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Rostos no êxito do Algarve Pro Golf Tour
22/01/2015 15:11 Rodrigo Cordoeiro
Gary Harris e José Correia fotografados durante o 1.º Salgados Classic / © FILIPE GUERRA

José Correia e Gary Harris ambicionam transformar novo circuito num “satélite” europeu de eleição

Para o Algarve Pro Golf Tour, foi chegar, ver e vencer. Na primeira temporada, a de 2014-2015, são 15 torneios, 150 mil euros em prémios, dois “bilhetes” para o Open da Madeira e muitos jogadores a aderirem, incluindo jogadores do European Tour e do Challenge Tour. O português José Correia, presidente da PGA de Portugal, 39 anos, e o inglês Gary Harris, 38 anos, director do Jamega Pro Golf Tour, são os rostos por detrás do sucesso deste novo circuito, que ambiciona tornar-se um “satélite” dos principais tours europeus e veio mudar o panorama do golfe profissional em termos nacionais, permitindo que os jogadores portugueses passem a ter um calendário bem mais preenchido e que, com isso, ganhem mais ritmo competitivo e, se possível, mais dinheiro. Antigos amadores de elite e também jogadores profissionais de golfe, José Correia e Gary Harris encontraram-se pela primeira vez há mais de 20 anos, quando se defrontaram num match do British Boys Amateur Championship de 2003, no Glenbervie Golf Club. Agora estão novamente juntos neste projecto que está a superar as melhores expectativas. 

GolfTattoo – Em primeiro lugar gostaria, em nome do GolfTattoo, de dar os parabéns aos dois, pelo sucesso desta primeira temporada do Algarve Pro Golf Tour. Está a superar as expectativas?

Gary Harris– Quando lançámos o circuito, sabíamos que não podíamos esperar uma grande adesão nos dois swings de Novembro e Dezembro, mas estávamos cientes de que, chegando a Janeiro, Fevereiro e Março, os números iriam subir, como aconteceu. Os dois swings no final de 2014 tiveram uma média de 37 jogadores por torneio, e agora, em Janeiro, no primeiro swing de três torneios de 2015, temos quase duplicado esse número. Com o Challenge Tour a começar tão tarde, o Algarve Pro Golf Tour é uma óptima oportunidade para jogadores de todos os circuitos virem a Portugal – um país de bom clima – ganhar rodagem competitiva. E, ao longo de 15 torneios, temos cerca de 150 mil euros em prémios para distribuir, além de dois lugares para o Madeira Island Open. 

José Correia – De facto, a época no Challenge Tour começa tarde, só em Março.  Os jogadores perceberam que vir ao Algarve jogar golfe faz sentido, tendo em conta os campos que temos e as condições climáticas. Disto isto, devemos reconhecer que a adesão superou as nossas expectativas – mas isso só nos deixa agradados e com vontade de continuar. 

Dado o sucesso inicial do Algarve Pro Golf Tour, acham que este pode ser um circuito com maior dimensão do que pensavam? 

J.C. – Quisemos começar com as ideias bem assentes. Temos 15 torneios nesta época de 2014-2015, e pensamos que para 2015-2016 vamos aumentar para 18 torneios, juntando mais um swing ou mais uma série de três torneios aos que já existem. Queremos ir devagar, ter fields interessantes, ter prize-money para pagar aos jogadores e, quem sabe, daqui a três ou quatro anos, seremos reconhecidos ao nível de um circuito satélite europeu, capaz de atrair jogadores de todos os pontos do mundo. 

Gary, era importante que os portugueses soubessem o que é o Jamega Pro Golf Tour… 

G.H. – É um circuito estabelecido no Reino Unido já há 10 anos, depois de eu ter deixado de competir como jogador de golfe profissional no Asian Tour, na sequência de acidente de aviação que me apanhou as costas, impedindo que eu me mexesse da mesma forma. O Jamega Pro Golf Tour começa em Abril e engloba 27, 28 torneios até Outubro, com 19 pro-ams inter-ligados. Sem contar com os do Algarve Pro Golf Tour. Tem sido muito bem sucedido.

José Correia e Gary Harris entrevistados na Herdade do Salgados / © FILIPE GUERRA

Como começou a colaboração entre a PGA de Portugal e Jamega Pro Golf Tour? 

J.C. – Foi há cerca de três anos.O Gary trazia, através do Jamega Tour, um torneio para o Algarve, que costumava realizar-se em Março. Depois de várias conversas, decidimos lançar este circuito. Ele tem os contactos em Inglaterra, uma base de dados de jogadores que jogam no Jamega Pro Golf Tour; nós, através da PGA de Portugal, temos os contactos com os campos, com os hotéis, com toda estrutura organizativa e, claro, com as PGAs da Europa. 

Como esperam os próximos torneios do Algarve Pro Golf Tour em termos de adesão? 

G.H. – Aproximando-nos de Fevereiro e Março, só posso ver os números a subir. Esperamos que no próximo swing, em Fevereiro, atinjamos o objectivo de 50 jogadores, mas acho que em Março poderemos chegar aos 90 jogadores. 

J.C. – Quando o Gary diz 50 jogadores, quer dizer 50 profissionais. Porque, nos dois primeiros torneios do swing de 2015, tivemos fields de 69 jogadores, entre profissionais e amadores. No terceiro, que está a decorrer, são 59. O circuito também é aberto a amadores de alta competição, amadores de elite. É uma forma de eles começarem a ganhar experiência. Um dia, mais tarde, quando passarem a profissionais, poderão continuar a competir no Algarve Pro Golf Tour, como preparação para a época. 

Se o field é de 69 jogadores e apenas 50 são profissionais, quer dizer que há quase 20 amadores. Tantos amadores aqui como? E nos dois primeiros torneios deste ano, só um é que era português: João Magalhães, no 1.º Salgados Classic, a semana passada. 

G.H – O Tournament Golf College (TGC), pediu-nos vagas para os seus jogadores. Eram 48, pelo que foram divididos pelos três torneios do primeiro swing do ano: 18 no primeiro, 18 no segundo e 12 no terceiro. O TGC é uma facilidade de golfe em Inglaterra, um programa de desenvolvimento na área do golfe. Alguns dos seus alunos vêm ao Algarve fazer o training camp no Amendoeira Resort. O TGC dá aliás o nome a um dos torneios adicionais que criámos para este ano, o TGC Open, a realizar nos primeiros dias de Fevereiro no O’Connor Course, antes do início do 4.º swing do Algarve Pro Golf Tour 2014-2015. Será em 54 buracos, e com cut, mas não é pontuável para a ordem de mérito do circuito. Gostamos de apoiar os amadores, eles são o futuro, e esperamos que, quando se tornarem profissionais, venham novamente competir no Algarve Pro Golf Tour. 

J.C. – Há muitos amadores que não querem passar a profissionais mas que gostam de ter a experiência de competir com os melhores. E quando eu digo competir não é só estar com os melhores, é jogar num campo cujo set up é feito de maneira diferente, é sentir toda uma envolvência e toda uma atmosfera diferentes, é poder perceber as capacidades e as limitações dos profissionais. Para alguns amadores, isto pode ser importante. No que diz respeito aos amadores portugueses no Algarve Pro Golf Tour, temos tido o João Ramos, que julgo ter jogado os seis torneios do ano passado. No 1.º Salgados Classic tivemos, como já disseste, o João Magalhães; no Morgado Classic não tivemos nenhum. E agora, no 2.º Salgados Classic, estão em prova o João Ramos, o Paulo Pingo e o Rogério Brandão. As portas estão abertas.

José Correia, presidente da PGA de Portugal / © FILIPE GUERRA 

A realidade é esta: vocês os dois trouxeram a Portugal, mais concretamente ao Algarve, um novo circuito de golfe de profissionais. O Algarve Pro Golf Tour têm alguns apoios ou marcas patrocinadoras? 

J.C. – Não. Neste momento o Algarve Pro Golf Tour não tem qualquer tipo de apoio financeiro. É um circuito relativamente novo, e é importante que, primeiro, se faça alguma coisa, que as pessoas vejam que se trata de um circuito credível. Acreditamos que através desse trabalho vamos conseguir esses apoios. Tanto apoios financeiros privados como apoios de instituições. Acho que para o Turismo do Algarve seria uma excelente oportunidade o apoio a este circuito, cujo próprio naming tem o nome do Algarve. Trazemos aqui, entre Novembro e Março, muitos jogadores, que por sua vez trazem receitas directas para hotéis, restaurantes, rent-a-cars, campos, etc. Iremos fazer um esforço novamente para abordar o Turismo do Algarve e esperar que este nos possa apoiar de alguma forma, que veja o Algarve Pro Golf Tour como um meio de promoção desta região fantática que temos. 

Quando dizes “novamente”, queres dizer que já houve uma primeira abordagem ao Turismo do Algarve? 

J.C. – Sim, houve uma primeira abordagem, mas existem as dificuldades que todos nós sabemos que este país tem. Fomos muito bem recebidos pelo Turismo do Algarve, contudo, a disponibilidade financeira, na altura em que nos reunimos, inviabilizou qualquer apoio. Agora, acreditamos que no futuro possa ser possível o Turismo do Algarve dar algum apoio, nem que seja institucional. Para nós era importante ter o Turismo do Algarve como nosso parceiro. 

Qual a importância deste circuito para o golfe português? 

J.C. – O Algarve Pro Golf  Tour era algo que fazia muita falta a Portugal, ou, melhor, aos nossos jogadores. Eles ficam com um custo muito menor de viagens e podem ganhar prémios monetários e preparar-se devidamente para os torneios mais importantes. É um circuito que vem de certa forma ocupar um espaço que estava em aberto. Em Dezembro, Janeiro, Fevereiro não havia competição para os nossos jogadores. É por isso que temos tido aqui o Ricardo Santos, Ricardo Melo Gouveia, Hugo Santos, Pedro Figueiredo, Gonçalo Pinto, enfim, todos os nossos melhores jogadores. A presença deles nos nossos torneios diz tudo sobre a falta que este circuito fazia ao nosso país. 

É um cenário que muda completamente o cenário do golfe em Portugal, porque, dantes, os portugueses apresentavam-se no Open da Madeira, em Março, sem rodagem nenhuma. 

J.C. – Exactamente. Agora, de Janeiro até ao Open da Madeira, podem jogar 10 torneios. Quando chegarem ao Open da Madeira já vão completamente rodados e muito mais bem preparados. Havia necessidade de dar aos nossos jogadores essa competição, e eu fui várias vezes confrontado com essa questão, mas as pessoas têm de compreender que as coisas demoram tempo a fazer. Consolidar a PGA de Portugal levou tempo a acontecer.

Gary Harris, fundador e director do Jamega Pro Golf Tour / © FILIPE GUERRA

Como conseguem ter um prize-money de 10 mil euros por torneio? 

G.H. – Cada inscrição custa 250 euros, ou 220 libras, pelo que precisamos de 50 profissionais em cada torneio para assegurar esse prize-money

J.C. – Acima de tudo, o Algarve Pro Golf Tour é um circuito autónomo, ainda que em associação com a PGA de Portugal e o Jamega Pro Golf Tour. O nosso objectivo não é fazer dinheiro, é sermos bem sucedidos e depois, então sim, talvez fazer algum dinheiro. Com 10 mil euros em cada torneio, basicamente deixamos todo o dinheiro no prize-money. Mas, se no final do dia não perdermos dinheiro, ficamos contentes. Sabemos que, se trabalharmos bem, os jogadores virão e então algum dinheiro restará para a organização. 

Esta pergunta é para Gary: no Reino Unido há potencial para comercializar o Algarve Pro Golf Tour? 

G.H. – Acho que sim. Assim que acabarmos a presente época, em Março, e lançarmos o novo calendário para 2015-2016, iremos promover o Algarve Pro Golf Tour em todo o Reino Unido durante o Verão, na tentativa de garantir patrocinadores que nos ajudem com o prize-money

Tiveram vários jogadores bem conhecidos nos dois swings do ano passado, como Jarmo Sandelin (vencedor do Open da Madeira em 1996) e Vanslow Philips (vencedor do Open de Portugal de 2001). Agora, em 2015, têm nomes como os dos portugueses Ricardo Santos, Ricardo Melo Gouveia, Daniel Gaunt e James Heath e até Scott Drummond, que em 2004 venceu o BMW PGA Championship. Qual a importância destes nomes e de outros no desenvolvimento do circuito? 

G.H. – Acho que é muito importante, para o crescimento do circuito, atrair estes jogadores do Challenge Tour e ex-jogadores do European Tour. Mostra que o nível dos jogadores a vir ao Algarve Pro Golf Tour são de grande qualidade. 

J.C. Queremos fazer as coisas com pés e cabeça, com calma. Não podemos fazer depressa, temos de fazer bem. Temos aqui jogadores como o Daniel Gaunt, o Ricardo Santos, o Ricardo Melo Gouveia, o James Heath, jogadores que só valorizam o nosso circuito e que, por outro lado, mostram que o Algarve Pro Golf Tour já é reconhecido. Agora temos de crescer com calma, queremos aumentar o número de torneios, aumentar o prize-money, mas acima de tudo que eles tenham oportunidade para competir e para se prepararem para o resto da época. 

Têm tido boa receptividade por parte dos campos por onde o circuito passa? 

J.C. – Mais de uns do que de outros. A abordagem é feita da mesma forma, mas há campos que têm mais disponibilidade do que outros. O Algarve Por Golf Tour paga os campos. Só não pagou em dois: em Espiche, que nos quis receber, que percebeu a importância do circuito para ter visibilidade; e o Onyria Palmares, onde o ano passado realizámos três torneios, e que nos ofereceu um torneio. Era importante que o Algarve Pro Golf Tour tivesse um pouco mais de apoio dos campos. Já nos apoiam, mas precisamos de mais, porque este não é um circuito para dar dinheiro, é para dar oportunidades, e se todos nós dermos um pouco, penso que terá muito mais sucesso e mais rapidamente. Claro, também percebo que isto é um negócio. Nós queremos pagar, queremos dar visibilidade, queremos trazer jogadores para os campos e para os restaurantes. Uma coisa é certa: temos de sentir que somos bem-vindos, caso contrário, vamos para outros. 

Como é que gostariam de ver o Algarve Pro Golf Tour dentro de 2, 3 anos? 

G.H. – Esperamos crescimento todos os anos, mas acho que 18 torneios por época seria o número certo. Obviamente, ter patrocinadores é muito importante, para podermos elevar os prize-moneys para outro patamar.