais. Para além das dificuldades de deslocação, certamente teremos aqui também um problema financeiro das famílias afetadas por esta crise. Não podemos esquecer-nos que jogar quatro, cinco ou seis torneios fora do nosso local de residência são mais custos e acho que, ao contrário do que as pessoas dizem, o golfe não é um desporto de ricos em Portugal. Há muitos jogadores e muitas famílias em Portugal que irão, com certeza, sofrer no seu rendimento.

Aproveito a oportunidade para sugerir à FPG que, caso assim o entenda, as provas principais dos clubes que já fazem parte do calendário da FPG, nomeadamente a Taça Kendall no Oporto Golf Club, a Taça Mendes de Almeida no Vidago Palace, a Taça R.S.Yeatman no Club de Golf de Miramar, a Lisbon Cup no LSC, o Aberto do Clube de Golf do Estoril e até, eventualmente, o Grande Troféu de Vilamoura do Clube de Golfe de Vilamoura, poderiam constituir um calendário alternativo, aproveitando as provas dos clubes.

Dessa forma a FPG não teria de organizar os torneios, poupando em custos e poupando deslocações, pois cada jogador competiria nos principais torneios da sua área de residência e isso poderia contar para uma ordem de mérito final ou para um prémio no final do ano.

A fazer, faria apenas os torneios principais individuais. Não creio que os clubes, a fazerem cortes e poupanças de custos, tenham condições este ano de fazerem provas de interclubes, quando muitos deles estão com dificuldades de pagar salários dos seus funcionários.