Para o bicampeão europeu amador Ashley Chesters, o profissionalismo pode esperar
Aos 25 anos, o inglês Ahsley Chesters já tem um lugar garantido na história do golfe. Ele é o único amador com duas vitórias seguidas no Campeonato da Europa Individual. A primeira foi em 2013, a segunda em 2014. O título neste torneio dá entrada directa no British Open, major em que ele estará novamente presente em 2015, depois de em 2014 se ter estreado falhando o cut por apenas uma pancada no Royal Liverpool.
Natural de Wem, no concelho de Shropshire, entre Birmingham e Manchester, Chesters começou a jogar golfe com 6 anos de idade em Hawkstone Park, clube que ainda hoje representa e do qual os seus pais são capitães. Com 9 anos de idade já tinha registado dois hole-in-ones. Em 2003, com 13 anos, já era scratch de handicap – hoje é plus 4,8, o que significa que tem de dar cinco pancadas ao campo. Ainda antes de fazer 16 anos já fazia parte das selecções de Inglaterra e ano passado foi um dos três eleitos para a selecção do seu país que jogou no Campeonato do Mundo por Equipas no Japão. No ranking mundial ocupa presentemente a 21.ª posição.
Treinado pelo antigo profissional de tour Michael Welch, também este outrora um promissor amador de Shropshire, Chesters era a grande figura no 85.º Campeonato Internacional Amador de Portugal que decorreu na semana passada, pelo quinto ano seguido, no Montado Hotel & Golf Resort. Numa edição marcada pelo nevoeiro, que levou à redução da prova de 72 para 54 buracos, o inglês liderava aos 36 buracos com voltas de 70-66, mas fez 74 a fechar para acabar no 6.º lugar empatado. Em 2014 tinha sido 5.º. Aproveitando a sua estadia no Montado, GolfTattoo entrevistou-o.
Ashley liderava no Montado aos 36 buracos, mas no fecho caiu para 6.º / © FILIPE GUERRA
GolfTattoo – Desiludido com o 6.º lugar no Internacional de Portugal?
Ashley Chesters – Sim, um pouco. Não joguei lá muito bem no back nine da última volta. Correu bem nos 8 primeiros buracos, nessa altura seguia com duas pancadas abaixo do par, mas depois falhei um putt curto no 9 e depois os buracos 14 e 15 correram francamente mal: bati dois maus shots de saída. No 14 falhei à esquerda e fiz bogey, no 15 errei à direita e acabou com duplo bogey – e aí foi o fim de tudo. Também não meti putts o dia todo. Podia ter sido muito melhor. Acho que 74 é o meu pior resultado aqui no Montado, o que é aborrecedor.
Qual era o teu estado de espírito à entrada para a última volta depois de não teres jogado no dia anterior?
Não pensei muito nisso, para ser honesto. Cabia-me tentar fazer a melhor última volta possível para ter uma hipótese de vencer. Não aconteceu. É golfe, não é? Não consegui sequer superar a minha melhor marca no torneio, que foi o 5.º lugar [empatado] em 2014.
Que tal a sensação de seres o único golfista que venceu duas vezes o Campeonato Europeu Amador Individual?
É bom. Mas as pessoas esperam que jogues bem por causa disso, o que me traz alguma pressão adicional – mas não é o fim do mundo.
Que memórias tens dessas tuas duas vitórias?
A primeiro foi no El Prat, em Barcelona. Tinha um shot de vantagem sobre o meu parceiro de jogo e ambos fizemos birdie no último, no meu caso fazendo um up & down de perto do green. Na segunda vitória, no The Duke’s, em St. Andrews, acabei com duplo bogey (fiz quatro putts no 17) e bogey e mesmo assim ganhei com quatro de vantagem. Talvez o segundo título tenha sido mais especial, porque nunca ninguém tinha vencido duas vezes seguidas. Mas foram ambos gratificantes.
E o que nos podes dizer em relação à tua participação British Open de 2014, em que foste o melhor dos quatro amadores presentes falhando, no entanto, o cut por uma pancada…
É o sonho de qualquer jogador, a oportunidade de entrar num dos majors deste desporto que pratico há tanto tempo. E foi perto de minha casa, tive bastante apoio. Foi estranho, depois de ter assistido a várias edições como espectador, estar ali dentro das cordas, na condição de jogador. Não passei o cut mas joguei bem.
Já tens 25 anos. Quando pensas tornar-te jogador profissional de golfe?
Quando venci o Campeonato da Europa no ano passado, pensei em tornar-me profissional, mas as coisas não me correram bem na segunda fase da Escola de Qualificação do European Tour no Lumine Golf, em Tarragona – os 18 primeiros apuravam-se para a fase final e eu fiquei a sete shots da qualificação. Isso fez com que eu decidisse esperar pelo menos mais um ano.
Ficaste desmoralizado?
Se tivesse conseguido o cartão do Challenge Tour ou do European Tour através da Escola, provavelmente já teria seguido uma carreira como profissional. Mas não fiquei nada desmoralizado. Este ano tenho desafios importantes como amador, como o British Open no Old Course de St. Andrews e a Walker Cup [match de dois em dois anos entre as selecções amadoras da Grã-Bretanha-Irlanda e dos Estados Unidos]. Talvez depois da Walker Cup [agendada para 12 e 13 de Setembro no campo inglês de Royal Lytham & St. Annes] me torne finalmente profissional. Nunca joguei a Walker Cup e esse é um dos meus grandes objectivos para este ano.
Actualmente estás dedicado inteiramente ao golfe?
Trabalho com os meus pais, mas já não muito, apenas algumas horas por semana. É trabalho de escritório no negócio de família, na área de químicos para agricultura – pesticidas e assim.
O que sabes do golfe português?
Não muita coisa. Conheço um par de jogadores, embora não seja lá muito bom com nomes… O João Carlota derrotou-me o ano passado no St. Andrews Trophy. É um bom tipo. Joguei outras duas voltas com o Ricardo Melo Gouveia há uns anos no British Amateur, mas não o conheço bem, embora me pareça um excelente jogador. Foi ele que ganhou na prova da segunda fase da Escola em que participei no Lumine Golf. Não me esqueço porque ele deu nas vistas não só por ter vencido, como pelo excelente total agregado de pancadas que averbou, qualquer coisa como 20 abaixo do par ou assim, ao passo que eu só fiz duas abaixo. [N.R.: Na verdade, Melo Gouveia somou -18]