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Uma grande época fez de Diogo Rocha o n.º 1 nacional amador de 2024
28/11/2024 15:05 Hugo Ribeiro
Diogo Rocha confirmou este ano que é um dos mais promissores golfistas portugueses © Filipe Guerra

O jogador de Miramar, de 17 anos, ganhou o Ranking Nacional BPI, com três títulos em 2024, incluindo a Taça da FPG

Ter um novo n.º 1 amador no setor masculino é algo habitual. Desde a pandemia da COVID 19, aconteceu pela quarta época consecutiva e mostra como tem havido uma renovação de valores no alto rendimento masculino a nível amador. 

Isso não impede que, ter sido Diogo Rocha a surgir como o melhor amador português, não tenha sido uma das maiores surpresas da temporada que está agora a terminar. 

No final de 2023 o jogador do Club de Golf de Miramar era o 17.º do ranking, com 885 pontos, e o melhor resultado que obtivera fora um 4.º lugar, no 4.º Torneio do Circuito FPG, no Oporto Golf Club, em Espinho. 

Um ano depois, totalizou 3.310 pontos, venceu três torneios – entre os quais um ‘major’ amador nacional, a Taça da FPG/BPI –, sendo um de apenas três jogadores a superarem a marca dos 3 mil pontos. 

É certo que em 2022, quando venceu pela primeira vez a Taça FPG/BPI, já tinha encerrado a temporada como 5.º do ranking amador da FPG, mas com 1.603 pontos, cerca de metade do que agora apresenta. 

A título de comparação, o n.º 2 nacional amador de 2024 é Miguel Cardoso, enquanto o n.º 3 é João Pereira e ambos tinham fechado 2023 no top-10 do ranking. Eram candidatos este ano ao estatuto de n.º 1 e chegaram a ocupar durante o ano esse posto, para o qual eram os naturais favoritos. 

Aliás, a comprová-lo, João Pereira, do Clube de Campo da Aroeira, venceu três títulos em 2024, tantos quantos os de Diogo Rocha, enquanto Miguel Cardoso, do Oporto Golf Club, somou dois troféus, sendo um deles o Campeonato Nacional Amador. 

Com apenas 17 anos, Diogo Rocha é o mais jovem deste tridente de amadores portugueses que protagonizaram uma acesa rivalidade saudável em 2024, para mais, representando três clubes distintos. 

Uma rivalidade que tem beneficiado o golfe português. 

O jogador de Miramar foi chamado à seleção nacional de sub-18 que no último verão garantiu a subida à 1.ª Divisão do Campeonato da Europa desse escalão etário. 

Já Miguel Cardoso e João Pereira integraram a seleção nacional amadora que no escalão etário principal assegurou a manutenção na 1.ª divisão do Campeonato da Europa. 

Embora este tipo de rivalidades seja importante, na medida em que fomenta a subida de nível competitivo, Diogo Rocha não sentiu essa pressão adicional e percebe-se pelas suas palavras que tem sensações ambivalentes: «Não sinto qualquer competição interna. Para além dos dois jogadores mencionados, existem mais atletas com grande qualidade. É, sem dúvida, bom e saudável existir uma rivalidade e uma fome de vencer entre todos. Essas rivalidades dão-nos mais motivação para treinarmos e evoluirmos. Acrescento ainda que, este ano, com ajuda da equipa técnica (nacional, da FPG), foi-se criando um espírito de equipa entre os atletas da seleção nacional que nunca senti em anos passados».

Diogo Rocha com o troféu de n.º 1 do Ranking Nacional BPI 2024 © Filipe Guerra

Diogo Rocha ganhou pela segunda vez em três anos a Taça FPG/BPI (bateu na final, em ‘play-off’, Afonso Rui Oliveira) e ganhou ainda o 4.º Torneio do Circuito Aquapor no Oporto e a Taça RS Yeatman no “seu” campo de Miramar.

A finalizar a época, no último fim-de-semana, sagrou-se ainda campeão nacional sub-18 na Final do Drive Tour, no Montado.

Mas numa luta tão renhida pelo posto de n.º 1 nacional amador, foi sobretudo importante a sua regularidade de boas classificações. Por exemplo, sagrou-se também vice-campeão nos 1.º e 5.º Torneios do Circuito Aquapor, alcançando ainda o top-5 em quatro outras provas.

Se compararmos, por exemplo, com a n.º1 nacional amadora de 2024, verificamos que Inês Belchior não teve  vitórias nos primeiros cinco meses do ano, mas depois arrancou para uma segunda metade do ano simplesmente fantástica, quase invencível. Diogo Rocha, pelo contrário, teve boas classificações desde janeiro a novembro.

«No início da época tinha como objetivo ser o mais consistente possível. Era um aspeto em que queria melhorar em relação ao ano passado», concordou Diogo Rocha.

«O trabalho e o planeamento que tive com os treinadores (do clube) e toda a equipa técnica da seleção nacional foram a chave para ter uma época consistente, com poucas oscilações», acrescentou.

Sente-se que, para ele, ser o n.º 1 de 2024 não foi uma enorme surpresa, mas foi algo que só apareceu como viável mais tarde.

«Alcancei outro objetivo ambicioso – ganhar outra vez a Taça da FPG. Com essa vitória (em outubro) comecei a ter consciência de que conseguiria ser n.º1 no Ranking Nacional BPI. Esta vitória foi fruto de uma época consistente e trabalhada».

O jogador nascido e residente no Porto, que treina no clube de Vila Nova de Gaia, tem beneficiado de um enquadramento técnico rico e complementar, sabendo retirar o melhor de cada um dos especialistas com que trabalha.

«No início desta época, o meu treinador era o Carlos Magalhães (em Miramar). Todos os sucessos e vitórias que tenho feito até agora foram fruto do excelente trabalho feito pelo “KáKá”. Trabalhei com ele muitos anos e foi graças a todos os seus ensinamentos que consegui entrar na seleção nacional de golfe e de ter a paixão que tenho por este desporto. Ele estava sempre disposto a ajudar-me e era uma das pessoas que dava-me esperança e coragem nos momentos mais difíceis», começou por destacar.

«Atualmente, trabalho com o Nelson Ribeiro, um profissional com muita experiência desportiva e conhecimento (ex-selecionador nacional). Ajuda-me não só na parte técnica, mas também no planeamento para as competições. Foi também ele que apostou em mim há três anos, ao convocar-me (pela primeira vez) para a seleção nacional, onde tive a oportunidade de entrar em grandes competições», sublinhou.

«A equipa técnica da seleção nacional (liderada por Afonso Girão) ajuda-me (também) na parte mental e na preparação física», concluiu.

Para além dos bons resultados nacionais, Diogo Rocha destaca outras prestações positivas a nível internacional: «Passei o cut na Copa da Andalucia e no British Boys. A minha presença no European Boys Team Championship (Europeu de sub-18) foi crucial para a passagem à 1.ª Divisão. Tive também um maior número de voltas abaixo do Par do que no ano passado».

Em 2025, Diogo Rocha deseja «elevar o (seu) desempenho nos torneios internacionais pela seleção nacional».

O jovem de 17 anos é um dos jogadores que tem beneficiado do circuito que a FPG tem levado a cabo nos últimos cinco anos – atualmente Circuito Aquapor –, no qual os amadores de alto rendimento competem ao lado de alguns dos melhores profissionais portugueses.

No entanto, competir “ao lado de” não é exatamente o mesmo de “competir com”. Em 2021, Pedro Lencart já tinha chamado a atenção para o facto de o regulamento do circuito separar demasiadamente os profissionais dos amadores.

Por exemplo, este ano houve um ‘play-off’ entre dois profissionais que deveria ter contado com um terceiro jogador que tinha o mesmo resultado, mas que não pode entrar nesse desempate por ser amador.

No fundo, isso já acontece no Campeonato Nacional Absoluto KIA, onde há uma classificação geral que decide o título absoluto e depois há classificações paralelas que atribuem os títulos de campeão nacional de profissionais e de campeão nacional amador.

Seria uma questão de exportar esse formato para o Circuito Aquapor. O tema é algo polémico, mas valeria a pena discuti-lo mais abertamente.

«Na minha opinião – diz o novo n.º1 nacional amador –, era importante existir uma classificação global nesses torneios entre amadores e profissionais. Acho que era mais vantajoso um amador sentir uma pressão extra nessas competições, ao jogar contra os profissionais, de forma a melhor preparar-se para competir internacionalmente ao mais alto nível, onde a pressão é o nosso maior inimigo».

Note-se que o jogador de Miramar estreou-se este ano em torneios do European Challenge Tour no Open de Portugal at Royal Óbidos e neste circuito, tal como no DP World Tour, profissionais e amadores lutam em pé de igualdade pelo título principal.

 

Aliás, até já houve um Open de Portugal, no Oitavos Dunes, em Cascais, conquistado por Pablo Martin, quando o espanhol era ainda amador.