Vítor Lopes vai tornar-se profissional este ano, só não sabe quando
Vítor Londot Lopes (Londot é da sua mãe, belga) é um caso sério. Tendo começado a jogar golfe por volta dos 12 anos, em 2009 ou 2010, não se recorda bem, logo em 2012 fez parte da equipa de Vilamoura que se sagrou campeã nacional de clubes no Faldo Course do Amendoeira Resort, batendo Belas na final (e de então até hoje já acumulou mais quatro títulos no torneio); em 2014 venceu a Taça da Federação Portuguesa de Golfe, um dos dois majors do calendário, a par do Campeonato Nacional Absoluto; em 2015, foi o n.º 1 no Ranking Nacional Amador BPI e vice-campeão nacional (perdeu o título para Tomás Silva após grande duelo no Santo Estêvão Golfe); em 2016, fez parte da selecção portuguesa no Campeonato do Mundo por Equipas (Troféu Eisenhower), no México.
Mas só agora, em 2018, com 21 anos, se deu a explosão: a 9 de Fevereiro, tornou-se o primeiro amador a vencer no Portugal Pro Golf Tour, por ocasião do Álamos Classic. A 17 de Fevereiro, conquistou o 88.º Campeonato Internacional Amador de Portugal (o que lhe valeu uma subida de 399.º para 250.º no ranking mundial amador), igualando o feito de Gonçalo Pinto – seu antigo companheiro de clube – cinco anos antes, no mesmo palco do Montado Hotel & Golf Resort. (Gonçalo Pinto fez questão de estar presente na ocasião para dar um abraço de parabéns ao seu sucessor.) E a 20 de Fevereiro voltou a destacar-se no Portugal Pro Golf Tour sendo sexto classificado entre 100 jogadores no Palmares Classic VI – não começou bem mas jogou os últimos 28 buracos do torneio em 11 abaixo do par. Na véspera de começar a competir no Internacional de Espanha, o jogador português do momento falou ao GolfTattoo.
Miguel Franco de Sousa (presidente da FPG) entregou troféu do Internacional a Vítor Lopes
GOLFTATTOO – A sensação que dá é que fizeste o clique…
VÍTOR LOPES – Eu sentia tinha de fazer alguma coisa no meu putting e chipping, que foi o que nunca me permitiu fazer grandes resultados ou ter mais consistência. Em Janeiro, no Open Amador Sul-Americano, na Argentina, senti que joguei bom golfe mas não ‘patei’ bem. O meu putting estava muito inconstante em pressão, e no regresso a Portugal decidi mudar o grip do putter, pedi a um rapaz na Quinta do Lago. A partir daí senti-me muito mais confortável nos greens, tenho menos tensão nas mãos. Parece que não, mas faz uma grande diferença a nível de confiança e resultados, quando estás a ‘patar’ bem, e isso inclui os putts pequeninos. Notei logo a diferença no torneio seguinte no Boavista [Boavista Classic, do Portugal Pro Golf Tour], em que finalizei com um triplo bogey no último buraco mas acabei às portas do top-10, e a partir daí foi sempre a melhorar.
Por outro lado, isto também é uma consequência do trabalho com o meu treinador, o Joaquim Sequeira. Todos os anos fazemos umas pequenas alterações, ele dá-me sempre qualquer coisa para trabalhar durante o seu tempo fora ou de férias. Concentrei-me nisso e percebi exactamente o que ele me queria transmitir. Pelos vistos, trouxe-me muito mais consistência no meu jogo – e é por isso que acredito 100 por cento no meu treinador, é por isso que ele tem o nome que tem e os dos jogadores que formou.
Como te sentes sendo o jogador português do momento?
Tento aproveitar ao máximo, mas sempre com os pés assentes na terra. É sempre uma boa sensação, estar na minha posição neste momento, só me dá mais vontade de continuar e olhar mais para cima. Fico feliz pelo facto de o meu trabalho se estar a demonstrar.
Desde o ano passado que estás inteiramente dedicado ao golfe. Para quando o profissionalismo?
Será este ano, ainda não sei quando ao certo. A minha despedida de amador poderá ser no Europeu de Clubes em França, se Vilamoura ganhar o Campeonato Nacional, mas também poderá ser a seguir ao Campeonato do Mundo, ou antes ou depois do Portugal Masters. Depende muito do meu nível de jogo. Agora é focar-me nos próximos torneios e continuar com a boa forma.
Houve uma altura em que ponderavas ir para uma universidade nos EUA, o que aconteceu?
Claro que eu gostaria de ter ido, mas houve certas situações que não favoreceram a minha ida, logo, não quis estar com fantasias que não iam acontecer, exclui da minha ideia e disse que me ficaria aqui por Portugal, focando-me nos torneios internacionais. Tenho a sorte de fazer parte da selecção, e são tantos os torneios internacionais a que tenho acesso. Pelos vistos, está a resultar. Acho que quando uma pessoa está com as ideias fixas tudo corre bem, mas se está a sonhar e não focada em objectivos, as coisas não acontecem.
Quais foram as condições que não favoreceram a tua ida para os EUA?
Eu tinha de tratar do meu português, a tempo da minha entrada para universidade em Março – e não consegui. Só consegui acabar em Junho, logo só podia entrar no início de Janeiro deste ano. Eu disse que não valia a pena. Se fosse para os EUA, seriam mais quatro anos de golfe amador e a estudar. Não me apetecia ficar mais quatro anos parado, sem fazer o que eu realmente quero, que é jogar golfe. Acho que já tenho anos suficientes como amador, e sinto-me cada vez mais preparado para o profissionalismo, embora ainda com muito para aprender.
Na última volta do Internacional de Portugal com dinamarquês Sebastian Friedrichsen
Conta-nos como tudo começou para ti no golfe?
Foi por volta dos 12 anos. A minha mãe foi directora de arte em Vila Sol, logo, conhecia os professores de golfe de lá, e também o António Sobrinho [11 vezes campeão nacional de profissionais], de Vale do Lobo, onde ela fazia ioga. Eu comecei a fazer ioga há dois anos, com a mesma instrutora da minha mãe, a Sol Viegas, que conheço desde os quatro anos. O marido dela foi o meu único professor de ténis.
O António Sobrinho chegou a ser teu professor de golfe?
Tentou, mas eu só fazia asneira. Foi quem me aturou no início. Quem me introduziu no golfe.
Mas eras rebelde no golfe? Em que aspectos?
Nunca estava focado, nunca fazia o que ele me mandava, só espalhava bolas, em vez de me concentrar na técnica.
Então antes do golfe houve o ténis…
O meu pai era um desportista e introduziu-me a vários desportos. Além do ténis, o mais importante era o futebol – joguei nos benjamins do Almacilense. Mas com o golfe foi amor à primeira vista.
Lideraste do princípio ao fim no Internacional de Portugal, acabando por ganhar com três de vantagem sobre a concorrência. Como te sentiste na última volta?
Foi uma volta muito sólida, sabia que tinha de acertar muitos fairways e greens para dar oportunidade neste campo, que é um falso fácil. Mas sim, fiz muitos birdies, ‘patei’ bem. Tive um mau buraco no torneio, que foi o 14, onde fiz dois duplos bogeys, prometi a mim mesmo que ia vingar-me no último dia e, com efeito, fiz birdie, desforrei-me da forma certa e foi também por isso que ganhei o torneio.
No último dia do Internacional de Portugal, a caminho do green 18
Dedicaste a vitória aos teus avós, nomeadamente ao teu avô. Falavas dos avós maternos ou paternos?
Dos paternos. Nunca conheci os maternos, faleceram quando a minha mãe era mais nova. O meu avô é uma pessoa que sempre acreditou em mim, e eu só agora é que noto o trabalho essencial dos pais para com os filhos que jogam golfe, que é acordar cedo só para levar os seus próprios filhos. Enquanto eu não tive carta de condução, nos meus anos sub-18, foi o meu avô que fez esse trabalho, por isso lhe dediquei o troféu.
Dois dias depois da vitória no Internacional, já estavas a competir novamente, no Portugal Pro Golf Tour. Não sentiste necessidade de descomprimir ou de descansar?
Cada um tem a sua maneira de sentir depois dos torneios. Alguns precisam de beber uns copos, outros de festejar, eu gosto de manter a minha forma. De qualquer maneira, já me tinha comprometido que ia jogar esse torneio. Nem descansei. Ganhei o Internacional no sábado, e no domingo pelas oito horas da manhã já estava com o Joaquim Sequeira. Festejámos um pouco, falámos, mas estivemos a trabalhar até às 11h. De tarde fui jogar uns buracos. E no dia seguinte estava a competir… Depois acalmei um pouco, tendo em vista o Internacional de Espanha, com quatro ou cinco dias de treino menos intensivo.
Quem são os teus jogadores de referência, nacional e internacionalmente?
Não fui da época do António Sobrinho e de todos esses no seu pico, mas sempre olhei o Ricardo Santos como uma referência. Claro que estou extremamente feliz pelo Ricardo Melo Gouveia neste momento – tem uma grande organização, é por isso que está onde está. Pela minha pouca história no golfe foram aqueles que estiveram no topo, portanto são os dois por quem tenho maior respeito, e é claro que quero estar ao lado deles, a competir com eles. Internacionalmente não posso excluir o Tiger, mas quando eu comecei no golfe, em 2009 ou 2010, ele já não jogava assim tanto, por isso sempre favoreci mais aqueles que entusiasmam, como o Dustin Johnson.
Falas na organização de Ricardo Melo Gouveia. Curiosamente, o Treinador Nacional, Nelson Ribeiro, afirmou o seguinte sobre ti: “Está cada vez mais organizado e essa organização acaba por lhe dar um pouco mais de tranquilidade – e depois, quando está em campo, acaba por conseguir jogar um golfe mais descansado e mais concentrado”. É verdade?
Eu agradeci à Federação ao longo dos anos, ao Nuno Campino, ao David Moura, a todos os que fizeram parte da equipa técnica, porque eles é que têm viajado comigo. O Nelson tirou-me um pouco o medo de jogar golfe e acreditar em ganhar – e pronto, foi essencial a vinda dele, dá para ver os para os resultados que têm corrido bem.