O que disse a estrela do desporto mundial na sua primeira entrevista em dois meses
Na sua primeira entrevista nos últimos dois meses, dada a Henni Zuel, da GollTV, Tiger Woods conta um episódio bem ilustrativo dos tempos disruptivos que vivemos.
Foi no passado domingo. Falou com Justin Thomas, seu companheiro de profissão e amigo, comunicando-lhe que se sentia “enérgico” e “ligado”, mas também “irritável”. Não percebia porquê, até se lembrar que era o dia em que, em circunstâncias normais, teria viajado para Augusta, na Georgia, onde iria entregar os troféus aos participantes do Drive, Chip & Putt Championship, antes de se começar a preparar in loco, no Augusta National Golf Club, para defender, a partir de quinta-feira, o título no Masters Tournament. “25 anos depois, subsconscientemente, eu sabia que era suposto estar lá. O meu corpo estava pronto. É difícil desligar estes circuitos”, disse
Fisicamente, Woods disse que sente uma diferença da "noite para o dia" em relação à última vez que foi visto a competir, no Genesis Invitational, em meados de Fevereiro, quando, com problemas nas costas, terminou em último entre os que passaram o cut.
Depois disso, abdicou do WGC- Mexico Championship e, citando impedimento físico, passou também o Arnold Palmer Invitational em Bay Hill e o The Players Championship em Sawgrass. Foi após a primeira volta desde último torneio que o PGA Tour parou devido à pandemia, não se sabendo ao certo ainda quando poderá o principal circuito mundial retomar a sua actividade.
Desde então, Woods garante que conseguiu “transformar o negativo em positivo” e “levar o meu corpo para onde eu acho que deveria estar”. Medalist, o seu clube de golfe no Sul da Flórida, onde reside, permanece aberto por enquanto, apesar da ordem estadual de se ficar em casa. Assim, tem sido possível “bater bolas e jogar um pouco". Diz que estaria saudável e pronto para o Masters, no qual procura o seu sexto título, o que lhe permitiria igualar o recorde de Jack Nicklaus em Augusta.
Nestes tempos de pandemia, para Tiger Woods, o que tem sido mais difícil é o treinar sem um propósito, e sem uma luz ao fundo do túnel. è no Medalist que vai mantendo os índices competitivos jogando com Charlie, o seu filho mais novo, com o qual também faz competições de putting no jardim de casa, cabendo ao vencedor ficar na posse do Green Jacket, a indumentária distingue os campeões do Masters. O Casaco Verde costuma estar no armário do quarto de Tiger, mas em algumas ocasiões Charlie conseguiu arrebatá-lo. O progenitor elogia o filho, lembrando que na família não há vitórias garantidas. “Foi divertido vê-lo provocar-me depois de me ter batido. Ele [Charlie] diz que é onde pertence [o Casaco Verde].”
Embora não lhe tenha sido perguntado diretamente sobre os seus pensamentos em relação à realização do Masters em Novembro, como foi recalendarizado o primeiro major do ano, Woods admitiu que já antecipa o que poderá um final de Verão e um Outuno bastante agitados, supondo-se que o PGA Tour possa recomeçar em algum momento nos próximos meses. Adiantou que precisará de se sentar com sua equipa para determinar a melhor prática/rotina de descanso e programação de torneios para estar pronto para o pico nos maiores eventos.
Além disso, com a pandemia a continuar a evoluir, pregou paciência: “Todas as coisas ainda estão no ar, ainda não sabemos exatamente quando tudo recomeçará. Esperemos que seja rápido.”
Quando questionado se teria alguma palavra de sabedoria para superar esta crise, Woods invocou seu falecido pai, Earl, que fez duas comissões no Vietname como Boina Verde. “Um dia de cada vez”, respondeu. Concedeu que não é fácil nesta altura de vírus, quando segundos podem parecer horas e dias podem parecer meses. E assim, ecoando o pai, Tiger quebrou o mantra em pedaços ainda menores: “Uma refeição de cada vez.”
Woods, é claro, tem muita experiência neste departamento, depois de ter tido a sua parcela de lesões e longas ausências dos relvados. “Precisamos de desacelerar as coisas e fazê-las a um ritmo diferente. Precisamos de olhar as coisas de uma perspectiva e lente diferentes para alcançar objetivos”, considerou.
Embora o Masters tenha sido adiado para Novembro, Woods não deixou de organizar em sua casa o seu próprio Champions Dinner, que habitualmente tem lugar em Augusta National na terça-feira que antecede o Masters, num repasto escolhido pelo campeão do ano anterior. Com o mesmo menu que planeara para Augusta National: fajitas de bife e frango, sashimi, bolo e batidos. "Eles divertiram-se, especialmente com a noite a terminar numa luta de comida, com a cobertura dos bolos voando por toda parte. Eu não tirei a Casaco Verde", disse Woods.