Filipe Lima deverá ser o eleito para formar equipa com ele em Melbourne, Austrália
Ricardo Melo Gouveia foi confirmado esta semana pela Federação Internacional dos PGA Tours como qualificado para a Taça do Mundo, cuja 58.ª edição irá decorrer no final do ano, de 23 a 27 de novembro, no Kingston Heath Golf Club, em Melbourne, na Austrália.
Um dia depois de ter terminado a sua participação nos Jogos Olímpicos Rio2016, o n.º 1 português ficou a saber que o 134.º posto que ocupa no ranking mundial tornou-o no 24.º dos 28 jogadores que se apuraram diretamente para a World Cup of Golf.
Como o “GolfTattoo” previu no passado dia 13 de janeiro, o único português a competir este ano a tempo inteiro no European Tour teria grandes hipóteses de competir pela primeira vez neste prestigiado evento que já foi ganho pelos melhores jogadores da história da modalidade, entre os quais Ben Hogan, Sam Snead, Gary Player, Jack Nicklaus, Arnold Palmer, Lee Trevino, Seve Ballesteros, Fred Couples, Nick Faldo, Bernhard Langer, Tiger Woods, Colin Montgomerie, Davis Love III, David Duval, Ernie Els, Padraig Harrington, Retief Goosen e Luke Donald.
O regulamento dita que os 28 jogadores melhor classificados no ranking mundial apuram-se para a Taça do Mundo mas só se qualifica um jogador por cada país. Foi essa limitação que fez com que um jogador fora do top-100, como o profissional do Bom Sucesso Golf, pudesse garantir a sua presença.
Numa época em que se estreou como membro efetivo do European Tour, em que competiu pela primeira vez no PGA Tour, em que se tornou no primeiro golfista português a qualificar-se para uns Jogos Olímpicos, Ricardo Melo Gouveia alcança outro marco pessoal, pois nunca competiu na Taça do Mundo de Golfe, mais conhecida em Portugal pela designação de Campeonato do Mundo de Profissionais.
Em janeiro, o português residente em Londres tinha dito ao “GolfTattoo”: “É claro que quero ir!”. Esta semana, depois de confirmada a sua qualificação, rejubilou: “Vai ser, mais uma vez, um orgulho representar o país”.
Sim, Ricardo Melo Gouveia estará, tal como nos Jogos Olímpicos, a representar Portugal e não apenas a jogar em nome individual. Aliás, a Federação Portuguesa de Golfe (FPG) costuma atribuir um subsídio aos portugueses que têm a honra de participar neste Mundial.
E Portugal até tem conseguido marcar presença com alguma regularidade. Em 2016, a seleção nacional de profissionais irá jogar a Taça do Mundo pela terceira vez seguida e pela quinta vez em onze anos, algo de impensável há umas décadas.
O próximo passo é completar a equipa portuguesa e esse é um procedimento que tem de ser tomado por Ricardo Melo Gouveia. O regulamento dita que o n.º 1 nacional escolha o seu parceiro, por tratar-se de um torneio de pares.
Com efeito, em novembro haverá um retorno ao formato tradicional de 28 equipas de dois jogadores, ao longo de 72 buracos, 18 por dia, com o primeiro e o terceiro dia disputados na modalidade de foursomes e a segunda e quarta jornada a realizarem-se em fourball.
Na última edição, em 2013, tinha havido a inovação de se dar mais relevo à classificação individual. O leaderboard coletivo foi o somatório dos resultados dos dois jogadores, que raramente atuaram em conjunto. O retorno aos foursomes e fourball reforça o espírito de equipa e o sentido de confronto entre seleções nacionais.
Para o representante do Team Portugal, esta alteração ao regulamento é bem-vinda: “Sinceramente, prefiro esta modalidade de pares, porque é diferente daquilo que jogamos durante todo o ano e gosto de jogar a pares. Vamos ver como as coisas se desenrolam até ao final do ano e quem está disposto a jogar.”
Estar disposto a jogar não deverá ser um problema. Afinal, para além do provável subsídio de participação da FPG, a Taça do Mundo oferece quase 7,4 milhões de euros (8 milhões de dólares) em prémios monetários, com 2,3 milhões de euros para o país vencedor.
Isto significa que, em termos financeiros, uma época menos boa poderá ser salva na Taça do Mundo. Basta olhar para os prémios angariados pelos portugueses neste torneio nos últimos onze anos para se compreender que dificilmente algum jogador luso recusará competir: Em 2005 Filipe Lima e António Sobrinho terminaram em 20º empatados (18 mil euros); em 2008 Ricardo Santos e Tiago Cruz foram 13º empatados (64 mil euros); em 2011 Ricardo Santos e Hugo Santos acabaram em 20º empatado (59 mil euros); e em 2013 Ricardo Santos e Filipe Lima concluíram no 17º lugar empatado (92 mil euros para Santos e 24 mil euros para Lima).
A edição de 2013 foi a única em que os dois jogadores se apuraram pelo ranking mundial. De resto, ao longo de toda a longa e rica história deste Mundial, foi sempre o n.º 1 de cada país a designar o n. º2.
Foi isso que fizeram Filipe Lima em 2005, quando escolheu António Sobrinho, e Ricardo Santos que convocou Tiago Cruz em 2008 e Hugo Santos em 2011.
Há, contudo, países em que os jogadores, para não ferirem suscetibilidades, delegaram na PGA ou na federação do seu país o ónus da escolha.
Não será o caso de Ricardo Melo Gouveia que prefere ter a coragem de decidir. Já nos tinha avisado em janeiro: “Se for o n.º 1 (português) na altura, vou ser eu a escolher (o parceiro).” Vai cumprir a promessa e esta semana acrescentou-nos: “Ainda não tive oportunidade de falar sobre o Campeonato do Mundo com nenhum jogador (português), mas já falei com a minha equipa técnica sobre o torneio e sobre alguns aspetos relacionados com ele. Ainda não sei bem [quem convidar], mas na minha opinião o justo será escolher o segundo melhor jogador a nível de ranking mundial. Não sei qual é o prazo para darmos a resposta, mas o meu critério vai ser o ranking mundial.”
Recorde-se que em janeiro “GolfTattoo” lançou como possíveis parceiros Ricardo Santos (com quem ganhou um torneio de pares do PGA Portugal Tour no ano passado), Filipe Lima (com quem representou Portugal no Rio2016), Pedro Figueiredo (o seu melhor amigo no golfe profissional) e Tiago Cruz.
Candidatos: Santos e "Figgy (em cima), Cruz e Lima © D.R.
Neste momento, a “corrida” parece restrita a Filipe Lima (382º no ranking mundial desta semana). Ricardo Santos (844º), Tiago Cruz (1459º) e Pedro Figueiredo (1801º) não têm hipóteses de ultrapassarem Lima no ranking mundial até ao final da próxima semana.
O líder da seleção nacional de profissionais só tem até o dia 26 de agosto, ou seja, pouco mais de uma semana, para tomar a decisão final e indicar o nome do seu parceiro. Uma coisa é certa, seja quem for, terá de ir para Melbourne com espírito de conquista.
Uma das facetas mais entusiasmantes de Ricardo Melo Gouveia é a sua ambição inabalável. O n.º 1 da Corrida para Omã (vulgo ranking do Challenge Tour) de 2015 e primeiro português a triunfar na amadora Palmer Cup (em 2014) não esconde que tem sempre os olhos na vitória.
No European Tour fica quase agastado por pensarem que tem por objetivo inicial passar o cut, pois o que pretende é mesmo visar os títulos. Nos Jogos Olímpicos não escondeu que acreditava que se jogasse o seu melhor golfe poderia lutar por uma medalha de ouro. No Campeonato Nacional Solverde do ano passado o desiderato era só um – conquistar um dos troféus de que sente falta no seu rico palmarés. E em várias entrevistas tem proclamado que encara a médio prazo uma entrada no top-50 do ranking mundial e que ser nº 1 foi sempre o seu sonho.
O facto de ainda não ter atingido nenhuma dessas metas só o motiva a trabalhar ainda mais e a verdade é que esta postura tem-no levado a quebrar uma série de recordes nacionais e até mesmo alguns internacionais, como sucedeu no ano passado no Challenge Tour, a segunda divisão europeia.
A Taça do Mundo de 2016, não é, uma vez mais, exceção e as suas aspirações são elevadas, como se pode ver quando lhe perguntámos: “O 13º lugar do Tiago Cruz e do Ricardo Santos na Taça do Mundo em 2008 é um dos maiores feitos do golfe português. Nessa altura, ligaste alguma coisa a essa classificação? Ou é uma prova à qual nunca ligaste muito?”
A resposta foi perentória: “Sem dúvida que foi um grande resultado para o golfe português e o objetivo é melhorá-lo já este ano. Para mim, o ponto mais alto do golfe português foi o ano em que o Ricardo Santos fez uma grande época e recebeu o Prémio de Rookie do Ano do European Tour [2012]”.
A concorrência será, obviamente, de peso. Neste momento, a Federação Internacional dos PGA Tours ainda não sabe que jogadores apurados irão eventualmente desistir, mas os que já confirmaram a sua presença são alguns dos melhores do Mundo, à caça de um título que foi conquistado em 2013 pelos australianos Jason Day e Adam Scott, em Royal Melbourne.
Os campeões regressam a casa para defender o título. Day, o nº 1 mundial, nem pensou duas vezes em escolher Scott, o n.º 7, e este aceitou. O inglês Danny Willett (n.º 10) selecionou Lee Westwood (n.º 43). O escocês Russell Knox (n.º 19) chamou Duncan Stewart (n.º 392). O sueco Alex Noren (n.º 40), convocou David Lingmerth (nº52). O dinamarquês Soren Kjeldsen (n.º 44) distinguiu Thorbjorn Olesen (n.º 67). O belga Thomas Pieters (nº61) alinhou com Nicolas Colsaerts (n.º 124). E o venezuelano Jhonattan Vegas (n.º80) optou por Julio Vegas (n.º 1841).
Jogadores que tenham confirmado a sua presença em Melbourne mas que ainda não tenham eleito o seu parceiro, como é o caso de Ricardo Melo Gouveia, são norte-americano Bubba Watson (nº6), o japonês Hideki Matsuyama (nº20), o espanhol Rafa Cabrera Bello (nº27), o coreano Byeong Hun Na (nº32), o argentino Emiliano Grillo (nº35), o irlandês Shane Lowry (nº36), o tailandês Thongchai Jaidee (nº41), o neo-zelandês Danny Lee (nº45), o italiano Francesco Molinari (nº57), o austríaco Bernd Wiesberger (58º), o holandês Joost Luiten (nº65), o sul-africano Jaco Van Zyl (nº72), o galês Jamie Donaldson (nº82), o francês Victor Dubuisson (nº88), o alemão Alex Cejka (nº116), o fidjiano Vijay Singh (nº131º), o canadiano David Hearn (nº136), o chinês Wu Ashun (nº137), o paraguaio Fabrizio Zanotti (nº145) e o filipino Miguel Tabuena (nº153).
A Taça do Mundo jogou-se 57 vezes em 25 países e a Austrália será o palco pela quinta vez, mas anteriormente fora sempre em Royal Melbourne.
Trata-se, portanto, de uma estreia para Kingston Heath, que já recebeu o Open da Austrália masculino (1948, 1957, 1970, 1983, 1989, 1995, 2000) e feminino (2008), bem como o Australian Masters (2009, 2012).