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A tradição pode deixar de ser o que é
18/09/2014 08:04 Pedro Keul
A mítica club house do Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews / © GETTY IMAGES

Para os membros do R & A, na Escócia, também é dia de “Sim” ou “Não”. Senhoras vão ser admitidas?

Na Escócia, o dia de hoje não será apenas marcado pelas eleições em que os escoceses irão optar por se manter no Reino Unido ou pela independência. No mesmo dia, os membros do mais antigo clube de golfe do mundo terão a possibilidade de encerrar dois séculos e meio de divisões ao responder à pergunta: as mulheres podem ser membros do Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews?

Desde Março que ficou decidido proceder na sua reunião anual ao referendo e recomendado que todos os 2.400 membros espalhados pelo mundo pudessem votar por via postal e digital. “Esperamos muito que mal a votação termine, possamos receber as senhoras no clube. A sociedade está a mudar, o desporto está a mudar, o golfe está a mudar e penso que é apropriado para uma direcção dar este passo”, disse Peter Dawson, que está em fim de mandato como presidente executivo do The Royal and Ancient, fundado em 1754.

Nos bastidores, diz-se que todas as comissões do R&A são a favor da mudança, mas o povo britânico é conhecido pelo seu conservadorismo. “Há grupos de pessoas que gostam das coisas como estão e eu não vejo muito mal nisso desde que as pessoas não fiquem em desvantagem. Não penso que todos os clubes tenham de ser iguais”, frisou Dawson.

As senhoras podem jogar nos links de St. Andrews – o British Open feminino de 2013 decorreu aí – mas não frequentar a club house. O referendo é para permitir que as senhoras possam entrar no edifício por detrás do buraco 18 e, enquanto membros, possam ser eleitas para as várias comissões que gerem a modalidade para todo o mundo – excepto EUA e México, onde reina a USGA.

O golfe tem sido muito criticado por causa dos clubes onde “senhora não entra”, como o Muirfield e Royal Troon, na Escócia, e o Royal St George's, em Inglaterra, que já receberam o British Open. No ano passado, a então secretária da Cultura, Maria Miller, o ministro do Desporto, Hugh Robertson, e o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, recusaram os convites para assistir o Open em Muirfield, em protesto pela política de exclusividade do clube. E ouviram-se vozes de descontentamento de alguns patrocinadores, o que poderá originar, no futuro, uma quebra de receitas nesses clubes se deixarem de receber os grandes eventos.

Ao mesmo tempo, os membros serão questionados se, na hipótese de o “sim” ganhar, concordam com a entrada imediata para o clube de 15 senhoras – uma lista já elaborada de figuras que deram uma inquestionável contribuição ao golfe, mas cujos nomes permanecem em segredo, embora já haja apostas nas antigas jogadoras amadoras Carol Semple Thompson e Belle Robertson, antigas presidentes da USGA, Judy Bell ou Angela Bonallack, mulher do antigo secretário do R&A, Michael Bonallack.

Louise Richardson, a reitora da muito prestigiada St. Andrews University, é uma das candidatas à entrada. Tradicionalmente, quem ocupa esse posto é recebido como membro honorário, mas têm sido sempre homens. “Tenho gerido muito bem este lugar e não me permitem entrar na club house a 500 metros de minha casa. Posso dizer que tenho sido ocasionalmente convidada. Penso que, um domingo por mês, as senhoras que são bem comportadas são convidadas para almoçar ou parecido. Mas sempre disse que não como no clube enquanto as senhoras não puderem entrar”, frisou Richardson

Nos EUA, o Augusta National Golf Club, palco fixo do Masters Tournament e um dos clubes mais exclusivos do mundo, terminou com a descriminação em 2012, ao aceitar a antiga secretária de Estado, Condoleezza Rice, e a empresária, Darla Moore, como membros.