Nº1 do golfe português Ricardo Santos fala sobre a perda do cartão do European Tour
Ricardo Santos foi ontem eliminado do ISPS Handa Perth International, na Austrália e apesar de confessar-se profundamente “triste”, tem o discernimento de continuar a ver “uma luz” ao fundo do túnel. Ainda é possível vê-lo a tempo inteiro no European Tour em 2015 ou, na pior das hipóteses, em tempo parcial.
Numa entrevista que o jornalista britânico Nick Dye solicitou hoje ao português de 32 anos, para ser divulgada aos media nacionais pelo Press Office da PGA de Portugal e da FPG, Ricardo Santos admitiu o “desânimo” de “vir de tão longe [de Portugal para Hong Kong e depois Austrália] para tentar o cartão [para 2015] e nem sequer conseguir passar um cut”.
Quinta-feira, no primeiro dia em Perth, ainda estava bem posicionado, no 38º lugar empatado, com 70 pancadas, 2 abaixo do par do Lake Karrinyup Country Club, mas adivinhava-se uma segunda volta de nervos e foi o que veio a acontecer na sexta-feira. Saiu do buraco 10, o primeiro bogey veio logo no 11, outros caíram no 15, 16 e 18, houve uma tímida reacção com o birdie do 4, mas encerrou com bogey no 8 e duplo bogey no 9.
“Sinto-me a bater bem na bola e a jogar bom golfe, mas o ânimo não está como deveria e isso fez-me cometer alguns erros e a não conseguir fazer resultados. Na primeira volta fiz 2 abaixo do par mas foi um -2 muito mau pelo que joguei. Deveria ter feito -6 ou -7 facilmente. Voltas como essa têm um desgaste mental brutal e na segunda volta, num dia decisivo, muito mais complicado, com as coisas a começarem mal, foi difícil dar a volta. Na segunda volta, depois dos primeiros 9, ainda tentei lutar ao máximo nos segundos 9 mas no 7 não consegui o birdie ou o eagle que desejava e depois foi só mesmo terminar porque a cabeça estava totalmente esgotada, pelo desânimo enorme de estar a jogar bem e simplesmente não conseguir fazer resultados”, lamentou-se.
É impressionante como o campeão do Madeira Islands Open BPI e Sir Henry Cotton Rookie of the Year de 2012 abriu o seu coração e denotou a lucidez de perceber perfeitamente o que se tem passado nos cuts falhados sucessivamente no Alfred Dunhill Links Championship (Escócia), Portugal Masters (Vilamoura), Open de Hong Kong (China) e agora no ISPS Handa Perth International (Austrália).
A segunda volta na Austrália, em 78 pancadas, 6 acima do Par, levou-o a tombar de 38º para 111º empatado, com um agregado de 148 (+4), a 5 do cut, portanto, mesmo muito longe do objetivo primário que seria jogar no fim-de-semana neste torneio de 1,2 milhões de euros em prémios monetários.
O campeão nacional de 2011 e atual vice-campeão nacional ocupa o 114º posto na Corrida para o Dubai, o European Tour estimou hoje que poderá cair no domingo para o 119º lugar, portanto, fora do top-110 que automaticamente permanece no European Tour a tempo inteiro na próxima época.
A experiência que Ricardo Santos começa a ter no European Tour após três épocas consecutivas leva-o, contudo, a não baixar a cabeça. Afinal, os jogadores que estão na sua posição podem ainda regressar à primeira divisão do golfe profissional europeu se lograrem ficar entre os 25 primeiros e empatados na Final da Escola de Qualificação marcada para o PGA Catalunya Resort, em Espanha, de 15 a 20 de Novembro.
“A única hipótese é a Escola de Qualificação. Tenho de tentar ao máximo esquecer isto e preparar-me para ela. Tenho de continuar a treinar e a lutar porque ainda há uma luz, ainda há uma oportunidade para estar no European Tour em 2015”, reconhece.
Paradoxal é Ricardo Santos atravessar este período conturbado numa época em que não jogou mal, em que passou 17 cuts, mais um do que em 2013. Qual a diferença? Os 5 top-ten da época transata, para apenas um em 2014. O seu prémio mais elevado este ano foi de 24.463 euros no Open do País de Gales. Em 2013 teve sete torneios com prémios superiores a esse, com o topo a ser atingido no Abu Dhabi (101 mil euros)!
Nos últimos três anos no European Tour, Ricardo Santos recebeu em prémios monetários oficiais mais de 900 mil euros. Claro que os impostos e as despesas avultadas da carreira de desportista profissional levam uma enorme fatia desse bolo, mas há que reconhecer que o dinheiro não deverá ser a sua prioridade em 2015 e poderá concentrar-se totalmente na carreira. É uma pressão a menos se pensarmos, por exemplo, que há dois anos Filipe Lima esteve muito perto de suspender a carreira por falta de fundos.
Por outro lado, no pior dos cenários, não é automático que tenha de descer ao Challenge Tour (segunda divisão europeia) em 2015. Se a previsão do European Tour se mantiver e Ricardo Santos fechar a época entre os 120 primeiros da Corrida para o Dubai, terá entre 15 a 20 torneios no próximo ano em que poderá participar. Ora o algarvio já mostrou que periodicamente consegue ficar no top-10 e terminar um torneio entre os dez primeiros dá logo um convite para o evento seguinte. Isto significa que, mesmo em caso de falhanço na Final da Escola, a opção não será unicamente o Challenge Tour. Haverá outras saídas.