Aos 44 anos está longe de pendurar os tacos e ainda aposta em carreira internacional
António Sobrinho quebrou um jejum de três anos e um mês sem ganhar qualquer torneio, ao conquistar anteontem o Optilink PGA Open, no Onyria Palmares Beach & Golf Resort, em Lagos. Aos 44 anos, é o vencedor mais velho de um Open do PGA Portugal Tour nos últimos 15 anos.
A sua última vitória datava do Open do Pestana Golf Resort de Vale da Pinta, no Carvoeiro, em fevereiro de 2012, a contar para o Algarve Winter Tour.
Curiosamente, em ambos os torneios houve cartões de 65 pancadas: no Vale da Pinta, há três anos, alusivo à primeira volta; no Onyria Palmares, sexta-feira, referente à última volta.
A geração mais jovem dos amadores de alta competição da Federação Portuguesa de Golfe já não olha para António Sobrinho como, antes deles, as gerações de Pedro Figueiredo, António Rosado, Ricardo Santos, Hugo Santos, Sean Côrte-Real e Stéphane Castro Ferreira, entre outros.
Provavelmente, jovens como Pedro Lencart e Carlos Laranja já ouviram falar do “Sobras” mas não imaginam como jogava nos seus tempos áureos.
Mas todos os outros lembram-se bem que o antigo jogador de Vilamoura, Quinta do Lago, Estela e Vale do Lobo fez a ponte entre os três jogadores portugueses que venceram torneios do European Tour.
Depois de Daniel Silva, que arrebatou o seu histórico título em 1992, e antes de Filipe Lima, que se apoderou do seu em 2004 (ainda em representação de França mas já com dupla nacionalidade), e de Ricardo Santos, campeão em 2012, houve António Sobrinho.
Ao contrário destes três ídolos do golfe nacional, o alcunhado “Tiger Woods português” nunca conseguiu o cartão de full member do European Tour, mas deteve esse estatuto no Asian Tour e quando jogava o Open de Portugal enchia as galerias de público português.
Foi António Sobrinho quem ajudou a manter o golfe mediático durante mais de uma década e não é por acaso que é dele o recorde de 11 vitórias no Campeonato Nacional da PGA de Portugal.
Talvez por isso, por tudo o que ele significou, a sua vitória de ontem tenha sido vivida de forma diferente, por ele e pelos seus muitos amigos, com bastante emoção, sobretudo numa altura em que, pela primeira vez na sua carreira, não consegue arranjar contrato com um campo ou clube, já lá vão mais de dois anos.
A sua mulher, Paula, escreveu no Facebook: “Merecida vitória, depois do trabalho que tem feito desde há muito.”
Na mesma rede social, pronunciou-se Rui Coelho, amigo de longa data, parceiro em muitos pro-am e fiel patrocinador de Sobrinho, da PGA de Portugal e da FPG, através da Nike Golf que representa em Portugal e Espanha: “O Sobrinho continua a ser um grande jogador de golfe, capaz de fazer voltas em competição de 7 abaixo do Par. Eu sei o que lhe custou este jejum de vitórias e o ter caído no esquecimento. Mas ele hoje sabe que só com grandes resultados as pessoas continuarão a respeitá-lo. Como sponsor e, principalmente, como amigo dele, fico orgulhoso por ter conseguido a motivação necessária para trabalhar e para voltar a estar a grande nível. Parabéns Sobras, mantém o ritmo.”
Porque nunca foi um jogador como os outros, porque é tudo menos ortodoxo, quer no campo, quer fora dele, António Sobrinho merecia esta breve entrevista ao Golftattoo depois do sucesso no Optilink PGA Open, e o mínimo que podemos dizer das suas respostas é que só não são surpreendentes porque a sua vida tem sido assim, arrebatadora, constantemente a criar a surpresa… nele e nos outros.
Com António Gonçalves da Optilink, na entrega de prémios em Palmares / © PGA Portugal
GolfTattoo – Uma volta final em 65 pancadas, 7 abaixo do Par, a tua melhor volta dos últimos três anos…
António Sobrinho – O 65 é bom. ‘Patei’ bem, meti dois putts muito bons que me ajudaram a elevar o moral. Um deles foi um putt que nunca tinha metido na minha vida (no 10). Foi um de 27 metros, uma coisa… com muita linha, a descer, que ainda é pior, com duas linhas, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. Não foi um putt à Tiger Woods, foi um à António Sobrinho. Tão cedo não vou esquecer-me deste putt e se calhar foi isso que me deu alento para os segundos nove buracos porque joguei-os em 5 abaixo. Vinha bem, no buraco 10, já tinha feito 3 birdies e 1 bogey, tinha falhado outros birdies e vinha confiante. Mas depois de um desses… é ótimo.
É uma surpresa para ti? Tens feito voltas destas em treino? Olhando para os teus resultados nos últimos tempos, para além de teres ganho os teus três matches na Taça Manuel Agrellos em dezembro, podemos ver um cartão de 68 na Carvoeiro Cup em que foste 2º (-2), um 70 no Campeonato Nacional em que foste 5º (-2), e já este ano tiveste quatro voltas de 70, uma de 69 e uma de 68 no Algarve Pro Golf Tour. Mas 65 (-7) é bem melhor.
Por acaso, em treino, ando já há algum tempo a fazer muitas voltas abaixo do par, só que não conseguia repeti-lo nos torneios, mas eu sabia que se estava a fazê-lo tantas vezes em treinos, mais tarde ou mais cedo iria fazê-lo em torneios. Sabia que era capaz de uma volta destas. Caso contrário, nem sequer jogava.
Lembro-me que há 15 anos eras dos portugueses mais compridos mas muitos já nem se lembram. Os teus resultados dependiam muito do teu jogo no green, porque normalmente o resto era bom. O putting é que tinha muitas oscilações. Como ganhas agora um torneio com jogadores bem mais jovens que batem muito mais longe? Este campo também teve influência? É que no Campeonato Nacional, aqui, já tinhas feito 54 buracos em 2 abaixo do Par.
Posso já não ser tão comprido mas sou mais direitinho. Claro que o putting faz toda a diferença e na segunda volta do Optilink PGA Open ajudou muito porque o putting disfarça muitas vezes o mau jogo que se faz até ao green e o campo de Palmares, que está muito bom, é bem difícil, nem sempre podemos jogar perfeito. No Campeonato Nacional ‘patei’ muito mal. Foi a grande diferença em relação a este torneio. Num campo destes, sem vento, tem de se saber tirar partido dos buracos de par-5 e foi o que fiz.
Nesta fase da tua vida desportiva, esta vitória tem alguma importância ou já não lhe dás tanto valor? Sentiste-te a jogar bem de novo?
Quem me conhece sabe que vivo o dia a dia. Estou contente pelo trabalho que tenho feito e que parece estar a dar resultados. Mas o meu desejo é voltar à forma que tinha antigamente. Isso é muito difícil. Mas se não acreditasse ser possível já não jogava golfe. Não foi uma vitória por acaso, tenho treinado muito, mas também tive a sorte de os outros jogarem mal. Ainda não estou a jogar bem, mas estou a melhorar. Não é por se ganhar um torneio que se deve lançar os foguetes. Ainda há muito trabalho pela frente.
Já referiste por duas vezes o trabalho que andas a fazer, mas não tens treinador. É um trabalho solitário. Para mais, não estás ligado comercialmente a nenhum campo, o que também não ajuda. E tanto em 2013 como em 2014 queixaste-te várias vezes de dores num joelho…
Esta recuperação do nível de jogo que quer leva o seu tempo. Na minha idade, ao tempo que ando sem conseguir jogar ao mais alto nível, sei que vou levar mais tempo do que me era habitual. Ainda por cima, faço tudo sozinho. Não tenho nenhum treinador. Não é assim tão fácil. Ando à procura, a apalpar terreno. A minha rotina hoje em dia é jogar mais até do que treinar, mas é, principalmente, tentar compreender o que é que o meu corpo ainda faz. Já não é como antigamente em que me preocupava com o que o taco era capaz de fazer. Quanto ao joelho, já está melhor. Mas sinto que deveria treinar mais do que treino para chegar ao nível dos jovens.
Falando em jovens, foi anunciado há pouco tempo o PGA Portugal Tour. De alguma forma esta aposta nos jovens fez-te querer jogar melhor neste torneio?
Não! O Portugal Golf Team já é outra liga, já não é a minha.
Tens 44 anos, feitos em março. Olhas para jogadores como o Miguel Angel Jiménez e pensas que se há uns tipos a jogarem o seu melhor golfe depois dos 40 anos, também tu poderás fazer o mesmo?
Não. Penso é em jogar melhor do que os mais novos. O Jiménez tem todo o mérito por tudo aquilo que tem feito e é claro que ajuda muito a outros jogadores com mais de 40 anos, mas tenho de olhar é para os mais jovens porque eles é que são o futuro. Por acaso, nunca joguei nenhum torneio no mesmo grupo do Ricardo Melo Gouveia e do Pedro Figueiredo. Pelo menos desde que são profissionais, porque lembro-me de ter jogado com o Pedro e o Ricardo Santos quando eram amadores. Gostava, para ver.
Em contrapartida, jogaste no último dia com o João Magalhães, que até conseguiu, também ele, o melhor resultado e classificação de sempre em torneios de profissionais. E mesmo em torneios da FPG, há um ano que não jogava tão bem. O cartão de 68 do João só não foi o melhor do último dia porque tu tiveste o tal 65.
Fiquei surpreendido pelo bom jogador que é o João Magalhães. Poderemos ter aí outra estrela a sério. Se eu dizia que o Gonçalo Pinto era um grande talento, este tem um nível… não lhe fica atrás.
Nunca foste um jogador indiferente aos outros e foste sempre diferente. Como reagiram os teus companheiros de profissão a esta vitória que seguramente eles não esperavam?
Os meus colegas ficaram contentes. Muitos já me deram os parabéns. Mas hoje em dia o golfe nacional baseia-se é nos jovens e já não no António Sobrinho.
No ano passado já nem tentaste a tua sorte na Escola de Qualificação do European Tour, o que poderá querer dizer que desististe de uma carreira internacional. Vais limitar-te a jogar o nosso circuito de profissionais e depois os torneios do Algarve Pro Golf Tour?
Aí é que te enganas. Ainda tenho muita vontade de jogar torneios internacionais. É por isso que treino, não é para consumo interno. Ainda antes da Escola de Qualificação deste ano quero jogar o qualifying do British Open. Há vários campos para o qualifying mas sei que não vou a Sunningdale porque é muito difícil e tem muitas árvores, quero um campo parecido com St. Andrews, sem árvores. A ideia veio por o The Open ser este ano em St. Andrews. Tinha prometido a mim próprio que só jogaria naquele campo quando fosse lá o British Open.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.