Receber o maior evento do golfe estava escrito nas estrelas que brilham sobre o resort escocês
Tudo começou nos anos 20 do século XX, quando Gleneagles emergiu como a “Riviera das Highlands”. Uma década antes, Donald Matheson, a tirar umas férias do seu posto de director-geral da Caledonian Railway Company, teve uma visão e desenvolveu a ideia para a criação de um resort junto às colinas da pequena cidade de Auchterarder, no condado de Perthshire, no interior da Escócia. Submeteu a proposta em Outubro de 1912 para um hotel e três campos de golfe e o resto, como dizem, é história.
No primeiro dia de Maio de 1919 foi inaugurado o King’s Course. Mais tarde, o Queen’s Course, inicialmente de 9 buracos, ambos desenhados por James Braid, detentor de cinco Open Championships e o primeiro course designer desse tempo.
Ao escolher Braid, Matheson soube desde logo que a qualidade dos campos iria proporcionar a possibilidade de receber provas profissionais. E a primeira, a 6 de Junho de 1921, foi logo uma espécie de Ryder Cup: o então inédito International Challenge Match reuniu no King’s Course, profissionais britânicos e norte-americanos – num prelúdio para o torneio Glasgow Herald 1.000 Guineas.
A competição foi do agrado de todos, excepto dos golfistas dos EUA que tiveram que ficar acomodados em cinco carruagens estacionadas na estação de Auchtermuchty in Fife, já que os trabalhos no Grand Hotel foram interrompidos pela I Grande Guerra e só recomeçaram em 1922 para terminarem dois anos mais tarde, com uma inauguração de gala.
A ERA JACK NICKLAUS
Em 1966, Jack Nicklaus visitou Gleneagles pela primeira vez – para um famoso “Big Three” com Arnold Palmer e Gary Player – e, nessa altura, ainda ninguém falava na possibilidade de a Ryder Cup ser aí realizada. Ian Marchbank, o professional de golfe em Gleneagles entre 1962 e 1992, admitiu em 1971 ter tentado ao máximo promover o resort como potencial local para receber a prova, mesmo sabendo, na altura, que a edição seguinte teria lugar em Muirfield.
Nicklaus, para muitos o maior golfista de sempre, nunca se cansou de afirmar categoricamente que “a Escócia sempre foi a casa do golfe e, de alguma forma, sinto que é a minha segunda segunda casa” – o que não é surpreendente para quem disputou a sua primeira Walker Cup, em 1959, em Muirfield, campo onde sete anos mais tarde conquistou o primeiro de três British Opens – os outros dois, em 1970 e 1978, foram ambos no Old Course de St. Andrews, onde, em 2005, se despediu dos majors.
Essa ligação à Escócia tornou lógica a sua escolha para desenhar um novo campo em Gleneagles. Uma escolha não só pela sua reputação enquanto jogador – 18 majors (6 Masters, 5 US PGA Championships, 4 US Opens e 3 British Opens) conquistados entre o US Open de 1962 e o Masters de 1986, de um total de 120 torneios ganhos por todo o mundo – mas também pela empresa que criou há mais de 40 anos, a Nicklaus Design, e para muitos, a melhor no ramo, com cerca de 400 campos em 36 países e 39 estados norte-americanos, dos quais uma centena já recebeu torneios profissionais.
O contrato com Gleneagles para a construção do seu primeiro campo na Escócia foi assinado em Março de 1988 e foi ocupar o espaço dos campos Glendevon, aberto em 1980, e Prince’s, de 1974 – uma extensão de 18 buracos do Wee Course inaugurado em 1928 – e complementar os dois já existentes.
THE PGA CENTENARY COURSE
Nicklaus sempre acreditou que um campo deve ter tanto de desafiante como de inspirador. E quando o campo foi inaugurado, no dia 15 de Maio de 1993, sob o nome de Monarch’s Course – rebaptizado The PGA Centenary Course no dia 1 de Janeiro de 2001 – concretizou esses objectivos. “Quando construímos o campo, fizemos um desenho desafiante. Com o equipamento, as bolas e tudo mais evoluído, precisava de alterações. Então, decidimos torná-lo mais relevante nos dias de hoje”, explicou Nicklaus.
Vista de trás do green do buraco 3 (par-4) / © GETTY IMAGES
Desde 1999, o PGA Centenary Course tem recebido um evento do European Tour, actualmente conhecido por Johnnie Walker Championship. Ao longo dos anos, Gleneagles fez algumas alterações mínimas, mas Nicklaus foi novamente convidado para modernizar e dar outra força ao campo, par-73.
O trabalho encetado no Inverno de 2011-2012 remodelou todos os bunkers e provocou alterações em 12 buracos, sendo mais notório nos par-5 do 9 e do 18 – neste, rebaixaram o green, criando um efeito de anfiteatro e mais espaço para espectadores e há ainda um plano para futuras alterações ao longo dos próximos anos.
A equipa da Nicklaus Design e o campo de Gleneagles esforçaram-se por exigir maior qualidade dos shots e decisões dos golfistas para que esta edição da Ryder Cup seja um verdadeiro desafio às equipas capitaneadas por Paul McGinley e Tom Watson.
Approach no 16 (par-5) / © GETTY IMAGES
MELHOR RESORT DO MUNDO
Paralelamente à evolução do PGA Centenary Course, Gleneagles tem trabalhado arduamente em todas as áreas e, em Maio último, recebeu o galardão de “Best Golf Resort in the World 2014” atribuído pela revista Ultratravel, pelo terceiro ano consecutivo.
É que para além dos três campos e da Academia de Golfe (aberta em 1994 e, desde 2010, pertencente à PGA escocesa), existem inúmeros argumentos nos 3,4 quilómetros quadrados do resort para atrair golfistas ou simples turistas, a começar pelas belas paisagens naturais das Highlands e da sua fauna, formada por gansos selvagens, patos, faisões, perdizes, narcejas e galinholas.
The Grand Hotel, ao estilo “castelo francês”, oferece 232 quartos, incluindo 26 suites, com a qualidade exigida a um estabelecimento de cinco estrelas. Para comer, a escolha reparte-se por quatro restaurantes, entre os quais o “Andrew Fairlie at Gleneagles”, o único na Escócia com duas estrelas Michelin. Há ainda outra actividades: tiro, pesca, falcoaria, condução todo-o-terreno, equitação, natação (duas piscinas cobertas), Spa… Para quem sonha ser membro, existem várias opções: Individual, Empresarial ou International.
Pouco mais de um século após Donald Matheson ter tido aquela visão, o Gleneagles é um palco erguido à medida da 40.ª edição da Ryder Cup, que lá se joga de sexta-feira a domingo. Mas a animação começou já na segunda-feira, com a chegada das equipas.