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“Eu, o sr. Golfe do Oeste? Não. Fui apenas mais um agregador”
30/06/2025 10:30 Hugo Ribeiro
Francisco Cadete reformou-se este ano e deixa um legado de referência no dirigismo do golfe nacional © D.R.

Entrevista de carreira com Francisco Cadete, o grande timoneiro de Praia D’El Rey e West Cliffs

Francisco Cadete começou a jogar golfe porque este se apresentava como um desporto que se poderia praticar em família. Nessa altura trabalhava numa empresa financeira em Lisboa e ainda estava longe de imaginar que a sua carreira profissional acabaria por virar-se mesmo para o... golfe.

Tendo começado a sua actividade nesta área no antigo Golden Eagle, em Rio Maior, esteve mais de 20 anos ao leme do Praia D’El Rey Golf & Beach Resort, em Óbidos, a que se juntaria o “irmão” do West Cliffs Ocean & Golf Resort, inaugurado em 2017.

Há quem lhe chame o “Sr. Golfe do Oeste”, pelo trabalho que desenvolveu em conjunto com os outros campos da região (Royal Óbidos, Bom Sucesso, Campo Real), no sentido de a consolidar como um destino de golfe autónomo, mas ele recusa tal epíteto dizendo que era apenas mais um agregador: “Dou-me bem com toda a gente e conseguimos ter umas ideias claras.”

Considera no entanto que ainda há espaço para crescer no Oeste em termos de oferta hoteleira.

Reformou-se este ano, aos 65 anos, e deixa um desejo: que se valorize mais as pessoas que trabalham no golfe; não tanto os diretores, mas as receções, as logísticas, as manutenções: “Infelizmente ainda temos salários muito baixos.”

Residente em Oeiras, fez as contas e, durante os 21 anos em trabalhou em Praia D’el Rey, passou mais de um ano ao volante: um milhão de horas.

Agora é tempo de descanso, mas não descarta a possibilidade capitalizar no futuro a sua experiência profissional: “Faz falta por parte dos diretores de golfe um bom trabalho nos dados que têm de gestão de campos de golfe. E isso é algo que poderei encarar com outros olhos.”

Na entrevista de Hugo Ribeiro a Francisco Cadete no Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor © D.R.

GOLFTATTOO – Como começou a tua história com o golfe?

FRANCISCO CADETE – Nem sei bem. Foi pouco tempo depois de casar. Tinha uns 25 anos e achei que era algo que poderia fazer-se em família. Fui à Carregueira [Lisbon Sports Club, em Belas] e falei com o profissional Baltazar. Entretanto abriu o Jamor. Eu, a minha mulher e o meu pai começámos a ter aulas. A minha mulher ficou grávida e deixou de vir às aulas, o meu pai não ficou muito tempo – e eu continuei.

GT – Em que trabalhavas?

FC – Na altura trabalhava numa empresa financeira, a Fincor, no Marquês de Pombal. Eu ia ao Jamor bater bolas à hora do almoço e depois a caminho de casa. Nasceu o meu primeiro filho, a minha mulher voltou a treinar, depois ficou grávida outra vez e nunca mais treinou, mas eu continuei.

Depois fui para a Academia do Estoril Sol, que já não existe e era o campo onde eu jogava. A Aroeira reabriu lá para 1988, com o Grupo Silveira, e tornei-me sócio. Acabava de trabalhar às 17h00 e ia muitas vezes fazer uns buraquinhos à Aroeira. Na altura não havia muito trânsito. Aos fins-de-semana ia a família toda, já com os dois filhos. Íamos à praia e eu jogava.

Depois começou a haver trânsito e convidaram-me para ser sócio no Golden Eagle, em Rio Maior, um campo exclusivo. Lembro-me de ir ao Estoril à vivenda do Sr. [Ricardo] Cardoso meter o meu nome e disseram-me que se fosse aceite seria contatado.

Lembro-me de que íamos ao bar e só no final do mês recebíamos a conta; não havia dinheiro, os convidados não podiam pagar, só os sócios. Era um clube muito restrito. E o campo era espetacular. Jogávamos lá meia dúzia de pessoas por fim de semana. Criou-se um grupo de amigos. Eu morava em Oeiras e ia jogar a Rio Maior. Já não ia à Aroeira ao fim do dia.

GT – Foi a tua primeira experiência de golfe no Oeste?

FC – Sim. Mas o Golden Eagle não era viável. O Ricardo Cardoso começou a abrir a visitantes e, entretanto, abriu a Praia d’El Rey, de que me fiz sócio logo no início, quando havia ainda apenas nove buracos.

Em 1996 já tinham os buracos todos feitos, mas, por questões ambientais, houve uma série de buracos refeitos e abriram apenas os primeiros nove buracos, entre novembro de 1996 e junho de 1997. Fui sócio até 2001.  

Pelo meio, o meu cunhado, que era árbitro de golfe, desafiou-me a fazer um exame de regras. Nunca tinha ligado nenhuma, mas o que é certo é que achei que não podia ficar mal na fotografia, estudei um bocadinho e em 2000 houve um curso de regras. Éramos cerca de 12 ou 14 pessoas, e passaram três ou quatro. É um curso difícil, exigente e à primeira passaram apenas dois, eu e o Iriarte Esteves, o presidente da TMN.

GT – Quase que uma carreira paralela…

FC – Comecei a ajudar a Federação Portuguesa de Golfe como árbitro nas competições, com o malogrado Mário Domingues, a Elisa Carreira… Aos fins-de-semana, não havia tantas competições como há agora, mas havia poucos árbitros e eu tinha muitos fins-de-semana de competição. Era uma maneira de ir com a família, eu e os meus filhos, que eram miúdos na altura, íamos todos. O meu filho mais velho começou a jogar, o do meio e a miúda nunca se interessaram muito.

Foi quando apareceu o Euro [moeda]. O Euro começou a ser transacionado no ano 2000, nos mercados, e apareceu ao público [definitivamente] em 2002.

Foi uma altura em que as comunicações passaram a ser muito mais fáceis entre o exterior e Portugal. O meu negócio era ser corretor no mercado interbancário e trabalhava com os bancos todos em Portugal e na Europa.

E o que é que aconteceu nessa altura? Nós tínhamos o escudo, tínhamos o know how do escudo, mas passou a haver o Euro, pelo que deixámos ter uma especialização. As comunicações passaram a ser muito mais fáceis e os corretores estrangeiros passaram a ter acesso aos bancos portugueses com maior facilidade.

O negócio da intermediação que eu fazia deixou de ter mais valias. A comunicação deixou de ser uma barreira e o escudo, que era o nosso conhecimento, deixou de existir. Começámos a perder volume de negócio. Achei que os mercados financeiros, naquela vertente da intermediação, não tinham muito futuro e que estava na altura de fazer qualquer coisa diferente.

GT – E qual foi o passo seguinte?

FC – Entretanto apareceu uma vaga no Golden Eagle. Eu era lá sócio porque tinha deixado a Praia d’El Rey e tinha voltado ao Golden Eagle. Fui falar com o engenheiro Cascão e disse-lhe que tinha alguma disponibilidade e poderia ajudá-lo a gerir o campo de golfe. Tenho conhecimento de gestão, tenho a licenciatura, jogo golfe, percebo das organizações dos torneios, o meu trabalho era muito de criar uma relação pessoal, criar amizades.

Ele disse-me que como não tinha ninguém, eu iria para ali trabalhar e comecei em 2002. Era um campo com um desenho fantástico, mas com muitas dificuldades financeiras. Eu entrava às 8h30 da manhã, morava em Oeiras e ia trabalhar para a Rio Maior. Saía às 20h00 e fazíamos tudo. A equipa da receção e bar eram três pessoas. Na manutenção eram seis, sete pessoas, incluindo o greenkeeper.

Eu apanhava bolas, vendia green fees, servia cafés, ajudava o greenkeeper a fazer a rega. Aprendi muito de greenkeeping e alguma coisa de F&B.

GT – E o campo continuava a ser muito exclusivo?

FC – Não, não. Aquilo não foi viável. Acho que o Ricardo Cardoso teve uma tentativa de desenvolvimento imobiliário com o Américo Amorim, mas as coisas também não foram para a frente. E ele vendeu ao engenheiro Cascão, que tinha interesses imobiliários na zona de Setúbal. Mas era tudo com o pelo do cão. As equipas eram muito reduzidas, a rega era um sistema antiquíssimo, a central de bombagem era mecânica e não eletrónica.

Mesmo assim aquilo passou a ter algum movimento, os torneios dos clubes sem campo, os torneios da FPG, com o Euro 2004 (futebol) também tivemos imensas voltas de turistas, tínhamos ali muitos sócios, o Manuel Bento era o profissional, viera do Vimeiro.

A dada altura, comecei a ficar um bocado chateado porque, para além da direção, tinha de fazer toda a manutenção. Os meus filhos faziam de starters, os rangers, tinham 15 e 16 anos e eu é que pagava-lhes do meu bolso. Estavam o dia todo no buggy, depois iam apanhar bolas e divertiam-se com aquela coisa.

GT – Mas disseste que ficaste aborrecido.

FC – Eu é que estava a ficar um bocadinho farto daquelas situações. O Ricardo Cardoso tinha lá uns cavalos, e um dia, às 18h00, disseram-me que um deles estava a morrer, que era preciso ir buscar o veterinário, dar umas injeções ao cavalo, e eu disse que isto já chega, sou diretor de golfe, não é para estar aqui a ser um faz-tudo nesta organização.

Foi assim que comecei à procura de uma alternativa. Abriu o Campo Real e ainda concorri, e na altura, o Eduardo Silva, o diretor da Praia d’El Rey, ouviu que eu estava a considerar mudar. Disse-me: “Vamos fazer um segundo campo, eu vou estar mais ocupado, preciso de alguém para gerir a operação”. E convidou-me para ir para a Praia d’El Rey.

GT – Isso foi em que ano?

FC – Em 2004. Iam fazer um novo campo, que hoje é o West Cliffs. Comecei no dia 15 de agosto de 2004 a trabalhar. É um clube que tinha mais sócios, fazíamos 30 e tal mil voltas por ano, enquanto no Golden Eagle eram 16 a 17 mil, a equipa de manutenção tinha 20 pessoas, na receção havia seis pessoas, os rangers e starters eram dez pessoas, ou seja, era uma organização completamente diferente. 

GT – Já havia a hotelaria?

FC – Tinha acabado de abrir o Marriott, em janeiro ou fevereiro de 2004, em soft opening, e depois abriu um bocadinho antes do Euro 2004. A equipa da Suíça esteve lá, porque também tínhamos um campo de futebol.

GT – Isso abre-te perspetivas completamente novas. Como diretor de golfe, estar num campo como o Golden Eagle, que não tem hotelaria à volta, para um campo que tem um hotel é uma outra coisa.

FC – Enquanto num, havia meios para desenvolver, no outro era tudo do pelo do cão. Foi muito bom, foi uma escola excelente, aprendi imenso no Golden Eagle, mas entrar na Praia d’El Rey foi subir três escalões. Eu era o adjunto do Eduardo. Ele fazia a parte comercial e eu geria a operação e a relação com os membros. Foi um período de transição, em que havia os membros portugueses e os membros estrangeiros.

 A Praia d’El Rey estava a ter um boom imobiliário brutal, venderam muito na Irlanda e em Inglaterra, e todos os dias crescia o número de sócios estrangeiros. Em 2006 ou 2007 fomos considerados o melhor resort europeu, isso ajudou também nas vendas de imobiliário. Em 2007 fizemos 40 mil voltas só num campo de 18 buracos, o que era um exagero.

G – Já estamos naquela altura em que o Portugal Ladies Open passou pelo Golden Eagle.

FC – Depois de eu sair, foi para lá o Manuel Quinta como diretor, durante um período muito curto, o greenkeeper era o Nuno Sepúlveda, que agora é o presidente do CNIG, depois foi o David Ashington, e como o consultor (de golfe) era o António Carmona Santos, e este convenceu o engenheiro Cascão a fazer melhoramentos no campo, a tentar concorrer à Ryder Cup; foi na altura que eles refizeram os lagos, fizeram ali investimentos de fachada, para dar algum comprimento (ao campo), só que o projeto não avançou à fase seguinte e então fizeram lá o Ladies Open.

GT – Já se começava a falar do golfe no Oeste de forma diferente.

FC – A Praia d’El Rey, juntamente com o Campo Real e o Golden Eagle, fez um pacote de green fees em que se vendiam estes três campos, com o alojamento em Praia d’El Rey. Começámos a desenvolver o turismo de golfe no Oeste. Isso é uma obra do Eduardo Silva, apoiado pelo Turismo do Oeste, com o Luís Garcia, porque o Turismo do Oeste era a região de Óbidos.

As coisas avançavam, cada vez com mais jogadores, o imobiliário em boom e em 2008 veio a crise do subprime. As coisas começaram a tremer, porque tudo (o que havia) era para alavancar o ‘Real Estate’. As taxas de juros subiram bastante, começou a haver mais falta de dinheiro, também o Stuart Swycher, o dono, tinha investimentos noutras zonas, como no Brasil, e as coisas começaram a tremer.

No meio disto tudo, o novo campo nunca avançou e em 2009 ou 2010 o Eduardo decidiu sair da direção. O Stuart não tinha ninguém para tomar conta do campo de golfe, eu era o secretário, tinha feito um trabalho bom, as pessoas gostavam de mim, e ele disse-me: “Olha Francisco, ficas a tomar conta daqui das coisas, interino durante uns meses, e se funcionarem, continuas.”

GT – Retomas a carreira de diretor, mas de novo numa fase de vacas magras como no Golden Eagle.

FC – Com todas as crises, a riqueza que havia antes deixou de haver. O dinheiro que havia para investimentos, renovações de parque de máquinas, valorizações do staff, foi tudo cortado porque não havia dinheiro. Entre 2010 e 2014 as dificuldades voltaram a aparecer.

GT – Mas é interessante que os prémios continuaram a surgir.

FC – Conseguimos manter a qualidade do campo sempre e fazíamos as divulgações internacionais, o serviço era bom, o value for money, o reconhecimento que as pessoas davam pelo que pagavam, era muito elevado, o hotel funcionava bem, a equipa é fantástica – muitos dos elementos que estão hoje, já estavam na altura – e conseguimos levar as coisas adiante, mas com muitas dificuldades. Contavam-se os tostões que havia na caixa para pagar os fornecedores, para pagar os salários. Cortámos algumas operações que fazíamos, mas nunca ninguém deixou de receber.

Em 2014 o hotel entrou em insolvência. Tivemos um ano em que o hotel esteve insolvente e o golfe não. Em 2015 o golfe entrou em insolvência. As dívidas tinham sido compradas por um fundo e o fundo executou a dívida.

GT – Aí a tua formação em gestão terá sido importante.

FC – Anteriormente, já tínhamos vindo a dizer aos fornecedores que isto poderia acontecer e fomos fazendo pré-pagamentos, para eles não ficarem com créditos; aos sócios, fomos pedindo que fizessem pagamentos faseados, em vez de pagarem a anuidade, para podermos ter um fundo de maneio mais ou menos regular, porque se entrasse tudo de uma vez, desapareceria rapidamente.

Entrámos em insolvência no dia 14 de agosto de 2015 e tivemos no administrador de insolvência uma pessoa de cinco estrelas, o José Cardoso Marques, que disse-me: “Olhe Francisco, eu, de golfe não percebo nada. Estou aqui assim para gerir esta dívida, temos de levar isto a bom porto. Primeiro ponto, vocês conseguem gerar dinheiro para pagar aos funcionários e a novos fornecedores?” Eu respondi que se não viessem buscar o dinheiro, a gente conseguiria gerir as coisas.

Ligámos aos fornecedores, dissemos que tínhamos dinheiro, não nos cortem as vazas, porque nós vamos poder pagar [a dívida] mais tarde, vamos fazer pré-pagamentos, temos o administrador financeiro de insolvência [de acordo], somos viáveis com o dinheiro que entra na caixa – e assim foi.

Andámos dois anos com o José Cardoso Marques. Nenhum fornecedor cortou as vazas ou foi lá buscar material, o serviço continuou a ser bom, mantivemos os campos bem e saímos da insolvência em 2017, com a entrada da Oxy e a saída do Cardoso Marques como administrador.

GT – Vamos então falar pela primeira vez de seres diretor em tempo de vacas gordas.

FC – A Oxy tinha comprado a dívida e começou a desenvolver o projeto do West Cliffs, o tal de 2004 que nunca avançara. Numa primeira fase estávamos completamente fora da questão, mas no final de 2015, início de 2016 pediram-me para ir às Amoreiras falar com o engenheiro Paulo Monteiro, o responsável do projeto West Cliffs.

Ele pediu-me ajuda, disse-me que não conhecia nada de golfe, que tinha uma série de decisões para tomar, se eu poderia ajudá-lo nessas decisões. Estavam a escolher a empresa que iria fazer o campo. Fizemos toda a construção do West Cliffs. A Oxy tinha um prazo muito curto para decidir: ou fazia este campo de golfe ou perdia a licença. Decidiram, e bem, avançar.

GT – Deve ter sido um período fascinante, porque nunca tinhas estado envolvido na construção de um campo.

FC – Escolhemos o Benjamin (Silva) da ProGolf, que acabou agora de fazer a renovação do Victoria. Não era a melhor proposta, havia mais baratos, mas apostámos neles. Já estavam a fazer o campo dos Jogos Olímpicos no Brasil, tinham um know-how muito grande e a Cynthia Day, a arquiteta [do famoso Dye Designs Group], também tinha muito boas referências dele.

Foi muito enriquecedor, foram dois anos a acompanhar a obra numa base diária. Nessa altura já me interessava muito por tudo o que era a manutenção, porque acho fundamental um diretor de golfe saber de manutenção, para ter outra capacidade de dialogar e de confiar no greenkeeper.

Mas nunca tinha visto nada assim. Os meios que são utilizados para construir um campo de golfe, todo o planeamento da obra, as decisões que se têm de tomar e que têm implicações futuras para 10, 20, ou 30 anos.

GT – Estávamos na segunda década do século XXI. Nessa altura, seguramente já estás a sentir que a sociedade exige a construção de um campo sustentável. É outra realidade, são outros cuidados a ter logo nas infraestruturas básicas.

FC – Começámos a ter essas preocupações de sustentabilidade – e atenção que a sustentabilidade não é mais cara. Se formos sustentáveis, conseguiremos fazer o mesmo ou melhor com menos dinheiro, adubando menos, usando produtos mais apropriados, regando menos.

Como não tínhamos dinheiro, começámos logo à procura de soluções que não perdessem qualidade, mas que nos dessem um respaldo financeiro e, ao mesmo tempo, melhorando ou mantendo a qualidade. Também quisemos a GEO [certificação internacional] envolvida e tivemos de seguir uma série de procedimentos.

Ficou decidido que o West Cliffs iria abrir em Junho de 2017, porque a Praia d’El Rey abriu em junho de 1997 e, portanto, 20 anos depois, abriríamos o segundo campo de golfe.

Fizemos um grande torneio com os sócios da Praia d’El Rey. Tínhamos 500 sócios, fizemos dois dias de torneio, convidámos não sei quantos operadores, fizemos uma grande festa no West Cliffs nesse fim de semana ou nesse período dos feriados de 10 de junho. Houve depois uma inauguração oficial a 27 de junho de 2017.

GT – Com mais um campo já começava a ser trabalho a mais.

FC – Contratámos o Joaquim Góis, o administrador que estava a gerir o hotel e que nos supervisionava, e ele disse-nos que teríamos de ter alguém só para a parte comercial, porque eu não podia apoiar a construção, a operação, a manutenção, era demasiado.

Fomos buscar o Alexandre Barroso que estava em Vidago. Fez um ótimo trabalho e o número de jogadores na área aumentou. Depois o Alexandre teve o desafio de Troia e fui buscar o António Ferreira da Silva, que tinha feito um curso em Espanha, tinha estado em Valderrama, era diretor do Boavista [no Algarve] mas era do Estoril. Também fez um trabalho fundamental de promoção da região, na altura já com Royal Óbidos, Bom Sucesso e Campo Real, com um pacote de greens fees, incluindo já o West Cliffs.

GT – Quando sentes que o Oeste começa a ser uma região de golfe?

FC – O trabalho de divulgação do West Cliffs fez toda a diferença. O Royal Óbidos abriu acho que em 2012 e passou a ser mais um player na região, e o Bom Sucesso tinha aberto antes, em 2008. O Golden Eagle tinha fechado.

Continuamos com uma dificuldade que é o alojamento ser curto. O número de camas disponíveis é o elo fraco. Está a desenvolver-se. O hotel de Royal Óbidos funciona muito bem, os apartamentos também. O Bom Sucesso ainda não conseguiu desenvolver um hotel. A Praia d’El Rey também tem o hotel e os apartamentos a funcionarem muito bem.

Há uma coisa que a região tem muito boa, é que, incluído no preço do green fee estão os transferes. É muito apreciado por jogadores e operadores. Os jogadores não têm de conduzir, podem beber, ninguém vem com carrinhas.

GT – Até porque tenho ideia de que os clientes do golfe no Oeste são em grande parte estrangeiros. Os portugueses, talvez se vierem da grande Lisboa, mas do norte, Algarve e ilhas, provavelmente não haverá muitos.

FC – O público português não vem muito ao Oeste. Vai aos torneios porque os greens fees são baratos. Em Praia d’El Rey e no West Cliffs subimos os preços de green fee para sermos sustentáveis depois de uma insolvência. O mercado estrangeiro ajudou-nos e cada vez menos o nacional. Temos, incluindo os torneios, 8% de voltas de portugueses.

GT – E em que momento sentiste que os estrangeiros já vêm ao Oeste para jogarem em quatro ou cinco campos, como um destino turístico de golfe, e não apenas num único campo?

FC – Os estrangeiros gostam de qualidade e Portugal tem de ser conhecido pela qualidade, não pelos green fees baratos. Royal Óbidos teve sempre qualidade, o Bom Sucesso esteve sempre um bocadinho mais abaixo e o Campo Real está mais afastado, são 40 quilómetros e tem uma orografia que não é muito apelativa.

 Quando passámos a ter Praia d’El Rey e Royal Óbidos começámos a ser mais conhecidos. Quando surgiu o West Cliffs houve um grande salto.

Em Praia d’El Rey fazíamos umas 37 mil voltas desde 2010 e quando abriu o West Cliffs, a Praia d’El Rey fez 35 mil, enquanto o West Cliffs teve logo 17 mil. Portanto, foram novos jogadores que apareceram para a região. O trabalho já vinha atrás. Não retirámos clientes aos outros. Viemos acrescentar clientes.

GT – Houve uma altura em que o Oeste esteve muito agressivo. Isso foi naquela altura em que o Portugal Ladies Open foi para o Campo Real, em 2010 e 2011. E também quando o António Carmona Santos organiza com a PGA de Portugal um Celebrity-Am. A noção que as pessoas têm de fora é que o golfe do Oeste é desenvolvido muito à custa de investimento privado, mas o Turismo, em determinados momentos, foi bastante importante. Esse investimento público existiu, não foi?

FC – Durante uns anos, houve um grande investimento público. Posso dizer que nós tínhamos programas de investimento com o Turismo do Oeste, com a Região de Turismo de Lisboa e com a ATL (Associação de Turismo de Lisboa). Investíamos algum dinheiro, para não dizer muito dinheiro, em promoção. Fazíamos duas visitas por ano a operadores, íamos às feiras. Era mais diretamente com os operadores, com o trade e não tanto com o público final.

Houve também apoio da ATL. Na altura fazíamos parte integrante do Turismo de Lisboa, houve os PPC’s e fizemos muitas campanhas. O preço dos greeen fees era relativamente mais baixo que do em Lisboa, era uma fase em que era necessário promovermo-nos. Depois, a partir de 2012, com o aparecimento da troika, os apoios dos PPC’s e dos Turismos diminuiu significativamente…

GT – … Aliás, o Portugal Ladies Open joga-se no Campo Real em 2010 e 2011 e depois acaba exatamente por falta de financiamento do Turismo local.

FC – O Turismo do Centro, voltou em 2016 a interessar-se pelo golfe. A ter uma pessoa muito mais ligada para alguns operadores. Não foi uma coisa tão forte como havia anteriormente com o Turismo do Oeste e com a ATL. Um bom apoio, mas a uma escala inferior.

GT – Ia perguntar-te sobre as câmaras municipais, porque eu noto que a Câmara Municipal de Óbidos, hoje em dia, parece-me activa na região em relação ao golfe. O presidente da Câmara aparece nos eventos, e faz discursos, fala da importância do golfe. Não me lembro disso anteriormente. Também é verdade que no período da troica, os municípios viram os seus orçamentos drasticamente diminuídos.

FC – O golfe é um ativo para a CMO ter aqueles empreendimentos turísticos de golfe. Não é só pelo número de gente que vai à região, mas também todo o IMI que recebe dos projetos imobiliários. Depois, pôr o nome do Oeste, ou de Óbidos, no mapa, é importante para a CMO.

A Câmara de Óbidos apoiou-nos sempre, ou via Turismo do Oeste, ou em termos da construção, sempre cumprindo as regras, mas acelerando alguns prazos e isso foi muito importante. E agora continuam a apoiar com outro tipo de valores, com o apoio aos eventos, com algumas atividades, como visitas a Óbidos.

GT – É verdade que a CMO tem a preocupação de levar o golfe aos jovens do município?

FC – Foi uma coisa que sempre houve. Na Praia d’El Rey tivemos logo os miúdos das escolas a virem ter connosco. O professor era o Miguel Costa, era nosso sócio. Depois mudou-se para o Bom Sucesso e a escola passou para o Bom Sucesso. Uma vez por semana os miúdos vão a um campo da região. Faz parte das atividades extracurriculares, terem uma tarde no golfe.

GT – E sentiste resultados práticos?

FC – Infelizmente não. Muito honestamente, houve uns tantos miúdos que começaram, tinham algum jeito, mas a zona de Óbidos, para além do cluster dos estrangeiros, não é uma zona que tenha vindo a enriquecer, não há uma classe média muito grande. É uma zona muito agrícola, de pequena indústria e ainda não temos muitos jogadores ali a jogar.

GT – E aquela vantagem indireta? De haver uma sensibilização junto da população de que isto existe e é positivo para a população? Pergunto isso porque vejo que no Algarve, em Vidago, na Madeira, nos Açores as populações são muito a favor do golfe, aderem claramente, gostam que exista golfe na região.

FC – Ninguém é contra o golfe naquela região. As pessoas vêem os benefícios, vêem o movimento que existe. E nesse sentido, verem as crianças também a irem ao golfe ajuda. Basta falar do comércio local. Temos talvez umas 100 famílias a viverem permanentemente na Praia d’El Rey, para além daquelas que têm a casa de férias. Está tudo vendido, no West Cliffs também. E essas pessoas gastam naquela região, no restaurante, no comércio local, traz muito movimento à volta.

Na Praia d’El Rey temos um programa para crianças, sei que no Bom Sucesso existe e no Campo Real também. No Royal Óbidos não sei, mas os miúdos pagam 20 euros por mês e têm quatro a seis lições de aulas de golfe.

Também qualquer trabalhador nosso pode jogar golfe e temos cada vez mais pessoas a fazê-lo. Quem trabalha na manutenção, se jogar golfe, faz uma manutenção muito melhor do que se não jogar golfe. No caso do West Cliffs, onde a equipa é mais jovem, já fazem competições entre eles e os sócios dos dois campos fazem, todos os anos, um ou dois torneios em que os sócios desafiam os empregados e depois oferecem um jantar aos empregados, como forma de agradecimento. Vai sempre muita gente.

GT – Um aspeto importante para essa sensibilização pública é haver a noção de que o consumo de água dos campos de golfe da região não prejudica o consumo privado ou das explorações agrícolas. E no ano passado até houve um protocolo com a CMO para uma gestão mais eficaz dos recursos hídricos. Conta lá ao certo como é a situação nos campos do Oeste?

FC – Isso é uma coisa gira, porque, logo no início, para a viabilização do campo de golfe do West Cliffs, havia uma condição primeira: teria de recorrer à água da ETAR. E logo na altura, em 2004 ou 2005, quando o campo de golfe começou a desenvolver-se, houve ali uma ETAR que foi construída no Bom Sucesso, ao pé do campo de golfe, junto à lagoa, para fornecer água aos campos de golfe da região. Tivemos que construir uma canalização entre a ETAR e o campo de golfe. Em 2017, depois de conversas com a APA (Agência Portuguesa do Ambiente), a ETAR não tinha as licenças para regar o campo de golfe. Havia um preliminar de contrato, mas nunca avançou.

No ano passado, em 2024, as coisas começaram a funcionar. Em Agosto ou Setembro, finalmente ligámos a ETAR do Casalinho ao West Cliffs. O preço que estamos a pagar é ligeiramente superior ao preço da água que as barragens vendem aos agricultores no Algarve, mas também temos uma água de qualidade boa e as coisas estão a funcionar bem.

GT – Então podemos dizer que a ETAR do Bom Sucesso está a ser usada por todos os campos de golfe da região?

FC – Infelizmente, a produção da ETAR é pequena e a água não chega para todos os campos de golfe. Não chega sequer para um campo de golfe… Mas é um bom princípio.

GT – O Oeste, felizmente, nem é uma zona que tenha falta de água. Mas então, os campos, que água utilizam? Os lagos funcionam?

FC – Não, felizmente não tem. É água dos furos, é captação própria. Os lagos dos campos (também) funcionam como captação e proteção de água. Recebemos águas das chuvas. No caso do West Cliffs, todas as drenagens vão dar aos lagos, fazemos reaproveitamento das águas e isso funciona.

GT – E sentes que na parte dos greenkeepers dos campos da região também já existe uma preocupação grande com a gestão das águas?

FC – Há 20 anos, as águas residuais eram um problema. Os tratamentos que eram feitos nas águas residuais não eram bons. As contaminações nos campos eram grandes. Nos dias de hoje, também existe preocupação do lado da APA. As preocupações ambientais são outras. Havia problemas para a saúde com os quais antigamente ninguém se preocupava e agora liga-se a isso. Os estudos de risco são feitos, são muito mais focados e as coisas funcionam.

A maneira como hoje se faz a manutenção é diferente do que era há 10 anos ou 20 anos. Há menos adubos, há menos produtos químicos, há que ter um cuidado diferente com as doenças, há novas relvas mais resistentes a doenças, porque nós temos de ter qualidade.

O golfe em Portugal está baseado no turismo. Se não temos qualidade nos campos, os turistas vão a Espanha ou vão a Marrocos, que não têm as mesmas preocupações ambientais que nós temos. É uma realidade. Os produtos que nós usamos, sendo regulamentados pela Comunidade Europeia, não existem em Marrocos, no Egito ou na Turquia. E o turismo vai para onde tem qualidade. Temos de escolher e escolhemos qualidade. Em Portugal, estamos a receber muito melhores turistas, menos turistas. No caso do golfe, menos turistas, mas a pagarem um preço superior.

GT – O Oeste, desde o início, apostou muito em torneios de golfe de alto rendimento. Eu lembro-me de a Quinta do Brinçal / Golden Eagle ter sido o campo oficial da Federação Portuguesa de Golfe. Havia muitas provas federativas. O Portugal Ladies Open passou pelo Golden Eagle e pelo Campo Real, o Royal Óbidos tem o Open de Portugal há vários anos, o Bom Sucesso teve o Alps Tour, a Escola de Qualificação do DP World Tour, a Copa das PGA’s Ibéricas, o Portugal Pro Golf Tour. Já a Praia d’El Rey, é verdade que teve o Masters da PGA de Portugal em 2002, mas não abriu muito o campo a esse tipo de torneios, embora tenham o vosso próprio Pro-Am, que é bastante credenciado. Porquê?

FC – A necessidade faz o engenho. Quando eu estava no Golden Eagle ou Quinta do Brinçal éramos o campo oficial da seleção da FPG. Funcionava lindamente, mas não fazem ideia das dificuldades que tínhamos. Não havia bolas suficientes. Eles iam bater bolas, quando iam almoçar, eu apanhava as bolas todas para eles poderem voltar a treinar a seguir ao almoço.

Na Praia d’el Rey, o valor que recebíamos de green fee numa prova da FPG era muito inferior ao valor que vendíamos aos operadores ou ao público. A Praia d’El Rey teve, desde o início, um volume de voltas muito superior e nunca teve a necessidade de ir buscar aquele green fee marginal.

A Praia d’El Rey abriu em 1997 e fez logo um evento que durou três anos, as Ladies contra os Seniores, em profissionais, era a Guerra dos Sexos.

Depois fizeram-se outros eventos de profissionais. Eu entrei em 2004 e em 2005 fomos desafiados por um grupo de sócios a fazermos um Pro-Am. Dura até hoje. Temos todos os anos 20, 30, 40, 50 equipas. É famoso.

Mas não estamos à procura desse mercado, porque, felizmente, temos um rendimento superior com outros eventos. Reconhecemos que é necessário apoiar o golfe nacional. Por isso, fazemos as provas que nos pedem em períodos que possamos.

GT – Sentiste que foi e é importante para a região ter recebido e receber estes grandes eventos?

FC – É bom que continuem. Nós temos uma coisa que é única, não existe em muito lado – a maneira como os campos de golfe do Oeste trabalham em conjunto. Se o Royal Óbidos o Campo Real ou o Bom Sucesso fazem um evento, nós ganhamos também com essa divulgação. Mas a estratégia de divulgação da Praia d’El Rey passou mais pelo mercado do trade e pelos operadores.

 Se temos 100 mil euros para investir – que é quanto custa um Open ou um Ladies Open –, vamos colocar tudo num evento que nos dará uma grande notariedade durante alguns dias? Ou vamos agarrar nos 100 mil euros e fazemos cinco visitas a operadores, apoiamos uma publicação de golfe?

Sempre achámos que se temos um valor limitado para investir na promoção, é preferível dividi-lo pelo trade do que ter de dar a um evento só.

No início, quando foi necessário pôr o nome no mercado, houve a Guerra dos Sexos, que custou muito dinheiro. Quando foi a abertura do West Cliffs, pusemos muito mais dinheiro nos operadores e nas revistas.

Acaba por ser uma situação win-win, porque assim como, por exemplo, o Royal Óbidos beneficia com a nossa promoção, nós também ganhamos com os eventos que eles fazem.

GT – Isso vai ao encontro de já ter ouvido chamarem-te o Sr. Golfe do Oeste. Lembro-me de numa entrega de prémios do Portugal Masters o diretor de campeonatos do European Tour ter chamado de Mr. Golf Algarve ao Christopher Stilwell. De facto, o Chris faz-nos muita falta. Agora decidiste reformar-te e oiço as pessoas a dizerem que o Sr. Golf do Oeste vai-se embora. És um bocado a figura agregadora daqueles campos? Existe uma associação de diretores de campos de golfe e vocês dão-se todos muito bem. Já estive em alguns eventos vossos e vejo que as pessoas olham-te com consideração.

FC – A associação de diretores de campos de golfe é uma coisa vem do tempo do António Carmona Santos. Antes era para os secretários de golfe e depois passou para diretores. Quando cheguei estava parada. Depois, o João Paulo Sousa desafiou-me para desenvolvermos aquilo um bocadinho, e andámos com as coisas para a frente. Cada vez tinha menos tempo e passou a ser o Alexandre Barroso a dinamizar a coisa. Agora o Alexandre saiu de Troia e saiu da Direção. Quem está à frente da associação é o Salvador Costa Macedo, com muitas ideias e ótimas ações.

A Associação de Diretores de Campos de Golfe nunca foi uma coisa muito dinamizada. As pessoas que apareciam eram muito mais da região de Lisboa e do Norte do que as do Algarve. Aqui vou falar contra a classe. No Algarve as coisas são um pouco mais individualistas. O Algarve abre um campo de golfe e está cheio no dia a seguir. Não há tanta necessidade de trabalhar em conjunto. Na região de Lisboa e no Oeste, todos fazemos promoção uns para os outros. Porque temos todos de lutar por mais um visitante. O Norte do país é uma realidade diferente.

Mas voltando à questão de eu ser o Sr. Golfe do Oeste, não! Era apenas mais um agregador. Dou-me bem com toda a gente e conseguimos ter umas ideias claras.

GT – E agora, vens-te embora. Sentes que o golfe do Oeste é já uma personalidade autónoma? Ou tem ainda muitas sinergias com a zona de Lisboa?

FC – Acho que é cada vez mais autónomo. O Oeste já está consolidado. Temos ali quatro campos com honestidade entre as pessoas, trabalhando para um bem comum. E com as pessoas que estão por lá, isso vai continuar.

GT – Sentes que deixas o Oeste capaz de concorrer taco a taco com outros bons destinos turísticos de Golfe da Europa continental?

FC – Não fui eu que fiz o Oeste. Foram as equipas e elas vão continuar esse trabalho, de certeza absoluta. Temos ali quatro, cinco campos, mas há uma limitação, de quartos, faltam hotéis, hotelaria.

A Praia d’El Rey pode estar muito cheio, o West Cliffs pode estar muito cheio, mas o Bom Sucesso e o Royal Óbidos ainda têm muita ou alguma disponibilidade. Há ainda espaço para crescer na hotelaria. Mas acho que temos um produto de qualidade e um clima muito bom. No verão não é muito quente e no inverno não é muito frio. Chove um bocadinho mais do que em Lisboa, mas também não é assim tanto.

Os campos têm um bom desenho, uma boa manutenção, temos os transferes. E, depois, há a gastronomia local, Peniche, Óbidos. Na região do Bombarral há boas casas de vinho. Há muita coisa para vender no Oeste. E tudo isso trabalhado em conjunto com a Câmara, com o Turismo do Centro, com os campos de Golfe. Tem tudo para continuar e melhorar.

GT – Quando fazes o balanço da tua carreira como diretor de Golfe, é positivo? Agrada -te quando olhas para trás?

FC – Claro que sim. Há coisas que faria diferente se calhar, como em tudo.

G – Alguma coisa que gostarias de ter feito e não fizeste?

FC – O importante é valorizar as pessoas que trabalham no golfe e acho que paga-se mal no golfe. As pessoas não são devidamente valorizadas. Não estou a dizer os diretores. Estou a referir-me às receções, às logísticas, às manutenções. Infelizmente, ainda temos salários muito baixos.

Estamos mais preocupados em melhorar o preço de venda e não tanto melhorar as condições de base das pessoas... Mas os campos sofreram tanto em termos de rentabilidade e insolvências. Nunca houve essa capacidade. Mas é algo que tem que ser visto.

GT – Em todos aqueles prémios internacionais, há algo de que te orgulhes especialmente?

FC – O orgulho que tenho é ver que Praia d’El Rey, West Cliffs, Royal Óbidos, a zona do Oeste tem um volume de jogadores muito importante. São campos conhecidos e eu ajudei nesse trabalho.

GT – E em relação ao golfe nacional? O que gostavas de ver?

FC – Mais miúdos a jogar e termos um grande jogador de golfe. Tivemos boas esperanças, tivemos bons jogadores amadores que vingaram no circuito profissional, mas não temos um Sergio Garcia. Não falo de um Tiger Woods. Isso faz falta ao nosso golfe.

O golfe não é tão caro quanto parece, há campos mais caros e mais baratos, há material mais barato e mais caro, não se gasta tanto no golfe como na pesca, na caça, até mesmo no surf. Há é que trazer os miúdos ao golfe, tê-los a jogar, dar-lhes uma boa formação e depois termos uma pessoa que ande regularmente no top-10, pelo menos do circuito europeu ou daquilo que venha a ser o circuito europeu.

GT – Com que idade estás agora?

FC – Vou fazer 65. Sou novo.

GT – Quer dizer que agora é que vais começar a jogar mais golfe?

FC – Uma coisa que o diretor de golfe têm é que as pessoas pensam que para ele é só jogar golfe. Mas a verdade é que sai de lá e não quer ir jogar golfe, quer ir para casa. Ainda por cima ainda moro em Oeiras. Fiz as contas e durante estes 21 anos em Praia d’El Rey passei mais de um ano ao volante. Um milhão de horas.

GT – Qual foi o teu melhor handicap?

FC – Cheguei a 10. E agora vou com 19. E já fui 22. Mas já comecei a treinar. Agora é que vai ser. O que falha ainda é o jogo curto, é o chipping. Dou uns seis ou sete ‘sapos’ por volta. Agora tenho de começar a treinar, porque tenho tempo.

GT – E agora? A vontade é mesmo parar? Ou julgas que ainda vais ter mais alguma uma atividade profissional?

FC – Agora é parar durante uns tempos. Descansar um bocadinho.

GT – Há algo que ainda gostarias de fazer no golfe? Voltar a ser árbitro?

FC – Faz falta por parte dos diretores de golfe um bom trabalho nos dados que têm de gestão de campos de golfe. E isso é algo que poderei encarar com outros olhos. Como captar a informação para o dia a dia de um campo de golfe e arranjar ferramentas para ajudar nessa área.

Um diretor é um gestor de pessoas e de informação. Ele está a gerir uma empresa. Tem de ser viável e tem de ter as pessoas contentes.

É preciso ter informação e já temos ferramentas que dão-nos essa informação, mas falta tratá-la. Isso é algo que, a prazo, poderá ser interessante.

GT – E a área política do golfe? Ainda agora vimos aqui o Diretor-Técnico Nacional, o João Coutinho, fazer-te um grande elogio. Se te desafiassem para uma associação, para a Federação?

Não sei… Não se diz não a nada. Agora estou de férias. Amanhã logo se vê.