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British Open 2015: sonhos, ausências e memórias
15/07/2015 15:16 Hugo Ribeiro
Spieth hoje a assinar autógrafos no 3, durante volta de treino no Old Course / © GETTY IMAGES

Arranca já amanhã no Old Course de St. Andrews, com Jordan Spieth a centrar atenções

O norte-americano Tiger Woods (2000 e 2005) e o sul-africano Louis Oosthuizen (2010), os campeões das últimas três edições do The Open Championship realizadas no Old Course de St. Andrews, vão sair juntos para o 144º British Open, que arranca já na quinta-feira, no mais famoso campo de golfe do Mundo, na Escócia. Este grupo, que sai às 9h55, inclui ainda Jason Day, um australiano que tem conseguido top-ten’s em todos os majors… menos neste! 

Pela primeira vez desde que em 1995 se estreou em St. Andrews, Tiger Woods não será a principal figura, embora continue, como de costume, a ser o mais mediático golfista do planeta. Nos últimos anos, Rory McIlroy pegou no seu testemunho mas também não será o norte-irlandês a impor-se no Domingo na “Casa do Golfe”, na Escócia, ele que é ainda o campeão em título. 

Simplesmente, o n.º1 mundial lesionou-se no tornozelo esquerdo a jogar futebol com os amigos, duas semanas antes do terceiro major do ano e arrisca-se agora a ver Jordan Spieth a ultrapassá-lo no ranking mundial. 

Spieth vai sair às 9h33, tendo como parceiros de grupo o seu compatriota Dustin Johnson (4.º no ranking) e o japonês Hideki Matsuyama (14.º), outros dois candidatos ao título. 

É este Jordan Spieth quem está a cativar mais os fãs e os media nos dias anteriores ao British Open, pelo feito histórico que persegue e pela opção polémica de jogar no PGA Tour na semana anterior, em vez de aproveitar o Open da Escócia do European Tour para treinar em campos de características links, como fez o seu compatriota Rickie Fowler (5º do ranking), campeão no Domingo em Gullane. 

“Não me interessa nada disso – comentou Spieth, referindo-se aos críticos – “porque vim aqui com uma razão, alcancei esse objetivo e mantive-me numa boa ‘onda’ para a próxima semana”, disse o norte-americano de 21 anos, ao colecionar há dois dias o seu quarto título do ano, no John Deere Classic. 

Foram os pontos desse triunfo no TPC Deere Run, no Estado do Illinois, que lhe permitiram aproximar-se no ranking mundial de Rory McIlroy e ficar a saber que um triunfo no Domingo em St. Andrews significará automaticamente ascender pela primeira vez na sua carreira ao posto de nº1 mundial. 

Aos argumentos de que tem competido demasiado e de que poderá chegar cansado à Escócia, Spieth replicou: “Tenho ainda muito combustível no tanque. Nas duas semanas anteriores ao Masters também fui 2.º classificado e perdi num play-off, poderia ter ficado sem energia, mas recuperei rapidamente.” 

O principal obstáculo do texano talvez não seja físico, mas mental, dada a pressão a que será submetido na sua demanda por um feito notável que seria apoderar-se dos três primeiros títulos do Grand Slam numa mesma temporada, depois dos êxitos averbados no Masters e no US Open. 

Desde Ben Hogan em… 1953 que isto não é conseguido, nem mesmo por Tiger Woods, que a dada altura fez o famoso Tiger Slam, ou seja, deteve em simultâneo os quatro majors, mas no conjunto de duas épocas. 

Tiger Woods no Old Course: o mais mediático golfista do planeta / © GETTY IMAGES

Talvez pela frieza demonstrada por Spieth em Augusta e Chambers Bay, Tiger Woods acredita que o seu jovem compatriota – que ele tem acarinhado publicamente em várias ocasiões – irá lidar bem com essa pressão. Na opinião do vencedor de 14 Majors, o principal escolho no caminho triunfal de Spieth poderá ser o seu desconhecimento quase total das condições de jogo com que irá deparar. 

«Será mais uma questão de compreender como é que se joga neste campo perante as variações do vento. É preciso bater shots diferentes, trabalhar a bola de forma completamente distinta de um dia para o outro no mesmo buraco. É por isso que é uma ajuda testar o campo de golfe com ventos diferentes. É também necessário ‘patar’ muito bem à distância porque um bom shot fica às vezes a 18 metros, até mesmo a 25 metros, porque não é possível colocar a bola mais perto. Quando o vento sopra muito forte, ser capaz de meter esses putts é uma das chaves aqui”. 

A tese do ‘Tigre’ é ainda mais pertinente quando nos deparamos com a pouca experiência de Spieth no Old Course. Lembra-se de ter jogado ali em 2011 numa volta de treino, antes da Walker Cup que nesse ano decorreu em Royal Aberdeen. Fora disso, jogou no santuário do golfe mundial… num simulador! Esta semana, os ventos demoníacos poderão assolá-lo mais do que pensa. 

Os demónios de Tiger Woods são outros. Desde 2008 que não vence um Major mas o agora 241.º golfista mundial, que esteve mais de uma semana a treinar no Old Course, acredita que poderá ter uma palavra a dizer e continua a não colocar de fora a hipótese de um 15.º título do Grand Slam e de atingir o recorde mundial (18) de Jack Nicklaus. 

“Joguei bem no Greenbrier e foi o melhor que bati na bola nos últimos dois anos. Ainda sou jovem, nem tenho 40 anos. Alguns de vós (jornalistas) pensam que estou enterrado mas ainda estou bem aqui à vossa frente. Adoro jogar, adoro competir e adoro jogar nestes eventos”, declarou. 

“Estou muito entusiasmado por regressar à Casa do Golfe – acrescentou – e desde a primeira hora que adorei este campo. Há algo de especial nele. Este ano está um pouco diferente dos anteriores Opens que aqui joguei. Está mais mole e ficará ainda menos firme com a chuva prevista para sexta-feira”. 

Tiger não é o único a ter boas memórias razoavelmente recentes de St. Andrews e se a experiência é importante, Louis Oosthuizen tem todos os motivos para se sentir capaz de repetir 2010. “É ótimo estar de novo aqui. A memória mais viva que tive aconteceu na passada segunda-feira, quando andei no fairway do 18, olhei para as bancadas e lembrei-me da mesma caminhada naquela tarde de domingo de 2010”, comentou o sul-africano, 17.º do ranking mundial.

Louis Oosthuizen hoje em conferência de imprensa / © GETTY IMAGES

Há cinco anos, Oosthuizen liderou o torneio nos últimos 48 buracos e esmagou a concorrência, vencendo por 7 pancadas! E o recente 2.º lugar no US Open, num campo com muitos detalhes de links, reforçou essa crença. 

“Tenho a confiança de saber o que fiz e do que sei fazer neste campo”, garantiu, colocando ainda o acento tónico noutra característica dos campos links – a necessidade de ser paciente: “Se não estivermos afinados no drive, vamos parar a alguns bunkers, iremos cometer erros e sofrer bogeys”. O feito de 2000 de Tiger Woods, que ganhou sem ter ido parar uma única vez a um bunker, não é para todos. 

Como de costume, há imensos candidatos ao título. Pelas mais variadas razões – desde a sapiência do jogo em links, ao bom estado de forma que atravessam – nomearemos Dustin Johnson, Adam Scott, Sergio Garcia, Rickie Fowler, Brandt Snedecker, Hideki Matsuyama e Francesco Molinari. Poderíamos eleger muitos outros, mas é impossível falar de todos. 

Surpresa, surpresa seria a vitória de um membro do Asian Tour. Se é certo que no Domingo passado Chun in-gee, ao vencer no US Open feminino, se tornou na décima sul-coreana a triunfar num Major nos últimos 17 torneios do Grand Slam, já no circuito masculino a história é bem diferente. 

E no The Open Championship os asiáticos continuam a lembrar-se e a idolatrar o 2.º lugar do jogador da Formosa Lu Liang-huan, em 1971, no ano em que Lee Trevino ganhou em Royal Birkdale. 

O Old Course recebe o British Open pela 29ª vez e será impossível não recordar a imagem icónica de Seve Ballesteros, ao conquistar o seu segundo título em 1984. 

Aquela celebração de garra, de força, transformou-se depois no seu próprio logótipo e 2015 marca o primeiro regresso do The Open Championship a St. Andrews desde o falecimento do genial espanhol em 2011. A memória de Seve estará em muitos dos 156 participantes e todos eles sonham em elevar o Claret Jug no Domingo.