No Guincho, a vice-campeã nacional Sofia Câmara e João Ramos dão-se a conhecer
Sofia, 21 anos, 1,8 de handicap, vice-campeã nacional amadora absoluta em 2014, venceu a Taça da Federação Portuguesa de Golfe em 2012 e o Campeonato Nacional de Clubes pela Quinta do Peru em 2013, além de outros êxitos. É neta do histórico profissional de golfe português António Dantas e filha de uma das quatro únicas profissionais do país, Cláudia. Cláudia que, por sua vez, é irmã de Isabel, mulher do presidente da PGA Portugal, José Correia. Filha de peixes… Ocupa a terceira posição no Ranking Nacional BPI da Federação, só atrás da bicampeã nacional absoluta Susana Mendes Ribeiro e de Rita Félix, campeã nacional em 2012. Quanto a João Ramos, 20 anos, plus 0,5 de handicap, é um jogador em ascensão na cena nacional, ocupando actualmente a 5ª posição no Ranking Nacional BPI, já com uma vitória no Circuito Liberty Seguros e o 9º lugar no Campeonato Nacional Amador Absoluto Peugeot 2014. Na passada quarta-feira, jogou a primeira volta do Campeonato Nacional PGA com Ricardo Santos, marcando 70 contra o 68 da grande estrela actual do golfe português. Dedicado inteiramente ao golfe, o mais provável é que venhamos a ouvir falar mais vezes dele. E por que não também de Sofia? Esta sessão de fotografias foi feita na praia da Guincho, em Cascais.
Sofia e João gostam muito um do outro, mas no golfe gostam de se provocar /© FILIPE GUERRA
Sofia, és a vice-campeã nacional amadora absoluta; João, és o actual 5º no Ranking Nacional BPI da Federação. Presumo que vocês se tenham conhecido através do golfe…
João – Sim, foi em Espinho, no Oporto, há dois anos, no Campeonato Nacional de Pares – a Sofia estava a jogar com a Rita Félix. E por acaso havia uma greve de transportes e era feriado, e a Sofia na altura não tinha carta e não tinha ninguém com quem voltar para Lisboa. Então a Rita [Félix] veio falar comigo a pedir boleia para a Sofia.
Sofia – A partir daí, como era Verão, começámos a encontrar-nos várias vezes em Oitavos, a treinar juntos, a ir para a piscina e para praia.
A Sofia é da Quinta do Peru e o João de Oitavos Dunes, mas vocês costumam treinar e jogar juntos com frequência?
João - Só jogamos, porque no que diz respeito ao treino a Sofia senta-se no driving range e fica a ver… A Sofia gosta muito de ser treinadora de bancada [risos].
Sofia – Ele treina muito mais
Como são as vossas partidas?
João - Acabam sempre mal, geralmente. Porque a Sofia zanga-se sempre comigo…
Sofia – Eu não gosto de perder, nem a feijões, e o João está sempre a picar-me. Ele sabe o que há-de fazer para eu perder e acabamos sempre por nos zangarmos.
João – Eu também não gosto de perder.
Como é que começaram no golfe?
João - Ninguém na minha família jogava. O meu pai estava em viagem, na China, e eu estava sem nada para fazer. Por acaso fui à caixa do correio e lá estava um panfleto dos Oitavos, para aulas de juniores. Experimentei achei engraçado e foi assim… A primeira aula foi com o Philip A’Court. Tinha eu 15 anos. Tenho 20, pelo que foi há cinco anos. Moro perto da Quinta da Marinha. Nasci em Cascais.
Sofia – Eu comecei quando comecei a andar. Era quase impossível não jogar golfe na minha família. Comecei aos 5, 6 anos, mas até aos 10 ia só de vez em quando.
Quais são os vossos objectivos no golfe?
Sofia – Jogar todos os torneios possíveis, continuar no top 3 das amadoras em Portugal.
João – Jogar o máximo de torneios possíveis para ganhar experiência e daqui a talvez dois, três anos virar profissional.
Juntos há mais de dois anos, a cumplicidade é evidente entre ambos / © FILIPE GUERRA
Como vês o João como golfista?
Sofia - Não é por ser meu namorado, mas admiro-o muito e acho que, de todos os jogadores portugueses, ele é o que trabalha mais. Pelo menos não conheço mais ninguém, a não ser o Pedro Figueiredo, que treine tanto como ele. E além de treinar treina com qualidade e é super-empenhado. Quando mete uma coisa na cabeça tem de a conseguir fazer e é muito determinado. Acho que isso o vai fazer chegar longe.
És metódico no treino, João?
João - Não. Treino por diversão. Não é uma obrigação. Faço porque gosto. Crio objectivos para mim próprio e enquanto não os conseguir fazer fico ali. Por exemplo no jogo curto passo muito tempo à volta do green, bolas enterradas, bolas do mato, bola a saírem mais para cima ou mais para baixo, de mais perto ou de mais longe.
Sofia, qual é ponto mais forte do João?
Sofia – O putting. Não quando o conheci, agora. Ele bate longe mas chegava ao green e eram 3 putts. Bate na bola como ninguém.
Como vês a Sofia como golfista?
João – Não gosta de perder e empenha-se. Se falha um shot fica chateada e depois fala mal comigo. Gosto de a ver assim. Tem garra.
O ano passado vocês formaram equipa para jogar o Campeonato Nacional de Pares Mistos no Lisbon Sports Club….
João – Já jogámos dois campeonatos nacionais mistos, na verdade. O ano passado fomos arrasados pela Susana [Mendes Ribeiro] e o Gonçalo [Costa]. Foi giro. Não sofri muito porque da vez anterior já lhe tinha dito que se ela começasse a levar as coisas muito a sério ficaria a jogar sozinha. Ela tem de relaxar mais, levar o golfe mais numa de diversão. Isto não é para nos chatearmos.
Quem são as vossas referências?
João – Gosto do Bubba Watson, porque é mágico, consegue fazer tudo da bola. Gosto da maneira dele jogar. Falo, por exemplo, daquele pitch de 90º no Masters que ele ganhou em 2012, no play-off frente ao Louis Oosthuizen. Em Portugal, escolheria o Tiago Cruz, gosto da maneira como ele me transmite as coisas, e depois é um relógio, não falha, está sempre na pista.
Sofia – Gostava da Annika Sorenstam antes de ela se retirar, a Suzanne Petterson também tem muita garra, não gosta de perder, gosto de a ver jogar, acho que mantém uma postura no campo… Qualquer jogadora olha para ela e fica assim mais nervosa, e eu gosto de jogadoras que marcam a sua postura. Não gosto muito do jogo das chinesas e coreanas, mas pronto, elas ganham.
Vocês já têm experiências em torneios profissionais. Contem-nos como tem sido.
Sofia - Não tem nada a ver com os torneios cá em Portugal. Não tanto pelo nível, algumas amadoras jogam melhor, mais pelo ambiente entre as profissionais, mais amigável, falam-se, conhecem-se todas, esforçam-se por se dar bem. A nível amador não se vê tanto isso.
João – É bom, gosto de estar no mesmo ambiente dos profissionais, ver o nível a que estão e saber que é possivel lá chegar.