Regresso à competição quase resultava em novo título nacional 16 anos depois
No ano 2000, José Maria Cazal-Ribeiro foi o melhor amador português: venceu os dois majors do calendário federativo (Campeonato e Taça) e foi n.º 1 no Ranking Nacional. Para sua alegria redobrada, isto foi numa temporada em que o seu Sporting também conquistou a dobradinha Campeonato e Taça. Foi jogador profissional de competição em 2001 e 2002, e em 2004 solicitou a reintegração como amador, “para poder voltar a jogar torneios giros e com os amigos”. Mas nunca tinha voltado a participar num campeonato nacional individual, até ao último fim-de-semana, aos 39 anos, por ocasião de um forte Campeonato Nacional de Mid-Amateurs BPI (escalão acima dos 30 anos), no Quinta do Peru Golf & Country Club, onde perdeu para Romeu Gonçalves com um duplo bogey no primeiro buraco do play-off, contra o bogey do adversário algarvio do CG Vilamoura. Nesse domingo passado, horas depois, Jordan Spieth, a defender o título no Masters, teve um colapso que se julgava impossível da sua parte: quando parecia imparável rumo ao bicampeonato perdeu seis pancadas para o par no início do back nine em Augusta National, com 2 bogeys e 1 quádruplo bogey, perdendo assim o título para o inglês Danny Willett. Cazal-Ribeiro, que jogou na Quinta do Peru sob o emblema do seu clube de sempre, o Lisbon Sports Club (em Belas, Sintra), estava a ver na Sport TV e nessa altura contextualizou as coisas: o que foi aquilo, comparado com o que lhe acontecera no play-off na Quinta do Peru?
GOLFTATTOO – Não jogavas um campeonato nacional individual desde 2000, parece incrível para um jogador tão talentoso como tu (não estou a dar graxa). O que te manteve afastado este tempo todo?
JOSÉ MARIA CAZAL-RIBEIRO – Não tinha vontade de jogar.
E o que te levou a entrar no passado fim-de-semana no Campeonato Nacional de Mid-Amateurs na Quinta?
A mesma coisa. Estava a passar por uma fase em que não me estava a divertir muito a jogar golfe, e quis forçar um bocadinho a ver se passava. Inscrevi-me à ultima hora, duas semanas antes, algo renitente. Quase que arranjava desculpas para não jogar, e pensava que se estivesse a chover seria uma chatice. Afinal, mesmo com mau tempo, acabou por ser muito divertido.
Fizeste alguma preparação especial?
Nada. Meia-hora de putting na quinta-feira e sexta-feira antes do torneio e na quarta-feira tinha feito 18 buracos na Quinta do Peru com um operador turístico. Desde 1 de Janeiro até ao Campeonato Nacional de Mid-Amateurs joguei três ou quatro voltas este ano.
Voltas de 75-73 debaixo de difíceis condições climatéricas sobretudo no domingo (em que foste o melhor), agregado de 4 acima do par… Bela “joga” para quem não andava há tanto tempo nestas lides…
A primeira volta foi uma volta muito regular, não podia ter feito melhor nem pior, o que poderia ter feito no sábado era 72. Estive bem nos drives, falhei apenas dois fairways, ‘patei’ razoavelmente bem, mas não conseguia meter a bola perto da bandeira. Fiz dois birdies, no 12 e no 17, que foram com putts a 20 metros.
Na segunda volta já joguei muito bem, muito melhor. Sabia que se fizesse abaixo do par tinha boas possibilidades. Sabia que podia consegui-lo. Queria criar no meu jogo oportunidades para fazer birdies, pondo a bola perto. Infelizmente, os birdies não foram tantos como eu queria. Falhei três ou quatro putts de 4 metros para dentro.
O campo estava muito bom, com greens difíceis, duros e rápidos, de torneio a sério, e também houves posições de bandeira difíceis. No domingo esteve muito vento e nos primeiros 5, 6 buracos apanhámos chuva.
O que aconteceu no play-off, para teres feito duplo bogey?
No play-off com o Romeu saímos os dois bem, não muito compridos, mas no meio do campo. No meu segundo shot, deixei a bola à entrada do green numa posição em que não tinha putt directo para o buraco, porque tinha um bunker na minha linha. Tive mesmo de jogar sand wedge por cima, deixei a bola a três metros, até foi bom. Depois, no putt fui demasiado ambicioso, tinha uma linha a descer da esquerda para a direira e passei um metro para o outro lado, confesso queria acabar ali o jogo. E depois falhei o segundo putt. O Romeu falhara o segundo shot para o mato e acabou por ganhar com chip & putt para bogey.
Como é que te sentiste nessa altura
O pior possível. O play-off merecia melhor desfecho. Poderia ter sido o Romeu a ganhar e não eu a perder.
Durante o Campeonato Nacional de Clubes de 2014 no Oporto / © FILIPE GUERRA
Embora há muito não jogasses campeonatos nacionais individuais, representaste o Lisbon Sports Club no Campeonato Nacional de Clubes de 2014 no Oporto…
Sim, foi há dois anos, forçado pelo Pedro Nunes Pedro, que é o presidente do clube. De qualquer forma, é um torneio especial, que eu gosto sempre de jogar. Não joguei o ano passado, em 2015, porque estava fora do país. Mas este ano poderei fazer parte da equipa, não só nessa prova como nos mid-amateurs. Isto se tiver disponibilidade e for seleccionado para a equipa. Continuo a ser sócio da Carregueira (o LSC fica na serra da Carregueira), mas não jogo lá muitas vezes, umas três vezes por ano. Frequento o clube mais no Verão, para a piscina. E também vou lá muitas vezes para almoçar com os meus pais.
Vamos-te ver a competir em outras provas do calendário individual federativo proximamente?
Não. Só para me divertir, não consigo. Quando jogo, tenho ambições de ganhar. Ou me preparava a sério para competir minimamente bem ou para mim não faz sentido.
Tiveste o teu auge a nível amador no ano 2000, como vês o golfe em Portugal década e meia depois?
Infelizmente, se olharmos para o número de jogadores, não mudou nada. Se olharmos para a alta competição, aí houve uma evolução muito grande resultante de um projecto ambicioso, com resultados já vistos. Ainda há muito a fazer para passar barreira dos 14 mil federados e chegar aos 50 mil.
Hoje em dia não há Tiger Woods mas há o designado “Big Four”, com Rory McIlroy, Jordan Spieth, Jason Day e Rickie Fowler. Quem é o teu preferido?
Rory. Primeiro, porque é europeu, e eu gosto dos europeus e menos dos americanos. Tem um swing extraordinário e uma distância do outro mundo. Acho que é o mais completo deles todos.
Como viste o último Masters?
Confesso que após a minha prestação no play-off na Quinta do Peru, consolou-me ver o Jordan Spieth fazer aquelas asneiras todas. Não estava nada à espera. Foi um Masters emocionante, extraordinário.
Fala-nos um pouco da tua vida profissional, que nos últimos anos tem sido passada no grupo Orizonte, que detém os campos 1 e 2 da Aroeira, os 1 e 2 de Ribagolfe, o de Santo Estevâo, o da Quinta do Peru e o de Oeiras, Sei que foste director de golfe dos campos de Ribagolfe, e agora?
Sim, trabalhei de 2006 a 2013 em Ribagolfe, e a partir de 2013 e até Janeiro de 2015 acumulei com a direcção de Santo Estêvão. Desde 2015 estou como director comercial do grupo com especial enfoque no mercado internacional, e baseado nos escritórios centrais da Quinta do Peru.
Sentes-te confortável?
É um trabalho de que gosto imenso, e viajo muito.
Que tal foi ser pai para ti?
Foi óptimo, a melhor coisa do mundo. Tenho o Zé Maria, com 5 anos, e o Manuel, com 3. Já poderia ter jogado o Nacional de Mid-Amateurs mais cedo, mas ambos nasceram em vésperas do torneio e nas outras ocasiões já estava fora do país. São já grandes companheiros, gostam tanto de ir ao golfe como de ir ao futebol. Vou tentar que ambos joguem golfe, mas sem forçar. O Zé Maria já teve uma aula de golfe e gostou, mas ainda é muito pequeno.
Ainda acreditas que o Sporting possa ser campeão?
Ainda tenho esperança, embora ache que que a derrota em Alvalade com o Benfica tenha deitado o campeonato a perder. O Sporting perde por demérito.
Jorge Jesus terá falhado?
Nunca fui grande fã do Jesus, mas dou a mão à palmatória: o Sporting passou a jogar de outra forma, a lutar até ao fim. Não gosto destas destas picardias que foram iniciadas pelo Benfica, mas que foram alimentadas pelo Jorge Jesus e pelo Bruno Carvalho, um presidente com o qual não me sinto identificado minimamente.