Um desporto para a vida necessita de regras específicas na formação de jovens atletas
Como fisiologista das seleções nacionais de golfe, tenho tido o privilégio de observar e avaliar jovens golfistas de todas as idades e de todas as zonas do continente e ilhas, ao longo de alguns anos.
Neste momento, tenho a capacidade de caracterizar fisicamente o jovem golfista português, quais as grandes lacunas, as maiores limitações e prever as possíveis lesões – aspetos a desenvolver em crónicas futuras. Não porque tenho algum dom, mas porque todos estes aspetos do desenvolvimento atlético dos jovens já são estudados há muito tempo e fazem parte da formação de qualquer profissional licenciado em Ciências do Desporto. De fato, a criação de equipas multidisciplinares são fundamentais, tem muitas vantagens, mas vão trazendo alguns receios aqueles que não se vão preocupando com a sua formação técnica de base e posteriormente o seu desenvolvimento contínuo. Neste momento do conhecimento, vamos assistindo, ainda, a profissionais a tentar dominar todas as áreas. Áreas tão específicas como a condição física, a psicologia e às vezes até a fisioterapia!!
Infelizmente, falo por experiência própria, neste meu percurso ao mais alto nível do golfe nacional. Neste sentido, desafio-o a si, caro leitor, a um exercício básico; o percurso de um profissional em condição física tem uma formação base média de 5 anos de licenciatura – onde estuda áreas como a anatomia, fisiologia do esforço, desenvolvimento motor e atlético, metodologia do treino, entre outras – e continua pela sua formação pós graduada em mestrados e doutoramentos, e se quiserem fazer uma especialização em golfe, fazem diversas certificações profissionais em Fitness para Golfe, desenvolvidas pelas organizações mais credíveis no mundo do golfe e que também certifica os profissionais que acompanham os melhores jogadores do Tour. Tendo isto em conta, conseguimos perceber que a fasquia tem que subir muito para todos os outros elementos que fazem parte dessa mesma equipa multidisciplinar e ainda mais para quem a lidera.
Tendo isto em conta, conseguimos perceber que a fasquia tem que subir muito para todos os outros elementos que fazem parte dessa mesma equipa multidisciplinar e ainda mais para quem a lidera.
Resultado final:
Tudo isto leva-me ao tema desta crónica a especialização precoce dos jovens golfistas, que na minha opinião só tem acontecido e continuará a acontecer por falta de formação dos profissionais que lideram as equipas multidisciplinares e os processos de treino dos mesmas.
Se existem alguns desportos que necessitam esta especialização precoce para atingir um nível de elite, como a ginástica ou a natação, este não é o caso do golfe. O golfe é um desporto para a vida e necessita de um conjunto de regras específicas quando falamos da formação de jovens atletas.
Afinal quais são as consequências potenciais desta especialização precoce no golfe?
Além destas potenciais consequências, sabemos, também, que a criação de atalhos na formação desportiva do jovem atleta leva a um conjunto de praticas menos conseguidas, com consequências, objetivas e limitantes, como mostro no quadro seguinte:
ATALHOS | CONSEQUÊNCIAS |
Golfistas “over-compete” e “under-train” | Maus hábitos desenvolvidos por muita competição, onde o único objectivo é ganhar |
Calendários competitivos e programas de treino para adultos, impostos a atletas em desenvolvimento | Skills subdesenvolvidos devido a programas de treino inapropriados |
Desenvolvimento cronológico em vez do biológico é usado no planeamento do treino e das competições | Programas remediados, para acompanhar os atalhos da preparação dos atletas |
A maioria dos profissionais negligencia os períodos críticos de adaptação acelerada ao treino | O potencial atlético não é atingido |
Os pais não são educados no desenvolvimento atlético a longo prazo | Os jogadores são “puxados” em diferentes direcções, sentem-se perdidos |
Na maioria das vezes o calendário competitivo interfere com o desenvolvimento do atleta | Deficientes habilidades motoras base, comprometem o desenvolvimento a longo prazo – especialização precoce. |
E nós como pais estamos a alimentar esta especialização precoce? Sim estamos!
Mas existem um conjunto de fatores que nos fazem seguir esse caminho.
Neste momento o golfe nacional já tem alguns bons exemplos, assim como menos bons exemplos. O que nos ajuda a entender como esta é uma problemática a ter em conta.
Na minha opinião, penso que o melhor conselho é que devemos procurar:
Sempre acreditando no principio, de que a formação, dá mais habilitações para poderem desenvolver um trabalho de melhor qualidade. Para isso basta, pedir as habilitações profissionais dos responsáveis pelas aulas, que devem ser públicas e que para a manutenção da cédula de treinador é, legalmente, atualizada periodicamente, no organismo da tutela.
Saudações desportivas.
________________________________
Fisiologista do Exercício
Certificado pela Nike golfe como Golf Performance Specialist
Certificado pelo Titleist Performance Institute como Certified Golfe Fitnes Instructor e Junior Coach
Certificado pela National Strength & Conditioning Association como Especialista em Treino da Força
Professor Universitário na Faculdade de Motricidade Humana durante 13 anos