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“Não esperava tanto do meu jogo”
28/10/2014 18:03 Rodrigo Cordoeiro
Francisco Costa Matos mostrou-se ao golfe nacional no Açores PGA Open / © JOÃO MONIZ

Amador açoriano Francisco Costa Matos foi a grande revelação no Açores PGA Open

Enquanto neste último fim-de-semana jogava o Açores PGA Open no Batalha Golf Course, Francisco Costa Matos estava, ao mesmo tempo, a fazer o exame prático de acesso à PGA de Portugal, o Playability Test. E as expectativas foram claramente superadas: o amador açoriano de São Miguel, 28 anos, liderava no primeiro dia com Tiago Cruz e lutou até ao fim pela vitória com este e com Hugo Santos, dois dos melhores golfistas portugueses da actualidade. Com voltas de 70-73, para um total 1 acima do par-72, terminou em 3º, à frente de outras referências nacionais na modalidade como Pedro Figueiredo e Gonçalo Pinto. É 3,7 de handicap, mas sublinha que isto apenas na “teoria”, visto que tem vindo a jogar bem melhor do que isso. Viu-se...

GOLFTATTTOO – O Açores PGA Open veio mudar alguma coisa na tua vida?

FRANCISCO COSTA MATOS – Sim, porque estava a fazer o playability test para acesso à PGA Portugal e passei claramente no teste. Tornar-me profissional é uma ideia que já tinha na cabeça há bastante tempo e que vai finalmente concretizar-se. Já me preparava para este torneio, para esta fase, desde o início do ano.

Que resultados seriam os mínimos para passares no playability test?

A referência tem sido 7 pancadas acima do par por volta.

Fizeste o par no primeiro dia e 1 acima no segundo. Jogaste o melhor golfe da tua vida?

Sim, posso considerar que foi o meu melhor torneio. Se bem que no segundo dia foi uma batalha com o meu jogo, porque sentia-me nervoso e foi sempre um procurar de tranquilidade para estabilizar o jogo, o  que demorou algum tempo a conseguir. 

Quando é que sentes que estabilizaste o jogo? 

Ao fim do 12º buraco, quando fiz o primeiro bogey

Como assim? 

O 12 é um par-5, fiz 3 putts, com uma gravata no segundo putt. Os greens aqui, apesar de 90 por cento deles estarem bons, estão a começar a ficar com uma doença e estão um bocadinho esburacados. Nesse putt tinha uma falha na minha linha, e por chatice a bola saltou nessa falha, desviou um bocadinho da linha e fez uma gravata. A partir daí parece que foi automático e deixei de me sentir nervoso. 

Foi um desempenho que certamente superou as tuas expectativas? 

Sim, não era a ideia que eu tinha. Eu sabia que andava a jogar bem, a fazer várias voltas abaixo do par, 1 abaixo, 1 acima, 2 acima, mas sempre em condições de treino, não em torneio. Sabendo da pressão que teria em fazer o playability test, das condições envolventes, dos jogadores que me acompanhavam, não esperava tanto. 

Como te sentiste depois de terminares à frente de jogadores como  Pedro Figueiredo e Gonçalo Pinto? 

Sinceramente senti-me nas nuvens. Porque o Pedro e o Gonçalo, apesar de serem mais novos, foram dois jogadores que acompanhei em toda a sua formação. Fui vendo o que ele evoluíram, o que jogaram, fui vendo os resultados que alcançaram. Terminar à frente deles deixa-me com uma esperança de chegar longe nesta área. Além de ficar à frente deles, competi com o Tiago Cruz e com o Hugo Santos, que também são jogadores de referência. Ao fim de 27 buracos andava a disputar a vitória com eles, e saber disso acaba por me levar a um patamar que ainda estava longe de pensar alcançar. 

Deu-te confiança certamente 

Muita. Porque foi quando eu pude realmente avaliar o meu jogo e comparar directamente com estes jogadores as minhas capacidades. E por aquilo que se pode ver, o que dizem os resultados, estive a par deles e aguentei-me bem. No último dia, perante uma situação nova, jogando como amador num torneio de profissionais, a fazer o playability test e com os sócios do clube a acompanharem a minha volta, acabei por perceber que mentalmente sou um bocado mais forte do que aquilo que pensava, porque consegui aguentar durante muito tempo os nervos e lidar com eles de forma a manter o jogo equilibrado. Fiz 11 pares de seguida, que não é uma coisa muito habitual no meu jogo, que oscila muito entre birdies e bogeys. Consegui manter uma regularidade foram do normal para mim.

Costa Matos liderava ao fim da primeira volta com Tiago Cruz / © JOÃO MONIZ 

A verdade é que já na última Taça da Federação Portuguesa de Golfe, em Setembro, chegaras aos quartos-final, etapa na qual foste eliminado pelo campeão nacional Tomás Silva após um match muito renhido. 

Foi uma prova que me correu bem. Aliás, eu até me sentia mais seguro, mais confiante a jogar na Taça da Federação do que agora no Açores PGA Open. Porque, a seguir à Taça da FPG, lesionei-me nas costas e estive duas semanas parado. Acabei por treinar só uma semana a sério aqui para o Açores PGA Open. Ainda a meio da semana passada sentia que não estava a 100 por cento. Só a partir de quinta-feira comecei a sentir-me totalmente à vontade para fazer o swing sem restrições e sem problemas, sem medo de voltar a lesionar-me. Na Taça da FPG acabei por chegar aos quartos-de-final, perdi com o Tomás Silva. Vínhamos ambos a jogar muito bem e na fase de match play joguei sempre abaixo do par, o que para mim foi novidade. 

Como é que foi esse match com Tomás Silva 

Foi um grande match. Passámos empatados nos primeiros 9 buracos e vínhamos os dois com 4 abaixo. Vínhamos a jogar muito bom golfe, os buracos foram todos ganhos a birdie, excepto num que fiz bogey, no 3. E no 7 fiz birdie e ele ganhou o buraco com eagle. Depois, nos segundos 9, as condições pioraram um bocadinho, o vento subiu, começámos a apanhar chuva, foi o dia em que o torneio esteve interrompido até ao final da tarde. Chegámos ao 18 comigo a perder por 1, e jogámos em condições anormais: eu andava a jogar ferro 7 para o green no 18 e acabámos os dois a jogar ferro 4. Foi aí que ficou decidido o match… Acabámos os dois com duplo bogey, infelizmente. Ele acaba 1 abaixo e eu acabo par, mas foi um grande match.

Sentiste que poderias ter ido mais longe na Taça… 

Sim, estava a jogar bom golfe, estava confiante. Apesar de nessa semana os greens terem sido o meu problema. Os greens lá no Montado também não estavam muitos bons, mas as condições eram iguais para todos, a verdade é essa. Mas a minha forma de ‘putttar’, a forma como eu vejo as linhas e encaro os greens, é uma forma que não me ajudava naqueles greens, porque eu gosto de pôr a bola a rolar nas linhas, e os greens com buracos não favorecem esse tipo de jogo. Favorecem quem é mais agressivo no putting. Por essa ser a minha natureza no putting, acabei por sair um bocadinho prejudicado. Mas faz parte.

O caddie Luís Martinez e a mulher deste observam shot de Costa Matos  / © JOÃO MONIZ 

Tens 28 anos. Porquê só agora quereres ser profissional de golfe? 

Não é só de agora. Na realidade, até aos 18, 19 anos, nunca fui uma referência no golfe nacional, nunca tive grandes resultados. E achava que seria um bocadinho inapropriado, um risco muito grande, se nessa altura me dedicasse ao golfe e não tivesse nenhum background. Então optei por entrar na faculdade, fiz o curso de Educação Física na Universidade Lusófona em Lisboa, fiz a licenciatura, e agora estou a acabar a tese de mestrado. Só quando voltei para São Miguel após essa fase de estudante, é que me dediquei mais a sério e a 100 por cento ao golfe, para me tornar profissional. Se bem que já tinha essa ideia há muitos anos. 

Quando pensas abandonar o estatuto de amador? 

Em Janeiro de 2015. Como ainda não tenho grandes apoios para jogar o circuito profissional, aliás não tenho apoios nenhuns, não tenciono para já renunciar ao estatuto de amador. Até porque estou em prova no Expresso BPI Golf Cup e não quero deixar os meus parceiros pendurados. Temos a Final Nacional daqui a umas semanas e acabando essa Final, que é o meu próximo grande torneio, consoante o resultado escolho a data exacta para ser profissional, porque ainda podemos chegar à Finalíssima do Expresso BPI Golf Club, que se joga em Dezembro. Mas o que eu tenho previsto é em Janeiro de 2015 renunciar ao estatuto de amador e associar-me de vez à PGA Portugal. 

Vais ser profissional de competição ou de ensino? Ou ambos? 

A verdade é que eu já tenho 28 anos, tenho a noção de que o meu golfe não é um golfe de topo, não sou uma referência, e se quisesse seguir uma carreira de jogo tinha de ter grandes apoios, para me poder mostrar ao país e até a outros circuitos. Mas não sabendo de que maneira é que isso pode correr, comecei no início de 2014 a fazer o curso de treinador da FPG e tenho em Dezembro os testes finais do Nível 1.

Quais são então as tuas perspectivas? 

Para já tenho de fazer o estágio do curso da FPG, e vou começar a trabalhar aqui na Ilhas de Valor. Gostava de ser um profissional, um professor de referência no golfe, pelo menos no país, talvez também no estrangeiro, visto que é uma coisa que gosto de fazer. Gosto de transmitir às outras pessoas aquilo que sei, gosto muito de ajudar naquilo que posso e naquilo que sei. Não posso dizer que vá ficar triste se não for um jogador, mas se for um grande treinador já é um sonho realizado.