Perfil do algarvio que subiu a pulso e é hoje Academy Manager & Head Coach na Quinta do Lago
Para começarmos, e na sequência da vitória de Filipa Capelo, terça-feira da semana passada, no Open Amador da Escócia de Sub-16, havia uma pergunta primordial a fazer ao seu treinador, José Ferreira, Academy Manager & Head Coach na Quinta do Lago, cujo resort tem nada menos do que três campos de golfe de 18 buracos (Norte, Sul e Laranjal): como é que ela apareceu subitamente tão forte em Edimburgo?
Antes de mais, o algarvio de 40 anos lembra que Filipa “já vinha dando boas indicações neste último ano, em alguns torneios nacionais, bem como numa prova na Andaluzia”.
E mais: “Para quem esteve atento, o 14.º lugar no English Under16, na semana anterior à Escócia, é um pouco enganador, porque a Filipa rolou no top toda a prova, mas infelizmente alguns erros nos últimos buracos fizeram a diferença.”
Refere-se ao English Girls' Under 16 Open Amateur Stroke Play Championship, o Open Amador de Inglaterra de Sub-16 feminino, que se jogara de 7 a 9 de Agosto, no Lyme Regis Golf Club, em Dorset, no sudoeste de Inglaterra, costa do Canal da Mancha.
Sobre o desempenho Filipa Capelo em terras escocesas, explica que “tudo começou com uma profunda alteração no jogo e nos processos de treino, em que levámos cerca de um ano e meio a trabalhar para que ela se sentisse confortável com as alterações. Reduzimos o número de competições durante um largo período e re-introduzimos de forma gradual a competição, bem como o nível de dificuldade da mesma. Contudo, julgo que o reforço no seu putting nos últimos meses tem estado a dar frutos.”
SARA GOUVEIA, A SAFIRA
Sara Gouveia e José Ferreira fizeram passagem de ano de 2017 para 2018 dentro do avião que os trouxe de volta após o Junior Orange Bowl em Miami
Filipa Capelo não é a primeira pupila de José Ferreira em evidência, há também Sara Gouveia, 18 aos feitos em Dezembro, de quem ele gosta de dizer que é a sua “safira”. Atleta outrora eclética (hóquei em patins, basquetebol, equitação, ténis, squash, etc.) que tem desde 2015 o golfe como seu principal desporto, Sara é já uma das melhores amadoras portuguesas.
Foi campeã nacional de sub-18 em 2017 e vice-campeã nacional absoluta em Abril último e vai fazer parte do trio – juntamente com Leonor Bessa e Sofia Barroso Sá – que representará Portugal no Troféu Espírito Santo, o Mundial Amador por Equipas de Senhoras, marcado para de 29 de Agosto a 1 de Setembro no palco irlandês de Carton House, em Maynooth, perto de Dublin.
Em Dezembro de 2017, foi uma das raras girls portuguesas (só me lembro mais de Joana Silva Pinto) a entrar no Junior Orange Bowl, uma das mais famosas provas mundiais para o escalão de sub-18 anos, em Miami.
“A Sara estava no Clube de Golfe de Vilamoura e, numa decisão tomada em conjunto com a sua família, optou por mudar para a Quinta do Lago mesmo antes de ter nascido o Junior Team”, explica José Ferreira. “Nessa altura a solução passou por inscrevê-la no Clube Laranjas, o qual também pertence à Quinta do Lago. Ela já tinha começado a trabalhar comigo e eu tive oportunidade de lhe explicar que queria avançar com este projecto. Ela mudou porque acreditou nele.”
CALVIN HOLMES, O DIAMANTE
José Ferreira numa selfie com Calvin Holmes e os mais jovens craques Rodrigo Santos e Martim Ribeiro
Além das safiras, José Ferreira tem um diamante: Calvin Holmes, de 16 anos, que também esteve em evidência recentemente, no final de Julho, com uma estonteante volta de 63 (-9) no O’Connor Course do Amendoeira Resort, rumo ao título no escalão masculino de sub-16 do Oceânico World Kids.
Calvin foi, aliás, o primeiro jogador de alta competição de José Ferreira, quase logo a partir do momento em que este, em 2012, iniciou funções na Quinta do Lago. De nacionalidade sul-africana, mas residente no Algarve desde os seis anos de idade, o jovem atleta, sempre em representação do Clube de Golfe de Vilamoura, venceu o Campeonato Nacional de Portugal de sub-10 em 2012, de sub-12 em 2014 e de sub-14 em 2015.
Quando se diz que venceu, é porque venceu mesmo, porque só desde o ano passado a FPG deixou – e com toda a lógica – de entregar a vencedores estrangeiros os troféus de campeões nacionais.
Em 2016, por questões familiares, afastou-se do golfe, mas em Setembro de 2017 fez parte da equipa de Vilamoura que venceu o Campeonato Nacional de Clubes Homens (Troféu Visconde Pereira Machado), um título que já havia conquistado em 2015. Entretanto, Calvin continua o seu processo de aquisição de cidadania portuguesa, que lhe permitirá passar a representar as selecções nacionais. E, desde este ano, deixou Vilamoura para passar a integrar o Junior Team da Quinta do Lago.
“Acho muito bem que o campeão nacional seja português, estou totalmente de acordo”, afirma José Ferreira. “Se ele não é português, não pode ser campeão nacional, embora viva cá desde muito novo. O processo de nacionalidade está a ser feito e a FPG até está a apoiar nesse aspecto, mas é preciso que os miúdos que são estrangeiros cá no Algarve sintam que pelo menos podem ser incluídos nos rankings, caso contrário, perdem um bocadinho a motivação, como é o caso do Calvin, que, por causa disso, não tem jogado tantos torneios este ano quantos gostaria.”
DOS PRIMEIROS PASSOS NO GOLFE AOS 19 ANOS ATÉ AO RECONHECIMENTO NACIONAL
A entrada de José Ferreira na Quinta do Lago é o corolário de uma aposta bem sucedida mas improvável como profissional de golfe.
“Comecei tarde a jogar golfe, com 19 anos”, conta. “Os meus primeiros passos foram com o Joaquim Sequeira em Vilamoura, comecei a gostar, a jogar os circuitos nacionais da FPG e, ao mesmo tempo, como eu era o mais velho, dava uma mãozinha ao Sequeira, ajudava, levava os miúdos. O meu nível de jogo não era muito baixo, mas evoluiu rapidamente e em dois anos fiquei um handicap de um só dígito. Praticamente morava no Old Course do Sequeira, passava lá as manhãs.”
Especializou-se em golfe com 25 anos, fez o curso de Nível 1 da PGA ainda como amador, depois teve de passar a profissional para fazer o Nível 2 e após ter feito o Nível 3 foi para a Alemanha, para a Van den Berge Golf Academy, em Munique, onde esteve entre Fevereiro de 2007 e Setembro de 2008.
A especialização em novas tecnologias do golfe foi um dos motivos que levaram a terras bávaras. “Eu sabia que a tecnologia ia vingar no futuro, porque noutros desportos era assim, e portanto antecipei-me e comecei a ir por essa linha”, explica. As tecnologias? SAM PuttLab, Trackman, Boditrack, 4D motion Level II. irou também o certificado de treinador SNAG.
Regressado a Portugal, assumiu funções no resort de luxo Vila Joya, em Albufeira, como Golf Department Manager & Head Professional, e ali esteve entre Setembro de 2008 e Março de 2012.
Depois, em 2012, veio o desafio da Quinta Lago, onde foi desde logo responsável pelo lançamento da primeira Academia Paul McGinley. Coube-lhe também o desenvolvimento do Business Plan e da estratégia de vendas nas diferentes áreas do golfe. E gere s operações do Driving Range, do Taylor Made Performance Center e do Mini-Golfe. Isto, além do programas de ensino, conteúdos, métodos e práticas. Também está a seu cargo a organização de eventos, clínicas de golfe, actividades de golfe para juniores e campos de Verão. Uff!
Foi ele também o mentor do Programa de Desenvolvimento do Golfe Júnior na Quinta Lago. “Quando comecei na Quinta do Lago, tínhamos muito poucos juniores, mas com trabalho conseguimos atraí-los”, conta. “O primeiro ano de actividade do Clube Júnior foi em 2017, mas o trabalho já vinha de trás, Criámos campos de férias com vários níveis de desenvolvimento, permitindo que jogadores de diferentes idades e habilidades se divertissem e desfrutassem do golfe. O programa tornou-se um enorme sucesso e nos últimos cinco anos tivemos mais de 1500 crianças nos nossos campos de férias. O futuro, consideramos, afigura-se brilhante.”
Enfim, como diz para finalizar, um projecto de elite com os miúdos em competição era um aliciante com que sonhava. “Não era meramente um projecto comercial, foi isso que eu quis provar.”
A mais jovem pérola a destacar-se pela Quinta do Lago foi Rodrigo Santos, campeão nacional de sub-10 em 2017. E, no mesmo escalão, há ainda Martim Ribeiro. Quem vem a seguir?