Golfista que quebrou a barreira da cor da pele no PGA Tour faleceu terça-feira em Cleveland
Charlie Sifford, o primeiro afro-americano a jogar no PGA Tour, faleceu ontem em Clevelend, Ohio, com 92 anos, vítima de ataque cardíaco enquanto se debatia com uma infecção no coração. A 24 de Novembro, recebera das mãos do presidente dos EUA, Barack Obama, a mais alta condecoração civil dos Estados Unidos da América, a Medalha Presidencial da Liberdade – foi apenas o terceiro golfista a receber tal honra, depois de Jack Nicklaus e Arnold Palmer.
Nascido em Charlotte, na Carolina do Norte, em 1922, Sifford foi caddie desde os 13 anos e dominou a afro-americana United Golfers Association, vencendo seis vezes o National Negro Open. Isto foi antes de a PGA of America revogar, em 1961, uma cláusula que impedia outros que não caucasianos de participar em torneios do PGA Tour. Venceu dois torneios do PGA Tour – Greater Hartford Open em 1967 e Los Angeles Open em 1969) – e em 2004 tornou-se o primeiro negro a ser induzido no World Golf Hall Fame.
Nos seus primeiros tempos no PGA Tour, enquanto tentava quebrar a barreira da cor da pele, Sifford enfrentou descriminação, perseguição e até ameaças de morte. Em 2011 contou a Bill Plaschke, jornalista do Los Angeles Times, que espectadores chegaram a chutar a sua bola para o rough escondendo-a debaixo de entulho. Noutra ocasião, no Phoenix Open de 1952, encontrou fezes humana no buraco do green do 1.
No livro “The Masters: Golf, Money, and Power in Augusta”, o seu autor Curtis Sampson conta mais um episódio chocante de descriminação: em 1962, Sifford fez uma volta de 67 pancadas para liderar o Open do Canadá. Logo a seguir alguém do Augusta National Golf Club, onde todos os anos se joga o Masters, telefonou para o Royal Montreal Golf Club. E imediatamente foi afixado num quadro do Open do Canadá que nesse ano, em contraste com o passado, o vencedor não receberia um convite automático para jogar o Masters. “Nada me incomodava, nada me travava. Estava apenas tentar fazê-lo por mim, a tentar fazê-lo pelo mundo”, diria Sifford.
Quando Sifford recebeu a Medalha da Liberdade, Tiger Woods saudou a notícia no Twitter escrevendo: “História foi feita ontem pelo meu avô. Obrigado Charlie, por inspirares o meu pai, que por sua vez inspirou…” Woods considerava Sifford o avô que nunca teve em vida. Num e-mail enviado o ano passado à Associated Press, escrevia: “Não será exagero dizer que sem Charlie, e os outros pioneiros que lutaram para jogar, eu não jogaria golfe. Provavelmente, o meu pai não teria começado a jogar, e eu também não.”